domingo, 29 de dezembro de 2013

DIÁLOGO AO ENTARDECER

- Toda arte é um luxo.
- Luxo?
- Sim, com origem no ócio, não na necessidade.
- Como assim?
- Foi o acúmulo de alimentos, de bens, de riqueza (em geral) que propiciou o tempo para o homem se tornar um artista.
- Quando isso ocorreu?
- Já no Paleolítico Superior, quando passou a habitar em cavernas. As armadilhas apanhavam animais de grande porte para a alimentação, criando, entre os caçadores, o excedente humano que se dedicasse à pintura. 
- Pintura rupestre.
- Com a revolução neolítica, o homem foi obrigado a se sedentarizar, dando começo às primeiras povoações, às primeiras cidades. Entre as múltiplas atividades originadas com a vida urbana, uma especialização da artesania levou à produção de objetos artísticos. A cerâmica desenterrada nos sítios arqueológicos testemunham esse salto nas principais culturas da antiguidade.
- O ócio é o pai da criação artística...
- A mãe...
- Não havia pensado nisso.
- Nunca é tarde para pensar. 
- Se a arte nasceu do ócio, por que se tornou necessária?
- Necessária para quê?
- Jean Cocteau, referindo-se à poesia.
- Num futuro não muito distante, com a humanidade correndo risco de ser extinta, o questionamento de Cocteau será respondido. 
- E qual a resposta provável?
- O trabalho ingente para sobreviver não dará trégua. O ócio significará autodestruição. O homem viveu nos primórdios de sua evolução em estado de necessidade permanente.
- Como disseste, isso mudou no fim do Paleolítico Superior.
- Correto. Nos últimos cinco séculos, vivemos o auge da ociosidade. Mero momento. Futuramente, o ócio diminuirá perceptivelmente. 
- O homem voltará à barbárie?
- Não, necessariamente o homem. Os estados imperialistas, sim. Involuirão para algo ainda pior. 
- Há estudiosos que afirmam que essa perspectiva catastrofista não passa de uma falácia.
- Falácia?!
- ...
- O Sol aumenta o Hélio em seu núcleo. Mesmo antes de fundi-lo, haverá um aceleramento na fusão de Hidrogênio, fenômeno químico solar que chegará ao nosso planeta em forma de calor. Muito calor.
- As consequências serão terríveis...
- Não haverá ócio. Não haverá arte.

SOBRE O POST ABAIXO

A Tânia de Oliveira foi quem fez a ligação para o Caio Fernando Abreu em 1995, convidando-o para vir a Santiago (e aqui inaugurar a foto do escritor na Galeria de Honra do Centro Cultural). Minha irmã trabalhava na Secretaria de Educação e Cultura de Santiago e fora encarregada de organizar o evento. Ela me confirma que, pelo telefone, Caio estava em dúvida se viria, em razão de um convite para ir à Europa. Em A Raiz do Pampa, crônica que ele escreve depois da vinda ao seu Passo da Guanxuma, Montevidéu talvez constitua um elemento ficcional (não correspondendo à realidade). A propósito, A Raiz do Pampa traz a magia da transposição poética de que falava Gabriel García Márquez. Ao descrever sua viagem, "e fomos percorrendo o Rio Grande do Sul abaixo", Caio não se importa com a correção geográfica (que é Rio Grande do Sul acima). Escreve sobre "açudes transparentes" que avistava de dentro do automóvel. Os gaúchos todos sabemos que os açudes, via de regra, apresentam a água turva, em tom marrom - o que não impede de refletirem o céu "absolutamente azul".                

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

CAIO ABREU POR FISCHER

Em seu livro Coruja, Qorpo Santo & Jacaré - 30 perfis heterodoxos, Luís Augusto Fischer escreve sobre Caio Fernando Abreu:
"Nos últimos meses de vida teve convite para voltar mais uma vez à Europa, mas, sabendo que estava no fim, preferiu rever sua terra natal, a Santiago Pampiana e sem peregrinos, com a qual tinha afinidades mínimas mas que era, enfim, o começo de tudo".
Em sua crônica confessional, A raiz do Pampa, Caio se refere às três opções: ir a Montevidéu, a Santiago e baixar ao hospital. Prefere reencontrar o Passo da Guanxuma.
A escolha do escritor, portanto, fizera-se entre a capital do Uruguai e Santiago, não entre Europa e Santiago. 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

AGORA



Na sacada que avança sobre a esquina da Pinheiro Machado com a Benjamin Constant, sento-me todo fim de tarde,entre o dia que se vai (ao poente) e a noite que chega (do nascente). No céu, neste exato momento, vejo a Lua cheia de um lado,e Vênus de outro. Os dois refletindo o Sol que já se foi (por hoje). Desde o Rincão dos Machado, menino, gosto de contemplar o infinito cravejado de pontos luminosos e iluminados. Coisa que mal expressam as palavras.

