quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

ESCLARECIMENTO

Na postagem abaixo, deixo claro que a culpa é do universitário, que é livre para preferir o bar (quando e quanto lhe der na telha) a Universidade. O bar fatura por conta desse palhaço libertino que sustenta as duas casas. Não é a liberdade de beber (dentro ou fora do campus) que está em questão, mas a qualidade do futuro profissional.  Conheço bacharéis em Direito formados pela URI que não bebiam, no entanto não leram livro algum, faltavam às aulas, fotocopiavam o caderno e trabalho dos colegas...

LUZ VERSUS ESCURIDÃO

Ontem fui ao campus da URI por volta das 22 horas. 
Um pouco entristecido, constatei algumas diferenças para o meu tempo. 
Há doze anos (apenas), dificilmente havia salas não iluminadas, indicando "matação" ou inexistência de turma. Nos cursos de Pedagogia, Letras, Matemática e História, sabemos todos o porquê das salas vazias. 
No ano 1999, minha turma era composta por 30 graduandos. Atualmente, todo o curso de Letras conta com 27. 
Nesse aspecto, não obstante a redução da demanda pelas licenciaturas, a Universidade tem sua pontinha de culpa. 
Na hora do intervalo, frequentávamos o bar da URI, o qual se esvaziava com o início da terceira aula. Atualmente, há um bar aquém do campus. 
Ontem, no segundo dia letivo, o número de pessoas e automóveis que ocupava o cruzamento da Batista Bonoto Sobrinho com a Centenário me permite o exagero de dizer que o bar superava em frequência a Universidade. Por conseguinte, as salas iluminadas constituíam a exceção. 
Escuridão vencendo  a luz. 
Não cabe à URI qualquer responsabilidade sobre isso, mas aos universitários (futuros advogados, administradores, contadores, arquitetos, entre outros). 
A propósito, os bixos de Agronomia cantavam o refrão: Agronomia, Agronomia... fandango, cerveja e putaria.  

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CRISTÃOS E CRISTÃOS

Um dos comentaristas da postagem abaixo, critica-a por ser "generalizante demais". Não nego. O gênero digital é que não me permite adensar o desenvolvimento. Em contrapartida, discordo que deixo de reconhecer "o quanto os cristãos tem sido perseguidos e martirizados ao longo da história". Antes de surgir o protestantismo, a cristandade era representada pela igreja católica, pelos católicos. Isso consegui expressar em poucas palavras na postagem anterior. Depois da rebelião religiosa provocada por Lutero, essa igreja continuou a representar a religião cristã, a comandar e a perseguir os adeptos da reforma. Dito de outra forma, cristãos contra cristãos. Amparados pela igreja de Roma, deixaram de ser perseguidos a partir do imperador Constantino (que se proclamava o décimo terceiro apóstolo). Desde então passaram à condição de perseguidores, como deixei explícito na mesma postagem. Meu comentarista avança no assunto não desenvolvido, citando os estados ateus URSS e China (por exemplo), onde os cristãos foram perseguidos e mortos. Concordo mais uma vez, mas não era esse o contraponto expresso.   

YOUSEF NADARKHANI

Yousef Nadarkhani é um cidadão iraniano que se converteu ao cristianismo, razão por que foi condenado à morte em seu país. Cristãos do mundo todo fazem campanha em defesa do pastor condenado, sem um resquício de consciência histórica. Ninguém mais executou homens e mulheres por motivos religiosos do que a igreja católica, representante exclusiva do cristianismo por mil anos. A partir de Lutero, não escaparam os próprios cristãos. Antes disso, islâmicos, índios, negros, judeus, cientistas, ateus, todos que professassem outro deus, que contrariassem as doutrinas da igreja com suas descobertas científicas ou que não acreditassem em deus. O grande argumento dos cristãos atuais é de que seu deus é único e verdadeiro. Escrevi abaixo que a Bíblia constitui o processo em que Javé é transformado paulatinamente nesse deus universal, quase inominável. O Corão preservou Alá em toda sua pessoalidade, entrando em choque com o deus dominador dos cristãos,  sedento de hemoglobina, hipocritamente definido como de paz e de amor. Há poucos séculos, eram frequentes as execuções em seu nome. O domínio planetário resultou aos cristãos uma consciência mais evoluída, dotada de um princípio de universalidade ainda incapaz de superar o ódio e o medo de outros deuses.  

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

INOVE (PAPELARIA, LIVRARIA E INFORMÁTICA)

Nova opção para as demandas de material escolar, informática e livros: INOVE. Rua Bento Gonçalves, 1974 (entre Getúlio Vargas e Benjamin Constant). Rayson Ávila de Almeida, um dos proprietários, disse-me que, neste período de volta às aulas, a maior oferta é de material escolar. Mais adiante, aumentará o número de livros à disposição dos leitores santiaguenses. Hoje a relação de livros é a seguinte:
- O PRÍNCIPE, de Maquiavel; DOS DELITOS E DAS PENAS, de Cesare Beccaria; DO CONTRATO SOCIAL, de J.J. Rousseau; MENTES ANSIOSAS, de Ana Beatriz Barbosa Silva; PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, de Paulo Freire; A PRIVATARIA TUCANA, de Amaury Ribeiro Jr.; O X DA QUESTÃO, de Eike Batista; STEVE JOBS, de Walter Isaacson; SARAMAGO (BIOGRAFIA), de João Marques Lopes; PROBLEMAS? OBA, de Roberto Shinyashiki; FELIZ POR NADA, de Martha Medeiros; TERRA DOS SONHOS, de Alyson Noël; AS ESGANADAS, de Jô Soares; QUEM PENSA ENRIQUECE, de Napoleon Hill; TRIÂNGULO DAS ÁGUAS e O OVO APUNHALADO, de Caio Fernando Abreu; FILHOS BRILHANTES, ALUNOS FASCINANTES, de Augusto Cury; O SEGREDO, de Rhonda Byrne; MARLEY E EU, de John Grogan; ALEPH, de Paulo Coelho; A REVOLUÇÃO DOS BICHOS, de George Orwell; ÁGAPE, do Padre Marcelo Rossi; DIÁRIO DE UM BANANA, de Jeff Kinney...
Livro para todos os gostos (apesar da pequena disponibilidade). O rapaz tem tino.  

