quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

UMA ACUSAÇÃO A SER RESPONDIDA?

Mais uma vez recomendo a leitura de O papa é culpado?, de Geoffrey Robertson. Subtítulo do livro: "A responsabilidade do Vaticano por violações de direitos humanos". 
A página 146 inicia com a pergunta transformada em título desta postagem. Em seguida, vem a transcrição de uma declaração feita pelo Padre Hons Kung, em carta aberta aos bispos católicos no quinto aniversário da eleição de Bento como papa:
"Não há como negar o fato de que o esquema global de acobertamento dos crimes sexuais cometidos por clérigos foi orquestrado pela CDF (Congregação para a Doutrina da Fé) sob o comando do cardeal Ratzinger".
O autor do livro prossegue com o fragmento 174:
"Essa séria acusação feita pelo eminente teólogo e ex-amigo de Bento tem fundamentos? De qualquer forma, sob o comando direto do cardeal Ratzinger, determinada política foi exercida entre 1981 e 2005, segundo a qual as reclamações contra molestadores deveriam ser silenciadas por meio de juramentos de sigilo e acordos de confidencialidade: os padres considerados culpados eram transferidos para outras paróquias ou outros países, apesar de sua propensão à reincidência. Os padres molestadores em geral eram perdoados após cumprirem penitências, fazendo preces ou tendo sua atuação restringida".

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A CARNE É FRACA?

A carne é fraca, esta é a justificativa de Roberto Vitagliano, advogado do padre Emilson Soares Correa, que foi indiciado sob suspeita de estupro de uma menina de 10 anos, em Niterói. 
Para início de conversa, se há uma justificativa, há crime. O padre libidinoso manteve relações sexuais com outras moças também, de 15 e 19 anos (com consentimento). 
Mais conversa: Certamente, esse padre não terá mais a proteção do Vaticano com a renúncia do papa Bento XVI, cujo papado ficará conhecido como de acobertamento a um bando de pedófilo. Ou o papa é uma simples engrenagem da máquina que mantém aquele Estado? 
Para encerrar a conversa, meu contraponto: a carne é fraca uma pinoia. A carne é muito forte, resiste a mais disciplinada das moralidades, a de caráter religioso.  

AMAR AOS OUTROS?


Há dois milênios, um pregador judeu exortava seus ouvintes para que amassem uns aos outros. Ele falava uma verdade transcendente, por isso o crucificaram. Não era hipócrita, ao contrário daqueles que continuam a pregar em seu nome. O homem vulgar, fiel representante da sociedade a que pertence, não se interessa por transcendência alguma, por algo que vai além do próprio ego. As verdades, os valores que o motivam a viver são delimitados por essa condição humana, demasiado humana. Ele pode até dizer, sustentar discursivamente o contrário, que gosta de seu semelhante, todavia, não faz o necessário para manter a coerência entre palavra e atitude, entre ideal e realidade. A parte mais sensível desse homem não é o coração, como querem os românticos, mas o bolso (ou a bolsa). Por que se diz que a sociedade é consumista? Porque o homem é consumista, incontrolavelmente consumista. O dinheiro o faz regredir à fase oral do desenvolvimento de sua personalidade, quando o id (antes do ego) se manifesta de forma absoluta. Segundo Freud, o id busca a satisfação imediata, de acordo com o princípio do prazer. Do id ao superego vai uma distância que poucos conseguem completar. O superego é a instância psicológica em que se desenvolve o senso moral, bem como a alteridade (ou outridade). Para quem não conhece a teoria psicanalítica, o id corresponde ao “eu quero tudo para mim”; o superego, ao “meu direito termina onde começa o do outro”. A dicotomia pode ser expressa por querer incondicionalmente – saber. A sabedoria não é inalcançável a partir do autoconhecimento. A propósito, mais do que dizer que gosta, o hipócrita pensa que sabe muito sobre o outro, mas não conhece a si mesmo. Se não conhece a si mesmo, tampouco ama a si mesmo.  

