segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FOLGA X JURAMENTO DE HIPÓCRATES (ÉTICA)

Ontem, domingo, nossa manhã foi abalada com a morte de Yuri. O menino era benquisto nas comunidades do Passo da Cruz e do Rincão dos Machado. Infelizmente, um acidente fatal interrompeu sua vida. 
A morte revela o trágico (no sentido interpretado por Nietzsche), uma vez que o homem nunca consegue vencê-la. 
No final da tarde, vim ao velório ainda com o falecido ausente. Treze horas decorreram desde o acidente ao retorno do corpo de Yuri (tragicidade mesmo depois da morte), que fora levado ao legista. Em Santiago não havia médico legista, estava de folga. Em Santa Maria (é inacreditável!) não havia médico legista. Apenas em Caçapava do Sul esse especialista foi encontrado. 
A propósito, a dita folga do médico legista de Santiago não contradiz o Juramento de Hipócrates? Caso ele se encontrasse na cidade, essa "folga" é injustificável. 

MEL DE MIRIM COM BOLO FRITO

No sábado, eu e meus irmãos, Marcos e Cláudio, fomos melar um mirim. João Vítor, filho do Cláudio, acompanhou-nos com aquela alegria de menino já experimentada por nós, adultos, há algumas décadas. Numa pequena restinga à beira da estrada que leva ao Bocal do Freio, a meio caminho do rio Rosário, cortamos de machado o tronco, em volta do pequeno tubo de cera de entrada das abelhamirins. 

Um logo favo encheu a vasilha que levamos para o fim de colher o mel, cuidadosamente separado da samora, ou saburá. O produto há havia alcançado o ponto de extrema doçura, passando a apresentar certa acridez (fenômeno que não acontecia no mês de dezembro anteriormente). Ao retornarmos para a casa do pai, havia uma pratada de bolo frito. Para mim, a festa me reportou a um tempo marcado em cores vivas no calendário da saudade. 

domingo, 30 de dezembro de 2012

ESPELHO DO SOL

A LUA
ESPELHO
DO SOL

reflete-o 
noite
a dentro

com seus
contornos
de prata

com suas
silhuetas

a lua 
espelha
o sol

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O ÓPIO DOS INTELECTUAIS


Ontem me chegou o livro O Ópio dos Intelectuais, de Raymond Aron. Uma leitura pesada para encerrar 2012.
Escrito em 1955, O Ópio dos Intelectuais é "um tratado contra o fanatismo (de esquerda)". A obra precede a "tragédia dos "gulags",  o desnudamento da brutalidade do stalinismo por Kruschev, o "enorme surto econômico na Europa, nos Estados Unidos e Japão, o revisionismo do eurocomunismo dos dogmas da ditadura do proletariado, a descoberta dos "nouveaux philosophes" de que "o esquema marxista de evolução se havia covertido em dogma, a rebelião purificadora em opressão partidária e o determinismo histórico em esterilização intelectual".
Nas palavras de apresentação  feita por Roberto de Oliveira Campos, "foi uma obra de coragem, pois o marxismo era então a grande religião dos intelectuais". 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

TEMA RECORRENTE

FIM DE (mais um) ANO. Para o colunista, um tema recorrente, muito oportuno às reflexões. Nenhum outro momento consegue aproximar passado e futuro imediatos, delimitados pelo ciclo anual. Retrospectivamente, 2012 está posto, disponível para as apreciações, das melhores às piores. Não necessariamente nessa ordem. Expectativamente, 2013 se apresenta como desconhecido, mas já valorado pelos desejos e planos. Aquele se fez ato, vivido; este se faz potência, sonhado. Ontem (2012) e amanhã (2013). Entre esses dois segmentos temporais, hoje é um ponto (em movimento contínuo), constituído de realidades e sonhos. Por isso, o ano velho e o ano novo, tão diferentes como realidade e sonho, são jungidos pelo presente. Para comemorar esse encontro único, que desafia a tabula rasa do devir, justifica-se o rito de passagem, a festa.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