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CHOPP DE VINHO


Para mim, o chopp de vinho foi a mais deliciosa novidade da Festa da Uva, em Caxias do Sul. Já um tanto cansado de andar dentro dos pavilhões, pedi um copo dessa bebida (que vem com "colarinho", cor e gosto de vinho e 5% de teor alcoólico). Não satisfeito, fiz outro pedido. Agora é esperar que o chopp venha para Santiago. 
(Com esta postagem, salto da temática apolínea para a dionisíaca. Constitui uma técnica, para diminuir o impacto de um assunto denso desenvolvido anteriormente.) 

ESCREVI (POST DE 30 DEZ 2011)

Os ocidentais, sob a açambarcadora influência judaico-cristã, tomam Jeová, o deus de Israel, e o inominável como o mesmo deus, único e verdadeiro. A Bíblia é o registro do processo transformador de um deus  pessoal (pai e juiz), hipônimo como os demais deuses, em Deus, hiperônimo, aquele que justificaria o processo no sentido inverso. Povos e civilizações criaram seus deuses a partir de um poder sobrenatural que se acredita exceder o mundo. Esses deuses, todavia, nunca transcenderam seus criadores, relegados ao mito. Os olimpianos constituem o melhor exemplo do declínio religioso. Eles eram indisfarçáveis criaturas antropomórficas, imagem e semelhança dos gregos. Por que Zeus, Odin e Quetzalcoatl são diferentes de Jeová, Brahma e Alá? Os três primeiros já foram desmistificados por outra cultura emergente, local ou estrangeira, religiosa ou filosófico-científica. Os três últimos continuam à frente do judaísmo, do cristianismo, do hinduísmo e do islamismo. Tais religiões vigem atualmente. Por isso seus deuses são inquestionáveis, considerados por seus adoradores como eternos. 
Meu ateísmo é produto de uma  visão atemporal (passado-presente-futuro), que considera todos os deuses já destronados, desvelados em sua pessoalidade. 

ONFRAY ESCREVE

"Não recrimino os homens que consomem expedientes metafísicos para sobreviver; em contrapartida, os que organizam esse tráfico - e de passagem se cuidam - estão radical e definitivamente postados na minha frente, do outro lado da barricada existencial - vertente ideal ascético. O comércio de além-mundos dá segurança a quem os promove, pois encontra para si mesmo matéria para reforçar sua necessidade de socorro mental [...]
"O crente, ainda passa; aquele que se pretende seu pastor, aí é demais! Enquanto a religião se mantém como assunto entre o indivíduo e si mesmo, trata-se afinal apenas de neuroses, psicoses e outros assuntos privados. [...] Meu ateísmo se ativa quando a crença privada torna-se assunto público e em nome de uma patologia mental pessoal organiza-se também para os outros o mundo que convém. [...]
"A morte de Deus foi um artifício ontológico, número de mágica consubstancial a um século XX que vê a morte por toda parte: morte da arte, morte da filosofia, morte da metafísica, morte do romance, morte da tonalidade, morte da política. Que se decrete hoje então a morte dessas mortes fictícias! Essas notícias falsas em outros tempos serviam a alguns para cenografar paradoxos antes da virada de casaca metafísica. A morte da filosofia permitia livros de filosofia, a morte do romance gerava romances, a morte da arte obras de arte etc. A morte de Deus, por sua vez, produziu sagrado, divino, religioso, seja o que melhor for. [...]
"Baal e Javé, Zeus e Alá, Rá e Wotan, mas também Manitu devem seus patronímicos à  geografia e à história: aos olhos da metafísica que os torna possíveis eles dão nomes diferentes a uma única e mesma realidade fantasística". 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

MICHEL ONFRAY

Michel Onfray disserta maravilhosamente bem acerca da influência nefasta para a civilização ocidental das doutrinas judaico-cristãs (coisa que já compreendi com profundidade). Seus ataques não poupam as demais religiões monoteístas, em especial o islamismo. 
Fechei o livro, fui assistir o final do Jornal Nacional. A notícia gira em torno de Yousef Nadarkhani, condenado à morte no Irã, porque se converteu ao cristianismo, virou pastor. 
Onfray escreve:
"Deixe-se portanto de associar o mal no planeta ao ateísmo! A existência de Deus, parece-me, gerou em seu nome muito mais batalhas, massacres, conflitos e guerras na história do que paz, serenidade, amor ao próximo, perdão dos  pecados ou tolerância". 