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

AINDA VIVEMOS NA TRANSIÇÃO

Toda civilização, para começar a compreender a realidade, para começar a compreender a vida, desenvolveu mitos como narrativas verdadeiras. 
O desenvolvimento ocorreu ao natural, à revelia de uma consciência conhecedora (que ainda gatinhava). A sistematização veio mais tarde, com a necessidade de organização social, numa fase entre a horda e o estado.
Dos mitos mais conhecidos, destacam-se os que explicariam a origem do mundo, a origem do homem.
Os gregos, como tantos outros povos, tinham seu mito fundador, que abarca três gerações de deuses, melhor representados por Céu, Crono e Zeus.
Com a evolução do conhecimento racional, surgindo a Filosofia e a Ciência, a mitologia foi reduzida a uma criação poética, eliminando as crenças que orientavam milenarmente os gregos. Condenado por desviar os jovens da religião continuadora dos mitos, Sócrates existiu num momento de transição, como vivemos ainda hoje, os ocidentais, em relação ao mito judaico-cristão.
A propósito, quantos já foram condenados, presos, torturados, proscritos ou queimados por defender ideias desmitificadoras?
No melhor dos métodos filosóficos, o da inquirição, continuo a perguntar:
Até quando o mito judaico-cristão (narrado no Gênesis)persistirá como verdade, como referência às principais religiões do ocidente? 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

INVOCAÇÃO

filhas da necessidade
(que faz girar
o fuso 
de todas as esferas)

onde ficou
meu passado?
onde estará
meu futuro?

o presente
não me basta
para sabê-los

láquesis, cloto e átropo,
não permitam
que se perca
esta alma

sábado, 23 de fevereiro de 2013

MITOLOGIA GREGA NO CRISTIANISMO

A República, de Platão, fecha-se com a transcrição do Mito de Er. O personagem Sócrates narra a Glauco: 
"Não é a história de Alcino que vou te contar, mas a de um homem valoroso: Er, filho de Armênio, originário de Panfília. Ele morrera numa batalha; dez dias depois, quando recolhiam os cadáveres já putrefatos, o seu foi encontrado intacto. Levaram-no para casa, a fim de o enterrarem, mas, ao décimo segundo dia, quando estava estendido na pira, ressuscitou. Assim que recuperou os sentidos, contou o que tinha visto no além". 
A partir de então, Er relata um lugar semelhante ao purgatório cristão, uma encruzilhada de almas que subiam para o Céu ou desciam para o Hades. Na sequência, passa a transcrever o que as almas contavam do Céu e do Hades. 
A narrativa toda poderia ser tomada como da crença cristã, da vida além da morte, tanto no Céu quanto no Inferno.
Curioso, fui buscar na Bíblia as passagens em que o inferno é citado. Qual a minha surpresa? Muito vagamente, encontrei apenas cinco citações do seol no Velho Testamento e cinco do Hades no Novo Testamento. 
Seol é a forma portuguesa do hebraico she'óhl, que significa sepultura comum, cova; e hades, do grego haídes, com o mesmo significado. Em Isaías 38:18,19, seol é poço, algo em que decai a alma. 
Nenhuma das outras quatro citações do VT se refere a fogo, metáfora do inferno no Mito de Er. No NT, em contrapartida, o inferno é descrito como fogo eterno (Mt 25:41,46).
Penso que houve uma influência grega, neoplatônica, na idealização do cristianismo. Não apenas linguística, mas em elementos míticos.  
Em sua segunda viagem, Paulo de Tarso (já acompanhado por discípulos)) permaneceu algum tempo na Grécia. Em Corinto, foram 18 meses. 
Sob o domínio romano, os gregos viviam a decadência, à sombra das ruínas de sua civilização destruída com as guerras. Não é difícil imaginar como esse povo estava propenso à pregação religiosa de Paulo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

PARÁBOLA AFRICANA


ERA UMA VEZ UM SAPO E UM ESCORPIÃO NO MEIO DO RIO.