LEITURA REALIZADA EM 2012

Um dos balanços que faço ao findar deste 2012 é dos livros lidos. A Internet, com toda sua dimensão hipertextual, não foi suficiente para diminuir o ímpeto deste leitor pré-digital. Penso que são equivocadas todas as análises que tendem a destinar um futuro incerto para o livro impresso. Nas últimas feiras do livro em Santiago, para citar um exemplo de amplitude social, percebi a crescente demanda por leitura impressa à Gutemberg de um público infanto-juvenil, digitalizado. 
Livros que li/ reli em 2012:
- Armas, germes e aço, de Jared Diamond;
- Tratado de ateologia, de Michel Onfray;
- Religião para ateus, de Alain Botton;
- Uma breve história da Filosofia, de Nigel Warburton;
- Deus, entre outros inconvenientes, Xavier Rubert Ventós;
- Ensaios sobre o conceito de Cultura, de Zygmunt Bauman;
- Reflexões autobiográficas, de Eric Voegelin;
- O caso dos exploradores de caverna, de Lon L. Fuller;
- Valor e verdade, de André Comte-Sponville;
- O mapa e o território, de Michel Houllebecq;
- Partículas elementares, de Michel Houllebecq;
- Plataforma, de Michel Houllebecq;
- O caminho de volta, de Júlio Rafael;
- Solidão continental, de João Gilberto Noll;
- El manifesto comunista (edición crítica), de Jordan B. Genta;
- A lógica do pior, de Clément Rosset;
- A Antinatureza, de Clément Rosset;
- Nietzsche e a Filosofia, de Gilles Deleuze;
- El malestar en la cultura, de Freud;
- El futuro de una ilusión, de Freud;
- Guia politicamente incorreto da Filosofia, de Luiz Felipe Pondé.

Alguns outros livros li pela metade, deixando-os de lado por outros:
- O terceiro chimpanzé, de Jared Diamond;
- Colapso, de Jared Diamond;
- Da horda ao Estado, de Eugene Enriquez;
- Compreender Kant, de Georges Pascal;
- O papa é culpado?, de Geoffrey Robertson;
- Ética prática, de Peter Singer;
- Ética pós-moderna, de Zygmunt Bauman;
- O livro da Filosofia, organizadores;
- Guia politicamente incorreto da história do Brasil, de Leandro Narloch;
- Dic de máx e expr em latim, de Christa Pöppelmann;
- A estrutura das revoluções científicas, de Thomas Kuhn;
- Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente, de Freud.

Não incluo na relação acima os livros de poesia, os quais releio a todo tempo. Principalmente os de Carlos Nejar. Assino Zero Hora e VEJA ( recebo de brinde Superinteressante e Escola). Compro todas as revistas que saem nas bancas sobre Filosofia, Literatura, Astronomia, entre outras. 
O oftalmologista me receitou, e já mandei fazer óculos para leitura. Espero ter olhos suficientes para continuar lendo no mesmo ritmo em 2013.  

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

AMAR O PRÓXIMO?

A moral manda, a ética recomenda (faço minhas as palavras de Sponville). O Cristianismo, no que concerne ao afeto, é uma ética. Jesus não manda amar o próximo, ainda que seu enunciado esteja no imperativo. O amor não é comandando. Por isso, ética cristã. A cada cristão, que se digne ser assim chamado, não basta amar o próximo por obediência à doutrina (aliás, esse sentimento não é amor), mas querer amar o próximo. A religião não é uma verdade, mas um valor que se institui por intermédio da vontade, do desejo de quem a segue fielmente. A realidade (que é uma verdade) demonstra que não há amor entre as pessoas, exceto dentro da família (âmbito que também se presta para desenvolver o egoísmo). Não há amor mesmo. No máximo, alguns gestos e ações de caridade. Dessa forma, a lembrança de Jesus Cristo na época do Natal é uma contradição escancarada. O grande interesse de cada um e de toda a sociedade é de consumir e consumir. A propósito, as reuniões familiares acabam justificando o excesso de consumo (no sentido comercial e gastronômico). Por isso, a figura do Papai Noel faz mais sucesso, como grande protagonistas das Festas Natalinas.  

domingo, 23 de dezembro de 2012

MORAL OU ÉTICA?


O conhecimento é luminoso: vela, lanterna, sol, ou qualquer outra metáfora que se acende para reduzir as trevas, para eliminar os assombros engendrados pela ignorância e pela superstição. 
Há pouco concluí a leitura do ensaio Moral ou ética?, de André Comte-Sponville, e confesso-me estupefato com a claridade desse filósofo.   

sábado, 22 de dezembro de 2012

BUDISTAS NA DIREÇÃO?


