quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

DIÁLOGO

GIRELI – Ontem foi um dia cheio pra mim. Andei de um lugar a outro, muito preocupado com o roteiro de venda obrigado a cumprir pela região. Próximo a Jaguari, encontrei alguém com uma enxada ao ombro, assobiando uma canção nativista. Naquele momento, queria ser igual a ele.
F. – O homem do interior é mais feliz. Sua meta é a lavoura. O grande dissabor que lhe ocorre é de vez em quando uma seca, um temporal de quando em vez.
GIRELI – Um temporal que existe fora dele.
F. – Diante do qual, nada pode fazer.
GIRELI – Sim. O temporal acaba com a plantação em poucos minutos, não com a expectativa do replantio ou da próxima safra.
F. – Perdido um ciclo, um novo se inicia sempre promissor.
GIRELI – O “temporal” que fazemos na cidade (por nossa conta, por nosso estresse), o “temporal” que fazemos em nossas vidas não existe.
F. – É de natureza psicológica, beira uma neurose.
GIRELI – A casa em que moro não dispõe de um quintal, faria uma horta, meteria a mão na terra.
F. – Uma pesquisa com camponeses canadenses, li isso em alguma parte, apontava-os como as pessoas mais felizes do planeta.
GIRELI – Guardadas as distâncias, aqui há uma semelhança.
F. – Apesar de a cidade ter alastrado seus domínios para muito além do perímetro urbanizado.
GIRELI – Levando seus temporais...
F. – Mas não continuará assim. Há um movimento, que ganha adeptos em diferentes partes do mundo, pelo retorno à simplicidade, à natureza (quase autossustentável, ecologicamente correto).
* * * 
O diálogo acima é a reconstituição de uma conversa que tive com meu amigo Juarez Gireli (no escritório do Dr. Valdir Pinto). O Gireli personifica uma combinação rara: humildade e inteligência. Por alguns anos, ele foi vendedor e viajava para as cidades vizinhas. 

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