Não gosto dessa parábola, principalmente pelo seu desenlace:
O sapo perguntou: "Por quê? Por quê?"
E o escorpião respondeu: "Porque sou um escorpião e essa é minha natureza".
Qual a natureza do escorpião? A de ferroar simplesmente? Sim. Na parábola, porém, antes de começar a travessia, o escorpião prometeu que não atacaria o sapo. 
Má-fé, ingratidão, instintividade... Não bastasse isso, o escorpião tinha em alto grau sua natureza específica e, contraditoriamente, em baixo grau sua sobrevivência individual.
Da parte do sapo, destaco a cooperação e a confiança. 
Não pense que ele foi ingênuo, caro leitor. 


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A GRANDE DIVERGÊNCIA

A Escola de Atenas, Rafael Sanzio (1509)

Platão e Aristóteles (detalhe)

Rafael Sanzio, o grande pintor renascentista, fez uma homenagem ao amigo Leonardo da Vinci, pintando-o para representar Platão. (Vocês tinham percebido isso?)
Não é só o dedo de Platão, apontando para o alto, que dá a dimensão metafísica da filosofia desse pensador. O livro que traz consigo é Timeu, o diálogo em que mais claramente idealiza sobre as formas inteligíveis e sobre um demiurgo.
Em contrapartida, a mão estendida de Aristóteles, como a dizer gestualmente "Menos, Platão", também é corroborada pelo livro Ética que segura na outra mão. Cada ideal em Aristóteles tem sua base natural. A principal condição para a felicidade... excluídos certos pré-requisitos físicos, é a vida da razão (Will Durant - A História da Filosofia).
Outra grande divergência entre os dois pensadores gregos da época clássica gira em torno da mimesis (da poesia imitativa)

BLOGUEIRO FAUSTIANO

Personagem de um mito alemão, Fausto fez um pacto com o demônio para adquirir conhecimento acima dos homens de seu tempo. De lambuja, assegura para si a juventude por 24 anos, ao final dos quais o cramulhão vem levar sua alma. 
O blogueiro faustiano não busca mais conhecimento, mas simplesmente mídia. Seu pacto não é com o demônio (âmbito mítico), mas com um político influente (âmbito real). 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ESSES INVENTÁRIOS!

Até os anos setenta, Fermino Machado de Oliveira manteve um costume de que todos gostávamos no rincão. No dia de seu aniversário, 31 de outubro, fazia um grande churrasco e convidava meio mundo para a festa. Alguns descendentes ou amigos especiais vinham de outros lugares e se juntavam aos demais, numa felicidade sem tamanho. Uma enfermidade demorada e a morte do meu avô (1977), todavia, encerrou um ciclo da história do Rincão dos Machado. A comunidade, unida por laços sanguíneos e de amizade, sentiu a falta de uma autoridade (da forma como exercera até então o velho Fermino). A casa da vó Dorilda continuou sendo o coração que palpitava mais fortemente nas tardes de domingo, quando ali se reuniam as mulheres e as crianças. Tio Ladi, o mais velho dos filhos, conduziu o inventário sem descontentamentos. Nas décadas seguintes, a luz elétrica, o automóvel, a televisão, o telefone, a água encanada e uma série de outras melhorias se tornaram realidade. Mesmo assim, os jovens vieram para a cidade estudar ou casaram-se, reduzindo os moradores no rincão. Outras pessoas partiram para sempre, deixando um vazio afetivo impreenchível, entre as quais a vó Dorilda. Novo inventário. Esse fato social demarca o início de uma nova história para o rincão, feita de orgulho, teimosia, intransigência, disse-me-disse, inimizade. Inimizade entre irmãos. Por alguns metros de terra os mais fortes se enchem de raiva, os mais fracos se deprimem, e a briga passa a incomodar até aqueles que não participam dela. A princípio, pensei em retomar o costume do meu avô, reunindo os parentes, oferecendo-lhes um churrasco (como já fiz há quatro anos). No entanto, concluí que não no fim de semana passado. Voltei para a cidade profundamente triste, impotente para fazer qualquer coisa (à exceção deste desabafo).      