Tanto pensei na questão do trânsito, principalmente nas causas que resultam em acidentes fatais, que cheguei a seguinte conclusão: apenas os budistas, à semelhança de Jorge Mello (ao meu lado na foto acima), poderiam dirigir automóveis com segurança. Eles conhecem a si mesmos, conhecem o eu e suas pulsões (algumas associadas à agressividade, à morte). Tais pulsões são irremovíveis (como o asseverou Freud), mas passíveis de controle a partir do autoconhecimento. Na cultura ocidental, no mundo em que vivemos, nossa consciência pode ser comparada a um bebê, um bebê condicionado a se transformar num homo automobile. Somos  ainda incapazes de autoconhecimento. Por isso entramos num carro e... Depois culpamos as árvores à beira da rodovia. 
Os budistas, todavia, dirigem seus eus por um caminho mais simples, onde não há esse caos de automóveis que denominamos de trânsito. 

NOVA LEI SECA

VÍDEOS, RELATOS E TESTEMUNHOS PASSAM A VALER COMO PROVA DE EMBRIAGUEZ.
O Código de Trânsito é de uma linha um pouco mais dura que a Constituição de 1988, mesmo assim credita(va) ao indivíduo um valor acima do que se observa na prática. A lei que obrigava o teste do bafômetro, expressa no Art. 277 do Código de Trânsito Brasileiro, para comprovar o estado alcoolizado do condutor, contradizia-se com o fato de produzir provas contra si mesmo. Essa "brecha" legal permitia a insubmissão ao teste, provando a ineficiência de um estado mínimo. A não confiabilidade no indivíduo, de seu comportamento ético, exige um estado máximo, de tolerância zero. Além do aumento significativo da multa, que será de R$ 1.915,40, o bafômetro não é mais condição (sine qua non) para a comprovação do crime. Agora o testemunho e o exame clínico serão fundamentais.  

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

DEPOIS DA CRENÇA, A TROÇA

Hoje a maioria das pessoas fazem piada sobre o tão profetizado "fim do mundo". Mas até ontem (talvez um pouco mais), elas oscilavam inconfessavelmente entre a superstição e a verdade. Da noite para o dia, deixaram de ser obscurantistas para assimilar o discurso científico, de que o Sol é que determinará o fim da vida em nosso planeta. Uma pena que essas pessoas continuam a acreditar em deuses, diabos, espíritos, horóscopos, aparições extraterrestres e tudo mais. 
Até ontem a profecia dos maias referia-se ao fim do mundo. Hoje há uma descarada moderação (feita por aqueles que oscilavam), no sentido de mudar o que repercutiam, o fim do mundo passou a ser o fim do calendário. Ninguém mencionava o fim do calendário. Agora é coro midiático.
Afora uma discussão que tive com meu cunhado e uma postagem desmistificadora que fiz aqui no dia 1º de abril de 2012, não me detive nesse assunto escatológico, sobre o fim do mundo. Honesto com as minhas convicções, não tinha motivo de rir ou cantar vitória antecipadamente, uma vez que meu adversário era muito fraco. 


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

MANANCIAL DE SABER

Na Filosofia, encontra-se um manancial de sabedoria, basta que o leitor (sujeito) tenha discernimento para encontrá-lo.
Antes de Espinosa (citado abaixo), Montaigne anunciava em seus Ensaios que NÃO É PORQUE UMA LEI É JUSTA QUE DEVEMOS OBEDECÊ-LA (III, 13, 1072); AO CONTRÁRIO, É POR SER LEI E POR OBEDECERMOS A ELA QUE ELA É JUSTA. 
Desde os anos oitenta, bebo a água mais pura desse manancial.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

DESENCANTO

Eis um fato que percebo com tristeza: nossa blogosfera está minguando dia após dia. A maioria dos blogs encontra-se abandonada, não indo além do entusiasmo inicial que motivou seus autores. Uma leva de blogueiros migrou para o Facebook, onde há retorno imediato de tudo o que se publica. Outra simplesmente abandonou a escrita digital, decepcionada com a revolução que se especializa como forma de jornalismo 3.0. Apenas permanecem ativos os blogs que noticiam sobre fatos que rompem com a pasmaceira da cidade e região. As mortes causadas por acidente de trânsito têm elevado à estratosfera o número de acesso, confirmando-se a fraqueza humana pela sanguinolência. Publica-se sobre assassinatos ocorridos em cidades distantes daqui, sem qualquer relação com o nosso universo. A opinião ponderada, a reflexão, ou coisas do gênero não fazem eco na blogosfera local. Acumulam-se as gerações de indivíduos "educadas" pela televisão, que entrega tudo pronto em seus domicílios (sons, imagens, discursos etc.). Desencantado, titubeio entre postar diariamente neste Contra. e me refugiar à forma de escrita inventada por  Johannes Gutemberg.    

