domingo, 31 de julho de 2011

RIO GRANDE POBRE


Zero Hora publica hoje uma ampla reportagem com o título O RIO GRANDE INDIGENTE. No mapa acima (basta um clique sobre a figura para ampliá-la), em vermelho, as regiões com os casos de maior pobreza no Estado. A reportagem se restringe ao âmbito rural. 
Santiago, Unistalda, Itacurubi e São Borja (motivo de uma das minhas postagens anteriores) encontram-se dentro da área vermelha ou muito próximos dela. 
(A reportagem exagera ao tratar a pobreza como indigência. Não é o caso da nossa região.)

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O POETA

O poeta é um idólatra de seu eu. Todavia, disfarça esse sentimento umbiguista, passando-se por vítima. Ao remexer em feridas que conhece muito bem, até reavivá-las outra vez, pensa dar aos próprios versos o tom aguado do sangue indolor.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

SANTIAGO A SÃO BORJA

Nesta semana, fui duas vezes a São Borja. Observando a paisagem de ambos os lados da BR 287, percebi que há muitos ranchos pobres, contrastando com umas poucas casas ricas. As sedes de fazenda são equidistantes, protegidas pelos arvoredos, ao contrário das casas humildes que se fincam às margens da rodovia. O desenho geográfico não se altera significativamente entre a zona pecuarista e a agrícola. As causas estão no latifúndio pretérito, hoje melhorado com a produção de qualidade, com o crescente emprego da tecnologia. O agronegócio dá mais lucro a todos, empregadores e empregados (também em razão do menor número destes). O excedente humano, ou vai para a cidade, ou finca-se em sua casinha à beira da rodovia. A questão: há uma lógica natural nesse desenho ou não? 

APOÉTICO

Mário Quintana (acabei de assistir num antigo documentário na TVE) falava que não se faz poesia social, não há poeta social (no bom sentido). As classes desfavorecidas, segundo ele, já são exploradas financeiramente, para que explorá-las literariamente? 
Não querendo contraponteá-lo (e já o fazendo), cito Navio negreiro e Morte e vida severina, de Castro Alves e João Cabral de Melo Neto, respectivamente. 
Independentemente de classe social, o homem é cada vez menos um ser poético. Não como sujeito (capaz de produzir), mas objeto (capaz de inspirar). No máximo, ainda se faz merecedor de uma referência prosaica. 
À exceção dele (o homem), tudo mais se oferece como motivo de poesia. Abaixo, dou o exemplo dos pessegueiros em flor. 
(Mais abaixo), vejam no que deu minha tentativa de escrever um poema social. 

FLORES EXTEMPORÂNEAS

Os pessegueiros florescem em julho, pontuando de rosa claro as manhãs de nossa cidade. O tempo muda, o inverno vai embora, porque os pessegueiros florescem mais cedo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

CAMPANHA

o latifúndio
é rico
o latifúndio
é pobre
rico em terra
gado soja
arroz e pasto
pobre o homem
que cuida o gado
e planta soja
arroz e pasto
para o dono
do latifúndio

terça-feira, 26 de julho de 2011

SENSACIONALISMO?



Uma notícia com suspeita de sensacionalismo (para não dizer mentira):
"Cientista descobriram um quasar com o maior e mais distante reservatório de água do Universo, a mais de 12 bilhões de anos-luz de distância. Gás e poeira formam nuvens ao redor do buraco negro central do quasar. A água, em forma de vapor, equivale a 140 trilhões de vezes toda a água do oceano da Terra".
Li essa no UOL.

