terça-feira, 23 de julho de 2013

POR QUE LER?


Desde que me tornei um leitor, tenho feito a pergunta do título acima. Obviamente, já cheguei a uma resposta, caso contrário, teria sido inútil meu tempo dedicado aos livros, um fracasso. Por que continuo a perguntar, então? A evolução intelectual me propiciou um acréscimo à condição de simples leitor, o de pensar e produzir textualmente. Esta minha atitude responsiva ativa, de autoinclusão como sujeito da enunciação, constitui o melhor resultado dos longos anos de leitura. Respondida a questão de foro íntimo, não posso apenas usufruir do êxito pessoal, sem envolver o outro. Neste aspecto, identifico-me com aquele que se liberta na alegoria de Platão, embebe-se na luz e retorna ao interior da caverna com a intenção de livrar os ex-companheiros ainda acorrentados pela ignorância. A pergunta é feita para eles: por que ler? A priori, a resposta aponta para duas generalizações: prazer e conhecimento. A leitura de entretenimento, a despeito de propiciar um quantum de felicidade imediata ao seu praticante, não o liberta da irracionalidade, do âmbito onde vicejam os preconceitos, as ilusões. Aqui parafraseio F. Nietzsche, fragmento 427, do livro Aurora: minha inclinação para o conhecimento é demasiado evidente para que possa ainda apreciar uma felicidade sem conhecimento. Cedo ou tarde, o leitor há de compreender essa verdade. Ele não precisa evitar a fruição de uma leitura menos densa, caracterizada pelo emocional (suspense, poesia, anedota etc.). Há livros científicos, filosóficos e (inclusive) literários que se equivalem a um curso superior. Três exemplos, respectivamente: O macaco nu, de Desmond Morris; A lógica da pesquisa científica, de Karl Popper; e O nome da Rosa, de Umberto Eco. Fundamental é a associação que o leitor experiente passa a fazer entre as diversas áreas do conhecimento.

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