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

VALOR E VERDADE

"Como pensar a relação entre o valor e a verdade? 
e o valor é verdadeiro, como escapar da religião? Se não é, como escapar do niilismo?
Se a verdade comanda, como escapar do dogmatismo? Se obedece, como escapar da sofística?
Trata-se, aqui, de encontrar outro caminho, seguindo os passos de Diógenes e de Maquiavel, mas também de Montaigne, Pascal e Espinosa. O cínico, no sentido filosófico, é aquele que distingue as ordens: ele não tem ilusões sem sobre a verdade (que não tem valor intrínseco) nem sobre o valor (que não tem verdade objetiva); mas nem por isso renuncia a uma coisa nem à outra. A verdade só vale para quem a ama; o valor só é verdadeiro para quem a ele se submete. É aí que se cruzam o conhecimento e o desejo. É aí que o amor às vezes encontra a verdade que o contém. Daí uma moral, e muito mais. Os cínicos, dizia Montaigne, dão 'extremo preço à virtude'. O cinismo é uma filosofia sem fé nem lei, mas não sem fidelidade nem coragem."
André Comte-Sponville

SABEDORIA É ISTO

"Fica estabelecido por tudo isso que não nos esforçamos por nada, não queremos, não apetecemos nem desejamos coisa alguma por considerá-la boa; mas, ao contrário, consideramos uma coisa boa porque nos esforçamos em sua direção, queremo-la, apetecemo-la e desejamo-la."
Proposição 9 do livro III da Ética de  Espinosa

domingo, 16 de dezembro de 2012

O QUE É CULTURA?

Sexta-feira, no mesmo momento em que chegava o Papai Noel a Santiago, eu falava para poucas pessoas no Centro Cultural sobre Cultura: evolução conceitual
O primeiro slide que apresentei foi do filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, em que aparece um ancestral do homem com um osso na mão, batendo contra o esqueleto de um animal a seus pés. Esse indivíduo, há 4 milhões de anos, teve um dos insigths fundador da espécie humana. O osso poderia ser usado como arma contra o bando rival. A machadinha de pedra lascada demoraria 2 milhões para ser inventada.
A ideia de transformar um osso em arma demarca a fronteira entre o que natural e o que é artifício no homem. 
Antes de expor sobre os diversos conceitos de cultura (os antropólogos Alfred Kroeber e Clyde Kluckhohn encontraram 167 definições diferentes), relacionei cultura com artifício.
O termo cultura, do latim colere, que significa cultivar, criar, cuidar, surgiu no final do século XI e estava relacionado ao cultivo da natureza, dando origem à palavra agricultura
No Renascimento, século XVI, o termo cultura passou a ser empregada no sentido figurado de cultivo do espírito, do intelecto. 
No século XVIII, os iluministas relacionaram cultura do espírito às artes, ciências e letras.
Nos séculos XIX e XX, com o desenvolvimento das Ciências Sociais, em especial a Antropologia, surge um novo conceito de cultura, formulado por Edward Burnett Tylor:
"Cultura é aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, as artes, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade".
Em Santiago, não diferente do país em que nosso município se situa, o conceito de cultura está restrito à produção artística, sobretudo a literatura, a pintura, a dança, o teatro... Tão restrito que o diferenciamos de educação, de leonismo (como informa um banner no auditório do Centro Cultural: leonismo e cultura), de tudo mais que se pensa, se crê, se porta, se veste, se diverte, se faz. Educação é cultura por excelência, leonismo é cultura.
Papai Noel é cultura. 
O Júlio Prates já havia manifestado sua inconformidade em relação a esse atraso (de aproximadamente três séculos). Os santiaguenses não temos culpa, uma vez que repetimos o atraso cultural do país. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

