terça-feira, 16 de outubro de 2012

CAPÍTULO ESPECIAL

Os livros compõem um dos capítulos mais interessantes do grande romance em que se pode comparar minha vida. Com o auxílio da memória, sou capaz de escrever uma história que começa na infância, no Rincão dos Machado, e que continua no presente, com pontos suspensivos. Certas passagens são dignas de registro, mais pelo inusitado das pessoas envolvidas. Os exemplos a seguir, fora de uma ordem cronológica, ilustram tais relações. Numa manhã clara de outubro, acima das páginas da Enciclopédia Conhecer, o olhar de Emília me despertou para um sentimento completamente novo. Todavia, livros e amores são de difícil convivência, com uma raríssima exceção (no meu caso). Dezoito anos depois de ter pedido As veias abertas da América Latina para o Ivan Zolin, devolvi-lhe essa obra de Eduardo Galeano. Dona Renita disse-me uma vez que só se emprestam livros para os bons amigos, e os bons amigos nunca pedem livros emprestados. Ao contrário do amor, a amizade é perfeitamente compatível com o livro, ambos apresentam um feedback positivo. Início dos anos oitenta, morava no Andaraí e estudava em Deodoro, Rio de Janeiro. Na estação de Engenho Novo, seis horas da manhã, entro no túnel sob os trilhos da linha férrea e encontro um senhor idoso atrás de um pequeno estrado com livros usados. Seus olhos da cor da noite amanheceram no momento em que apanhei os Contos Reunidos, de Machado de Assis. Não mais o esqueci. Com meu retorno para Santiago, distanciei-me das livrarias dos grandes centros, aproximando-me da minha biblioteca, do que não havia lido. O mercado on-line me salvou, retroalimentando meu único sonho de consumo. Esta história pessoal adquire novos dados a cada Feira do Livro de Santiago, que se acumulam no plano da minha memória.

Nenhum comentário: