sábado, 16 de julho de 2011

SOM E FÚRIA


Há pessoas, coisas e fatos que, caracterizados por uma estranheza inexplicável, mereceriam pertencer à ficção, ao invés da realidade. 
A literatura latino-americana fez escola na segunda metade do século XX com o que foi chamado de realismo mágico (ou maravilhoso). 
Ao tomar conhecimento de algo esquisito, acorre-me à lembrança o célebre romance garciamarquiano Cien años de soledad.
Na década de noventa, servi em Forte Coimbra (que chamei literariamente de vila das cobras). Exatamente lá, onde o diabo perdeu suas botas. Essa pequena localidade no coração do Pantanal parecia sair de um mundo irreal, mítico. Seu cemitério, por exemplo, submergia por meses, durante a cheia do rio Paraguai. As cruzes mais altas ficavam de fora, apontando para um céu deformado pela canícula.
Recentemente, contaram-me que em São Borja existe uma pequena capela fechada há mais de 20 anos. O motivo é este: Toda vez que ela era aberta, morria alguém nas redondezas. 
Em Santiago, um rapaz se diz lobisomem. Seus braços estão marcados por cortes de faca, de onde tira o próprio sangue para passar no pão. 
Certo estava Shakespeare, que definiu a vida em Macbeth como uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria. 

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