segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

FILME E PALESTRA

Nesta noite, a convite do Museu das Comunicações da URI, fui assistir à palestra "Mídia e Esfera Pública, um Olhar sobre as Relações de Poder", ministrada pelo sociólogo uruguaio Alejandro Javier Lezcano Schwarzkopf. Foi rodado o filme Boa Noite, e Boa Sorte, que serviu de base para a fala do palestrante.  

PRESSUPOSTO

Qual o pressuposto da manchete transcrita na postagem abaixo? Por favor, visitante, responda a essa questão de significação implícita.

MANCHETE DO DIA (COM IMAGEM)


"MANTEGA DIZ QUE PAÍS NÃO TEM DINHEIRO PARA COMPRAR CAÇAS"

domingo, 27 de fevereiro de 2011

MULHER INDÍGENA MILITAR

Do interior da floresta amazônica, aos 14 anos, ela resolveu ir para a cidade, mendigou e passou fome, aprendeu a ler e foi condecorada com diversas medalhas de literatura. Estudou artes, foi atleta, virou fisioterapeuta e cursa hoje a terceira graduação em saúde. Essa é a trajetória de Silvia Nobre Waiãpi que, aos 35 anos, tornou-se a primeira militar indígena a integrar as Forças Armadas no Brasil, no último dia 3 de fevereiro. A índia disputou uma vaga com 5.000 candidatos e foi aprovada com uma das melhores pontuações no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro, onde concluiu o treinamento e hoje serve no Hospital Central do Exército como aspirante. Depois de seis meses, será promovida a 2º tenente. 
(Matéria do UOL, para saber mais, clicar aqui.)

O EXÉRCITO DE UM HOMEM SÓ

Escrevi para o Expresso Ilustrado há sete anos: A história começa em 1916. Ainda menino, Mayer Guinzburg vem com a família para o Brasil, fugindo da pobreza na Rússia, mais exatamente de Birobidjan, Sibéria Oriental. São judeus e se fixam em Porto Alegre. Mayer cresce arredio, pensando na revolução de 1917. Sua obsessão é construir uma nova sociedade. Tenta fundá-la no Beco do Salso com grupo de amigos. Casa-se com Léia, filha do dono da loja em que trabalha. Esquizofrênico, Mayer sempre vê uns homenzinhos aplaudirem seus discursos socialistas. Uma crise financeira o leva a fugir outra vez para a Nova Birobidjan, onde vive com uma cabra, um porco e uma galinha, aos quais chama de "companheiros". Depois de apanhar de uns trapeiros, retorna para casa. No bairro do Bom Fim, chamam-no pejorativamente de Capitão Birobidjan. Ele e Leib Kirschblum fundam uma empresa de construção que os faz ricos. Transforma a secretária em amante. Entra em falência. Separa-se de Léia. Acaba numa pensão para idosos. Outro acesso de esquizofrenia: quer transformar a casa no Palácio da Cultura de uma nova sociedade. Sofre uma parada cardíaca. "A saga de Birobidjan", segundo os editores de Moacyr Scliar, "o solitário pregador de um mundo melhor, seu louco humanismo, seus sonhos mágicos, fazem de O exército de um homem só uma leitura emocionante e inesquecível"

MOACYR SCLIAR

* 23 mar 1937
+ 27 fev 2011
Ontem, ao receber o Zero Hora de hoje, abri o Donna e mais uma vez senti a ausência do Moacyr Scliar. Qual minha triste surpresa ao ligar o computador nesta manhã? Primeira notícia no UOL: Morre o escritor Moacyr Scliar
Ele sofrera um AVC em janeiro, tinha um tumor benigno no intestino, uma infecção respiratória e, por derradeiro, falência múltipla dos órgãos. 
Ao abri meu blog para fazer esta postagem, li que o Cláudio Irion já noticiara o falecimento do escritor. 
Dos grandes da nossa literatura, posso dizer que Moacyr Scliar era o escritor que eu mais conhecia pessoalmente. Em sua vinda a Santiago, em novembro de 1999, ele me autografou A mulher que escreveu a Bíblia (na URI) e, mais tarde, eu o auxiliei numa palestra para os alunos do Cristóvão Pereira. 
Muito cedo, comecei a ler os contos do Moacyr Sliar, gênero em que ele alcançou o topo literário, onde se encontram Machado de Assis, Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Julio Cortázar, J. L. Borges, entre outros. Produziu muitos romances, como O exército de um homem só (que me levou a escrever uma coluna para o Expresso Ilustrado em 2004), A guerra do Bom Fim, O ciclo das águas, O centauro no jardim, Os vendilhões do templo, entre outros.  
Na coluna supracitada, escrevi que duas coisas me chamaram a atenção em Moacyr Scliar: "a simplicidade do homem e a inteligência do escritor". 
Morreu o cidadão, e o Rio Grande está de luto. Para a Literatura, Scliar é imortal.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

CARNAVAL

a carne vai
ao vale
do jaguar
                e fica
aqui
o sossego
a alma da cidade
com olhos
molhados de azul
e a garganta
cheia de pássaros

sem o aval
da lei
a carne vai
ao vale
           e vem
depois do carnaval
.
(Publicado em Vozes e Vertentes. Eis um exemplo em que simples detalhes fonéticos são responsáveis pela literariedade do poema, isto é, qualidade que o distingue de um texto não-literário. No excerto
a carne vai
ao vale
do jaguar
               e fica
esse "e" grifado soa como um "i", completando a palavra anterior, "jaguar... i".) 

CARNE(VALE)

Depois de dois anos do meu retorno a Santiago, participei do melhor carnaval feito pelo Grêmio dos Subtenentes e Sargentos. Ano de 1998. A partir disso, os clubes passaram a ter dificuldades para patrocinar os bailes, trabalhando no vermelho. Enquanto isso, os jovens se agrupavam nos chamados QGs, onde davam vazão à folia com a liberdade que os identificam natural e culturalmente. Contra eles foi deflagrada uma campanha com tolerância zero, vertical, legal (no sentido não contemplado pela gíria), colocando-os a correr daqui. A única alternativa para a nossa juventude foliona foi "ganhar a faixa". O primeiro lugar que encontraram, Jaguari, muito oportunamente, aderia ao carnaval de rua, como sói acontecer em todo o país. Bem acolhidos, os santiaguenses voltaram maravilhados na quarta de cinza. A cada ano, o carnaval de rua da vizinha  cidade cresce a olhos vistos (olhos que querem ver, sem despeito). Santiago, em contrapartida, esvaziou-se do dia para a noite. Os clubes fecharam as portas, quebrados. Restou o carnaval de rua, uma ou duas escolas a desfilarem na avenida, jurando não repetir sua participação no próximo ano por falta de incentivo, gente e dinheiro. Por esse delgado fio que ainda prende o carnaval como um acontecimento vivo em nossa sociedade, agarra-se a esperança das autoridades locais de criar aqui o que Jaguari consegue há anos sem propaganda (ou contrapropaganda). São Vicente do Sul parece seguir os mesmos passos. 
Santiago sem carnaval e... sem futebol (segundo leitura pertinente de blogueiros). 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

