segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CARTA DO LEITOR

Entre os inúmeros gêneros textuais, a carta do leitor vem se constituindo no principal instrumento da comunicação do século XXI, do jornalismo 3.0. Seu assemelhado no âmbito digital é o comentário e, em alguns casos, a própria postagem. O que importa é a interação.
A Veja da semana passada publicou nas páginas amarelas uma entrevista com Ricky Martin, assumindo sua homossexualidade. Após a leitura, não me contive e escrevi um comentário (editado neste blog). Abrindo a edição desta semana, leio a seguinte carta do leitor:
"Ricky Martin
Sou pai há menos de um ano e fiquei decepcionado com Ricky Martin (Amarelas, 26 de janeiro). Ele afirma que quer que seus filhos digam: 'Meu pai é gay e ele é muito legal. Seu pai não é gay. Triste o seu caso'. Ora, quer dizer que, pelo fato de eu não ser gay, sou um pai menos legal que ele? Gostaria de mostrar a ele quanta felicidade e amor existe em uma família simples aqui do interior de Minas Gerais, um casal normal (homem e mulher) que tem uma filhinha maravilhosa cheia de saúde e sem os milhões de dólares que esse senhor tem".
Eduardo Fernandes Silva
Nova Lima, MG
Há outras cartas sobre a mesma entrevista. 
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(A professora Sandra Nascimento, há alguns anos, vem trabalhando a carta do leitor com seus alunos na URI. O gênero apresenta uma estrutura interessante, não obstante sua brevidade.)

PONTO LATEJANTE

Meu calcanhar ainda dói, a inflamação não regride. Não consigo pisar firme com o pé esquerdo. Devo ir ao médico daqui a pouco. Um raio-x me dirá se há calcificação do calcâneo. Meu organismo tem essa capacidade, cuja consequência é dor. Espero que não passe de artrite gotosa, muito dolorida também. Durante a crise, o paracetamol e a dipirona viram placebo. 
A manhã está azul lá fora. Aqui dentro, um ponto latejante distorce minha visão. 

domingo, 30 de janeiro de 2011

BIG BROTHER BRASIL

Um texto falsamente atribuído a Luiz Fernando Veríssimo foi postado em blogs e está sendo enviado por e-mail, baixando o pau no Big Brother Brasil. No Blog do Noblat, o próprio Veríssimo desfaz o equívoco: "Não poderia escrever nada sobre o 'Big Brother Brasil', a favor ou contra, porque sou um dos três ou quatro brasileiros que nunca o acompanharam"
A crítica arrebenta com o programa, com Pedro Bial e com a Rede Globo (que fatura milhões com os telefonemas). Pega leve com os telespectadores, aos quais aconselha a fazer outra outra coisa no horário. O sucesso de edições anteriores é o feedback que assegura o "eterno retorno" do programa. A culpa é dos telespectadores. A maioria dos brasileiros não perde o Big Brother.
Como afirmei em postagem anterior, vivemos uma era de absurdos, em que a promiscuidade, a sexualização, a inversão dos valores é normal. Qualquer reação contra tais coisas é acusada de preconceituosa. Até leis (e projeto delas) já existem para proteger a sem-vergonhice. 
Da entrevista das páginas amarelas da Veja, transcrevi excerto que prova ser o preconceito de quem se acha vítima do preconceito. Com a palavra Ricky Martin: "Quero mais é que eles (filhos) falem a seus amigos: 'Meu pai é gay e ele é muito legal. Seu pai não é gay. Triste o seu caso'. Quero que eles sintam orgulho em fazer parte de uma família moderna". 
Por que seria triste o caso dos filhos de pais heterossexuais? Isso, sim, é preconceito.
O Big Brother está na mesma linha das telenovelas globais. A última da nove (antiga das oito) foi um atentado à inteligência e à moral dos bons costumes. A diferença é pequena entre a realidade e a ficção. 


sábado, 29 de janeiro de 2011

EDITORIAL DO JORNAL FALADO

Ouvinte assíduo do Jornal Falado da Rádio Santiago, também destaco o editorial deste sábado. Entre as razões de haver repetidos acidentes na BR287, o editorialista cita a falta de atenção de pedestres (sempre vítimas), a falta de atenção de motoristas e o desconhecimento das regras básicas para um trânsito seguro. Conhecimento não falta, caro Paulo Pinheiro. Todos sabem que há um limite máximo de velocidade dentro do perímetro urbano, que é de 60 km/h. Não bastasse o conhecimento, condição que habilita o indivíduo a conduzir um veículo automotor, existem placas ao longo das vias destinadas à circulação. Todos sabem e há sinais de regulamentação. O que falta, então? Falta a adequação do conhecimento à prática, falta obediência, falta caráter daqueles que circulam acima da velocidade máxima permitida. O acidente causado por esse tipo de infração deverá ser considerado crime preterdoloso. O problema não está apenas ali, naquele trecho da rodovia que se situa dentro do perímetro urbano. Outros locais, como a Alceu Carvalho e a Aparício Mariense, necessitam de maior fiscalização primeiramente. Dia e noite, não importando a quem cabe a responsabilidade. Obras são necessárias, principalmente que forcem a redução de velocidade, uma vez que não há como transformar o caráter dos condutores. 