BOLA PARA LONGE

O Brasil não aprende com a história e volta a cometer os mesmo erros. Para a Copa do Mundo de 1950, o Maracanã não estava pronto: havia andaimes, montes de cimento, grades soltas (conforme o publicado numa reportagem da última VEJA). O estádio ficaria pronto dez anos mais tarde. Naquela época, o futebol jogado dentro de campo era o mais importante; o esporte pelo esporte. A revista publica pela segunda vez sobre o atraso das obras para a Copa de 2014. Independentemente dessas publicações, (a)postei em meu blog que estádios não ficarão prontos a tempo. Será um vexame do qual nunca mais o país se recuperará, agravando sua má fama já adquirida com o tráfico de drogas, prostituição de menor, corrupção, violência, entre outros aspectos negativos em que somos campeões. Quanto ao futebol, em 1950, a nação vivia a perspectiva da emergência, da ascensão, da glória que alcançaria oito anos mais tarde, na Suécia. Hoje a seleção vive a decadência, que, inexorável e definitivamente, perdeu o favoritismo que ostentou ao longo de quatro décadas. A última Copa do Mundo e, mais recentemente, a Copa América provam que não há exagero em minha avaliação. Ainda não caiu a ficha do senso comum, da maioria dos meus compatriotas, porque um bode expiatório é oferecido para o sacrifício: o técnico. Assim foi com o Dunga. Assim será com o Mano Menezes. A propósito, isso virou estratégia para a sobrevivência dos clubes. Em 2014, insisto, não teremos uma melhor seleção, cuja referência é a que foi incapaz de passar pelo Paraguai (goleado pelo Uruguai). A condição de anfitriã não pesará como fator decisivo. Uma nova frustração calará mais fundo na alma dos brasileiros, porque desta vez ela virá ao crepúsculo (quando o sol da glória, do orgulho, feito uma bola, será chutado para longe). Na próxima Copa, insisto, estádios não estarão prontos, a exemplo do Maracanã de 1950.  

segunda-feira, 25 de julho de 2011

QUENEMNUMBAILE




Minha relação com a blogosfera, nestes dias, é paradoxal (entre a presença e a ausência). Mal comparando, vou ao baile para ver dançarem os outros. Certos bailes, especialmente nos clubes do interior, também proporcionam divertimento para quem, sem par ou indisposto, resolve assistir aos movimentos na pista de dança. O grande cartunista Santiago retrata com sua verve humorística certos aspectos desses bailes (representados na imagem acima). Nada postei, mas ri, digo, li muito. 
(Para ver melhor, basta clicar com o lado direito do mouse e abrir ampliado numa outra janela.)

sábado, 23 de julho de 2011

A GRANDE HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO

Nesta semana, encerrei a leitura de dois livros. Retorno a Richard Dawkins: A grande história da EVOLUÇÃO, que reúne mais de 700 páginas. O primeiro capítulo tem como título A arrogância da interpretação a posteriori. Segundo Dawkins, o historiador tende à soberba do presente: "achar que o passado teve por objetivo o tempo atual, como se os personagens do enredo da história não tivessem nada melhor a fazer da vida do que nos prenunciar". 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

GOOGLE IMPRESSO

Em Forte Coimbra, fui contratado pelo prefeitura de Corumbá para dar aulas de Português e Literatura no colégio Ludovina Portocarrero. Em caráter excepcional. Não havia professores na vila. Trabalhava o dia todo, como responsável pelas seções de manutenção de viaturas, usina e embarcação. À noite, dava aulas na escola da localidade, para a qual deixei, ao ser transferido, 20 livros didáticos e literários, um jogo de xadrez e a BARSA (com 18 volumes). Essa enciclopédia era o Google impresso antes da Internet.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

TEMPO DE CONTRASTES

Alagamento no Brasil, nevasca no Chile, onda de calor nos Estados Unidos... Tudo isso num único continente, longo e latitudinal como só o é a América. 
Não cito esse contraste para justificar o evidente desequilíbrio climático, com suas consequências nada agradáveis para o homem (cada vez mais hedonista). Estou farto de escrever sobre assuntos sérios, sempre me expondo a possíveis interpretações equivocadas. Alguns comentaristas anônimos, engraçadinhos, já confundiram minha seriedade com pernosticismo.
Também sei brincar, tergiversar, discutir o sexo dos anjos, coisa e tal.
Nesta postagem, volto a uma questão muito discutida em nossa blogosfera: frio versus calor. 
Os Estados Unidos são mais ricos que o Chile, apesar de não faltar análises contrárias (ávidas que isso venha a se tornar realidade). Pois bem, não há notícia de que alguém morreu de frio no Chile. Em contrapartida, morreram 20 pessoas de calor no país ainda mais rico do planeta. 
Por dois anos, vivi num dos lugares mais quentes do Brasil: Forte Coimbra, no Pantanal Sul-Mato-Grossense. A temperatura oscilava pouco durante o dia, acima dos 40º C. Não se permitia ar-condicionado, uma vez que a energia era produzida na própria vila por geradores alimentados a óleo diesel. Uma das minhas atribuições era chefiar a equipe da Usina. 
O calor em Forte Coimbra era implacável. (Depois que saí, em 1996, a rede de energia elétrica chegou lá.)
Independentemente dessa experiência, prefiro o frio. Defendo essa preferência em pleno inverno, quando a maioria vive a reclamar do frio. No forte do verão, reclamam do calor. E não são os pobres que o fazem, aqueles que sofrem com o frio e o calor intensos.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A PROPÓSITO

Fazer / ter amigos é uma concessão à alteridade.

terça-feira, 19 de julho de 2011

PIMENTA E O AGRONEGÓCIO

Alguém pode associar o deputado Pimenta (PT) ao agronegócio? Obviamente, não.  Pois é... 
(O assunto desta postagem não saiu na VEJA.)