VESPEIROS

Os piores vespeiros, sei disso por experiência, são os do marimbondo vermelho e da lichiguana (que o Houaiss confunde com o enxu). Nem com vara longa para mexer com eles. A ferruada quase aleija de dor. Sempre evitei saber se a da mamangava é mais dolorida (o que tornaria minha experiência incompleta não fosse essa espécie mais mansa). 
Certos assuntos são como vespeiros, com a agravante de que as "vespas" não se mostram, aproveitam-se do anonimato para desfechar seu ataque violento. 
Bastou minha postagem abaixo, cujo teor inquiritivo é como o mel (com um ferrão suspenso em sua apetitosa densidade), para que um anônimo trocasse a doçura pelo veneno. Ele pede que faça ligação telefônica para a prefeitura de Santiago (fale com pessoas entendidas de saúde) e que se preocupe, principalmente, com a dengue em São Luiz Gonzaga. 
Quanto mais conheço os bichos, os mais perigosos inclusive, mais me convenço da maldade que se acumula no coração do homem (seja o mal de natureza instintiva ou racional).   

MENINGITE (SIM OU NÃO?)

Afinal, há surto de meningite em Jaguari ou não? Apenas em Jaguari, não em Santiago, São Francisco, São Vicente...? Há pessoas nessa cidade com inflamação das meninges? Quem são elas? Onde estão internadas? Já sei como acabar com tal dúvida: ligação para o Hospital de Caridade de Jaguari ou para alguém conhecido de lá. Acabei de ligar: 3255-1882. Tu... tu... tu... tu... (tá chamando)

UMA SIMPLES PANELA

O interfone tocou nesta tarde, por volta das quatro horas. Fui atender. A voz de alguém perguntava qual era meu apartamento, porque havia fumaça saindo do primeiro andar, acima da porta de entrada. Desci correndo as escadas. Um cheiro forte de queimado tomava conta do corredor em frente ao número 101. Imediatamente, desligamos os disjuntores e chamamos os bombeiros (que chegaram em minutos). A senhora idosa, moradora do apartamento não se encontrava. O soldado entrou pela janela e abriu a porta por dentro. A causa do cheiro e da fumaça vinha da área de serviço, onde uma panela de alumínio derretia sobre o fogão (que se encontrava apertado entre o armário e a geladeira). A princípio, pensei que se tratasse do ferro de passar ligado. Essa foi a causa provável de um incêndio que destruiu inteiramente a casa dos meus tios lá no Rincão dos Machado há alguns anos. Na semana passada, um curto-circuito (provocado por instalação elétrica irregular) queimou o galpão de um vizinho do meu pai. Quando descoberto a tempo, o motivo de um incêndio é quase insignificante, como o de uma panela a queimar esquecida sobre o fogão a gás.  

TERRA RARA, VIDA RARA?

O título acima é de um capítulo de Criação Imperfeita, de Marcelo Gleiser, professor de Filosofia Natural  e de Física e Astronomia no Dartmouth College, EUA. Ele escreve que "em seu corajoso livro Terra rara, Peter Ward e Donald Brownlee argumentam que muito provavelmente a vida extraterrestre só aparecerá nas suas formas mais simples: planetas com características terrestres têm chances de abrigar micro-organismos alienígenas, mas não muito mais do que isso". 
"Embora a possibilidade de que o cosmo esteja repleto de seres extraterrestres inteligentes (e que tenham já nos visitados) seja extremamente instigante, a ciência atual nos diz que, ao menos por enquanto, somos únicos. [...]
"Estou, sim, afirmando que somos únicos e especiais. Mas não porque fomos criados por Deus, ou por sermos resultado de uma intencionalidade cósmica, de um Universo com o propósito de criar vida inteligente. Somos únicos e importantes porque estamos vivos e temos consciência de nossa existência. [...] Talvez não sejamos a medida de todas as coisas, como propôs o grego Protágoras em tempos pré-socráticos, mas somos as coisas que podem medir. A aceitação da nossa solidão cósmica é um toque de despertar, iniciando uma nova era para a humanidade. [...]
"O clima está mudando, e mais de 30 mil espécies estão morrendo por ano. Estamos testemunhando a maior extinção em massa desde o desaparecimento dos dinossauros há 65 milhões de anos. A diferença é que, pela primeira vez na história, somos nós, e não a Natureza, a causa da extinção. Destruímos habitats, poluímos rios, pulverizamos montanhas, cortamos florestas, alagamos vales, introduzimos espécies em ambientes novos sem planejamento, matamos, pescamos e caçamos espécies em risco de extinção com impunidade. No nosso frenesi destrutivo, esquecemos que a Terra é um sistema limitado e que não pode sobreviver a um abuso contínuo. [...]
"O aspecto mais maravilhoso da nossa existência é que temos consciência dela. [...] Vamos nos unir como membros da mesma espécie e lutar pela nossa sobrevivência. Este é o conflito da nossa era. Porém, ao contrário das guerras comuns, esta não tem o propósito de definir fronteiras ou credos. Esta é uma guerra entre o nosso passado e o nosso futuro, uma guerra onde somos nossos piores inimigos e nossa única esperança."

SONHO IMPOSSÍVEL


Para justificar a mudança no fundo desta página, transcrevo um dos meus microtextos que escrevi nos anos oitenta:
BELVEDERE DA TERRA - Muita expectativa precedeu a descida do homem na Lua, em 20 de julho de 1969. Nesse dia, a humanidade pôde comprovar que esse corpo celeste é completamente estéril e que lá existe um único motivo para contemplação: o planeta azul.
Acusam-me de ser racional, realista demais, mas tenho sonhos, sou romântico (dependendo do tempo e do lugar). Sonhos impossíveis, como o de ver nosso planeta do espaço. 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