MIMESIS (EM PLATÃO E ARISTÓTELES)

Na UNISUL, para cada disciplina o aluno deve fazer várias atividades autoavaliativas no final das unidades, uma prova a distância e outra presencial. 
Dia 1º de março, deverei enviar a prova a distância. No dia 8, farei a prova presencial. As questões dessas provas são muito bem formuladas, cada uma abarcando extensão considerável do conteúdo. 
A quarta questão da prova a distância em que me debruço neste momento é a seguinte:
"Na Poética, Aristóteles dá à mimese - arte imitativa - um importante papel tanto para o conhecimento como para a ética-política. Exemplo disto é a definição que ele apresenta de tragédia em VI, 1499b. Eis um aspecto que diferencia o estagirita de seu mestre (Platão). Tendo em mente tal diferenciação do papel da mimese - principalmente a dos poetas trágicos e homéricos - em ambos os pensadores, apresente uma dissertação de trinta (30) a cinquenta (50) linhas, comparando as posições de ambos (5,0 pontos)".
Sobre a mimese em Aristóteles, não tive problema de ler, uma vez que Poética é um dos livros que trago em minha cabeceira. Para estudá-la em Platão, fui obrigado a uma releitura de A República. Em duas oportunidades, o diálogo platônico se dedica ao assunto: Livro III (cerca de dez páginas) e Livro X (ao longo de 17 páginas). Sócrates e Adimanto dialogam no Livro III. Sócrates e Glauco, no Livro X.
A propósito, esse Sócrates é um personagem criado por Platão.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

VIDAS POR DIAMANTES


Em frente à boate Kiss, há uma frase escrita no asfalto: 

"NESTA TERRA DE GIGANTES
QUE TROCAM VIDAS POR DIAMANTES".
(A letra dos Engenheiros do Havaii traz "nessa", como se o eu-lírico se encontrasse fora da terra ali considerada.) 
No imenso painel (em que foi transformado o tapume), muitas fotos dos que foram antes do tempo, muitos comentários do que permaneceram à beira de um precipício existencial.
Flores (secando ao sol).
Lágrimas (umedecendo os olhos). 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

HISTÓRIA DA FILOSOFIA

A história da Filosofia é extraordinária pelo seu princípio, quando homens passaram a procurar o conhecimento em meio a uma realidade dominada pelo mito, pela ignorância milenar. A única referência de que dispunham para o heroico empreendimento intelectual era uma chama diminuta, que se acendia no âmago do espírito desses primeiros pensadores: a razão. A Grécia vivia sob o absoluto reinado dos deuses, forjados pelos temores e crenças que remontavam ao neolítico. A racionalidade emergente perguntava o que era o mundo, o que o constituía, e não conseguia elaborar uma resposta sem o apoio dos elementos naturais até então conhecidos: água, ar, terra e fogo. A exceção foi Anaximandro, que pensou ser a arkhé o não-identificado, o ápeiron. Desde a água ao clinámen, de Tales de Mileto a Epicuro, há uma trajetória do pensamento humano que supera em beleza os poemas épicos (de Homero e Hesíodo) e as tragédias (de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes). 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

DIVERSOS

Em dois dias de Carnaval, 18 mortes no trânsito. Um número, simplesmente. A mídia já não faz tanto alarde sobre os acidentes fatais. A soma desses números ao longo do ano ultrapassa a da grande tragédia da boate Kiss. 
__.o.__
O papa Bento XVI renuncia ao pontificado no dia 28 de fevereiro. Tratando-se do Vaticano, há dois motivos para essa renúncia: o aparente (estado de saúde do papa) e o encoberto (problema interno do Estado). 
Acrescento o que está sendo publicado num site noticioso:
Bento 16 alegou falta de saúde para sua decisão de renunciar ao papado. Mas disputas de poder e intrigas no Vaticano provavelmente também exerceram um papel. 