POR QUE ASSINO VEJA?

A VEJA desta semana traz uma reportagem desmitificadora sobre o deputado e escritor Gabriel Chalita. Lê-se no lead: "O que está claro: ele é vaidoso, rico e escreve livros com a mesma velocidade com que muda de partido". A priori, digo que são livros ruins.
A revista toca num assunto que há muito está na minha pauta: a falsa citação de autores clássicos, entre os quais Shakespeare e Fernando Pessoa são campeões. Às vezes, por ignorância. Às vezes, por pedantismo. 
Um dos livros de Chalita, Cartas entre amigos, escrito com Fábio de Melo (o padre gatinho) copia citações erradas da Internet (âmbito hipertextual que tenho chamado de "nova babel").
Citações falsas de Chalita:
A Fernando Pessoa: "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares"
A Leon Trotsky: "A vida é bela e digna de ser vivida"
A Machado de Assis: "Abençoados os que possuem amigos, os que têm sem pedir. Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende"
A Cora Coralina: "Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós"
.
Outro detalhe desmitificador: Chalita diz ter vendido 10 milhões de livros. Segundo as planilhas da rede de livrarias Saraiva, o número não passa de 70 mil.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

WILLIAM FAULKNER


O título da postagem abaixo é o mesmo de um romance de William Faulkner, o maior e melhor romancista norte-americano do século XX. Essa classificação é pessoal, não entendam de outra forma. Gostei tanto de O som e a fúria, lido ainda nos anos oitenta, que resolvi ler os demais romances do autor: Paga de soldado; Sartoris; Enquanto agonizo; Santuário; Luz de agosto; Absalão! Absalão!; Desça, Moisés; Os invencidos; Palmeiras selvagens/ Rio velho; Uma fábula... Faulkner também escreveu contos, poemas e roteiros para o Cinema.
Recomendo O som e a fúria


sábado, 16 de julho de 2011

SOM E FÚRIA


Há pessoas, coisas e fatos que, caracterizados por uma estranheza inexplicável, mereceriam pertencer à ficção, ao invés da realidade. 
A literatura latino-americana fez escola na segunda metade do século XX com o que foi chamado de realismo mágico (ou maravilhoso). 
Ao tomar conhecimento de algo esquisito, acorre-me à lembrança o célebre romance garciamarquiano Cien años de soledad.
Na década de noventa, servi em Forte Coimbra (que chamei literariamente de vila das cobras). Exatamente lá, onde o diabo perdeu suas botas. Essa pequena localidade no coração do Pantanal parecia sair de um mundo irreal, mítico. Seu cemitério, por exemplo, submergia por meses, durante a cheia do rio Paraguai. As cruzes mais altas ficavam de fora, apontando para um céu deformado pela canícula.
Recentemente, contaram-me que em São Borja existe uma pequena capela fechada há mais de 20 anos. O motivo é este: Toda vez que ela era aberta, morria alguém nas redondezas. 
Em Santiago, um rapaz se diz lobisomem. Seus braços estão marcados por cortes de faca, de onde tira o próprio sangue para passar no pão. 
Certo estava Shakespeare, que definiu a vida em Macbeth como uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria. 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

PÓS-MODERNIDADE

O individualismo é um dos subprodutos da pós-modernidade. O século XXI já demonstra esse espírito exclusivista, não obstante uma aparente expressão do contrário. Eis um paradoxo.
Nesta tarde, ao registrar as compras no supermercado, ouvi a moça do caixa ao lado dizer que estava feliz. O rapaz que fazia o pacote falou com uma naturalidade surpreendente: "O que tenho que ver com isso?". Essas foram sua palavras.