COMENTÁRIOS DIVERSOS

Alfa Centauro é um sistema com três estrelas (A, B e C). A Alfa Centauro A é 23% maior que o Sol, localizada a uma distância de 4,4 anos-luz, aproximadamente 40 trilhões de quilômetros. Uma viagem até lá demoraria cerca de 100 mil anos nas espaçonaves mais velozes da atualidade. Isso significa dizer que (conforme as palavras de Marcelo Gleiser) "se não estamos sós, na prática é como se estivéssemos". 
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A nossa blogosfera é um fenômeno hipertextual deveras interessante. Apesar de várias desistências, depois de um começo entusiasmado, vem aumentando o número de acessos diários, como o atestam os principais blogueiros. Há uma inegável polarização em torno de alguns blogs, entre os quais o do Júlio Prates e do Rafael Nemitz. Isso forçou um upgrade na qualidade, do design às postagens. O Prates, muito oportunamente, mudou a epígrafe de sua página, transcrevendo o belíssimo Art. 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Nemitz agora com assessoria jurídica. 
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O Ruy sugere que o tênis passe a ser obrigatório nas escolas. O Ítalo foi mais rápido em informá-lo sobre um projeto para o Criança Feliz, com a possibilidade de ser incluído no Forças no Esporte (desenvolvido com crianças e adolescentes em turno oposto dentro dos quartéis do Exército, Marinha e Aeronáutica).  
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Enxadrista desde os 15 anos (com essa idade Bobby Fischer já era campeão nos Estados Unidos e Garry Kasparov já disputava o campeonato na então União Soviética), mediano, mas apaixonado pelo jogo-arte-ciência, o mais intelectual dos esportes, também penso que o xadrez poderia ser parte do currículo escolar. Já existe iniciativa nesse sentido no Brasil. Xadrez e internet, internet e xadrez: não há descompasso, conciliáveis. 
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Endereço do Internet Xadrez Clube: www.ixc.com.br 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

FILTRO PESSOAL

"O começo e o fim de toda a atividade literária é a reprodução do mundo que me cerca por meio do mundo que está dentro de mim."
(Tradução de um verso de Goethe.)

ESQUERDA EM TEMPOS SOMBRIOS

Procuro o livro A esquerda em tempos sombrios: uma posição contra a nova barbárie, do filósofo francês Bernard-Henri Lévy. Sua última publicação não consta nos sites de venda, sequer nos importados. Certamente, ainda não foi traduzido para o português. Sou o primeiro na fila de espera. 
Lévy, amigo de Michel de Houlebeck, escreveu um artigo de opinião na última revista Filosofia, em que denuncia um antissemitismo ressurgente. Não tenho certeza se o filósofo participou do grupo de Comte-Sponville na publicação de um livro antinietzscheano (já ando me esquecendo, seria alzeimer?). O que é certo, Lévy é antimarxista. Independentemente disso, quero ler A esquerda em tempos sombrios assim que o livro estiver disponível.
No artigo O antissemitismo que virá, o pensador cita três acontecimentos recentes que demonizam Israel: 1) Na França, há uma campanha  para um embargo contra Israel, única e verdadeira democracia no Oriente Médio; 2) no Festival Cinematográfico de Toronto, foi apresentado o documentário Lágrimas de Gaza, que, para Lévy, não passa de propaganda, com imagens  filmadas por cinegrafistas palestinos na linha de combate; 3) a recepção calorosa que esse pseudo-documentário teve na Noruega.
A primeira impressão é de alarme falso, certo exagero de Lévy, que deve ser de origem judia (embora tenha nascido na Argélia). 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

VOLP (NÃO COMPRE)


A 5ª edição do VOLP, esqueci-me de incluir na postagem abaixo, foi publicada, apressadamente publicada, diga-se passagem, com 239 incorreções (incluindo-se os aditamentos). A Academia Brasileira de Letras anexa ao grosso volume um encarte com seis páginas, trazendo a seguinte epígrafe: "Já está dito, e deve ser geralmente sabido, que, por motivos igualmente reconhecidos, raramente haverá trabalho literário que mais suscetível seja de correção e aditamentos do que o dicionário de uma língua". Desculpa esfarrapada. Esse descaso com a Língua Portuguesa é decepcionante, reflete um estado de burrice generalizada que permeia o país. 

VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO

Por diversas vezes, falei que o emprego do hífen era o "calcanhar de Aquiles" do último Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. No Brasil, mormente. Em Portugal, há vulnerabilidades maiores, como a eliminação do c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores ct, por exemplo. Os portugueses deixariam de pronunciar (o que mais grave) e de grafar acto, porque o acordo assim o normatiza. 
Hoje recebi o "aquiles", digo, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Com o arco retesado, aponto uma flecha para a palavra "dia-a-dia". Coloco-a entre aspas, uma vez que constitui o pivô da discussão que provoco nesta postagem. O VOLP traz "dia a dia", substantivo masculino. No Aurélio (não  disponho do Houaiss pós-acordo), a grafia é "dia-a-dia", substantivo masculino.
Antes do Acordo Ortográfico, "dia a dia" tinha a função de advérbio, equivalente a "dia após dia", "diariamente", "cotidianamente" etc. Exemplo: "O trânsito em todas as cidades piora dia a dia". Não perdeu essa função. Dessa forma não pode ser classificado como substantivo, por é advérbio.  "Dia-a-dia", por sua vez, exercia a função de sujeito, equivalente a "cotidiano". Exemplo: "O dia-a-dia de todas as cidades é uma luta facilmente observada no trânsito". 
O VOLP, ao grafar "dia a dia sm", não se refere a "dia a dia" com função de advérbio. Falha ao não fazer tal referência. O Minidicionário Aurélio traz "dia-a-dia sm", com hífen, juntando os dois significado: "a sucessão dos dias" e "o viver cotidiano". Por isso, falha também.
Nas demais palavras compostas, tipo s+p+s (substantivos repetidos com uma preposição no meio), o VOLP grafa sem hífen. Exemplos: corpo a corpo, terra a terra... Tais palavras não têm uma homográfica com significado distinto, como é o caso de "dia a dia". O contexto frasal basta para justificar a extinção do hífen? 
Pronto, lancei a flecha. 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

APENAS UM SONHO



Toda vez que vou ao Rincão dos Machado, saio para fora de casa para contemplar o céu estrelado. No fim de semana passado, isso foi possível num breve intervalo entre a entrada da noite e a Lua cheia. A partir desse momento, o luar diminui consideravelmente a luminosidade dos demais corpos celestes. Os campos e as matarias do rincão são cobertas por um manto diáfano de prata, obrigando-me a mudar o foco de minhas observações, que desce do céu para a Terra. Meu desejo de ver o céu noturno é tão grande que sonho um dia dispor de um potente telescópio. O primeiro objeto para onde o apontaria  está  muito além das estrelas: Andrômeda (NGC 224, Messier 31 ou M31). Essa galáxia se encontra a 2.900.000 anos-luz de distância do nosso referencial, o Sistema Solar, podendo ser vista a olho nu. Não passa de uma pequena mancha no hemisfério norte. Depois de observá-la, veria todos os corpos possíveis no interior da Via Láctea, com tempo suficiente e lugar apropriado para isso. Certamente, os fins de semana no Rincão dos Machado preencheriam tais exigências. 