JAYME CAETANO BRAUN - LIÇÃO POÉTICA


Amanhã comemora-se o Dia do Pajador Gaúcho. A data foi escolhida para homenagear aquele que foi o nosso maior pajador: Jayme Caetano Braun. Ele nasceu num 30 de janeiro de 1924, na Timbaúva (mais tarde Bossoroca), distrito de São Luiz Gonzaga. A seção Almanaque Gaúcho do Zero Hora de hoje faz uma referência ao poeta (que aprendi a declamar aos oito anos). 
Interessante a definição de pajada (ou payada), dada pelo autor/ editor de Túnel do Tempo: "é uma forma poética nascida no século 19, em geral um repente em décima (estrofe de 10 versos), de redondilha maior (verso de sete sílabas) e rima entrelaçada. Suas raízes remontam aos romances e quadras medievais e renascentistas, de temática popular, trazidos pelos povoadores espanhóis". 
Dessa forma, nem a pajada está livre da medida exata, não obstante o repente, o improviso. 
Em Santiago, são raros os já alçados à condição de poeta que sabem compor um longo poema com versos  isossilábicos (mesmo número de sílabas). Por que Jayme Caetano Braun se tornou um grande poeta? Por que ele chegou tão declamado até os nossos dias? A resposta é simples: seus longos poemas foram produzidos em versos de sete sílabas. Bochincho, por exemplo:
A um / bo/chin/cho,/ cer/ta / fei/ta 
...1.......2....3.....4......5...6....7
fui / che/gan/do / de / cu/rio/so
que o / /cio é / que / nem / sar/no/so
nun/ca / pa/ra / nem / se a/jei/ta
bai/le / de / gen/te / di/rei/ta
vi / de / pron/to / que / não / e/ra
na / noi/te / de / pri/ma/ve/ra
ga/gue/ja/va a/ voz / de um / tan/go
e eu / sou / lou/co / por / fan/dan/go
que / nem / pin/to / por / qui/re/ra
...
A contagem das sílabas vai até a última sílaba tônica do verso, desprezando-se a(s) sílaba(s) átona(s) subsequente(s). A sílaba tônica final (fei-) é que deve ser rimada no poema. Na música, ela coincide com um novo acorde, ou com o som do bordão (uma das três cordas grossas do violão). Nessa primeira estrofe de Bochincho, sete dos dez versos mantêm a tônica na terceira sílaba, regularidade que dá ritmo ao poema. Por outro lado, para evitar a monotonia rítmica, os três versos restantes apresentam tonicidade interna na 2ª ou na 4ª sílaba.
Jayme Caetano Braun sabia disso.
Outra coisa, por mais popular que seja o gênero literário, oral ou escrito, tem suas raízes em escolas clássicas.  

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

DOR VERDADEIRA

Desde terça-feira, estou com uma inflamação no calcanhar, final do Tendão de Aquiles. A obrigatoriedade de usar calçado fechado nestes dias anula o tratamento com anti-inflamatório. Para amanhecer hoje, não aguentei pisar com o pé esquerdo, forçado a sair do combate diário pela retaguarda. O amigo Rodrigo da Silva, médico que fará residência em Santa Maria, veio me ver. 
A dor, mais que ensinar a gemer, destaca o momento em que deixa de existir, quando é inevitável uma sensação quase indescritível de alegria, de paz. Mesmo impossibilitado de andar, não reclamo. Espero pelo efeito positivo dos remédios. Certamente, amanhã poderei ir e vir outra vez, livre da dor. 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

OLAVO DE CARVALHO


Hoje reencontrei Olavo de Carvalho. Muitos anos me separavam desse filósofo brasileiro, quando não perdia suas coluna no Zero Hora. Na mesma época, o Júlio Prates me emprestou O jardim das aflições. Por indicação de um outro leitor, acessei o site 

Olavo de Carvalho - Sapientiam Autem Non Vincit Malitia

A ironia de Olavo de Carvalho é de uma sutileza devastadora. Para prová-la, transcrevo uma página de seu livro:

"Na gritaria geral contra a falta de ética, ergueu-se finalmente a voz da filosofia para clarear as ideias do povo e indicar à nação o caminho do bem.

"É da tradição os filósofos abandonarem o silêncio da meditação para ir discutir às gentes, nas horas de escândalo e ruína. Sócrates ia pelas praças cobrando os direitos da consciência, aviltada pelos abusos da retórica. Leibniz, chocado com a guerra entre cristãos, clamava pela união das igrejas. Fichte, do alto de um caixote de beterrabas, convocava os alemães à defesa da honra nacional pisoteada pelo invasor. Não é de hoje que a filosofia assume o encargo de guiar o mundo, quando ele, desorientado e perplexo, já não consegue se guiar por si mesmo.

"[...]
"No caso brasileiro, a incumbência de figurar no papel de consciência filosófica nacional foi atribuída ao grupo de professores universitários que orbita em torno de Marilena Chauí, titular da Secretaria Municipal de Cultura, organizadora do ciclo de Ética do Masp e, last not least, autora de um premiado Convite à Filosofia, onde são servidas aos convidados algumas lições preciosas, como por exemplo a de que na lógica de Aristóteles 'o acidente é um tipo de propriedade' - mais ou menos o equivalente a dizer que na geometria de Euclides o quadrado é um tipo de círculo.
"Vejamos o que a consciência filosófica nacional, assim representada, pôde fazer para reconduzir ao bom caminho da ética uma nação perdida".
Sua crítica às conferências realizadas no MASP segue nesse estilo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

ZETA OPHIUCHI



Não sou nietzscheano por acaso, vejo o Universo como uma grande pintura, um grande poema, uma grande sinfonia... A estrela Zeta Ophiuchi, fotografada acima, viaja a uma supervelocidade (24 km/s), levando pela frente uma nuvem de poeira e gás. Vinte vezes maior que o Sol, 65 vezes mais brilhante, ela terá vida relativamente curta em relação a nossa estrela. Para saber mais, clicar aqui.

VEJA

Muito boa a Veja desta semana. Manchete de capa: Guerra nas Estrelas - Mais uma vez a astronomia demole as crenças astrológicas. Mas isso importa para quem se guia pelos astros? 
Gostei deste verbo: DEMOLE. Está tão próximo da verdade, no papel que ela representa para todo tipo de crença. 
Apesar disso, os astrólogos, digo astromantes, estão dizendo que o zodíaco continua sem alteração, independente da inclinação do eixo do nosso planeta. 
Jamais os exploradores da crendice popular reconhecerão o 13º signo, seria o fim da astrologia, digo astromancia. Não é estudo dos astros, mas adivinhação. 
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A entrevista das páginas amarelas trás Ricky Martin, assumindo sua homossexualidade. 
Não entendi este trecho, ao responder a pergunta "Por que você decidiu falar publicamente sobre sua sexualidade?":
"Quero mais é que eles (filhos) falem a seus amigos: 'Meu pai é gay e ele é muito legal. Seu pai não é gay. Triste o seu caso'. Quero que eles sintam orgulho em fazer parte de uma família moderna".
Por que seria triste o caso dos filhos de pais heterossexuais?
Não entendi.
Noutra parte da entrevista, Martin responde: "Existe muito preconceito contra mães de aluguel, mas é uma alternativa excelente. A mãe dos meus filhos é linda, uma mulher estudada, espiritual, que fala quatro línguas. Mostrarei a foto dela aos meus filhos, mas não haverá contato entre eles. Fizemos um acordo de privacidade". 
Outra vez, fico sem entender. Mostrar a foto e evitar o contato? Preconceito contra mães de aluguel? Acordo de privacidade? 
Já vivemos na era do absurdo.
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Das frases da revista, destaco esta de Delfim Netto: "Na Venezuela, as estrepolias de Chávez para construir o 'socialismo do século XXI' estão destruindo a economia de um dos mais ricos países do mundo".

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A HISTÓRIA DO RINCÃO

A história do Rincão dos Machado é pontuada por fatos relevantes que correm o risco do esquecimento. Os mais jovens perderam o hábito da reminiscência oral. Os idosos, que o herdaram de seus pais e avós, aos poucos, afastam-se definitivamente do nosso convívio. O Rincão dos Machado nunca mais voltou a ser o que era antes a partir do primeiro de novembro de 1972. A tranquilidade que nos caracterizava até então foi abalada com a descoberta no Dia de Finados que, na noite anterior, uma panela com ouro havia sido roubada das terras do Fermino Machado. Mais tarde, um dado transmitido à socapa precisava o montante do ouro desenterrado: dezoito quilogramas. Com a mudança de uns lindeiros para o Mato Grosso, onde viraram fazendeiros, tornou-se conhecida a autoria do roubo. Meu avô não se recuperou do baque, da amargura que agravou consideravelmente sua saúde. O homem que mais trabalhara duro, o patriarca da numerosa família, não teve a sorte e a perspicácia para encontrar o maldito ouro. Muitas vezes passara por ali, com uma espingarda 16 ao ombro. Seu grande divertimento era caçar veado, após uma semana de labor intenso com o gado e a plantação. Ele sabia do costume que tinham os ricos proprietários de enterrar seu dinheiro acumulado com a venda de mulas. Nunca passou pela cabeça que a prática tivesse ocorrido antes tempo naquele rincão. Não acompanhava os supersticiosos, que falavam de assombrações nos corredores, picadas e casarões velhos - indicadores dos locais em que se ocultava o ouro segundo eles. Por longos anos, doente sobre uma cama, bapai (como era chamado por alguns de seus filhos) pensou sobre o "enterro" que fora tirado do campo que lhe pertencia. Com a sua morte, em 1977, a história antiga do Rincão dos Machado chegava ao fim.     

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

AZUL OU CINZENTA?

Apesar de ter perdido o hábito de assobiar (Ruy), continuo levantando cedo. Hoje saí da cama exatamente às 6 horas. Para mim, as primeiras horas do dia são as melhores, quando o frescor da manhã entra casa adentro (pelas janelas abertas) e ativa nossos sentidos. 
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Mais uma vez, a segunda-feira me parece azul. Não por influência do edifício em frente ou do céu que se estende sobre a cidade (de diferentes azuis). A azulidade é uma interferência da minha psique, que imprime seu estado momentâneo à percepção visual.  
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Meu aniversário hoje motivaria um churrasco se fosse sábado ou domingo. Essa condição, todavia, não diminui minha animação. Os tópicos acima expressam um acréscimo. Algumas pessoas virão me abraçar, certamente. 
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Outro santiaguense que aniversaria neste 24 é Diogo Bonatto. 
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Da visita diária aos blogs, destaco a postagem Que fim levou o assovio (assobio)?, do Ruy Gessinger. Suas lembranças de Santa Cruz incluem a arte de assobiar, quase abandonada neste século tomado pela tecnologia. Os meninos não assobiam mais, uma vez que se encontram conectados o dia inteiro à música. 
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No Rincão dos Machado, ouço pessoas assobiando no campo ou na lavoura. A prática é menos frequente. Há 40 anos, tínhamos lá virtuoses no assobio. Mas, repetindo uma frase conhecida da literatura brasileira, "tudo passa sobre a Terra". 
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Uma das canções nativistas mais bonitas é A copla de assoviar solito, de Luiz Carlos Borges e José Fernando Gonzales. A música começa com um assobio. A letra é de uma beleza que emociona: "Meu pai um dia me fazia moço / em me levando para camperear / assobiava qualquer coisa doce / como se fosse de luz de luar."
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Desejo a todos os leitores deste blog uma segunda azul.