BASE NATURAL

Desde os primórdios da espécie humana, sabe-se que existe uma guerra entre machos e fêmeas. O termo para definir esse confronto de milhões de anos não é adequado, uma vez que ele sempre constituiu uma espécie de leitmotiv para o acasalamento, para a sobrevivência específica. A expressão desse relacionamento entre os sexos apenas  em estágio recente ganhou a denominação de amor. Este, por sua vez, evolui para uma definição mais ampla, distanciando-se daquela base natural. 
Hoje o que importa é o afeto, dizem os que admitem a relação homossexual. A natureza, digo, a espécie que se ....

terça-feira, 12 de julho de 2011

SEMINÁRIO DE TRÂNSITO

Em agosto, haverá o I Seminário Regional de Instrutoria de Trânsito em Santiago, coordenado pelo Departamento de Extensão da URI. Nessa terça-feira, participamos de uma reunião na Universidade, quando foi criado um grupo de articulação que apoiará a realização do evento. Segundo o educador Rodrigo Smolareck, novos paradigmas apontam para a ideia de formação continuada também nessa área de atuação profissional.
O último Código e suas resoluções subsequentes propiciaram grande e necessário avanço na qualidade do trânsito, principalmente nos centros urbanos, onde a circulação de pessoas e veículos, via de regra, ocorre numa zona indefinida entre a ordem e o caos. Não fosse o melhor aparelhamento dos Centros de Formação de Condutores (com a exigência de instrutores e examinadores especialmente formados para essas funções específicas), não fosse a nova doutrina da Direção Defensiva, não fosse a obrigatoriedade de certos equipamentos, entre outras inovações, certamente já viveríamos o caos. Vários fatores conspiram contra a ordem: o número sempre crescente de pessoas e veículos dentro de um sistema não modificado; a disjunção entre o conhecimento (de uma placa de regulamentação, por exemplo) e a resposta atitudinal. Tal falha, muitas vezes, é provocada por aqueles mesmos indivíduos que demonstram maior facilidade de aprendizagem e conscientização, notadamente os mais jovens. Esse paradoxo é devido em grande parte a uma causa (destacada pelo delegado João Carlos Brum Vaz em nossa reunião): o álcool.
A URI, que traz em sua definição institucional a característica de ser comunitária, idealizou e coordena (desde já) a realização desse seminário muito interessante. 

segunda-feira, 11 de julho de 2011

ULBRA SEM CORREÇÃO

No TELEDOMINGO de ontem, uma ampla reportagem revelou que provas realizadas pela ULBRA a distância não foram corrigidas. As notas, no entanto, foram dadas quase à revelia (com base na planilha do aluno). Duas professoras de Pedagogia de Mato Grosso, concluintes pelo ensino a distância da universidade luterana, graduaram-se sem que suas provas fossem corrigidas. A questão discursiva respondida por elas, segundo um professor de português convidado pelo telejornal, mereceria a nota mínima. Havia 15 erros grosseiros em 10 linhas produzidas. Os holofotes da reportagem iluminaram uma sala abandonada na universidade com as provas encaixotadas, oriundas dos diversos polos.
Por favor, assistam à reportagem em "TELEDOMINGO" (acima).

GUILHERME DE OCKHAM

"Guilherme de Ockham (c. 1300-50) foi talvez o filósofo mais influente do séc. XIV. Ockham adota o nominalismo, posição inaugurada em uma versão radical por Roscelino (séc. XII), que afirma serem os universais apenas palavras, flatus vocis, sons emitidos, não havendo nenhuma entidade real correspondente a eles. Na verdade, Ockham defende um misto de nominalismo e conceitualismo, pois entende  o universal como um termo que corresponde a um conceito. [...] O universal é assim referência de um termo, e não uma entidade, mas tampouco é apenas uma palavra, já que existe o correlato mental, o conceito, por meio do qual a referência é feita. [...] É em relação a essa questão que devemos entender a famosa fórmula conhecida como "navalha do Ockham": entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem, i. é, não devemos multiplicar a existência dos entes além do necessário. Isto significa que NÃO DEVEMOS SUPOR A EXISTÊNCIA DE ENTIDADES METAFÍSICAS como no realismo platônico, já que  essas entidades não só não explicam adequadamente a natureza das coisas particulares, como carecem elas próprias de explicação. A "navalha de Ockham", é, portanto, um "princípio de economia", segundo o qual nossa ontologia (teoria sobre o real) deve supor apenas a possibilidade de existência do mínimo necessário. Termos e conceitos são suficientes, assim, para dar conta do problema dos universais, não havendo a necessidade de supor a existência de entidades reais universais. 
O contexto de Ockhan, o séc. XIV, é conhecido como o período de "dissolução da síntese da escolástica". Com efeito, a partir desse momento o modelo característico da escolástica, a integração entre as verdades da razão, campo da filosofia, e as verdades da fé, campo da teologia, em um sistema unificado, racional e logicamente construído, começa a enfrentar dificuldades. A própria introdução do sistema de Aristóteles a partir do final do séc. XII já representa de certa forma uma ruptura no interior da filosofia cristã, cujo paradigma dominante fora até então o platonismo, basicamente em sua versão agostiniana."
(Extraído do livro Iniciação à História da Filosofia, dos Pré-socráticos a Wittgenstein, de Danilo Marcondes, páginas 133-35.)