UM MATE ESPECIAL

Até meados do século XX, o namoro entre um rapaz e uma moça era comum acontecer com a interferência dos pais. Afetados pela cegueira da paixão (ou do amor, como queiram), os jovens necessitavam de olhos mais experientes, que viam por eles muito além do interesse anímico, passional. Em alguns casos, a negativa era imposta antes mesmo de haver o pedido formal. Na casa de Mariano Pedroso*, a maneira como foi impedido um namoro, quando este não passava de uma silenciosa pretensão do rapaz, merece a atenção do cronista (que achou por bem compartilhar com seus leitores). Não era a primeira vez que o já solteirão Geraldino Flores vinha à casa de Marianinho para lançar olhares em direção a Leonor. O pai da moça resolveu intervir no sonho do visitante de um jeito que, aparentemente, condizia com os bons costumes. Antes que Geraldino chegasse certa manhã, de capote e tamancas, Marianinho preparou uma “erva” com excremento de capivara (laxante natural dos mais poderosos). Com a desculpa de uma lida qualquer Marianinho pediu a Leonor que servisse o mate à visita. Geraldino sorveu umas três cuiadas como se tivesse nas nuvens. Todavia, não demorou muito, o ousado sonhador veio ao chão, levantou-se, ganhou a porta e a restinga do lajeado. Quase um século depois, ele ainda não voltou à casa de Leonor, ao menos para apanhar seu capote (sobre a guarda da cadeira) e as tamancas perdidas dos degraus à porteira. Infelizmente, ele vivia noutro tempo, diferente de hoje. Muito diferente! Agora os pais, via de regra, são os últimos a ficar sabendo do namoro dos seus. Mesmo assim, já não mais se surpreendem se o filho tem um namorado, se a filha encontra-se grávida. Não mais se supreendem, vírgula.
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* Os nomes próprios da crônica acima são fictícios.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

COMENTÁRIOS DIVERSOS

Não bastasse levantar cedo todos os dias, outros motivos me fazem preferir o horário de verão. A economia de energia elétrica justifica sua adoção. Sugiro neste espaço eletrônico que seja prolongada a duração desse horário. Um mês, mês e meio, dois.
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Policamente falando, alguém poderia me dizer qual é a diferença entre Egito e Líbia?
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No Rincão dos Machado, meu pai contou-me das longas conversas que ouvia em menino do vô  Fermino e Dica Soares. O assunto predileto do "bapai" era caçada de veado. De seu compadre, peleia. 
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Os veados voltaram a aparecer com a quase extinção de seus caçadores. Os peleadores honrados, pelo contrário, desaparecem a olhos vistos. No lugar de revólveres e adagas, há palavras que perfuram e cortam (algumas vezes com uma contundência que transcende o sentido metafórico). 
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E o Internacional? Política errada que irá desaguar na demissão de seu treinador, Celso Roth, o já anunciado "bode expiatório". 
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Festa dos Machado deste ano: 26 de março, no CTG GN Os Tropeiros.
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O blogueiro Bianchini continua de férias, deu um tempo ou...?
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Depois de dois dias no Rincão dos Machado, digo sem exagero que o centro de Santiago é muito barulhento. Não se ouve os pássaros.  

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

UMA COINCIDÊNCIA

Baseado num fato que se deu em Grenoble, vilarejo francês, Stendhal produziu uma das grandes obras da literatura universal: O vermelho e o negro. Em Livramento, lendo um estudo sobre o romance, tive a ideia de escrever romanescamente (com o apoio da imaginação) a história de um crime ocorrido no início dos anos trinta, em nosso município. De volta a Santiago, fui visitar o Dr. Valdir, para solicitar-lhe a cópia do processo que absolveu Leopoldino Soares Paiva (Dica) por ter assassinado o Russo, um dos autores do duplo assassinato contra a família Terra. Grande foi minha surpresa ao saber que o Santiago (Neltair Abreu) também fizera o mesmo pedido, porque é sua intenção recontar em quadrinhos a história do Russo. Apenas uma coincidência! Leituras não me faltam para me lançar a esta empreitada literária. 
(Dica Soares era primo de minha bisavó Firmina e compadre do meu avô Fermino.)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

GUSTAVE COURBET


GUSTAVE COURBET (1819-1877) foi um pintor francês da escola realista, contrária à romântica (que lhe antecedeu). Entre suas obras mais conhecidas, destacam-se Autorretrato e Mulheres peneirando trigo.

NOTÍCIA.BOL

Facebook exclui usuário que expôs a pintura A origem do mundo, de Gustave Courbet em seu perfil. Para saber mais, clicar aqui.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

DEFUMANDO AUSÊNCIAS

Na postagem abaixo, empreguei a frase "... à espera de um cavalo encilhado, de uma estrela que corra na janela", cujo significado é "de uma grande oportunidade". Diz a sabedoria gaudéria que cavalo encilhado passa uma única vez na vida. Quanto à estrela que corre na janela, convenhamos, acontece quase nunca. Fui buscar a expressão na música nativista: Defumando ausências. Letra de Telmo de Lima Freitas e interpretação de José Cláudio Machado (a melhor, diga-se de passagem). Para a felicidade do eu-lírico, a "estrela correu na janela", trazendo-lhe notícia da pessoa amada. 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

AUMENTO NUMÉRICO

Nas últimas três décadas, a universalização dos estudos experimenta uma evolução nunca observada anteriormente. A princípio, por uma questão de status, afinidade vocacional ou sonho. Em seguida, o curso superior passou a ser quase uma obrigatoriedade, requisito indispensável para a melhor formação profissional do indivíduo. As universidades vicejam em todos os recantos do país, algumas delas mantidas a preço de vaca e soja (como é o caso em Santiago). A maioria dos jovens sai de um fraquíssimo ensino básico, pensando (uma vez que the dream is over) em fazer Direito e, ato contínuo, montar seu escritório; pensando fazer Psicologia e, ato contínuo, montar seu consultório; pensando fazer uma das licenciaturas e, ato contínuo, transformar-se num(a) professor(a). Essa maioria (95%) não aprova no exame da Ordem, condição necessária para o exercício da advocacia. Percentagem equivalente, que conclui qualquer curso superior, não consegue exercer a profissão por duas incompetências: falta determinação (para a autonomia) ou falta capacidade intelectual para incluir-se entre os 5% que ganham vaga em concurso ou seleção. Apenas a minoria tem sucesso. Quem não estudar por fora, preparando-se para as diversas possibilidades no setor público ou privado, pouco irá adiantar o tempo e o dinheiro gastos na universidade. Os 95% continuarão em seus empregos anteriores, à espera de um cavalo encilhado, de uma estrela que corra na janela. A minoria exitosa, na realidade, não se satisfaz com uma mera graduação superior, parte para uma especialização, um mestrado, um doutorado... Infelizmente, as universidades contribuem cada vez menos para a melhor qualidade do ensino e, por conseguinte, do novo profissional. A evolução não passa de um número.
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(Há algum tempo, pensava numa forma de dizer mais ou menos o que consegui expressar acima. A primeira tentativa foi pela manhã, com uma continuação difícil à tarde e a conclusão à noite.)   

???