SEGUNDO ORTEGA Y GASSET

Na década de vinte do século passado, José Ortega y Gasset observava que na vida pública europeia era visível o "advento das massas ao pleno poderio social". O pensador chamava a atenção para não limitar "vida pública" à política, mas, sim, ao mesmo tempo "intelectual, moral, econômica, religiosa", incluindo-se hábitos coletivos. Na capa de seu livro A rebelião das massas, ele epigrafou: "De repente a multidão tornou-se visível, instalou-se nos lugares preferenciais da sociedade". No Brasil, isso ocorre nas duas últimas décadas do mesmo século XX, um atraso cultural de fácil compreensão. Neste país, as "elites" prolongaram a crítica dos marxistas (na Europa, o sonho se realizara com a Revolução Russa de 1917). Politicamente, o homem-massa triunfa na chegada do século XXI, com Luís Inácio da Silva eleito presidente. A primeira intenção de Lula (e continua sendo única) foi de querer que a massa da sociedade ocupasse o lugar das minorias excepcionais. No Rio de Janeiro isso ocorre todos os anos, nos dias de carnaval. A massa toma conta da cidade (antes) maravilhosa, não dando outra opção aos cariocas autênticos, já minoria, que se retiram para o litoral norte. Ortega y Gasset emprega esse termo mesmo, ao escrever que "dentro de cada classe social há massa e minoria autêntica". Com Lula e sua numerosa equipe, a massa se alçou ao primeiro plano social, utilizando-se para isso de toda esperteza e vulgaridade, que caracteriza o homem-massa. Não só a política, mas a educação foi nivelada por baixo, para eliminar tudo o que é "diferente, egrégio, individual, qualificado e especial". 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ATÉ QUE ENFIM

Até que enfim, alguém acusa o Lula de se beneficiar (fazer parte) do mensalão. De nada adiantou a proteção  de José Dirceu, Marcos Valério, outro condenado, dedurou o ex-presidente. Não fossem esses dedo-duros, Brasília andaria por entre flores, vivendo as maravilhas do poder. Inacreditável o fato de alguns petistas ainda saírem em defesa de Lula, de Zé Dirceu, dos deputados do PT condenados, da não existência do mensalão. Eles acusam a imprensa de golpista.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

MAIS LIVROS




Os dois livros acima ilustrados me chegaram por último. Ensaios sobre o conceito de cultura é o terceiro que leio do sociólogo polonês. Valor e verdade é o segundo que leio do filósofo francês. 
A leitura é indispensável, porque me faz ser melhor. 

DEVIR

Eis a melhor definição para o termo "devir", tão presente ao universo semântico da Filosofia e que lança claridade em possíveis dúvidas: 
"fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes". Do Grande Houaiss.
O primeiro passo para defini-lo filosoficamente foi dado por Heráclito. Com esse pensador pré-socrático, a Filosofia passa a contemplar o movimento, o fluxo perpétuo do universo. A formação e a morte das estrelas ilustram muito bem o devir no âmbito astronômico. 
Para Aristóteles, o devir é a passagem da potência ao ato.

domingo, 9 de dezembro de 2012

POR QUE LULA NÃO SE MANIFESTA?

O editorial do Zero Hora deste domingo tem esse título. "A cúpula dirigente do PT, estimulada pela ambiguidade do ex-presidente e confiante em que sua popularidade é eterna, continua a campanha de desmoralização de opositores."
"Está cada vez mais difícil de entender o silêncio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que flagrou um esquema de corrupção comandado e operado por integrantes de agências reguladoras e da Advocacia-Geral da União. 
"Lula sempre manifestou sentimento contraditório em relação às irregularidades praticadas por correligionários e assessores próximos. No célebre episódio do mensalão, chegou a pedir desculpas à nação em 2005, dizendo-se 'traído por práticas inaceitáveis' sobre as quais nunca tivera conhecimento. Posteriormente, porém, passou a dizer que o mensalão era uma farsa e que, após sua saída do governo, faria o possível para desmascará-la. Com a confirmação do episódio pela Justiça e com a punição exemplar dos envolvidos, SILENCIOU."