SUGESTÃO

Aos blogueiros ateus, sugiro a leitura de Tratado de Ateologia, de Michel Onfray, filósofo francês. Ao procurar por livros de filosofia na Sucelus - Livraria e Bistrot, centro de Gramado (sexta-feira passada), esse veio as minhas mãos sem que o procurasse. 
A despeito de citar Nietzsche como epígrafe, Onfray escreve:
"Deus não está morto nem moribundo - ao contrário do que pensam Nietzsche e Heine. Nem morto nem moribundo porque não mortal. Uma ficção não morre, uma ilusão não expira nunca, não se refuta um conto infantil. Nem o hipogrifo nem o centauro estão submetidos à lei dos mamíferos. Um pavão, um cavalo sim; um animal do bestiário mitológico não. Ora, Deus pertence ao bestiário mitológico, como milhares de outras criaturas repertoriadas em dicionários de inúmeras entradas, entre Deméter e Dioniso". 
O livro foi produzido em 2005, por isso seu autor ainda pergunta se sobre a crença na existência do Limbo (entre outras coisas). Já está desatualizado. Em meu O fogo das palavras, página 154, escrevo que o papa Bento XVI acabou com o limbo. Um canetaço apenas. 
O livro é tão bom, que fui obrigado a interromper outras leituras que vinha fazendo, como Armas, germes e aço, de Jared Diamond.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

REFÚGIO COM REFRIGÉRIO

À exceção de Caxias do Sul, não vi manifestações carnavalescas nas outras cidades da Serra (Canela, Gramado, Nova Petrópolis, Bento Gonçalves, Veranópolis, Nova Prata), por onde passeei nesses dias. Em Gramado/ Canela, encontrei baianos, cariocas, argentinos e gaúchos (inclusive), fugindo do carnaval. Também fugi. principalmente do calor (na Serra, a temperatura cai de cinco a dez graus). Finalmente, em férias. 
(O carnaval acabou, a temperatura caiu um pouco, outro ciclo se reinicia. Caso volte a esquentar nestes dias, irei ao Rincão dos Machado, pescar lambari no Rosário.)

FESTA DA UVA

Caxias do Sul é uma das cidades mais desenvolvidas do país. No setor metal/ mecânico fica atrás de São Paulo apenas. Pudera: São Paulo tem 458 anos e 11 milhões e meio de habitantes; Caxias do Sul tem 135 anos e 450 mil hab. A cidade gaúcha, que há pouco ainda era chamada Campo dos Bugres (em razão dos “índios” caigangues que habitavam a região), hoje possui entre 6 e 7 mil indústrias. A italianada trabalha muito. E pensar que os imigrantes foram levados para o relevo mais brabo (acidentado) do Rio Grande do Sul, porque as terras melhores já se encontravam em poder dos fazendeiros de origem portuguesa e espanhola (descendentes farroupilhas). A Colônia Caxias enriquece a partir de lotes de 25 hectares de peraus, enquanto os latifundiários, criadores de gado, passaram a constituir a metade pobre do Estado. Os que ficaram sem emprego nessa metade (em Santiago, inclusive), agora se vão embora para Caxias, Bento Gonçalves e seus entornos. Trabalho não falta por lá, com excelentes oportunidades de melhoria de vida para alguns. A grande vitrine desse desenvolvimento, dessa pujança econômica, certamente, faz-se representar pela Festa da Uva. O evento é de uma grandiosidade que foge aos referenciais conhecidos pelos santiaguenses. Em termos de área: 367.142 m2. A cavaleiro do centro da cidade, os pavilhões interligados abrigam centenas de estandes, alguns de tamanho descomunal, como o da Marcopolo (maior fabricante de carroceria de ônibus do Brasil). Há exposição de todos os setores da indústria, do comércio, da agricultura, da gastronomia, da prestação de serviço, da arte etc. Um dia é pouco para a visitação completa. Realizada a cada dois anos, a festa de 2012 tem o tema Uva, Cor, Ação! A Safra da Vida na Magia das Cores
Para assistir à vinheta da Festa da Uva 2012, clicar aqui.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

SERRA GAÚCHA

Na Serra Gaúcha, ocorre a Festa da Uva em Caxias do Sul (que se denominava Campo dos Bugres até 1877), Um evento difícil de ser comparado, pela sua grandeza principalmente. O tema deste ano é UVA, COR, AÇÃO - A safra da vida na magia das cores. Depois dou maiores detalhes. 
Em Gramado não há carnaval, refúgio para aqueles que não gostam da folia. Inclusive baianos e cariocas vieram passear neste encanto de lugar. Refúgio com refrigério natural.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AS RAÍZES DO MAL

O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Sartori, em recente entrevista para VEJA, não acha que sua classe tenha bons salários. Ele justifica: "Quanto ganha um alto executivo numa empresa privada? Oitenta mil reais por mês. Quanto ganha o presidente da Petrobras? Deve ser mais de 45.000 reais por mês. O juiz ganha 24.000 reais. Não é um salário à altura do cargo. É inferior às suas necessidades". 
O Estado pode ser comparado com uma empresa privada que paga 80.000 reais a seus altos executivos? Quantos presidentes da Petrobras há no país? Um. Quantos juízes? Sem comentário.
A propósito, os altos salários foram também responsáveis pela situação atual do Estado grego.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

VERDADES

As privatizações não apontam para um Estado mínimo, pelo contrário, o Brasil continua a crescer insustentavelmente. 
Depois da privataria tucana, a privataria petista. 
O corte no orçamento (55 bilhões) é necessário, cada vez mais necessário. A sexta economia do planeta não pode cometer os erros que levaram a Grécia (por exemplo) à bancarrota.
O Estado máximo (estatismo) é que está em crise, não o neoliberalismo. Isso já ocorreu na debacle soviética, cuja causa não foi o socialismo. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS

No Anuário do Estado do Rio Grande do Sul para o ano de 1890 (dez anos antes do meu avô ter nascido), há um detalhado relato das linhas de diligências. As principais: entre Porto Alegre e Viamão; entre Rio Pardo e Encruzilhada; entre a Estação de Ferreira e Caçapava; Entre Santa Maria e Cruz Alta; entre São Gabriel e a Estação do Umbu; entre Alegrete, Rosário e a Estação de  S. Pedro; entre S. Gabriel e Bagé; entre Alegrete e Uruguayana; entre Sant'Anna do Livramento e Alegrete; entre a Estação de Piratiny e a villa do mesmo nome; entre Bazilio, Herval e Jaguarão; entre Maria Gomes, Arroio Grande e Jaguarão; entre Livramento, Quarahy e Uruguayana...
"ENTRE ALEGRETE E URUGUAYANA
A empreza de Clarimundo Flores, sem diaz marcados, faz 4 viagens por mez. Tem os seguintes preços: 
1 passagem................................ 20$000 rs.
Por klgr. de encommenda ........     $250 
Para os assignantes:
1 passagem ............................... 15$000 rs.
Por klgr. de encommenda ........     $200
As passagens de ida e volta tem um abatimento de 5%.
Tendo mais de 3 passageiros e havendo urgencia no transporte se farão viagens em um dia.
Agentes: em Uruguayana - Carmello Eguia; em Alegrete - Freitas Valle & Comp.
A empreza Santos & Comp. faz 4 viagens ordinarias por mez entre Alegrete e Uruguayana e faz tambem viagens extraordinarias quando é preciso.
Os preços são: passagem para assignante 15$000 rs.; para não assignante 20$000 rs.; por klgr. de bagagem ou encommenda 200 rs.
Agentes: em Uruguayana - Custodio Carlos & Comp.; em Alegrete - Candido Rosario da Silva".

CURIOSIDADE


Abaixo, escrevendo sobre o assoreamento dos rios, citei meu amigo e historiador, Valdir Amaral Pinto. (O homem tem uma memória prodigiosa, testemunha a maioria de quem o conhece há mais tempo.) Seis dias depois, ele me passa um livro (cuja primeira página é ilustrada acima), de onde transcrevo o seguinte:
"NAVEGAÇÃO DO IBICUHY E URUGUAY
O  vapor Expresso Itaquy (57 toneladas), auxiliado por 5 chatas de 20 a 80 toneladas cada uma, navega em dias determinados entre os portos de Cacequy, Uruguayana, Itaquy e S. Borja.
Os preços das passagens são: De Cacequy a Uruguayana 1ª classe 100$000, 2ª classe 60$000 [...]
Por cada carga de tonelada (1.000 kilgr.) o frete é de 70$000 entre Cacequy e Uruguayana; metro cúbico 45$000; por cada tonelada entre Uruguayana e S. Borja 30$000.
Os empresários desses vapores são os proprietários Barbará & Filhos. (A frase correta é 'Os proprietários desses vapores são os empresários Barbará & Filhos'.)
O vapor Eugenia (de 15 toneladas) de propriedade de Christiano Haespert & Cia, navega entre Cacequy e Uruguayana quando as águas do Ibicuhy o permitem. O preço das passagens entre Cacequy e Uruguayana é 50$000 rs. Agentes em Cacequy - Fonseca & Cia".
(A moeda brasileira em 1904 era o RÉIS.)  

MISTER EXTRAORDINÁRIO

Nunca me canso de falar/escrever sobre livros. Exceto pelas limitações de tempo e espaço, dedicar-me-ia ainda mais a esse mister extraordinário. Para realizá-lo, todavia, outra atividade é indispensável: a de ler, ler e ler. Nestes dias, por exemplo, leio Armas, germes e aço – os destinos das sociedades humanas, de Jared Diamond. O livro é tão bom, que não posso esperar o final para lhes trazer, caros leitores, uma pequena amostra de seu conteúdo. Entre os dados curriculares do autor, consta o de ser um biólogo evolucionista. Em 1972, caminhando por uma praia da Nova Guiné, ele encontrou Yali, importante político local, que o indaga: “Por que vocês, brancos, produziram tanto 'cargo' e trouxeram tudo para Nova Guiné, mas nós, negros, produzimos tão pouco 'cargo'?”. Na ilha, “cargo” significa toda tecnologia desenvolvida pelo invasor (do machado de aço ao guarda-chuva). As questões sobre a desigualdade no mundo moderno podem ser assim sintetizadas: “Por que a riqueza e o poder foram distribuídos dessa forma e não de qualquer outra?”. Indiretamente: “Por que os índios americanos, os africanos e os aborígines australianos não dizimaram, subjugaram ou exterminaram os europeus e os asiáticos?”. Evitando a resposta que parece mais óbvia, de que há diferenças biológicas entre os povos (que sempre fomentou o racismo), Diamond analisa os ritmos diversos de desenvolvimento das sociedades nos últimos 13 mil anos.  A começar pelo cultivo de plantas e domesticação de animais. A produção de alimentos fez a diferença, segundo esse estudioso. Um exemplo convincente é dado pelos povos maoris e marioris, agricultores e caçadores/coletores, respectivamente. Ambos de origem comum, mas com um destino tão diverso.  A população dos maoris cresceu; artesões, chefes e soldados podiam se dedicar com exclusividade no fabrico de ferramentas, na guerra e na arte. Hoje a amostra fica por aqui. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ALUSÃO


O edifício da imagem acima foi construído há pouco tempo, na rua Benjamin Constant, centro de Santiago. Antes mesmo de ser afixado o nome (visto no canto inferior esquerdo), algo me chamava a atenção na arquitetura do prédio, mais precisamente a combinação de linhas e cores entre o "C" vermelho e a vidraçaria escura. Lembrava-me da pintura de Piet Mondrian, expoente máximo do neoplasticismo. Qual foi  minha surpresa ao verificar o nome dado ao edifício? Mondrian (Centro Profissional). Posso estar enganado, mas a escolha desse nome é uma alusão ao pintor holandês. Um caso raro de intertextualidade não-verbal, envolvendo duas grandes artes, a arquitetura e a pintura. 

