quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CRÔNICA DE UM SUICÍDIO


Depois do almoço de domingo, ele deixa o café-hotel com uma arma de fogo no bolso (pistola ou revólver?). Não leva seus pincéis, tintas e cavalete para trabalhos externos, como o fazia desde sua chegada a Auvers. Há poucos dias, teve um encontro com o irmão, que sempre o ajudou financeiramente. Theo encontra-se com dificuldades sérias: o filho esteve à morte, desempregado, com nefrite... Pensa deixar a grande capital, ir para junto dos pais. Ele sente pelo afastamento do irmão, um desamparo difícil de suportar. Nessa tarde, perambula sem destino definido, um pouco aquém da loucura e dos trigais maduros (onde pintou sua última tela). Para o estranhamento dos donos do café, ele volta apenas no entardecer. A senhora Ravoux percebe a dificuldade em andar de seu hóspede. O senhor Ravoux vai ao quarto do pintor, encontra-o encolhido na cama. Para responder à pergunta se estava bem, ele abre a camisa e mostra uma pequena ferida na altura do coração. O dr. Gachet é chamado, o qual atesta que a bala desviara na quinta costela, alojando-se num lugar impossível de ser extraída. Ele padece por toda a noite. Seu irmão vem vê-lo na manhã seguinte. Não arreda o pé do quarto, trocando algumas palavras com o paciente (que pede para fumar um cachimbo). Na madrugada de 29 de julho de 1890, Vincent Van Gogh deixa de agonizar, morre aos 37 anos de idade.
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Em Van Gogh, o suicida da sociedade, Antonin M.J. Artaud escreve:
“Não há fantasmas nos quadros de van Gogh, não há visões nem alucinações.
É a tórrida verdade de um sol de duas horas da tarde.
Um lento pesadelo genésico pouco a pouco elucidado”.
Baseado na versão mais conhecida da morte de Van Gogh, escrevi a crônica acima. 

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