A INCOERÊNCIA NO CASO

Por intermédio do voto do Presidente do Tribunal, na Suprema Corte de Newgarth, o caso dos exploradores de cavernas se resume ao que se segue: Em maio do ano 4299, cinco espeleólogos que ficaram presos no interior de uma caverna, depois de um grande desmoronamento. No 20º dia, foi descoberto que uma máquina sem fio, capaz de enviar e receber mensagens, foi levada para dentro da caverno. A primeira informação trocada foi de que seriam necessários mais 10 dias de trabalho para o resgate. A segunda foi da equipe médica, que assegurou que não havia possibilidade de os cincos sobreviverem nesse tempo. Um dos espeleólogos, chamado Whetmore, falou em nome dos outros. Ele perguntou ao médico se teriam condições de sobreviver consumindo a carne do corpo de um deles. Com relutência, a resposta foi afirmativa. Whetmore perguntou se seria aconselhável para eles tirarem a sorte para determinar qual deles serua usado de alimento. Não houve resposta. Whetmore solicitou um juiz, que não apareceu. Solicitou um padre ou pastor, também sem resposta. A comunicação foi interrompida a partir desse momento. Pensou-se erroneamente que a bateria da máquina havia descarregado. Para resgatá-los, ocorreu outro desmoronamento que matou 10 trabalhadores. Quando, finalmente, quatros exploradores foram encontrados vivos, soube-se que Whetmore fora morto no 23º de isolamento. Depois de completada a convalescença no hospital, onde foram tratados por desnutrição e choque, os quatro foram indiciados pelo assassinato de Roger Whetmore. Segundo eles, Whetmore propusera que se usasse algum método para tirar a sorte, apresentando um par de dados. Os demais concordaram com o plano. Antes do arremesso dos dados, Whetmore desistiu do acordo, querendo aguardar mais uma semana antes de colocar em prática a antropofagia salvadora. Os outros exploradores acusaram Whetmore de romper o trato e continuaram arremessando os dados. Na vez de Whetmore, perguntaram a ele se se opunha a que outro realizasse o lance e, diante de nenhuma objeção, a sorte foi contrário a Whetmore. O júri condenou os réus, e o juiz sentenciou que eles deveriam ser enforcados. O processo subiu para a  Suprema Corte, em que cinco juízes votam, condenando ou absolvendo os réus. 
O caso é fictício, serve para motivar o debate entre estudantes de direito, seguindo as diferentes filosofias do Direito. 
Vejo uma incoerência no caso, que foge à realidade. Um dos juízes quase a expressa em seu julgamento.
Apenas na ficção seria possível que os quatro exploradores resgatados relatassem que Whetmore, depois de propor aos demais que se lançasse os dados, se negasse a fazê-lo, concordando ao mesmo tempo que outro o fizesse por ele. O rompimento do acordo e a permissão que lançassem os dados por ele são contraditórios
Eis o último parágrafo do livro:
"A Suprema Corte, estando igualmente dividida, a convicção e a sentença do Tribunal de Apelação foi mantida. E foi ordenado que a execução da sentença deveria ocorrer às 6:00 horas da manhã de sexta-feira, 2 de abril de 4300, quando o Carrasco foi intimado a proceder ao enforcamento dos réus pelo pescoço até as suas mortes".
   

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

LEITURA DO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS

Por indicação do Júlio Prates, li nesta tarde O caso dos exploradores de caverna, de Lon L. Fuller. A impressão é que o havia lido há muitos anos numa fotocópia encadernada, que se encontra nas caixa (aguardando um móvel mais demorado para sair das mãos do carpinteiro que parto de elefante). Do caso em si já sabia, não recordava dos votos dos juízes, em que ficam caracterizadas as principais escolas da Filosofia do Direito. Provavelmente, tenha lido a introdução do livro, ou parte do primeiro voto (do Presidente do Tribunal). 