domingo, 10 de julho de 2011

UNIVERSIDADE PÚBLICA EM SANTIAGO

O Júlio Prates sugere em seu blog que façamos uma reflexão sobre o esvaziamento nos cursos de licenciatura da nossa universidade, a ponto de não mais formar turma em Matemática, Letras, Pedagogia, História... Ele, o Prates, já escreveu mais de uma vez sobre o assunto. Algumas vezes opinei, correndo o risco de ferir suscetibilidades, quer dos dirigentes da própria URI, quer dos dirigentes das universidades a distância. O Prates e eu, no entanto, somos independentes. Não obstante conhecermos a URI por dentro, não pertencemos a ela. Por isso, opinamos e nada aconteceu conosco. Alguém lá dentro deveria pensar (auto)criticamente desde a antiga FAFIS. Mas isso sempre foi inconcebível. Pessoas que se afastaram ou que foram afastadas da universidade são testemunhas vivas do que digo. Infelizmente, a minha amiga Elza Aurora é uma exceção. 
Em 1999, entrei na universidade para cursar Letras (o único curso que me interessava, em razão de minhas aptidões com a escrita). A URI encontrava-se no auge da iluminação. Todas as salas lotadas. O campus era uma festa (no bom sentido). Minha turma contava com 30 graduandos. A coordenadora do curso era a professora Verli Petri, que hoje já é doutora em Linguística em Santa Maria. Algumas vezes ela chorava em razão do péssimo relacionamento entre os docentes (envolvendo a direção). A Verli foi embora logo, provocando uma pequena queda na qualidade do curso. Alguns de meus colegas desistiram, por motivos vocacionais e, principalmente, pela mensalidade. Ainda que fosse um dos cursos mais baratos do campus (contrariando sua importância na formação de professores necessários para atender à demanda de nossas escolas), havia colegas que tinham dificuldade de saldar a dívida mensal. Na época, reclamar das mensalidades altas não passava de "choro" acadêmico, muito suspeito. Mas ali se aquecia o "ovo da serpente". Todos os anos, a universidade propalava aos quatro ventos a implantação de um novo curso, carro-chefe para manter por alguns semestres a saúde financeira da instituição. No curso de Letras, vale destacar o esforço de duas professoras: Silvânia Colaço e Sandra Nascimento. Em 2003, quando concluí minha graduação, as licenciaturas já permitiam vislumbrar o que hoje é uma realidade. A exemplo da Verli, outros bons professores deixaram a URI. Logo Eugênio Gastaldo e Ayda Bochi se aposentarão, provocando de vez o fim do curso que mais formou professores em Santiago (considerando o tempo da FAFIS).
Nunca entendi uma coisa do mercado: as laranjas estão maduras, lindas, prontas para serem consumidas, mas o dono da feira prefere deixá-las que apodreça a baixar o preço. Por vender pouco, mantém o preço alto para ter lucro no negócio. Assim procedia a URI. Os acadêmicos queriam estudar, mas a universidade não se importava com as desistências, com a diminuição da demanda. Essa clientela ausente passou a procurar uma nova oferta, feita oportunamente pelas universidades a distância (UNOPAR, ULBRA, entre outras). 
Ao contrário do que insinuam comentaristas anônimos deste blog, não sirvo à oligarquia santiaguense, não defendo seus "coronéis". Tenho amizade com pessoas influentes, apenas isso. Dessa forma, concordo com os intelectuais de esquerda, entre os quais o próprio Prates e  Ivan Zolin: nossa sociedade merece dispor de ensino superior público (como Bagé, Alegrete, São Borja, São Vicente etc.).  

NÃO TENHO RAZÃO?

O Brasil empatou com o Paraguai, escapou por pouco da derrota, não porque o Paraguai está jogando bem nesta Copa América, mas porque a seleção brasileira não é mais aquela. Na próxima Copa do Mundo, Brasil e Argentina não serão melhores do que isso. 