sábado, 22 de janeiro de 2011

EIS O CIVILIZADO

Hoje é impossível o refúgio, a evasão. A realidade (dentro e fora) é tão surpreendente que me arrasta inexoravelmente. Como não sou um monge budista, acabo voltando ao terra-a-terra, onde é forçoso o registro de ideias e fatos desagradáveis. 
No Jornal Falado (Rádio Santiago) deste sábado, ouço a notícia de que duas crianças dão entrada ao Hospital de Caridade da nossa cidade com suspeita de terem sofrido agressão sexual. Terrível, inacreditável. Nem a ficção consegue surpreender mais (em contos ou filmes de terror). 
A Erilaine exclamou qualquer coisa como se o agressor fosse um animal. Observei-lhe que os animais não fazem isso. Nesse aspecto, comparar o indivíduo humano ao animal é uma ofensa ao animal. Pena que este não tenha consciência suficiente para reconhecê-la como tal. Na vida instintiva, o macho só ataca a fêmea em sua fase de maturidade sexual, quando ela está no cio. 
Outra reação tende a classificar o autor de um crime de qualquer tipo como um bárbaro. Com a referência da História Natural, a barbárie é um período vivido pela humanidade que precedeu a civilização. Bárbaro, portanto, eram todos os homens antes do período atual. Outros significados foram sendo acrescidos ao termo, desde que os gregos e os romanos passaram a chamar de bárbaros àqueles que viviam fora de seus domínios. Sempre o mau, por uma razão etnocêntrica. Os bárbaros, na concepção dos gregos e romanos, eram tão civilizados quanto eles. 
O estupro de bebês, por exemplo, constitui a prova de uma degeneração do homem civilizado (ou pós-civilizado). A degradação ambiental, que o Alessandro Reiffer acusa mais enfaticamente em seu blog, também demonstra a ampla degeneração da vida (sem ética).
Penso que a maioria das pessoas não quer abandonar a crença de que a civilização (ou a humanidade) caminha para algo melhor. Nietzsche já desmistificou essa esperança. 

XADREZ


Alguns visitantes deste blog, mais críticos que a maioria, devem se perguntar o porquê das duas postagens abaixo. Certamente, elas farão cair de forma brusca o número diário registrado pelo contador de acesso, em razão da temática excêntrica. A justificativa é simples: depois de literatura e filosofia, a astronomia é o campo da ciência que mais me atrai. Além de representar uma estratégia de refúgio, distância das discussões terra-a-terra, essa leitura me restitui a serenidade e atende ao meu desejo de conhecimento. Sou um jogador de xadrez (como o Zeca Tamiosso, Marcos Feliciani e Albino Lampert). O xadrez é jogo, ciência e arte, no dizer de Idel Becker. "Como jogo - é esporte intelectual, competição, expectativa, desafio criador, divertimento, higiene mental, repouso. Como ciência - é estratégia (tática e técnica), estudo, pesquisa, imaginação, descobrimento (e descoberta), ideal de perfeição. Como arte - é harmonia, mensagem de beleza, encanto espiritual, emoção, prazer cultural, felicidade." Cito dois grandes campeões do mundo que sintetizam a definição de Becker: Anatoly Karpov e Garry Kasparov. O primeiro era extremamente racional, frio, calculista. O segundo, era romântico, criativo (o mais genial dos enxadristas). As postagens abaixo representam um lance de xadrez.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A ORIGEM DOS ÁTOMOS

"Em 1946, o físico russo-americano George Gamow propôs as ideias básicas do que viria a ser o modelo do Big Bang. Desde 1929, quando o astrônomo Edwin Hubble mostrou que as galáxias se afastam umas das outras com velocidades que aumentam em proporção direta com as suas distâncias, sabíamos que o Universo está em expansão. [...] Gamow supôs, muito sensatamente, que, se o Universo está em expansão, deve ter sido menor no passado. Um espaço menor significa matéria mais densa e quente. [...] Se voltarmos suficientemente para trás no tempo, chegaríamos a uma época em que a temperatura e a densidade eram tão altas que a matéria estaria dissociada nos seus componentes mais simples. Por exemplo, começando quando a matéria estava dissociada em átomos, se voltássemos ainda mais no tempo, chegaríamos a um momento onde os átomos se dissociariam em elétrons e núcleos. Isso ocorreu bem cedo, antes de 400 mil anos após o Big Bang. Por que essa data e não outra? Antes disso, a intensidade das colisões entre a radiação e os elétrons impedia que estes se juntassem aos núcleos atômicos para formar átomos. [...] Com o passar do tempo, a expansão do Universo vai resfriando a radiação que, consequentemente, fica cada vez mais fraca. Por fim, incapaz de evitar a atração entre elétrons e prótons [...]. Essa época marca uma fronteira na história cósmica: antes dela, átomos não existiam, apenas partículas (elétrons, prótons e núcleos leves) e radiação. Depois dela, o cosmo tinha átomos e radiação. Essa radiação, respondendo apenas à atração gravitacional de grandes concentrações de matéria, preenchia o espaço como água numa banheira. No início, logo após a formação dos átomos, a radiação ainda era bastante energética, consistindo em ondas principalmente no visível e no ultravioleta - o Universo brilhava então. Com a expansão cósmica, a radiação foi se resfriando e perdendo energia, passando do visível ao infravermelho e, após bilhões de anos, às micro-ondas que são detectadas hoje. Gamow sugeriu que essa radiação fosse um fóssil da época em que os átomos surgiram no Universo, uma relíquia da infância cósmica. Quando Arno Penzias e Robert Wilson detectaram a radiação cósmica de fundo em 1965, a teoria do Big Bang obteve o suporte observacional de que precisava, passando a ser mais do que uma mera especulação." 
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O excerto acima, do livro do Marcelo Gleiser, esclarece um aspecto interessante do Universo logo após o Big Bang. Gleiser é de uma claridade que lembra Carl Sagan. 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

