terça-feira, 15 de março de 2011

A CABANA (II)

Há três meses, o livro A cabana, de William Young, mantém-se como o mais vendido no Brasil (segundo publicação da Veja). Raríssimas vezes, li algum título incluso na relação tripartite da revista: ficção, não-ficção e autoajuda. O motivo é óbvio: os campeões de venda, via de regra,  são literariamente ruins. A única justificativa para essa aparente contradição é o grande público consumidor, constituído pelo senso comum, homem-massa, alienado esteticamente (que lê por entretenimento, para administrar o ócio, por uma crença espiritualista etc.). Dediquei um dia e meio à leitura de A cabana, apenas para expressar, com conhecimento de causa, esta crítica depreciativa. Aquém da boa literatura, como os  livros escritos por Paulo Coelho, a obra é uma paráfrase bíblica pelo seu conteúdo. A história é apenas um meio de demonstrar a necessidade de obediência a Deus e do perdão incondicional aos outros e a si mesmo (como condição para superar o sentimento de culpa, a má consciência). Neste aspecto, o livro melhor se classificaria como de autoajuda. Deus-Pai é personificado numa mulher negra, “enorme e sorridente”, chamada de Papai; o Espírito Santo, personificado numa mulher chinesa, chamada de Sarayu; e Jesus, humanizado outra vez bas feições de um homem do Oriente Médio. Cito tais personagens por entender que o autor desfere um golpe contra o antropomorfismo* europeu, masculino e branco. Em vista da formação religiosa de Young, duvido que ele tenha tido esse propósito. Com a personificação da divina trindade cristã, distante dos cânones da civilização ocidental, salvo melhor juízo, Young pretendeu destacar a relevância da espiritualidade, sempre condicionada ao mundo físico, terreno.
* Tendência de se atribuir a(os) deus(es) características humanas.

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