domingo, 12 de fevereiro de 2012

COMENTÁRIOS DIVERSOS

Ontem fui ao circo, mais exatamente ao The Magic Circus, que se encontra instalado em frente à escola da URI. Os números apresentados são figurinhas batidas do espetáculo circense: mágica (com desaparecimento de uma pessoa dentro de uma caixa transpassada por gavetas e bastões), malabarismo, acrobacia, globo da morte e as trapalhadas de um palhaço. Uma coisa positiva é que não há animais, encerrando-se de vez uma prática especista abominável. 
O circo é remanescente de outra época. Por isso, resiste com dificuldades. O The Magic Circus é formado por dois casais, basicamente. 
*
De ontem pra hoje, ouvi torcedor colorado flauteando que já perdeu a graça ganhar a Copa Santiago de Futebol Juvenil. Não me importo mais, uma  vez que me especializei em ser um gremista (auto)crítico, que perdeu a ilusão.
*
A propósito, sou exemplo de como o conhecimento acaba com a ilusão, com qualquer forma de ilusão, inclusive a de que o conhecimento pode conduzir o homem à felicidade, governar o mundo. (Isso já é autocrítica!)
*
Fui ver a primeira partida do Grêmio no Alceu Carvalho. Observei -o atentamente, analisei o que vi (enquanto via), concluí que se tratava do pior time gremista vindo a Santiago para a Copa. Registrei essa avaliação em meu blog. A partir do conhecimento, foi-se a ilusão (que mantém todo torcedor). Não compareci mais ao estádio, porque soube desde então o que poderia ocorrer (e ocorreu). 
*
Surpreende-me que o torcedor gremista, vendo os fracassos do ano passado e deste ano, não projete o que será seu time num futuro próximo. Principalmente, no que se refere aos novos atletas que surgem como "prata da casa". As perspectivas do grande rival são mais promissoras. 
*
Para encerrar estes comentários, retomo o assunto que é dos meus preferidos: conhecimento versus ilusão. Não apenas os estádios lotam por indivíduos iludidos, mas as igrejas e os templos. Nesses ambientes, como escreveu Nietzsche, "nem a moral nem a religião possuem  qualquer ponto de contato com a realidade. Apenas causas imaginárias ('Deus', 'alma', 'eu', 'espírito', o 'livre-arbítrio' - ou também o 'não-livre'); apenas efeitos imaginários ('pecado', 'salvação', 'graça', 'castigo', 'perdão dos pecados'). Uma relação entre criaturas imaginárias ('Deus', 'espíritos', 'almas'); uma ciência natural imaginária (antropocêntrica; carência completa da noção de causas naturais); uma psicologia imaginária (apenas mal-entendidos acerca de si mesmo, interpretações de sensações gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, dos estados do nervus sympathicus, com a ajuda da linguagem de sinais da idiossincrasia moral-religiosa -'arrependimento', 'remorso', 'tentação do Demônio', 'proximidade de Deus'); uma teologia imaginária ('reino de Deus', 'o Juízo Final', 'a vida eterna'). Esse puro mundo de ficções se distingue muito a seu desfavor do mundo dos sonhos pelo fato de que este reflete a realidade, enquanto ele a falsifica, desvaloriza, nega". 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

POR QUE NÃO SOU MAÇOM?

Um leitor anônimo, raro por sua boa educação, questiona-me como fui convidado para entrar numa loja maçônica se sou ateu. O convite indireto, feito há mais de dez anos, partiu de um maçom que não sabia do meu ateísmo. Certamente, ele não sabe até hoje, uma vez que me conheceu nos anos oitenta, quando ainda me considerava católico, fortemente condicionado pelas pessoas mais queridas da minha família. Logo me afastei de Santiago por doze anos, sempre retornando na férias e nos feriados maiores. Bastou as primeiras leituras de Krishnamurti, de Filosofia (Nietzsche, Bertrand Russel, Feuerbach, entre outros) e de Psicanálise (Freud, Erich Fromm, entre outros), para perceber a grande ilusão. Mais tarde, a compreensão  de História Natural, principalmente sobre o evolucionismo de Darwin e pós-darwinistas, foi decisiva para descrer da vida após a morte, de deus etc. Desde o princípio da descrença, todavia, cuidava-me para não fazer alarde, como sói acontecer com os inconsequentes, que ignoram as próprias razões, que gostam de chocar, de aparecer. Em certos momentos, em vista de escrever (forçado pelas leituras cada vez mais aprofundadas, filosóficas ou científicas) sobre assuntos-tabu para a maçonaria (inclusive), acabo denunciando meu ateísmo. A propósito, por várias vezes analisei os motivos por que ainda vige o preconceito contra discutir religião. Como síntese dessas análises, esse preconceito é falsamente racionalizado como respeito ao outro, à sua crença no deus que melhor lhe apraz. Ele oculta um receio do processo mais lindo que atribuo ao discurso, à dialética: a desmistificação. De Sócrates (executado pelo poder político), passando por Giordano Bruno (executado pelo poder religioso), à maçonaria do século XXI, continua proibido discutir sobre deuses e religiões. Ao negar o convite supracitado, nada mais fiz que manter minha coerência, meu direito de ser um livre-pensador. 