BOLA DA VEZ



Depois de meio ano esperando na prateleira, em razão de outras leituras, passo a ler o terceiro livro de Marcelo Gleiser (que tem essa belíssima capa acima). Já li os comentários da contracapa, as orelhas, as epígrafes, nota ao leitor, prefácio e toda a parte um, até a página 73. A segunda parte inicia-se com o seguinte parágrafo:
"No ano em que minha mãe morreu, 1965, os astrofísicos norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson publicaram os resultados surpreendentes de suas observações. Nelas, ofereciam prova incontroversa de que o Universo teve uma infância quente e densa, e que vem se expandindo e resfriando desde então. Com apenas seis anos, jamais poderia imaginar que, enquanto minha vida entrava numa fase de enorme tristeza, a cosmologia entrava numa era de grandes descobertas. Penzias e Wilson provaram que o cosmo é como um imenso forno de micro-ondas, repleto de uma radiação cuja temperatura é de apenas 2,73 graus acima do zero absoluto, ou -270,42 graus centígrados. Para a surpresa do par de cientistas, físicos teóricos haviam já previsto que, caso o Universo houvesse surgido como descrevia a teoria do Big Bang, estaria mesmo repleto de radiação. Haviam também previsto que hoje, após bilhões de anos de expansão e resfriamento, essa radiação teria as propriedades das micro-ondas que os dois haviam medido com sua antena. Penzias e Wilson haviam encontrado um verdadeiro fóssil do Big Bang, um retrato do cosmo em sua tenra infância".
Escrevo sobre esse assunto, não porque um engraçadinho anônimo (que já faço ideia de quem se trata) insinua que leio apenas orelhas e rodapés, mas em razão de ser uma prática que desenvolvo desde meus primeiros escritos. Minha intenção é despertar nas pessoas que me leem o interesse por um ou outro livro. 

RÉPLICA

A turma de meus difamadores recrudece dentro da Casa do Poeta Brasileiro de Santiago. Inicialmente, faziam-no em reuniões fechadas, algumas vezes para resolver problemas internos, como o de justificar a não-confirmação de uma (ex-)integrante para secretariar a entidade. A partir desta semana, difamam-me abertamente, por intermédio de seu principal arauto, Márcio Brasil. Toda a inteligência e caráter que esse rapaz demonstrava até então são colocados à prova, antes mesmo de se dirigir a mim, difamando uma de suas  inocentes colegas de lesbianismo. 
Em nenhum momento ataquei a Casa do Poeta, seus cafezinhos poéticos, seus fóruns (outras pessoas o fizeram escrachadamente). Basta uma rápida leitura das postagens abaixo. O máximo que faço consiste numa defesa apaixonada (reconheço) da poesia e do epíteto idealizado para nossa cidade, objetivo que também norteia a Casa do Poeta. A grande divergência está na forma como isso é levado a cabo: com conhecimento de um lado e à revelia de outro. 
O hipertexto é fantástico: mesmo que não desejasse ler, os links me conduziram à postagem do Márcio, cujo título é "O sucesso do Fórum de Literatura e o recalque do Froilam". A propósito, li muitas obras de Freud e dos pós-freudianos e não sabia que bem próximo (agora distante) de mim alguém era conhecedor da Psicanálise. Ainda que saiba da alma humana, o Márcio se revela quase um analfabeto ao interpretar a postagem que fiz
(Outro dia, o Ruy Gessinger abordou o assunto de uma forma sucinta, portanto, não sou original em dizer que o nobre epíteto recém-criado para Santiago corre o risco de virar piada, algo que jamais passou pela cabeça daqueles que o idealizaram (entre os quais Nelson Abreu) e dos que o corroboraram com as primeiras obras (entre as quais a Rua dos Poetas). Da noite para o dia, gente que nunca escreveu um poema passa a figurar como representante da Terra dos Poetas. A vulgarização constitui a alavanca com que está sendo virado o mundo da literatura em nossa cidade (hiperbolicamente justificada como um "fazer cultural"). Sim, a terra dos poetas vivos corre o risco de virar chacota internacional.)
como uma profecia do fracasso do fórum que se realizaria na Casa do Poeta.
O fracasso virá com o tempo, não em relação a esse evento, mas à poesia produzida e publicada despudoradamente aos quatro ventos (seguindo uma orientação ideológica, muito bem analisada pelo Júlio Prates em seu blog). Futuramente, a continuar nesse ritmo frenético de publicações sem a mínima qualidade formal e conteudística, Santiago será motivo de piada, sim. Minha preocupação vai além da Casa do Poeta, vem de antes daquele dia em que seu eterno presidente me propos a criação da entidade. (Ele já esmiuçou em seu blog a versão que me torna o antagonista. Logo darei a minha versão, com detalhes.) Não sou hipócrita ou mesquinho, contrariando uma prática blogueiro-jornalística muito usual  de não citar nomes, em que o Márcio é PHd. O grande vulgarizador (positiva ou negativamente) da poesia em Santiago, foi o projeto Santiago do Boqueirão, seus poetas quem são? Tardiamente, estou solicitando a exclusão do meu nome do projeto, a exemplo de Vívian Dias, excelente cronista e poeta, mas que, inexplicavelmente, não teve voz nem vez. 
O Márcio distorce minhas palavras, sim, ao dizer que debocho dos erros nos escritos das pessoas. (Outras pessoas o fazem abertamente. Logo darei nome aos bois.) Desde que cheguei a Santiago, faço essas correções voluntariamente. Foi assim com o A Hora, do Júlio Prates, com o Expresso Ilustrado, com livros... No Expresso, por exemplo, faz sete anos que reviso, sempre respeitando os erros dos outros, corrigindo e aprendendo com a prática. Nunca cometi o oprópbrio de tripudiar em cima dos erros alheios. Os diretores do jornal, principalmente João Lemes e Sandra Siqueira, são minhas testemunhas de que sempre fui humilde em minhas observações. 
(Cont...) 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

TRANSCRIÇÃO IPSIS LITTERIS

"A ditadura da Casa do Poeta (CLICAR NESSE TÍTULO)

Estou assistindo perplexo aos movimentos da tal casa do poeta de Santiago. Desde logo concluo tratar-se de outro movimento doentio, que exige submissão das pessoas, que atacam e constrangem que não se submete às ordens do capitão e aos ditames ditatoriais de uma linha de pensamento. 