MENSALÃO (II)

A impressão que tenho é que a distância entre o Procurador-Geral da República e o Supremo é maior do que a distância entre o Supremo e os políticos corruptos do mensalão. A despeito de ser o procurador e os juízes superiores nomeados pelos mesmos presidentes. José Dirceu está tranquilíssimo (desde já), porque confia no Supremo. Não haveria provas, é isso?
Contra Lula é certo que sim (não haverá provas). 
Queria tanto que alguém me confirmasse a história de Cezar Benjamin...
Estou gostando do livro A falência do PT, da Luciana Genro. Ela ainda não chegou a considerar a corrupção como motivo dessa falência. Contra o argumento de que ela foi expulsa do partido, apresento outro: ela conhece o partido de que foi expulsa. 

sábado, 9 de julho de 2011

ROBERTO GURGEL

Destaco do Zero Hora de hoje a matéria sobre política:
Gurgel acusa 36 e diz que Dirceu liderou mensalão
Com a palavra, o Procurador-Geral da República:
"Mais do que uma demanda momentânea, o objetivo era fortalecer um projeto de poder do Partido dos Trabalhadores de longo prazo. Partindo de uma visão pragmática, que sempre marcou a sua biografia, José Dirceu resolveu subornar parlamentares federais, tendo como alvos preferenciais dirigentes partidários".
"Se os argumentos do procurador forem aceitos", prossegue a matéria, "Dirceu, o ex-deputado José Genoino e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares poderão ser condenados, cada um, a penas de cerca de 100 anos de prisão." 
O Supremo adianta que haverá atraso na "análise" do caso, que ocorrerá somente em 2012. 

CEZAR BENJAMIN

Recebi um e-mail, contando a última participação de Cezar Benjamin na politicalha brasileira. Benjamin, preso, exilado, anistiado, sociólogo e professor, foi coordenador das duas primeiras campanhas de Lula em 1989 e 1994. Essa história pode ser dividida em cinco atos:
1 - Em 1993, para retomar o comando do PT que havia perdido e que reassumiria em 1995, com a eleição de Dirceu para presidente do partido, Lula nomeou um desconhecido professor de Aritmética de Goiânia, Delúbio Soares, para representante da CUT no conselho do FAT. Era a mina.
2 - O FAT é o Fundo de Assistência do Trabalhador, com mais de R$ 30 bilhões de reais, do FGTS. Tem um conselho, controlado pelo governo, do qual fazem parte as Centrais Sindicais, entre as quais a mais poderosa, a CUT, que é  o braço financeiro do PT.
3 - No FAT, nasceu Delúbio e sua furiosa capacidade de fabricar dinheiro, cujas cavernosas virtudes financeiras só Lula e Dirceu conheciam. Na campanha de Lula, em 1994, o estupefato guerrilheiro Benjamin descobriu que o grosso do dinheiro do partido vinha do FAT.
4 - Benjamin chamou Lula, Dirceu, o comando do PT, e disse que aquilo era um escândalo inaceitável. Lula e Dirceu mandaram que em nome do partido ele esquecesse tudo. Benjamin não esqueceu, discutiu em reunião internas e abandonou o PT. 
5 - Já naquela época, Benjamin disse a Lula, Dirceu e todo Grupo Articulação: "Isso aí é o ovo da serpente". E era.

MENSALÃO

Aos fanáticos do PT (que votariam num bicho se ele fosse indicado pelo partido para concorrer): o MENSALÃO não existiu?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

TRISTE PERSPECTIVA

Há horas venho insistindo sobre a decadência do futebol (negada pela mídia e pelo mercado associados ao esporte). É impossível que isso não se evidencie na Copa América. A Argentina empatou com a Colômbia, não porque a Colômbia melhorou seu futebol, pelo contrário: é o pior time da Colômbia das últimas duas décadas. A Argentina é que caiu muito, muito mesmo. Não nos surpreendamos se o Brasil empatar com o Paraguai, ou perder. O Paraguai também não melhorou (continua com Cardozo), é o Brasil que vem caindo de produção desde os anos oitenta. A seleção Sub-17, eliminada pelo Uruguai no Mundial que está sendo disputado no México, constitui nosso futuro.   
E o Ricardo Teixeira? Quem falar mal do homem não terá vez na próxima Copa do Brasil. 
A propósito, as obras, digo, os estádios ficarão prontos até 2014? Com relação ao Itaquerão, já há superfaturamento antes da primeira pedra. 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

LIVROS VERSUS POLÍTICA

A política levou nossos livreiros. Todos os dias, ao retornar para casa, eu passava na livraria do Tide, na Rua dos Poetas. Alguém chegou a propor que se fizesse ali um lugar para encontros-cabeça. Depois o Juarez abriu sua banca na praça do QG. Com a vitória de Tarso Genro (que publicou livro de poesia inclusive, Luas em pés de barro) para governador do Estado, nossos livreiros foram levados pela política.  