                                                 __.o.__
Depois de 30 anos, ontem fui à festa da Fontana Freda (interior de Jaguari). No primeiro trevo, contorna-se à esquerda, entra-se na estrada que leva à Vila Florida. Fontana Freda localiza-se logo depois de Marmeleiro (terra das bergamoteiras altas). Ao meio-dia, entrei na fila do risoto, reconhecidamente o melhor da região. Os novos risoteiros, todavia, não conseguem imitar seus pais ou avôs. A propósito, Santiago inovou seu risoto, tirando o queijo. 
__.o.__
No dia 30 de dezembro de 2012, quando Yuri Gavioli Baldeatti perdeu a vida num acidente de motocicleta, o médico legista de Santiago estava de folga. Hoje o corpo de João Desidério Dorneles Vieira, falecido em acidente automobilístico na BR 287, foi levado a Santa Maria porque o médico legista de Santiago encontra-se de férias (segundo o blog Nova Pauta).
__.o.__
Uma boa chuva a todos.  

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

ANTIPLATÃO


o mundo inteligível
de Platão
não resiste
a uma pedra
a uma pedra 
                   simplesmente

milhões e milhões
de anos
uma pedra se houve
sem o conceito
de pedra
                  sem o homem
                  (demiurgo ao inverso)

...


glossário
kismet: destino
quiz: pergunta (que não quer calar)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

MALAFALÁCIA

Na entrevista concedida a Marília Gabriela, o pastor Silas Malafaia  afirma categoricamente:
"Nenhuma verdade científica da Bíblia foi derrubada";
"A Bíblia é a única fonte de conhecimento filosófico, teológico, científico e vulgar";
"A Bíblia é um livro para quem quer crer".
Não sei por onde começar. Antes disso: não sei se vale a pena um contraponto. Esse assunto é quase um tabu (para mim), porque acabo expressando meu ateísmo ao discuti-lo, ferindo suscetibilidades, tripudiando indiretamente sobre a crença de pessoas próximas. 
A Bíblia é a narrativa mítica mais conhecida no mundo ocidental. Mito que resistiu à Filosofia e à Ciência ao longo de 25 séculos, desde a Grécia, passando por Aristóteles, Copérnico, os empiristas, os iluministas, Feuerbach,  Darwin, Nietzsche, Freud, toda a evolução do pensamento racional do século XX.  
Em postagem abaixo, faço a distinção entre a mentalidade mítico-religiosa e a filosófico-científica. 
O pastor ignora essa diferença. 
Aquém do mito, a Bíblia é uma fonte moral. Há enunciados dogmatizantes, não verdades científicas (sujeitas ao princípio da refutabilidade). 
Toda a história nesse livro é fantasiosa ou distorcida. 
Teologicamente, contradiz-se na personificação de um deus pequeno, chamado Jeová, e de um deus grandioso, universal. Deuses muito diferentes.
O pastor acerta na última frase: "A Bíblia é um livro para quem quer crer". Não para quem quer pensar, para quem quer saber. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

OBVIEDADE

Ninguém morre antes da hora, da mesma forma que ninguém morre depois da hora. Qualquer um dos enunciados é um absurdo. Ninguém morre antes ou depois da hora, porque não há hora predeterminada para morrer ninguém. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

DE FRENTE COM GABI

Ontem Gabi entrevistou o pastor Silas Malafaia. Ao prever que o diálogo seria interessante, resolvi assistir ao programa. O papo se iniciou com o que foi publicado na revista Forbes, dando a Malafaia o terceiro lugar dos pastores mais ricos do Brasil. Segundo ele, uma mentira. Provou-a, lendo a relação de bens declarados ao Leão. Os trezentos milhões divulgados pela revista se resumem a quatro. Depois Gabi tocou na moleira do pastor, sua intransigência à homossexualidade. A discussão chegou ao clímax com esse assunto.  A cada contraponto da entrevistadora, Malafaia rebatia com argumentos que aprendeu a elaborar em seus programas televisivos, palestras e livros (via de regra, evitando responder às perguntas apelativas). A Forbes mentiu sobre sua fortuna, mas a Bíblia é categórica (como palavra de Deus revelada) sobre o homossexualismo. No final da entrevista, Gabi insistiu com o ganho do pastor em relação ao rebanho. Malafaia fez a distinção entre prosperidade abençoada por Deus e prosperidade segundo o senso comum, exclusivamente financeira. 
Muita falácia.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