Froilam Oliveira é um poeta santiaguense que merece respeito por sua história pessoal, por sua obra, por sua contribuição à cultura em nossa terra e - sobretudo - como ser humano. Pessoalmente, não concordo com boa parte das posições do Froilam, minhas dúvidas com ele são resolvidas na crítica, não faço panelinha e nem me escondi atrás de grupelhos de práticas fascistas para atacá-lo. 

Agora, a sociedade santiaguense precisa ver e refletir sobre o que esse movimento organizado em torno da auto-denominada casa do poeta. Froilam, por razões que merecem respeito, não quer integrar tal casa. Então o que fazem? Atacam-no. Um blog insinua que ele é o judas, outro que ele éracalcado, cuirosamente, ambos integram a direção da tal casa. 

A sociedade santiaguense precisa refletir onde esse movimento narcísico, fascista quer chegar;  e - sobretudo - verificar a origem dos ataques a Froilam. 

Pessoalmente, eu acho tão simples e tão banal uma pessoa não concordar com uma idéia. No caso da casa do poeta santiaguese, Froilam diverge da orientação e - convenhamos - ele tem todo o direito de divergir, tem todo o direito de expor suas contrariedades, assim como ele faz comigo; Froilam não gosta de mim, mas eu luto para ele tenha o direito de não gostar e luto para ele tenha o direito de expor as razões de não gostar de mim. 

O que está errado, absurdo nessa concepção poética local, é que eles exigem submissão do Froilam, não aceitam divergências e partiram, em grupo, para o ataque contra uma pessoa cujo único crime é não concordar com as linhas, diretrizes e pensamentos desse grupo.

Torno público meu lamento pelo poeta Oracy Dornelles, a quem eu sempre admirei, que foi cerrar fileiras com esse pensamento fascista para atacar e vilipendiar um genuíno poeta santiaguense. 

Hoje eles atacam o Froilam, amanhã atacarão qualquer outro que ouse divergir. Pois ataquem a mim que já vi bem onde quer chegar esse grupelho de cínicos, pois os que escrevem e dizem não se coaduna com sua prática. Queria ver o lero-lero da professora Lígia propugnando amor, paz, deus, religiões isso e aquilo pari passu explicar-me por que querem sujeitar o Froilam e por que não respeitam o direito dele divergir?. Ou a casa do poeta não aceita divergências, todos precisam pensar igual, marchar igual, admirar o mesmo líder. Na história e na ciência política esses grupos que se investem de messianismo político, que atacam e tripudiam de forma organizada quem deles diverge, tem um tratamento diferenciado, pois carregam em si o germe do fascismo. (E não me venham falar que não agem politicamente porque eu vou estampar no blog um ataque do capitão a uma corrente política, publicado no JEI).

Por fim, como santiaguense, conclamo aos santiaguenses e à sociedade em geral: PENSEM. 

Pensem, que concepção norteia esse grupo, que se diz de poetas, e ataca um poeta local, acusando-o de judas e recalcado, por que ele não quer integrar tal casa e diverge de sua linha de pensamento.

E convenhamos, Froilam Oliveira é um POETA, não é qualquer porcaria, é um POETA que honra muito o nome de nossa cidade. Então, quem é esse grupelho que se uniu para falar em poesia e semeia ódio, que ataca e trucida em bando, justamente o maior símbolo da poesia jovem santiaguense. 

Repito, eu tenho pavor de certas idéias do Froilam, divirjo dele e acho que vou morrer divergindo, pois tenho uma concepção de mundo e de sociedade muito diferente da dele, mas o que estão fazendo com ele, em nome da poesia santiaguense, sendo ele o maior ícone de nossa poesia, nosso maior Poeta, convenhamos, está tudo errado em Santiago, por isso eu abomino o que parte dessa tal casa do poeta santiaguense."
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(Júlio Prates não é discípulo de Voltaire, mas seu texto acima repercute indiretamente o pensamento crítico do grande iluminista.)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

CLUBE DOS BLOGUEIROS

Venho, por intermédio deste, propor a criação do Clube dos Blogueiros de Santiago. Caríssimos visitantes, por que tive a ideia, vocês não se importam de que eu seja o primeiro presidente do clube? Provisoriamente, até a eleição. Já fiz o estatuto, a bandeira, o lema, a escolha do patrono, a filiação ao Clube dos Blogueiros Brasileiros. Nossa cidade não se mexe, precisamos "fazer cultura". 
(EHEHEH...)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

MÃE-DO-OURO


Há pessoas que têm obcecação por ouro enterrado, ou enterro de dinheiro. Um dos meus tios mais gente fina vive arrastando aparelho pelas fazendas antigas da região. Antes de sair para suas aventuras, não consegue esconder a euforia, o deleite antecipado da fortuna fácil. Contra a discrição que exige seu trabalho, fala abertamente ser batata dessa vez, certo o êxito da procura. Depois retorna sujo de terra, cansado, com sono.  Não duvido que ele acabe encontrando uma panela em suas incursões noturnas algum dia. Na Vila Florida, um de seus habitantes de antanho chamava-se Florzinho (a propósito). Ele morava numa casa extremamente humilde, ao lado de um corredor estreito, casado com Leonarda (conhecida por Lonarda), que lhe dera uma penca de filhos. Florzinho alimentava a rica fantasia de encontrar dinheiro enterrado. Um obcecado. Rapazes galhofeiros da vila resolveram aprontar uma boa com o pobre homem. Amarraram um rabo de palha e uma lata com pedregulhos numa égua, meteram fogo e soltaram o animal no dito corredor do Florzinho. Na hora em que a “assombração” passou voando à porta do casebre, a família jantava um prato de quibebe*. Florzinho saltou pra fora, gritando para que os outros o seguissem atrás da mãe-do-ouro. Diz a crença que essa entidade mítica indica a posição do ouro enterrado. Até Lonarda correu em companhia dos menores. No final da corrida, Florzinho e os seus perceberam a galhofa, não restando outra coisa a fazer senão voltar exaustos para casa. Do jantar que fora suspenso, nada mais sobrava: os gatos haviam caído de boca no quibebe.
 * Papa de abóbora cozida, com pitada de sal e tempero verde. 

