sexta-feira, 16 de agosto de 2013

PLATÃO, COMADRINHA, ZECA BLAU, BARBELA, ERILAINE...

Platão não gostava dos poetas, em razão deles fazerem uma imitação do mundo sensível, por sua vez uma imitação grotesca do mundo inteligível. Vale esclarecer que, desde Homero ao tempo do autor dos Diálogos, os poetas eram narradores épicos, ainda que se expressassem em versos. 
O nosso José de Figueiredo Pinto, Zeca Blau, seria um proscrito da república ideal de Platão. Em seu livro Horas do meu ocaso, publicado em 1968, há o soneto Comadrinha, cujo segundo verso é "Tua alma já pra outros reinos voa". Comadrinha, ou Amália do Rosário Freitas, foi uma das pessoas mais conhecidas na sociedade santiaguense. Ela catava coisas nas ruas para levar para o Céu, acompanhada por vira-latas. Seu falecimento ocorreu em 6 de novembro de 1978, dez anos depois da publicação do soneto de Zeca Blau, que cantava a partida da Comadrinha (dez anos antes da morte da centenária senhora). 
A Erilaine Perez constatou esse desencontro entre o real e o poético, ao reorganizar os registros no Museu Municipal Pedro Palmeiro. Ela foi ao Cartório de Registro Civil, para confirmar a data de falecimento da Comadrinha, 6 de novembro de 1978, quatro anos depois do óbito do poeta que a homenageou. A surpresa da pesquisadora perdeu um pouco da graça, ao encontrar uma explicação no livro Santiago do Boqueirão - Gente e Legenda*, de Antonio Manoel Gomes Palmeiro. Na crônica Comadrinha, Barbela transcreve o soneto de Zeca Blau, seguido deste enunciado: "A Comadrinha ainda em vida recebia homenagens como essa".
Os poetas não mentem. A metafísica platônica, todavia, não passou de um grande equívoco. Aristóteles, contemporâneo de Platão e um dos maiores intelecto da humanidade, assim escrevera: "Amicus Plato, red magis amica veritas" (Querido é Platão, mas ainda mais querida é a verdade.) 

* O livro Santiago do Boqueirão - Gente e Legenda, do Barbela, foi publicado em 1982. Em 1985, garimpando num sebo da rua Emiliano Perneta, em Curitiba, encontrei esse livro de crônicas sobre a minha terra, a Terra dos Poetas. No mesmo dia, escrevi uma carta para o Barbela, contando-lhe da emoção que me propiciou seu livro.

Um comentário:

Unknown disse...

É gratificante e enriquecedor ler sobre escritores da nossa terra natal.