segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ESSES INVENTÁRIOS!

Até os anos setenta, Fermino Machado de Oliveira manteve um costume de que todos gostávamos no rincão. No dia de seu aniversário, 31 de outubro, fazia um grande churrasco e convidava meio mundo para a festa. Alguns descendentes ou amigos especiais vinham de outros lugares e se juntavam aos demais, numa felicidade sem tamanho. Uma enfermidade demorada e a morte do meu avô (1977), todavia, encerrou um ciclo da história do Rincão dos Machado. A comunidade, unida por laços sanguíneos e de amizade, sentiu a falta de uma autoridade (da forma como exercera até então o velho Fermino). A casa da vó Dorilda continuou sendo o coração que palpitava mais fortemente nas tardes de domingo, quando ali se reuniam as mulheres e as crianças. Tio Ladi, o mais velho dos filhos, conduziu o inventário sem descontentamentos. Nas décadas seguintes, a luz elétrica, o automóvel, a televisão, o telefone, a água encanada e uma série de outras melhorias se tornaram realidade. Mesmo assim, os jovens vieram para a cidade estudar ou casaram-se, reduzindo os moradores no rincão. Outras pessoas partiram para sempre, deixando um vazio afetivo impreenchível, entre as quais a vó Dorilda. Novo inventário. Esse fato social demarca o início de uma nova história para o rincão, feita de orgulho, teimosia, intransigência, disse-me-disse, inimizade. Inimizade entre irmãos. Por alguns metros de terra os mais fortes se enchem de raiva, os mais fracos se deprimem, e a briga passa a incomodar até aqueles que não participam dela. A princípio, pensei em retomar o costume do meu avô, reunindo os parentes, oferecendo-lhes um churrasco (como já fiz há quatro anos). No entanto, concluí que não no fim de semana passado. Voltei para a cidade profundamente triste, impotente para fazer qualquer coisa (à exceção deste desabafo).      

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