PLANETA, SIM


A última notícia no campo da Astronomia é sobre o precipitado rebaixamento de Plutão. Um grupo de astrônomos franceses quer recuperar o status do pequeno planeta. (Mais tarde, procuro o que escrevi na época sobre o absurdo de rebaixar Plutão, porque passava pela órbita de Netuno.)

DEPOIS DA DOR, O AZUL

Um poeta português, talvez Ramalho Ortigão, atribuiu cores aos dias da semana. Domingo e segunda-feira tinham cores bem diferentes, dourado e cinza, por exemplo. A poesia permite tamanha subjetividade, sem a falsa objetividade dos movimentos místicos. Meu domingo, para desmistificar, teve uma cor nada agradável, com muita dor. Esta segunda começa azul.
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O Bianchini puxa a orelha de alguns blogueiros, admoestando-nos a ver os acertos (em relação à realização da Copa Santiago de Futebol Juvenil). Em postagem anterior, com o título "23ª Copa Santiago", fiz elogio ao show de abertura.  
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O trabalho dos organizadores do evento não pode ser desmerecido por um simples erro de ortografia, concordo. Ao apontá-lo, esqueci de me colocar à disposição para a próxima edição da Copa, para fazer uma revisão dos documentos expedidos, anúncios, convites, enfim, de tudo o que fizer uso da escrita. Farei isso gratuitamente. 
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Depois de assistir ao primeiro jogo do Grêmio na Copa Santiago, escrevi em meu blog:
[...] O futebol apresentado decresce em qualidade. Fui ver o grenalzinho. Como gremista autocrítico, prefiro ver os defeitos do meu time a difamar o adversário. O time do Grêmio é ainda pior que o do ano passado. O Inter, mais uma vez, como menos pior, apresenta-se como favorito a mais um título. Pensando no futuro do clube, isso é preocupante por subentender o descaso atual de seus dirigentes. 
Acertei no ângulo. 
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Alguém escreveu que a Copa apresentava um excelente nível técnico, apenas porque não havia ocorrido goleada. Visível é a decadência, o péssimo nível. A Copa Santiago reflete o futebol que se joga no Estado (veja como começou o Gauchão ontem), no país (o menos pior ganhou o campeonato), no mundo (a Copa na África foi decepcionante em qualidade). 
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Erros ocorrem, como o do poeta que deu uma cor desagradável à segunda-feira. Sem dor, a minha começa azul, com a manhã a entrar pela janela deste apartamento. 

domingo, 16 de janeiro de 2011

IMPRENSSA (???)


Blogueiro bom não respeita domingo, continua "passeando" pela blogosfera, lendo, postando. No blog do Rafael Nemitz, deparo-me com a denúncia sobre o erro ortográfico impresso nos coletas da imprensa. (A propósito, um major do Exército que veio do centro do país para comandar a 1ª Companhia de Engenharia de São Borja me falou que visita o blog do Nemitz.) A partir da denúncia (que sempre exige certa dose de coragem para expressá-la, uma vez que mexe com o grande vespeiro da ignorância, do analfabetismo funcional), o Júlio Prates, tão corajoso quanto, tece uma crítica brilhante sobre o mesmo assunto. 
Ao apontar um erro de ortografia (seja de uma informação, seja de um poema), não o fazemos pelo prazer de ridicularizar, mas pela responsabilidade que temos de desenvolver a boa escrita - do âmbito informativo ao artístico. Nesse aspecto, somos idealizadores, desejando uma coisa melhor para a nossa sociedade, aquilo que ela deve ser (porque o que ela é nos causa vergonha de vem em quando). O epíteto Terra dos Poeta é um ideal, que poderá não se realizar por culpa de quem não sabe o que é poesia e se autoproclama poeta. Os erros de língua portuguesa são apenas a ponta do iceberg do grande desconhecimento que aqueles que os cometem têm em relação a tudo e ao todo.
Não consigo entender por que a pessoa responsável por redigir um aviso, um anúncio, um convite, um documento qualquer o faz sem consultar um dicionário, uma gramática, um manual, alguém que saiba. 