Minha postagem Muita leitura valeu o seguinte comentário de um anônimo: "muito bom os livros que vc esta lendo, espero que traga um pouco de esclarecimento sobre a vida!". 
Esse conseguiu me confundir num recado tão sucinto. Não sei se o interpreto como um elogio ou como uma ironia. No primeiro caso, não me envaideço. No segundo, não me avexo. 
A vida necessita, sim, de esclarecimentos. Caso contrário não se justificaria a razão humana, a filosofia, a sociologia, a matemática, a medicina, a genética... Bastaria os instintos para vivermos muito bem (ou não?), como os demais seres vivos capacitados instintivamente. 

ÚLTIMA VEJA

Primeiro parágrafo da coluna da Lya Luft: 
"Com o ensino cada vez pior - e ainda por cima sendo mais difícil conseguir uma reprovação -, temos gente saindo das universidades quase sem saber coordenar pensamentos e expressá-los por escrito, ou melhor: sem saber o que pensar das coisas, desinformados e desinteressados de quase tudo. Fico imaginando como será em algumas décadas. A ignorância alastrando-se pelas casas, escolas, universidades, escritórios, congressos, senados... Multidões consumistas ululando nas portas e corredores de gigantescos shoppings, países inteiros saindo da obscuridade - não pela democracia, mas para participar da orgia de aquisições, e entrar na modernidade". 
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Veja essa: "Pela ordem, senhor presidente. Senhora presidenta da República".  Da senadora Marta Suplicy, tão "descontenta" e "impacienta" que quase chamou a "tenenta" que atendia uma "pacienta" "adolescenta" e "clienta".
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Matéria de Economia: "MAIS LONGE DO PRATO (a carne, principalmente). Os brasileiros já sentiram no bolso o aumento nos preços, fruto da tolerância do governo com a inflação no ano eleitoral. Chegou a hora de pagar essa conta amarga". 
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Ainda Economia: "AGORA A LIQUIDAÇÃO É EM CASA. Fenômeno na internet, os sites de compras coletivas já atraem 8 milhões de brasileiros - e começam a transformar a maneira como as pessoas consomem".
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Imprensa: "A ESTRELA É A NOTÍCIA - Com o lançamento do The Daily, o primeiro jornal para iPad, e a compra milionária de um site de notícias, o jornalismo digital nos EUA entra em uma nova era".
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"Artes & Espetáculos: NEM AO VIVO É MELHOR - Com a recém-lançada galeria virtual, o Google oferece a possibilidade inédita - e fantástica - de explorar detalhes de obras-primas que seriam impossíveis de ver a olho nu."
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Os livros da lista dos livros mais vendidos não são os melhores livros. 
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Das 128 páginas da revista (incluindo capa e contracapa),  54 páginas inteiras são de anúncios. 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

MUITA LEITURA

Há alguns dias, concluí a leitura do livro Criação Imperfeita, de Marcelo Gleiser. Trezentas e muitas páginas versando sobre as últimas ideias da Cosmologia. A tese fundamental do Gleiser é a assimetria como uma característica fundamental que faz o Universo ser como é, dos átomos às galáxias. 
Nesta semana, saiu uma edição especial da Scientific American (Brasil) com os seguintes artigos:
- A origem do Universo;
- Relatos de um universo oscilante;
- O Universo está perdendo energia?;
- Existe mesmo uma energia escura?;
- O fim provável da Cosmologia;
- A busca pela vida na estranheza do multiverso;
- O misterioso nascimento das estrelas;
- Estrelas negras, não buracos;
- O tempo é uma ilusão?;
- O tempo pode acabar?
Já li exatamente a metade da revista. Em O fim provável da Cosmologia, escrito por astrofísicos norte-americanos, uma ideia inteiramente nova: "o Universo em aceleração apaga as pistas de suas próprias origens". 
Os conglomerados de galáxias afastam-se uns dos outros, com uma velocidade que aumenta proporcionalmente à distância. O Grupo Local de galáxias, formado pela Via Láctea (onde vivemos), Andrômeda e uma hospedeira com galáxias anãs orbitando em volta dela, convergem para um mesmo ponto, para formar uma supergaláxia, que entrará em colapso depois de bilhões e bilhões de anos. Quando se formar essa supergaláxia, tudo o mais no Universo terá se afastado tanto que não haverá aparelho capaz de vislumbrar a mínima luz, restando um imenso vazio. Os autores escrevem sobre "o apocalipse do conhecimento", porque nenhum estudioso dessa época futura terá como suporte os três pilares observacionais do Big Bang: o afastamento das galáxias umas das outras (uma vez que não serão mais vistas), a radiação cósmica de fundo em micro-ondas e as abundâncias relativas de elementos químicos como hidrogênio e hélio. Essas pistas do big bang terão se apagado e o Universo voltará a ser visto como no início do século XX, que se restringia à nossa galáxia. Para o estudioso hipotético do futuro, o Universo (restrito à supergaláxia) poderá colapsar num Big Crunch.
Daqui a cinco bilhões de anos, a Andrômeda estará muito próxima da Via Láctea e ocupará quase todo o céu noturno. Uma visão extraordinária! Hoje, há 2.900.000 anos-luz, não passa de uma pequena mancha embranquecida na direção norte, sobre a linha do horizonte. 

sábado, 12 de fevereiro de 2011

DIFERENÇA BÁSICA

Os dicionários trazem como aproximação da filosofia com a teologia, no âmbito da metafísica, "o conjunto de especulações teóricas que compartilham com a religião a busca das verdades primeiras e incondicionadas, tais como as relativas à natureza de Deus". No final da Antiguidade e ao longo da Idade Média, tal compartilhamento fez escolas (cujos expoentes foram Santo Agostinho e Tomás de Aquino). Depois de Kant, Nietzsche e Heidegger, a filosofia se libertou desse grude metafísico. 
Perguntar sobre Deus é diferente de responder positivamente sobre a existência de Deus. Essa é a diferença básica entre a Filosofia e a Teologia. O mesmo ocorre entre a Filosofia e a Ciência. Ao perguntar sobre o princípio de todas as coisas, Tales de Mileto constituiu-se no primeiro filósofo. Em todos os pré-socráticos, o mais importante era a busca pela substância primordial. A água como resposta é tida como um absurdo, como o é a energia escura que os cosmólogos atuais andam atrás para justificar a expansão acelerada do Universo. 
Os gregos perderiam o espírito inquiridor a partir de Platão, que sujeitou o mundo visível ao mundo ideal, do além, metafísico (não no sentido aristotélico). A filosofia platônica abriu caminho para que Paulo de Tarso entrasse em Corinto, Tessalônica, Éfesos, Galácia, Filipos, entre outras cidades da Hélade (ou com a sua influência cultural) a pregar o cristianismo. 
Os deuses gregos estavam mortos, o espírito filosófico grego tinha sucumbido ao platonismo...