IMPRESSÃO, SOL NASCENTE


A pintura acima marca o início do Impressionismo, derivado de "impressão" pintada por Monet. Apesar dos pintores da época empregarem uma paleta diversificada para representar uma percepção, Monet usou tons de apenas duas cores (como o leitor pode ver): azul e laranja. 
"Impressão foi pintada de uma janela que se abria para o porto de Le Havre ao amanhecer. O efeito da névoa disfarça, sem esconder por completo, os equipamentos, como os guindastes, do mais importante porto francês." 
(Parágrafo transcrito da coleção Grandes Mestres.)

MONET


Ontem comprei o terceiro volume da coleção Grandes Mestres (da pintura) na revistaria do Gessênio Dutra, em frente à Praça Moysés Vianna. Claude Monet foi o grande gênio do Impressionismo, cujo marco inicial é o óleo sobre tela Impressão, Sol Nascente (desse artista). A capa do terceiro volume é ilustrada com o Ensaio de Figura ao Ar-Livre (Voltada à Esquerda), pintada em 1886. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

CULTIVO DO TRIGO

O trigo começou a ser cultivado há 10.500 anos, no Sudoeste da Ásia (Crescente Fértil). Antes da domesticação, a espécie crescia no alto de um talo que se despedaçava espontaneamente, deixando cair as sementes no chão. Mas em todas as espécies ocorrem mutações. No trigo selvagem, um gene sofreu mutação, levando a gerar um talo mais resistente. Sem a intervenção dos primeiros agricultores, essa mutação não sobreviveria por muito tempo, uma vez que as sementes produzidas permaneceria suspensas no ar, incapazes de germinar. Por sorte, o homem estava à procura dessa mutação, justamente para colher as sementes e domesticar o cereal.  Do trigo plantado, o homem reservava a semente dos pés de trigo que tinham o talo mais resistente à antiga genética (que consistia e quebrar-se facilmente para a germinação natural). 
Observações:
1) O leitor não encontrará nada parecido com as informações acima na Internet;
2) Para saber mais, o leitor deve ler  Armas, germes e aço, de Jared Diamond;
3) Penso que a partir da cultura do trigo e da cevada, a região onde eram produzidos ficou conhecida como Crescente Fértil, que abrange o atual Israel, Líbano, Jordânia, Síria, Iraque... 
4) Como ilustração da postagem, a tela Campo de trigo com ceifeiro e sol, de Van Gogh.

MAÇONARIA PERFEITA?

Em resposta a uma postagem do Júlio Prates (posteriormente excluída), Jorge Loeffler escreve o seguinte: 
"A Maçonaria como instituição é perfeita. Os homens que a compõem nem sempre. Ela prega respeito ao Estado e não discute política partidária e nem religião. Fora dos Templos, seus membros são livres".
Não conheço a maçonaria, já fui convidado e declinei. Não posso sequer opinar se ela é perfeita ou não. Opinião não é verdade (distinguiam os gregos clássicos). Sou racional, penso, não acho. 
Todavia, lendo o que escreveu Loeffler, tenho condições de fazer uma análise de seu discurso
Em "A maçonaria como instituição" posso inferir que a maçonaria é outra coisa também (que não vem ao caso). Ela é instituição. "Como instituição é perfeita." Não como a outra coisa que é (que não vem ao caso). Dessa forma, para quem não conhece a maçonaria (como eu), ela consiste numa instituição perfeita. A priori, isso não passa de uma opinião. Não posso conhecer qualquer coisa a partir de uma opinião, de um ideal,  de uma tese. Dialeticamente, a verdade pode vir com a síntese (ainda distante).
Não sei o que é a maçonaria, mas sei o que é uma instituição (constituída fundamentalmente por homens). Óbvio, Loeffler se refere apenas ao rito, ao costume, ao código moral da organização, o que fica subentendido a partir do segundo enunciado: "Os homens que a compõem nem sempre". 
Pressuposto 1: Há uma instituição maçônica perfeita sem os maçons.
Pressuposto 2: A maioria dos homens é perfeita.
Aqui sou obrigado a intervir peremptoriamente: no âmbito da realidade, nenhum homem é perfeito. Mesmo idealizado por uma religião falsamente teocêntrica, o homem não o é. 
Pressuposto 3: Os homens imperfeitos - uma minoria - sempre estão constituindo socialmente a maçonaria. Em razão disso, a organização deixa de ser perfeita.
No terceiro enunciado, Loeffler escreve que a maçonaria "prega o respeito ao Estado (e não discute política partidária e nem religião)". 
Respeito ao Estado? 
Pressuposto 4: Não houve a participação maçônica na Inconfidência Mineira, pela independência do Brasil. Da mesma forma, na proclamação da República. A história está equivocada em incluir maçônicos nesses grandes eventos que desrespeitavam o Estado até então constituído.
O próximo enunciado fundamenta o pressuposto 5: Dentro do templo, os membros não são livres. 
Como pode ser perfeita uma instituição que não proporciona liberdade aos seus membros? A propósito, qual instituição social torna mais livre o indivíduo? 
Não conheço as lojas maçônicas de Santiago. Conheço alguns homens que participam delas. E isso basta para saber que não se trata de instituições perfeitas.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

QUESTÃO INTELIGENTE

Um agradável desafio aos leitores:
Foi o aumento da densidade populacional que forçou a espécie humana a recorrer à produção de alimentos ou foi esta produção quem permitiu o crescimento da densidade populacional? 
Causa e consequência do tipo "ovo ou galinha".
Alerto para o equívoco que considera o sujeito pensante e o tempo presente como decisivos, como parâmetros de verdade.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ADENDO