DUAS QUESTÕES RESOLVIDAS

Nesta tarde, debrucei-me sobre duas questões de História da Filosofia: 
a) identifique as noções fundamentais da mentalidade filosófica; e
b) verifique se essas noções fundamentais da mentalidade filosófica estão contempladas no texto bíblico (Gênesis, capítulo 1). 
Com base em algumas leituras, entre as quais Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, e Os pré-socráticos, da coleção Os pensadores, escrevi o que se segue:
a) A mentalidade filosófica começa a se desenvolver no momento em que o homem passa a fazer uso do presente de Prometeu, o fogo dos deuses, o pensamento racional. O mundo até então conhecido por intermédio dos mitos, apresenta novos contornos sob os olhos perscrutadores da razão. Doravante, para defini-lo, toda explicação segue os critérios estabelecidos pelo lógos. A natureza (physis), como objeto de conhecimento, faz escolas com os primeiros pensadores, chamados pré-socráticos. A relação de causas que identifica o processo natural de (auto)criação diferencia-se das justificativas míticas, sobrenaturais. O princípio primordial (arqué) é caracterizado como uma realidade tangível, que existe sem a intervenção divina. Os primeiros filósofos /cientistas veem uma ordenação racional na constituição do Universo, também chamado de Cosmo. Essa visão determina o novo discurso (lógos), que não é definitivo, peremptório, mas suscetível de crítica, de reformulação. 
b) Sobre a origem do Universo, as respostas provisórias a que chegaram os primeiros pensadores tem seu equivalente no mito judaico-cristão, que responde categoricamente pela intervenção de um deus, denominado Jeová. A mentalidade filosófica na Grécia buscava teorizar sobre o mundo como uma sucessão de causas naturais, explicadas pelo discurso racional. No Gênesis, a causa é uma divindade, expressa no primeiro enunciado (versículo). O equivalente da arqué na narrativa bíblica é a vontade de Jeová, sua palavra. Do nada fez-se tudo. O criado é visto como algo bom pelo próprio criador. Semelhante visão se repete entre os pensadores gregos: o cosmo é justo e belo. A harmonia do mundo (que está além dos pequenos males reclamados pelo homem) permite tal apreciação, descrita numa linguagem referencial pela Filosofia e alegórica pelo mito. Razão versus fé. No texto bíblico não há como encontra o lógos e o caráter crítico, duas condições para o pensamento filosófico (e científico).

sábado, 2 de fevereiro de 2013

IRRESPONSÁVEL

Na condição de indivíduo, o brasileiro é irresponsável. Basta se envolver num acidente, para não assumir sua responsabilidade. Ato contínuo, culpa um terceiro, geralmente uma instituição (a que pertence pelo princípio de universalidade). 
Exemplo:
A ponte sobre o Rosário, na estrada que leva ao Passo da Cruz, esteve a beira de ir água abaixo por muito anos. Algumas vezes, ao chegar lá, o rio fustigava-a com violência. Minhas opções: atravessá-la mesmo assim, esperar duas ou três horas (o rio baixar) ou dar meia volta. Desnecessário dizer que fiz as três coisas em vezes diferentes. Nunca me aconteceu um acidente. Mesma sorte não tiveram outras pessoas, dentre as quais meu avô, que acabou arrastado pela correnteza. 
Desde que me conheço por gente, não foram poucas as reclamações dos usuários da estrada para que o poder público municipal construísse uma nova ponte. Em vésperas de eleição, os candidatos prometiam a obra.
Meu avô se salvou agarrado à sua montaria. Naqueles anos setenta, mesmo que ele morresse afogado, ninguém pensaria em culpabilizar o poder público (que deixara de refazer a ponte). A responsabilidade caberia exclusivamente ao afogado e pronto. 
Hoje isso é impensável. O cidadão (maior de idade) deixou de ser responsável por si mesmo. A impressão é que ele, não tendo noção alguma de que a ponte está prestes a ir água abaixo, inconsciente, decide-se pela travessia.
P.S.: O termo ponte é empregado nos dois sentidos, real e figurado.