VIÉS RELIGIOSO

Hitler, em sua revolução genocida, buscou o apoio dos cristãos anti-semitas. Mubarak, para se perpetuar no poder, condicionava os católicos a apoiá-lo contra uma possível ameaça islâmica. Esse mito moderno transcende as fronteiras egípcias e arraiga-se pelo mundo todo, principalmente na América. 
Num artigo do Zero Hora de hoje, percebe-se claramente o medo e a desinformação (prefiro o velho termo ignorância) com que religiosos bíblicos manifestam sem a mínima vergonha. Com o título A saída de Mubarak: uma visão pessimista, Paulo Fernando Cabral escreve o que se segue: 
"Receio que a Irmandade Muçulmana, principal força opositora ao governo de Mubarak, composta por muitos grupos, porém com hegemonia de setores fundamentalistas do Islã, que defendem, entre outras coisas, uma espécie de 'iranização' do país, acabe assumindo o governo e leve o Egito à guerra contra Israel. Receio que o Egito não avance em direção à democracia mas a uma nova ditadura, porém nos moldes do Irã"
Quem é o autor do discurso? Um analista político? Um sociólogo? Um filósofo? Um jornalista? Nada disso. Cabral é pastor e teólogo. A propósito, filosofia e teologia são diametralmente opostas, antípodas inconciliáveis o pastor (ou padre) e o filósofo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

BLOG DO NENITO SARTURI

Meu amigo Nenito é o mais novo integrante da nossa blogosfera (âmbito santiaguense). Há pouco, recebi seu e-mail, anunciando a boa nova. Para acessar o blog A VOZ DO RIO GRANDE basta clicar aqui, ou na lista ao lado.
Bem-vindo ao mundo hipertextual! 

MARTÍN FIERRO



Aquí me pongo a cantar
Al compás de la viguela,
Que el hombre que lo desvela
Una pena estraordinaria,
Como la ave solitaria
Con el cantar se consuela.
.
Eis a primeira estrofe de Martín Fierro, obra máxima da poesia gauchesca, escrita pelo argentino José Hernández. Nenhuma é mais extensa nem mais famosa. São 4.890 versos heptassílabos (em nossa medida), agrupados em sextilhas que repetem o esquema rímico ABBCCB. A partir de agora, tenho o prazer de guardá-lo em minha estante. 

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MAU TEMPO

A previsão era de temporal brabo para ontem, mas choveu manso. Numa primeira leitura, tudo parecia calmo na blogosfera, mas não demorou os raios e trovões. Patrulhamento ideológico? Puxa-saquismo? Liberdade de expressão? O mau tempo começara antes, com uma crítica do twitteiro Rodrigo Faccin ao deputado Chicão. Interessante o vínculo de santiaguense com o mensalão. As verdades continuam meio veladas (ou veladas por inteiro), omitindo-se nomes. 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

TEMPO BOM

A dor foi embora, consigo andar sem apoio. Estou calmo. A blogosfera está calma. A chuva acalma a cidade neste fim de tarde. A cidade, portanto, está calma - apesar do ronco de uma motocicleta e do canto de um bem-te-vi, como se um raio solar virasse pássaro de repente. Isto mesmo: chove e faz sol. Tempo bom. 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

QUE LIVRO!

Iniciei ontem a leitura de Romance das origens, origens do romance, de Marthe Robert. Dos melhores que passou pelas minhas mãos. Não havia lido antes algo que fosse tão a fundo na relação mais íntima entre literatura e psicanálise. Relação essa que, em parte, explica a profundidade psicológica de um Dostoiévski e de um Kafka (por suas vidas e obras), como da riqueza literária dos escritos freudianos. Por exemplo, a teoria do "romance familiar". Estou arrebatado por essa leitura. 

GUARDA MUNICIPAL DE SANTIAGO

O trânsito em nossa cidade está longe de ser um problema sério, a despeito de possível carência de vagas em volta da Praça Moisés Viana, Calçadão e Rua dos Poetas. Para a alta velocidade na Alceu Carvalho, Aparício Mariense, Pinheiro Machado (do trevo do Batista ao colégio Cândido Genro) e na BR 287 (dentro do perímetro urbano) logo serão encontradas as soluções. A ordem no Centro é facilmente observada, em parte graças à conscientização dos usuários, em parte graças à presença dos agentes de trânsito, hoje representados pela Guarda Municipal. Os nossos "guardinhas" estão se saindo muito bem, merecendo elogios por parte de pessoas que são beneficiadas pelos seus serviços. Eles já podem ser vistos como personagens antecipadas de uma cidade realmente educadora.  
(Apedido)

O CONTRAPONTO DO RUY

Um amigo de longas eras se faz de desentendido em relação ao nome do meu blog: CONTRA . Esse era o nome da minha coluna no A Hora, sugestão do próprio diretor-proprietário desse jornal, Júlio Prates. Entre os significados para o termo "contraponto", baseio-me na sua acepção figurativa: tema complementar ou contrastante. Noutras palavras, algum detalhe que pode escapar da simples observação à análise criteriosa, ou aquele ponto de vista não compartilhado pelo senso comum. Paradoxalmente, esse mesmo amigo insiste em classificar essa excepcionalidade em conservadorismo. Um equívoco, uma vez que é o senso comum que, salvo raras exceções, representada o pensamento ortodoxo. (Muitas postagens que faço não podem ser classificadas como contraponto, sigo o fluxo, a maré dos assuntos.) 

Lendo os blogs nesta manhã, destaco um contraponto interessante do Ruy Gessinger. Ele escreve sobre um tema ainda não trazido à baila, com uma posição que transcende o senso comum. Ei-lo:

E OS AFOGAMENTOS DOS IMPRUDENTES. QUEM PAGA A CONTA DO HELICÓPTERO?

Estávamos nós jogando placidamente tênis no Recanto Xangri-la ( não entendo o ódio dos que não sabem jogar nada a não ser futi, contra os do tênis, deve ser o mesmo ódio do cara do tambor ou da cuíca contra o que toca piano, é a mesma cisma dos que moram no interior contra os surfistas, ora, ora, ora, as mães dos surfistas são tão mães como as dos que atiram cordas ( laçadores)), quando um helicóptero nos começou a atrapalhar . Nossas quadras están sobre el mar, estavam salvando um borracho que, inobstante os avisos e etc etc etc, aventurou-se e agora tem que vir os brigadianos, mais o helicóptero, a 2.000 reais o minuto, para salvar o abobado. Tudo com nosso dinheiro. Está na hora de, após o salvamento, pegar esses incautos , copiar seus endereços e cpfs e cobrar pelas despesas que nós, prudentes, temos que arcar com suas loucuras. Vida não tem preço, mas o minuto do helicóptero tem. E não somos um Estado , nem um país rico. E o que tem que ver os contribuintes de Unistalda, que curtem um caloraço, a seca e os banhos de açude cheios de barro, com esses suicidas, bundinhas exibidos?