CARNES SOBREIRA


O discurso de que Santiago carece de indústrias é uma recorrência antiga da política local, empregada sistematicamente por quem faz oposição. Sua ideia central atribui ao poder executivo a responsabilidade por propiciar uma mágica de, a partir de medidas protocolares, industrializar nosso município. 
Alguns administradores fizeram (e fazem) o que é viável nesse sentido, como oferecer uma melhor infraestrutura e incentivos fiscais. 
Apenas para isso, o município necessita da contrapartida do Estado ou da União. Em razão de sua própria economia. 
Santiago já tem, às margens da BR-287, uma área destinada à instalação física de empresas. Falta-nos o aeroporto, que, de acordo com o prefeito Júlio Ruivo, depende de uma verba estadual para ser concluído. 
O discurso acima referido, mais que se prestar à retórica oposicionista, demonstra um vazio entre a idealização e o real. 
Pontes são lançadas pela iniciativa privada, sempre muito corajosa dentro de um estado federativo que se maximiza pela cobrança de imposto. 
Entre os empresários arrojados, hoje se destaca Ruderson Mesquita Sobreira. Seu frigorífico passa por um upgrade com a marca "Carnes Sobreira". 
O beneficiamento da carne bovina é um processo industrial perfeitamente executável em nosso município, rico na produção da “matéria-prima”. 
Todo desenvolvimento econômico de Santiago e região está condicionado ao setor primário, analisam nossos estudiosos de plantão. 
Segundo Ruderson Mesquita, o novo produto de seu frigorífico ganha em qualidade com o empacotamento a vácuo, devendo abastecer o mercado “interno”, apesar da forte e desleal concorrência dos abates clandestinos, expandindo-se para o mercado “externo”, como a rede Carrefour. 
Uma coisa é discursar que necessitamos de indústrias, outra é trabalhar no sentido de.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

DÉCADA PERDIDA


Recebi hoje o livro Década Perdida - Dez anos de PT no poder, de Marco Antonio Villa. Cada ano do governo petista serve como título dos dez capítulos, de 2003 a 2012. Já li o primeiro, 2003, com 52 páginas.  

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

CRÔNICA DO COTIDIANO SANTIAGUENSE

Um casal de namorados me chamou a atenção na tarde de ontem. Os dois desciam de mãos dadas pela Rua Eudócio Pozzo - em direção à Estação do Conhecimento.
Muito franzina, ela aparentava não mais que 15 anos de idade. Sua barriga proeminente denunciava uma gravidez de cinco a seis meses. Também magérrimo, ele não passava de um adolescente, a ostentar a primeira barba. 
Num primeiro momento, considerei ruim a gravidez prematura da adolescente. Ruim para ela, em vista de ter que se dedicar alguns anos de sua juventude à criação de um filho. Ruim para ele, com a responsabilidade que passará a lhe exigir a condição de pai. Ruim para ambos, obrigados a constituir uma nova família antes do tempo para tal (de acordo com os padrões impostos pela nossa cultura). 
Em casa, num segundo momento, reconsiderei minha apreciação. No caso dessa adolescente, a gravidez é boa. Biológica e moralmente. A vida tem assegurada sua continuidade (o que é possível a partir de uma relação heterossexual). 
O casal me pareceu muito feliz. Uma pena que desciam a Rua Eudócio Pozzo - em direção à Estação do Conhecimento.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

TRÂNSITO (MAIS UMA VEZ)



Um dos problemas de Santiago, novo para a nossa cidade, diz respeito ao trânsito. A rua é o lugar em que a interação social acontece forçosamente. O cidadão, por mais que se proteja cada vez mais em suas casas, mais vulnerável se torna ao usar o espaço público, a partir do portão de sua pequena “fortaleza”. Nesse espaço (em que circulam centenas-milhares-milhões de indivíduos), a instabilidade cresce como um dos principais fatores que puxam para baixo a qualidade de vida, tão dificilmente conquistada. Venho observando o trânsito na Pinheiro Machado, que serve de amostra do que deve ocorrer noutras ruas da cidade. A sacada do Edifício Dom Manuel é um excelente ponto de observação que avança sobre a esquina com a Benjamin Constante, das mais movimentadas e sem semáforo. Durante o dia, poucas vezes algo errado no comportamento dos condutores de veículo. A falta de educação fica por conta dos pedestres. Até as 22 horas, não há alteração digna de nota. Depois disso, o movimento diminui paulatinamente. Por volta da meia-noite, começa um intervalo, que separa pessoas diurnas das noctívagas. Estas últimas tomam a madrugada de roldão, não obedecendo à norma alguma. A civilidade, fragilmente praticada durante o dia, cede a vez para um tipo moderno de selvageria. A ordem, fragilmente instituída durante o dia, transforma-se em caos. A velocidade com que descem pela Pinheiro assusta, prelúdio de uma tragédia (prestes a ser noticiada no dia seguinte). Por sorte, os acidentes não são mais frequentes. Fico a imaginar o que acontece na Alceu Carvalho, na Aparício Mariense e em seus prolongamentos. Qual a solução para esse problema? Mais fiscalização, com a aplicação inequívoca do Código de Trânsito.  

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

MADIBA


Mandela não é amado porque é bom; Mandela é bom porque é amado.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

LEGALIZAÇÃO DA MACONHA

O Uruguai está para aprovar a legalização da maconha, uma providência defendida por muitos brasileiros para o nosso país. 
Neste aspecto, a futura experiência uruguaia será valiosa na fundamentação de um projeto de lei análogo no Brasil, ou em sua  definitiva inviabilização. 
Obviamente, há diferenças abissais entre os dois países - que não diminuem ante a realidade da droga. 
A legalização no Uruguai, a(em) princípio, facilitará o tráfico no Brasil, tendo o Rio Grande do Sul como provável entreposto (por sua localização geográfica). 
A priori, a questão da legalização se polemiza em torno das seguintes argumentações: 1) haveria maior controle da produção versus  2) estimularia o consumo. 
Entre o controle a ser realizado pelo Estado e a liberdade do consumidor, não há dúvida sobre o que ficará no plano do ideal e o que irá ocorrer desbragadamente. 
O consumo da maconha aumentará consideravelmente, servindo de iniciação natural do viciado, que buscará outras drogas mais fortes, todas elas ilícitas.