Na postagem anterior, não registrei o seguinte: depois de matar o rio, os lavoureiros sugaram suas águas nas estiagens prolongadas para irrigar a plantação de arroz. Neste aspecto, a amostra representada pelo Rincão dos Machado não é válida. 
A despeito da ação de caçadores ao longo dos últimos cinquenta anos, ainda aparecem espécimes de cervídeos no rincão. Tão raros quanto os tatus. 
As antigas roças abandonadas viraram densas capoeiras, onde não mais se elevará aos céus o angico, o camboatã, o guabijuzeiro, a canela-de-veado, a aroeira-de-bugre, a guajuvira  etc. Essas espécies vegetais eram nativas na costa do Rosário.
(Em conversa com o Dr. Valdir nessa tarde, fiquei sabendo que já houve linha de navegação de Uruguaiana a Cacequi. Embarcação de médio porte. Hoje não sobe uma canoa.)
  

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO RINCÃO DOS MACHADO


O Rincão dos Machado é uma pequena amostra da degradação ambiental por que passa a região, o estado, o país, o planeta nos últimos cinquenta anos. 
No princípio, a localidade era denominada Rincão dos Cervos, em razão do grande número de veados existente nos dois lados do Rosário. Um dos maiores divertimentos de nossos ascendentes consistia em caçar nos fins de semana. Cachorros veadeiros, dezesseis de dois canos e uma determinação que remonta geneticamente ao paleolítico. 
Não apenas os veados foram desaparecendo aos poucos, mas também lebres, tatus, capivaras, codornas... Um motivo justificava a matança: algumas dessas espécies batiam na roça, alimentando-se de plantas que asseguravam a sobrevivência da comunidade. 
Por falar em roça, esse método pré-histórico de cultivo representou uma das piores formas de degradação, derrubando a mata nativa (geralmente à beira de um curso d'água), queimando-a inteiramente ou em forma de coivara, para realizar o plantio de feijão, milho, abóbora etc. 
No rincão, enquanto vovô Fermino vivia, o campo se destinava à criação do gado; as áreas de mato, após o corte e queima das árvores, destinava-se à plantação. Depois de sua morte (1977), as roças foram paulatinamente abandonadas e as várzeas de grama se transformaram em lavouras para a cultura do soja (mais lucrativa). 
As roças contribuíram significativamente para o assoreamento do Rosário, onde veio a ocorrer a mais grave degradação do habitat de inúmeras espécies de peixe. 
Durante minha infância e adolescência, admirava os cardumes de grumatã virando-se entre as pedras (feito baixelas de prata). Voga, traíra, jundiá e alguns outros (o maior foi um certo dourado) chegavam a um tamanho médio. 
Hoje aquela diversidade se reduziu a um número que se conta nos dedos. As espécies existentes não chegam a se desenvolver, ou devido às enchentes violentas, ou às redes (que deveriam ser para sempre proibidas). 
O afã dos pescadores (semelhante ao dos caçadores) não tinha limite, no princípio, jogando bomba nos poços inclusive e matando o rio aos poucos. Paralelamente, os lavoureiros também o matavam com os venenos agrícolas.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

VAN GOGH

Nas bancas,  o segundo volume da coleção Grandes Mestres. Van Gogh é o pintor que mais admiro, que mais conheço biograficamente. 

CMI

Nessa manhã, foi inaugurado o Centro Materno Infantil de Santiago, que se parece com um "coração de mãe", em razão do grande espaço interno - otimizado de tal forma que surpreende com inúmeras salas, banheiros, corredores, escada, elevador, paredes decoradas, climatização... Ao cumprimentar o Hugues, por essa multiplicação do espaço interno, disse-lhe que só tinha visto tamanha organização em Curitiba. Ele me respondeu que procedia minha observação, uma vez que o Júlio (e me apontou para o prefeito) é um apaixonado por essa cidade paranaense. Um apaixonado por Santiago.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

ARMAS, GERMES E AÇO


Ontem recebi o livro Armas, germes e aço (os destinos das sociedades humanas), de Jared Diamond, norte-americano, biólogo evolucionista e professor de Fisiologia da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia. 
Excertos da orelha do livro:
"Por que os povos eurasianos conquistaram, desalojaram ou dizimaram nativos das Américas, Austrália e África?";
Por meio de uma intrigante revisão da evolução dos povos, em uma viagem através de 13.000 anos de história dos continentes, Jared Diamond conclui que a dominação de uma população sobre outra tem fundamentos militares (armas), tecnológicos (aço) ou nas doenças epidêmicas (germes), que dizimaram sociedades de caçadores e coletores";
"Valendo-se da geografia, da botânica, da zoologia, da arqueologia e da epidemiologia, Diamond nos faz ver como a diversidade humana é o resultado de um processo histórico, e não de particularidades referentes a inteligência ou aptidões (derrubando teorias racistas".
O assunto é dos meus favoritos. Hoje li 54 páginas, das 472.  
Diamond escreveu também O terceiro chimpanzé e Colapso - como as sociedades optam entre o fracasso e a sobrevivência
A indicação desse autor me foi feita pelo General Stumpf, comandante da 1ª Bda C Mec.

YOANI SÁNCHEZ

A arte, analisou Aristóteles, é mimese (imitação da realidade). A vida real, no entanto, tem imitado a arte. O caso da blogueira cubana Yoani Sánchez, pela décima nona vez impedida de sair de seu país (o menos democrático do mundo), lembra O Processo, de F. Kafka. K., personagem central, é preso e condenado sem saber o motivo. O diálogo entre Yoani e a funcionário do escritório de imigração de Cuba poderia ser transcrito para as páginas do romance sem prejuízo da "atmosfera kafkiana". Uma pequena diferença é que se sabe o motivo do impedimento de saída de Yoani e se sabe o poder que cerceia sua liberdade.
(No Brasil, os românticos admiradores de Cuba se mobilizam com algum tipo de difamação contra Yoani, para justificar a negativa do governo da ilha.)