Na praia, observava esse tipo de salvamento. A casa em que me hospedava (Matinhos-Pr) localizava-se ao lado do quartel do Corpo de Bombeiros. Geralmente, o candidato a suicídio por afogamento encontrava-se bêbado. Houve caso, em que o salvado reclamou de quem o tirou do buraco d'água, com a desculpa esfarrapada de que tinha controle da situação.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

AIGITO

Ao irromper as manifestações no Egito, pensei que se repetiria o que aconteceu no Irã em 1979, com a Irmandade Muçulmana prestes a representar o papel dos xiitas. Arriscava algo sobre o que não sabia. Primeiro, o movimento egípcio não é religioso (menos mal). Segundo, os irmãos muçulmanos são moderados, divergindo dos fundamentalistas iranianos. Isso é o que dizem os artigos e as reportagens que são produzidos nos últimos dias sobre a mais nova revolução democrática do século XXI (cuja mobilização inicial foi organizada pelo Facebook). Claro, todos são a favor desse movimento no Egito, que derrubará um dos 55 regimes totalitários que ainda resistem politicamente.  

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O QUE ESPERAR DO DEPUTADO...?


Júlio Prates pergunta em sua última postagem: "O que esperar do deputado Chicão?". Depois de uma longa justificativa bem fundamentada, o blogueiro responde à questão: o Chicão será um grande deputado. (Sem aspas, porque faço de suas palavras também minha aposta.) Predição fácil, uma vez que conhecemos muito bem o homem. 
Proponho a seguinte substituição no enunciado interrogativo: Chicão por Romário. 
O QUE ESPERAR DO DEPUTADO ROMÁRIO? 
Como primeiro subsídio para uma possível resposta, o novo deputado federal faltou à 1ª Sessão na Câmara (em Brasília) para jogar futevôlei (no Rio).
O editorial do Zero Hora de hoje (ao lado do artigo da professora Arlete), com o título Péssima largada, faz uma crítica incisiva a uma prática do Congresso, depois de detonar com o baixinho, ex-craque de futebol.  

ARLETE GUDOLLE LOPES

Qual minha surpresa ao abri o Zero Hora deste sábado? O nome da professora santiaguense Arlete Gudolle Lopes, assinando o artigo O outro lado da dor, o qual transcrevo abaixo:
Ao tomar conhecimento de trágicos acidentes ocorridos em ruas ou em estradas brasileiras, por instintivo e gradual sentimento de preservação, a sociedade se comove e, raramente, consegue estabelecer um julgamento desapaixonado e isento sobre tão nefastos episódios. Devido às indizíveis mazelas desencadeadas por esses fatos estarrecedores, as pessoas voltam-se, irascivelmente, contra o causador do infortúnio, caso tenha conseguido sobreviver a ele. Comiseração e solidariedade encimam demonstrações afetivas para com os familiares dos acidentados, especialmente se resultar em óbitos ou mutilações.
Parentes e amigos, rememorando as vítimas, fazem aflorar a falibilidade delas, gestando inominável sofrimento naqueles que as rodeiam, não raro acompanhado de ódio e revolta contra o mentor do acidente. Se meros desconhecidos, uma estranha sensação de alívio escamoteia a piedade por não constarem em seu rol de afetos, por isso o sofrimento se faz menor ou a indiferença sobrepuja qualquer outro sentimento. Fazem-se compreensíveis tais posicionamentos, uma vez que esse tipo de evento poderia ser evitado, se o infrator obedecesse às normas de trânsito, não bebesse, refreasse a impetuosidade e se houvesse, nas vias públicas, melhores condições de trafegabilidade. Lamentavelmente, as estratificações sociais olvidam o anverso dessa tragédia.
Só quem conviveu com algum condutor de veículo que escapou com vida e foi o causador do infeliz acontecimento, pode aquilatar a extensão do infortúnio que se abate sobre ele e sua família. Nos pais, ecoa irreprimível sensação de culpa e impotência por não anteverem a tragédia, ao mesmo tempo, sentem-se gratos por não ter sido um dos seus a vítima. Esse misto de culpabilidade e gratidão acompanha todos os envolvidos por longo tempo, cujo desenlace, além de se fazer pontuar por desgastes financeiros e emocionais infindáveis, quase sempre se corporifica em isolamento individual por vergonha ou por medo de enfrentarem o julgamento das pessoas conhecidas e dos parentes daqueles que tiveram vidas ceifadas ou danificadas.
Para que essa hecatombe social seja banida do país, é mister que os membros da sociedade motorizada repensem o seu papel de condutores e façam do prazeroso ato de dirigir uma lição de cidadania ao respeitar as leis de trânsito, servindo como referenciais a serem seguidos. Com isso, seus descendentes assimilarão as lições de como bem conduzir automóveis empiricamente, aperfeiçoando o aprendido junto a instrutores especializados, a fim de que não se valham do veículo como uma arma que pode ceifar a própria existência e a de outrem. Havendo prudência, observância às normas de trânsito, profundo respeito à vida (sem bebidas), as ruas e as estradas (sem buracos) do Brasil servirão como sendas da confiabilidade e retorno seguro para os lares. 
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Parabéns, professora Arlete! Sou leitor assíduo de seu blog.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

COMENTÁRIOS DIVERSOS

Meus dias sem poder sair de casa, em razão de uma artrite violenta, são bem aproveitados com a leitura. Muita leitura. Coisa que não fazia há alguns anos por falta de tempo, que era gasto com outras ocupações. Já vivi fases mais intensas como leitor, obviamente. Nunca o suficiente para ler todos os livros que, dia após dia, passo a dispor para o conhecido fim. 
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Na leitura diária que faço dos blogs, gostei da crítica aos anônimos. Várias vezes, fui alvo desse tipo covarde de comentaristas. Um dos últimos chegou a insinuar que eu lia apenas orelhas e notas de rodapé dos livros. Mais debochado impossível, apelando para questões pessoais (fora do tema que estava em discussão). Alguns blogueiros foram unânimes em postar que sabiam a identidade do infrator do Art. 5º da Constituição (inciso IV), cujo "rabo" é indisfardamente grande. Uma pena que no âmbito da blogosfera, quando tratam do assunto, todos, indistintamente todos, deixam de citar nomes para menor incômodo.
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O Ruy pergunta: "Quando foste compelido a votar para deputado, para qual missão imaginavas destinados teu candidato?". Assim introduz o assunto de sua postagem, que versa sobre a prática de "guindar parlamentares para ocuparem cargos no Executivo (Secretarias, Ministérios)", tirando da função específica a que fora eleito. Expressa suas dúvidas sobre a correção dessa prática, que o Júlio Prates também alude mais especificamente. Penso que o eleitor ainda não está maduro para reclamar pelo seu voto. Por motivos óbvios, ele acha até lindo. Auguste Comte, em seus arroubos frenológicos, chega a afirmar que a maioria dos seres humanos jamais desenvolverá a parte frontal do cérebro, responsável pelas faculdades superiores.  