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

SOBRE A INGRATIDÃO

"Cría cuervos, y ellos te sacarán los ojos"


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

LEITOR AUTOCRÍTICO

Sou de um tipo de leitor que mais de uma vez se perguntou se vale a pena continuar lendo livros e livros. Há pouco, ao iniciar a leitura de Ensaios sobre o conceito de cultura, de Zygmunt Bauman, formulei a pergunta avassaladora: para que ler? Toda a leitura que fiz desde a adolescência teve (ou tem) algum efeito, alguma vantagem depois de quatro décadas? Pragmaticamente, apresento uma facilidade e uma correção para me expressar na escrita (sobre uma gama bastante diversificada de assuntos). Essas qualidades, todavia, não são indispensáveis para que novos escritores surjam da noite para o dia, sem a condição de leitores experientes. Alguns deles logo se destacam com intuição e criatividade capazes de compensar uma possível deficiência técnica. Paulo Coelho, sobremaneira nas primeiras obras, serve de exemplo. Quais as outras benesses que me propiciou a leitura diuturna além de escrever bem? Prazer pelo prazer? Conhecimento pelo conhecimento? Um e outro, quando não compartilhados, levam ao isolamento, à angústia. Independentemente do gênero que se produza, a escrita constitui a salvação. Por isso continuo a ler depois das crises autocontemplativas, pequenas e esporádicas. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

TODO POETA É UM CRÍTICO

Outro livro que tenho de Décio Pignatari é Semiótica & literatura, em que o autor revela vocação ensaística. 
Todos os grandes poetas que leio, ou foram tradutores, ou críticos, ou metalinguísticos. Exemplos: Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade e Pignatari.
O Oracy Dornelles, poeta santiaguense, apesar de não ter publicado algo do gênero, é um crítico com conhecimento profundo da arte poética. 
Acho ridículo alguém, recém aprendiz do be-a-bá, repetir o chavão de que o crítico (literário) é um artista (poeta) frustrado. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

MORTE DE POETA


Décio Pignatari, o grande concretista brasileiro, morre em São Paulo aos 85 anos. Do poeta, tenho Poesia pois é poesia, que reúne quase toda sua produção literária.
Um dos poemas mais conhecidos de Décio Pignatari e Babe Coca:
beba coca cola
babe          cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
         c l o a c a

O FUTEBOL TAMBÉM

Na postagem abaixo, não citei o futebol como uma das coisas que me enojam nos últimos anos. Há midiatização exagerada sobre esse esporte no Brasil, justamente numa época em que se evidencia uma decadência na qualidade dos campeonatos regionais e nacionais. O Brasileirão deste ano foi pior que o do ano passado; o do ano passado, pior que o do ano anterior. O Fluminense, atual campeão, já perdeu para o Cruzeiro e o Vasco depois de ter conquistado o título antecipadamente. O time carioca foi o menos ruim. O grenal de hoje foi o pior dos últimos anos. Com o futebol apresentado por Grêmio e Inter, ambos poderiam ser rebaixados para a Segunda Divisão. A seleção brasileira, então, já vem caindo desde antes da Copa do Mundo na África do Sul. O técnico é sempre o bode expiatório da crise silenciosa por que passa o futebol (repito, em termos de qualidade). O Mano Menezes foi o bode da vez. O excesso de organização não encontra resultado dentro de campo.  É o que acontece com a toda poderosa CBF. Caso do Grêmio, agora com o estádio mais moderno do Brasil, mas jogando um futebol tão ruim (que o terceiro lugar não consegue negar). Impressiona-me como ninguém fala nessa decadência. Cadê um Inter dos anos setenta? Cadê um Flamengo dos anos oitenta? Um Grêmio e São Paulo dos anos noventa?  

sábado, 1 de dezembro de 2012

EVASÃO PELA POESIA

Os poetas românticos fugiam do presente, idealizando sobre a infância, a mulher amada, a morte. A vida presente era um incômodo, tema que faria Carlos Drummond de Andrade, um modernista, o maior poeta brasileiro. Hoje compreendo o que esses poetas sentiam em relação a realidade. A poesia, como arte de elaborar um texto refinado, tornou-se a própria fuga para mim. Este blog é a prova. Nos últimos dias, ele reflete meu estado de espírito, no qual se inclui um enojamento de coisas que contextualizam meu estar no mundo. Elas são demasiadamente feias (destituídas de qualquer consideração estética), açambarcadoras (contra as quais apenas se evidencia o sujeito impotente). Meu irmão veio de Brasília ontem, dizendo-me que o Brasil está quebrando, com a dívida interna duplicando nos últimos dez anos. As pessoas no alto escalão dos três poderes são mais sujas do que é noticiado, do que podemos imaginar. Política, meio ambiente, consumismo... Em tudo vejo corrupção, hipocrisia, contradição, ignorância. A poesia pertence a outra esfera, onde ainda há uma possibilidade de salvação.