quinta-feira, 29 de março de 2012

QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo 
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili 
que não amava ninguém. 
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, 
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, 
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes 
que não tinha entrado na história.



Esse poema de Carlos Drummond de Andrade constitui uma metáfora para a nossa blogosfera. Cada personagem nele citado representa um blogueiro. O único acréscimo necessário é de um sentimento contrário ao amor, não plenamente expresso a partir de Lili. A indiferença é uma virtude da grandeza, do espírito nietzschiano, aristocrático. "Não amava ninguém" é de uma natureza diversa do ódio. Outra coisa insuficiente no poema para retratar a blogosfera santiaguense consiste na perfeita assimetria de gêneros. Por se tratar de um sentimento diverso do amor, as relações ocorrem entre João e Raimundo, entre Raimundo e Joaquim, entre os três e J. Pinto Fernandes. Excesso de testosterona. Não entre as mulheres. Tereza, Maria e Lili são superiores, amam ou não. Elas cuidam de bichos, ecologicamente corretas, escrevem belos poemas, intimistas, adoráveis. O problema está entre os homens, que adotaram delas a volubilidade. João odeia Raimundo num determinado momento e o ama noutro (não necessariamente nessa ordem). Trocam-se elogios e depois se engalfinham visceralmente. Amigos ontem, inimigos hoje, amigos amanhã. Num ano eleitoral, então... A despeito de fazer essa análise, confesso que também sou influenciado por esse ambiente eletrônico. 

Um comentário:

Vivian Dias disse...

Caro Froilam

Estou a procurar uma palavra que expresse com exatidão o que vi no teu texto.

Em tantas possibilidades,posso falar: perfeito!

Abraços