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Outra discussão interessante, necessária para o amadurecimento da sociedade santiaguense, girou em torno do trânsito nos trevos da BR 287, mais precisamente, o Trevo do Batista. Entrei no assunto com a coluna publicada no Expresso Ilustrado desta sexta. Boa discussão, não apenas porque provoca resultados práticos. 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MAIS LIVROS


Mais dois livros para enriquecer de conhecimento minha biblioteca (para não dizer a mim): Romance das origens, origens do romance, de Marthe Robert; e A preparação do romance, de Roland Barthes. 
"A fortuna histórica do romance deve-se evidentemente aos privilégios exorbitantes que a literatura e a realidade lhe concederam ambas com a mesma generosidade. Da literatura, o romance faz rigorosamente o que quer: nada o impede de utilizar para seus próprios fins a descrição, a narração, o drama, o ensaio, o comentário, o monólogo, o discurso; nem de ser a seu bel-prazer, sucessiva ou simultaneamente, fábula, história, apólogo, idílio, crônica, conto, epopeia; nenhuma prescrição, nenhuma proibição vem limitá-lo na escolha de um tema, um cenário, um tempo, um espaço; nada em absoluto o obriga a observar o único interdito ao qual se submete em geral, o que determina sua vocação prosaica: ele pode, se julgar necessário, conter poemas ou simplesmente ser 'poético'. Quanto ao mundo real com que mantém relações mais estreitas que qualquer outra forma de arte, permite-se-lhe pintá-lo fielmente, deformá-lo, conservar ou falsear suas proporções e cores, julgá-lo; pode até mesmo tomar a palavra em seu nome e pretender mudar a vida exclusivamente pela evocação que faz dela no seio de seu mundo fictício. Se fizer questão, é livre para se sentir responsável por seu julgamento ou sua descrição, mas nada o obriga a isso: nem a literatura nem a vida pedem-lhe contas da forma como explora seus bens."
(Excerto de Romance das origens, origens do romance.)
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"Origem e ponto de partida - Por que escrevo? - Poderia ser, entre outras coisas, por dever: por exemplo, para servir a uma Causa, uma finalidade social, moral, instruir, edificar, militar ou distrair. Essas razões não são negligenciáveis; mas eu as vivo um pouco como justificativas, álibis, na medida em que elas fazem com que o Escrever dependa de uma demanda social, ou moral (exterior). Ora, tanto quanto me permite minha lucidez, sei que escrevo para contentar um desejo (no sentido forte): o Desejo de Escrever - Não posso dizer que o Desejo é a origem do Escrever, pois não me é dado conhecer inteiramente meu Desejo e esgotar sua determinação: um Desejo sempre pode ser o substituto de outro,e não compete a mim, sujeito cego, mergulhado no imaginário, explicar meu Desejo até seu dado original; só posso dizer que o Desejo de escrever tem um ponto de partida, que posso localizar."
(Excerto  de A preparação do romance.)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

IDEAL VERSUS REALIDADE


Uma coisa é o ideal, outra é a realidade. Essa oposição é de uma abrangência grande e verdadeira. Em muitos casos, ela apresenta um abismo quase intransponível entre um lado e outro. Toda ponte, antes de constituir o real, já figura como idealização. Cito um exemplo, para ser mais claro: o trânsito. A realidade no trânsito é composta por indivíduos humanos (condutores, pedestres, agentes), veículos automotores, vias, leis, sinais, congestionamentos, acidentes, mortes etc. O ideal é que funcione sem problema algum. O conhecimento das normas de circulação, ao contrário das análises que o colocam no plano inexistente, é uma condição real. Sem esse conhecimento não haveria trânsito. Falta é uma ponte entre o saber e a prática, que depende exclusivamente de cada condutor na hora em que transita por uma via qualquer. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) dá nome a essa ponte: direção defensiva. Falta responsabilidade ao atravessá-la, bom caráter. O condutor sabe o que significa a placa de “Pare”, mas não para. Da mesma forma, sabe o que significa a placa de velocidade máxima permitida, mas ultrapassa o limite com uma volúpia incontrolável. A maioria dos problemas no trânsito ocorre na junção de uma coletora e uma arterial (vias urbanas), ou nas curvas e ultrapassagens nas rodovias e estradas (vias rurais). Para ser mais realista, em qualquer ponto das rodovias, principalmente, uma vez que o risco está na alta velocidade. Salvo raríssimos casos, a pressa é uma justificativa implausível. Nunca justifica o acidente (como ocorreu, infelizmente, com o meu amigo Gilvan). A alta velocidade é uma realidade e é um ideal, sem ponte entre uma e outro (por isso a volúpia). Todavia, o abismo é sempre possível. 

Dedico o texto acima aos meus amigos Paulo Pinheiro e Jones Diniz, da nossa querida Rádio Santiago. Paulo, boas férias! 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

PESO VERSUS LEVEZA

Desde que li o romance A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, não mais esqueci esta interessante oposição explorada pelo escritor: peso versus leveza. Alguns de meus poemas versam sobre o peso da metade de tudo o que existe (dentro e fora de mim), e da leveza da outra metade. Nos anos noventa, li Seis propostas para o próximo milênio, de Ítalo Calvino. O primeiro ensaio (conferência que o autor daria na Universidade de Harvard) do livro é Leveza. Da oposição acima, o autor argumenta em favor da leveza, reconhecendo que seus escritos no mais das vezes traduziu-se como uma subtração do peso. Calvino cita Kundera (como o fiz nesta postagem). "Seu romance A insustentável leveza do ser é, na realidade, uma constatação amarga do inelutável peso do viver: não só da condição de opressão desesperada e all-pervading que tocou por destino ao seu desditoso país, mas de uma condição humana comum também a nós". Eis outras obras citadas pelo ensaísta, como exemplo de leveza:  Metamorfoses, de Ovídio; De rerum natura, de Lucrécio (primeira grande obra poética em que o conhecimento do mundo se transforma em dissolução da compacidade do mundo); Decamerão, de Boccaccio (em que aparece o poeta florentino Guido Cavalcanti); A fera na selva, de Henry James; peças de W. Shakespeare (Sonho de uma noite de verão, Hamlet...); As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift; o conto O cavaleiro da cuba, de F. Kafka. 
Os outros ensaios do livro Seis propostas pra o próximo milênio são rapidez, exatidão, visibilidade e multiplicidade. O último, sobre a consistência, não foi escrito por Calvino, em razão de sua morte. 
Como o mundo dá voltas, os livros acabam voltando as nossas mãos. Seis propostas para o próximo milênio foi emprestado a Erilaine pela professora Tânia Brum.