COMENTÁRIOS DIVERSOS

A imagem que eu fazia de um juiz de direito, quando era ainda um adolescente lá no Rincão dos Machado, aproximava-se da infalibilidade em pessoa. Bastou ler o Dicionário Filosófico, de Voltaire, para saber que sequer o papa a internalizaria como constituinte do caráter. Bastou acompanhar a realidade (pela grande mídia), para saber que os juízes (e todas as demais autoridades envolvidas com esse ideal chamado "justiça") não passam de pessoas tão suscetíveis de erros, humanas demasiado humanas.
O desembargador Arno Werlang, pivô da crise no alto judiciário gaúcho, deve sofrer de uma doença psíquica, de uma neurose. Agora ele diz que poderá voltar atrás (depois de todo o imbróglio que criou). 
*
Leio na blogosfera santiaguense que a juíza Lílian Paula Franzmann foi afastada da Vara da Infância e Juventude de Santa Maria. O mais importante não é noticiado: o motivo do afastamento. 
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Era uma necessidade, ao invés de uma mera possibilidade, do Conselho Nacional de Justiça poder investigar os magistrados. Mesmo assim, o placar no Supremo Tribunal Federal foi apertado, mais uma vez denunciando a subjetividade que impera na interpretação da lei. Por que 6 a 5? Por que não 11 a 0? Se o STF divide-se em questões muito importantes, o que esperar dos demais representantes do poder que representam agora não mais imune, não mais infalível.
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Vocês percebem a grande contradição instituída pelo próprio Estado democrático? A maioria sempre vence, mesmo com a diferença de um voto. A minoria, mesmo representando a metade menos um voto, nada significa. Quanto às minorias privilegiadas, não passam de uma concessão que a maioria faz para redimir sua má consciência. 
*
O bom da democracia é que as pendengas se resolvem no voto, no papel, na ainda idealizada justiça. Na Colômbia, onde há internamente outro estado  (defendido pela guerrilha), os juízes são executados. A propósito, no Rio de Janeiro...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

NÃO TENHO RAZÃO?

Nunca antes na história que conheço do futebol gaúcho, o Grêmio perdeu duas partidas em três disputadas pelo campeonato estadual. Assim será no próximo Brasileirão, escrevam isso. Reflexo dessa decadência pode ser comprovado na equipe de futebol juvenil trazida pelo clube a Santiago. Ontem perdeu a segunda partida (das duas disputadas). Numa previsão otimista, poderá vencer o Cruzeirinho, mas cairá outra vez ante o Inter (o melhor time a disputar a Copa deste ano). Cadê o espírito guerreiro, que caracterizou o tricolor nas décadas passadas? Mudou-se para o Gigante da Beira-Rio? Necessitamos de dois ou três Guiñazú. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

LEMBRANÇAS DE BLUMENAU

Em 1986, quando passei uma semana em Blumenau (SC), ainda havia sinais da grande enchente que ocorrera três anos antes. Naquela oportunidade, eu acompanhava uma equipe de mecânicos do Exército, servindo em Curitiba. O 23º Batalhão de Infantaria empregara suas viaturas no apoio à população blumenauense, o que resultou em muito  trabalho para nossa equipe de apoio logístico. As caixas de mudança dos Jeep Willys estavam estouradas, principalmente as engrenagens da primeira e segunda marchas. Sargento Heron, Azevedo e eu recuperamos oito viaturas indisponíveis (os babacas dizem que milico não trabalha). Depois das 17 horas, encerrávamos as atividades de manutenção, tomávamos um banho, vestíamos uma civil e frequentávamos os bares no centro da cidade. Três aspectos me chamaram a atenção nessa cidade catarinense: a forma como o rio Itajaí se contorce dentro do perímetro urbano, a arquitetura alemã e a beleza das mulheres. 
Entre os prejuízos causados pela enchente, contabilizava-se o moral baixo da população. Para elevá-lo, as autoridades resolveram criar o Oktoberfest, que foi um sucesso desde o princípio.
(São Vicente decreta emergência ao mesmo tempo em que promove a festa.) 

SECA E CARNAVAL

Pouco convincente o decreto de emergência do prefeito de São Vicente. Sua preocupação me faz lembrar de uma frase de Nietzsche, extraída de Para além de bem e mal:
"Quando a casa está a arder, esquecemo-nos até do almoço. - Sim: mas depois comemo-lo sobre as cinzas".
O prefeito contratou bandas renomadas para fazer o povo dançar (sobre as cinzas). 

NIETZSCHEANO OU NIETZSCHIANO?

Essa dúvida persiste, aparecendo as duas grafias com igual ocorrência. Para manter a coerência, preferi repetir a primeira em meu livro O fogo das palavras
O novo acordo ortográfico, todavia, normatiza o seguinte:
Em palavras com sufixos -ano e -ense que se combinam com um i que pertence ao tema (havaiano [de Havaí] etc.) ou derivadas de palavras que têm na última sílaba um e átono (Acre, Açores), escreve-se antes da sílaba tônica -iano e não -eano: acriano, açoriano, sofocliano, torriense. Mas escreve-se -eano se a última sílaba da palavra de origem tiver e tônico: daomeano, guineano ou guineense etc.
Portanto, seguindo a norma ortográfica, nietzschiano.