quarta-feira, 6 de julho de 2011

TWITTER: FIM DE VIAGEM


O último número da revista INFO Exame traz uma reportagem interessante sobre o lado perigoso das redes sociais (principalmente Facebook e Twitter).
Depoimento de Alberto Azevedo (foto de capa), conhecido no Brasil como Bebeto Le Garfs:
"Sempre quis ir para a Austrália, tenho muitos amigos lá. O plano era viajar pela costa entre Adelaide e Brisbane. Antes de embarcar, criei um evento no Facebook com o título 'Le Garfs invade a Austrália'. Como sou DJ nas horas vagas, pedi ajuda para me apresentar em festas. Um conhecido disse que tinha uma festa para o final da minha viagem. Peguei um HD com músicas, um fone de ouvido e embarquei. Quando cheguei em Sydney, fui parado pelo oficial de imigração porque estava sem a carteira de vacinação contra a febre amarela. Sentei em um banco e o oficial disse que não poderia usar o celular ali. Entregar o aparelho foi meu grande erro. O telefone não tinha senha e o oficial entrou no meu Twitter. Viu a conversa que tive com meu amigo e perguntou o que mais eu iria fazer na Austrália. Foi quando minha ficha caiu. Eles ligaram para o meu amigo, que, inocente, disse que ia me pagar - o que não havia sido combinado. Fui levado para um centro de detenção de imigrantes ilegais, onde passei a noite. Voltei para o Brasil no primeiro voo do dia seguinte".
Esse brasileiro esperto "Queria tocar um pouco de electro misturado com funk carioca, botar as australianas para dançar e sair bem acompanhado".
Os caras lá fora são mais inteligentes (o que, em contrapartida, não justifica o "complexo de vira-lata" dos brasileiros).

terça-feira, 5 de julho de 2011

LIVRO IMPERDÍVEL

A VEJA publica uma matéria sobre o livro Os Redentores, do historiador mexicano Enrique krauze, que "disseca a vida e a obra dos personagens*que incutiram na América Latina a infeliz odeia de revolução". 
"Revoluções operam por meios catastróficos - a guerra civil, a morte de civis, a perseguição política, a desapropriação de terras e empresas - para chegar a um resultado ainda pior: a instalação de regimes autoritários. A América Latina tem a peculiaridade indesejável de abrigar o único governo revolucionário que ainda sobrevive no Ocidente: o regime comunista de Cuba. Na contramão da história, outros tantos arremedos de revolução estão se espalhando ao sul da ilha de Fidel [...]. A América Latina tem uma trágica simpatia por caudilhos populistas, homens que prometem liderar sozinhos uma reviravolta no mundo. São a extrapolação política de um conceito religioso, o dos redentores. "Imbuídos de messianismo, eles reivindicam para si a missão de libertar o povo dos pecados", disse a VEJA o ensaísta e historiador mexicano. A vida e as ideias de doze desses personagens são o tema do livro de Krauze que está sendo lançado no Brasil, Os Redentores. [...] A lista inclui escritores, políticos, jornalistas e guerrilheiros. Em comum, todos apresentaram, em pelo menos alguma parte de sua biografia (há dois pensadores que tiveram a inteligência e a coragem de reformar suas ideias**), a simpatia pela revolução e a simétrica descrença na democracia. 
* Eles não são personagens, mas pessoas reais. 
**Os dois que mudaram de ideia e passaram a criticar a esquerda depois  de tomar conhecimento dos crimes do comunismo, na União Soviética ou em Cuba,  são Octavio Paz e Mario Vargas Llosa.


domingo, 3 de julho de 2011

DECADÊNCIA GENERALIZADA

Os brasileiros achamos graça no empate entre Argentina e Bolívia (abertura da Copa América). Messi e Carlito não jogaram nada. Hoje foi a vez do Brasil. Os brasileiros sonhávamos com uma goleada. O resultado foi decepcionante: empate sem gol com a fraquíssima Venezuela. Neymar e Ganso não jogaram nada. Quem ri por último nem sempre ri melhor.
Venho afirmando isto: o futebol caiu muito em qualidade (principalmente na terra em que ele mais evoluiu). A seleção brasileira vem numa queda contínua desde os anos oitenta. A última participação na Copa do Mundo, na África, foi a mais fraca. O Campeonato Brasileiro do ano passado foi o mais fraco. Este ano não será melhor. O Gauchão foi o pior. Ganhou o menos ruim, nas penalidades. O Grêmio deste ano é inferior ao do ano que passou, inferior aos demais times montados pelo clube desde que me conheço como torcedor. 
Não entendo como a mídia que vive desse esporte se cala para tal decadência. Os torcedores não conseguem vê-la, obliterados pela paixão.

sábado, 2 de julho de 2011

ELEFANTE PRESO


Um quadro que me chocou bastante, de extremo sofrimento para o animal, ainda está vivo em minha memória (depois de passados 24 anos). Uma pena que perdi a fotografia, tirada numa tarde quente no Zoológico da Quinta da Boa Vista,  Rio de Janeiro. Logo na entrada, um enorme elefante sobre um platô circular, preso por uma grossa corrente ao pescoço. Em volta do espaço permitido ao animal, estacas pontiagudas cravadas no chão não permitiriam que ele saísse dali, mesmo que se soltasse da corrente. Sem parecer sentimentalóide, vi tristeza nos olhos do elefante. 
O quadro foi suficiente para que eu tomasse uma posição sobre a existência de zoo a partir de então: sou contra.  
Ao finalizar esta postagem, encontrei no YouTube um vídeo que mostra o elefante sem a grossa corrente no pescoço, num local mais amplo. Para ver, clique aqui. Esse elefante encontra-se preso ali há 24 anos (no mínimo). Ou seria outro espécime?

BLAGUE OU PARADOXO?

Os animais têm direitos. 
Blague ou paradoxo? 
O gado bovino, por exemplo, não seria cuidado pelo homem há 7.000 anos, não fosse para empregá-lo como força de tração, tirar-lhe o leite, ou para transformá-lo em assados suculentos. 
O direito do boi à vida não passa de uma idealização. A realidade é outra, de uma crueldade sem limite: o boi é criado para o abate. Nenhum espécime morre ao natural, de velhice. A exceção vem do hinduísmo (a religião que mais transformou o homem num ser melhor, mais bondoso). 
Ainda que tracione o arado ou produza leite por longos anos, o boi ou a vaca são abatidos no final. A finalidade é a carne (para a sobrevivência do homem). Não fosse assim, o boi deixaria de existir. 
Há outras formas cruéis de maltratar o animal, apenas para o entretenimento humano. As touradas, por exemplo. A farra do boi, alegada pelos praticantes como cultura, folclore, encontra-se proibida desde 1997. Os rodeios continuam.

PELOS ANIMAIS

Nessa sexta-feira, o Globo Repórter, excelente programa televisivo, mostrou pessoas que protegem animais dos maus tratos (os domésticos) e da violência (os selváticos). Lembrei da minha amiga Fátima Friedriczewski, que se dedica supraespecistamente à proteção dos gatos. 
Em Porto Alegre, tomei conhecimento e participei de alguns encontros do Movimento Hare Krishna. Para os adeptos puros, os homens participamos de um grande crime contra outros animais ao abatê-los para alimentação. Por uma questão ética, mais que religiosa, são vegetarianos. Na época, vivi o dilema de seguir essa filosofia ou continuar um comedor de carne. Li o que os mestres do movimento escreveram, mas deixei de frequentar o templo no Bonfim. Vencido pela tradição, pelo condicionamento familiar, passei a justificar regime carnívoro com argumentos do tipo "não fosse esse tipo de alimentação o homem não teriam sobrevivido", ou "ao consumir vegetais, necessariamente estarei tirando o alimento dos animais, que morrerão de inanição".
Mais tarde, li Peter Singer, filósofo australiano que me impressionou bastante. Em Curitiba, fiz a experiência de ficar meio ano sem ingerir carne. Mas...  
Admiro a Fátima, porque ela é coerente nesse sentido.
Sou incapaz de matar para isso. À exceção do peixe. Tão incapaz de matar, quanto de maltratar. Depois da minha fase de adolescente no Rincão dos Machado, quando caçava passarinho com bodoque, nunca mais feri ou matei um animal. À exceção de cobra, aranha, mosquito e outros pertencentes às suas espécies. Tais argumentos não fazem sentido para um hare krishna, uma vez que me alimento de carne.
Essa é uma das grandes contradições da minha vida. 
A primeira reportagem do programa foi feita em Fortuna de Minas (a 100 km de Belo Horizonte), cidade que fez uma campanha para soltar os passarinhos presos em gaiolas. A campanha deu certo. Clicar aqui. Todas as reportagens foram bem conduzidas pela nossa Rosane Marchetti.