sábado, 15 de janeiro de 2011

A HISTÓRIA BELÍSSIMA DE UM SONETO

Nilo Bruzzi, amigo e biógrafo de Júlio Salusse, escreve:
"Júlio Salusse adquire um terreno na avenida Friburgo, à margem do Bengalas, desenha uma planta de casa, contrata um pedreiro e faz construir um simpático "chalet" em centro de formoso jardim. É hoje (1950) a casa nº 158 da Avenida Comte. de Bittencourt, residência do Doutro Hugo Antunes. Ali instala-se sozinho. É o Promotor Público de Nova Friburgo. A cidade regurgitava de famílias elegantes do Rio que para lá iam passar o verão.  Os condes de Nova Friburgo tinham regressado da Europa e habitavam o suntuoso Castelo do Barracão. 
"Baile no Cassino. O que há de mais distinto na sociedade de Nova Friburgo ali está. Júlio Salusse, cabelos dourados, olhos profundamente azuis, buço louro, tez muito clara e rosada, elegante, alto, lenço de cambraia evolando perfume inebriante, gravata de seda fina e colorida, também ali está. Duas moças formosíssimas polarizam a atenção de todos os rapazes. Vera van Erven, loura, clara, olhos azuis, elegantíssima, inteligente, risonha, dançando muito bem, intelectual, dizendo versos de cor, conversando com todos e por todos admirada. Laura de Nova Friburgo, a castelã do Barracão, lindíssima, de um moreno delicioso, olhos brilhantes e escuros, recém-chegada da Europa, onde fora se instruir. [...]
"Júlio Salusse naquela noite conheceu ambas e com ambas dançou. [...]
"Dias depois, nova festa em casa do Dr. Ernesto Brasil de Araújo.
"Baile animado. Laura está mais linda, com seu fofo vestido de rendas, seus maravilhosos cabelos, olhos provocadores, aquele moreno inesquecível.
"Em seguida, vieram dias de chuvas copiosas. Júlio Salusse fica preso em casa, naquele simpático "chalet" à margem do rio, cercado de flores. Uma noite, o sonho embala o seu pensamento. Passa-lhe pela lembrança a formosa moça do Castelo do Barracão...
"Está só. A chuva lá fora cai ininterrupta. As águas do rio crescem. E o poeta começa a compor o soneto - Cisnes - que lhe vai abrir as portas da glória imorredoura. Quando, no terceiro dia, cessa a chuva, Júlio Salusse tem pronto os versos imperecíveis. [...]
"Um novo baile, agora no Castelo do Barracão, proporciona novo encontro de Júlio Salusse com Laura de Nova Friburgo. Dançam, conversam. Mas o poeta, que é arrojado no pensamento, tem, entretanto, a palavra contida pela timidez, oriunda da falta de confiança em si mesmo. [...]
"E o que poderia ter sido um delicioso enredo sentimental ficou sendo um êxtase ungido da filosofia de Platão, silencioso, como daquele outro Petrarca que, em 1327, à porta da Igreja de Santa Clara, em Avignon, viu pela primeira vez aquela outra Laura de Novaes, esposa de Ugo de Sade, e nunca mais a esqueceu nos seus versos imortais".
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Pela narração de Nilo Bruzzi, sabe-se que, no início do século XX, já havia enchente em Nova Friburgo, tendo isolado o poeta Júlio Salusse, autor do soneto imortal Cisnes.
A foto acima, do poeta e de seus biógrafo, foi tirada em dezembro de 1947.

CAMPO VERSUS CIDADE

O terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755, gerou uma discussão filosófica acalorada entre Rousseau e Voltaire. Para o primeiro, em essência, não haveria tantas mortes se os habitantes residissem mais separados uns dos outros, como os camponeses. Para o segundo, o terremoto serviu para provar que este não é o melhor dos mundos possíveis, ao mesmo tempo que provocava seu contemporâneo, após ter lido os argumentos acima, escrevendo em carta que tinha vontade de pastar de quatro. 
Não querendo tomar o partido de Rousseau, coloco em discussão uma diferença entre os habitante do campo e os da cidade. Das tantas que existem (algumas folclóricas), prefiro à seguinte: as pessoas do campo vão para a cama sentindo-se cansadas e levantam-se maravilhosamente bem; as pessoas da cidade vão dormir, sentindo-se maravilhosamente bem e levantam-se cansadas. 
A diferença que me ocorreu ao assistir os estragos causados por enxurradas e desmoronamento de terra tem a ver com a sabedoria quase instintiva com que os moradores do campo escolhem o lugar de suas casas em contraste com a falta de sabedoria quase racional dos citadinos ao escolherem o terreno de suas construções. Lá fora essa escolha não é acompanhada por um engenheiro, ao contrário daqui. São casas mais simples, é verdade, comparadas com as mansões e edifícios construídos em todos os centros urbanos. 
No interior, diga-se de passagem, ocorrem temporais violentos, enxurradas, deslizamentos, alagamentos...  Salvo raras exceções, dificilmente essas manifestações naturais atingem as casas. Vendavais, pedras e raios são inevitáveis. Vez ou outra causam mortes.
Apesar da aproximação que vem acontecendo entre campo e cidade, na questão acima dicotomizada, ainda há uma diferença evidente entre um e outra, com vantagem de uma melhor qualidade de vida natural para o homem do interior. 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

TERRA DOS POETAS...

Outro dia, o Ruy Gessinger abordou o assunto de uma forma sucinta, portanto, não sou original em dizer que o nobre epíteto recém-criado para Santiago corre o risco de virar piada, algo que jamais passou pela cabeça daqueles que o idealizaram (entre os quais Nelson Abreu) e dos que o corroboraram com as primeiras obras (entre as quais a Rua dos Poetas). Da noite para o dia, gente que nunca escreveu um poema passa a figurar como representante da Terra dos Poetas. A vulgarização constitui a alavanca com que está sendo virado o mundo da literatura em nossa cidade (hiperbolicamente justificada como um "fazer cultural"). Sim, a terra dos poetas vivos corre o risco de virar chacota internacional.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

JUREMIR, OUTRA VEZ

                          MEDIDAS IRANIANAS
Estou começando a simpatizar com o Irã. A turma do Ahmadinejad resolveu proibir unha comprida. Fez muito bem. Eu detesto unha comprida, especialmente aquela do dedo minguinho de cobrador de ônibus. Proibiu também piercing na língua e joia nos dentes. Agiu bem. No Brasil, está cada vez mais perigoso beijar. Pode-se engolir uma bolinha de metal. Tenho um amigo que quebrou um dente dessa maneira. Homem de cabelo tingido também não pode. Que alívio. É insuportável ver tanto marmanjo moreno de cabelo louro ou azul espetado. Sobrou até para as tatuagens. Bela medida. É uma grandeza o que tem de gente exibindo enormes tatuagens bregas por aí. Tatuagem de dragão deveria ser proibida no mundo inteiro, como atentado à estética global. Transformar braço em tela de serigrafia também.

Só não gostei da decisão do Irã de censurar os livros do Paulo Coelho. Compreendo que, depois de 6 milhões de exemplares vendidos, fosse necessário tomar alguma medida para evitar que a poluição continuasse a se espalhar. Entendo que o presidente iraniano lamente não ter sido avisado por seu amigo Lula da ruindade das obras. Admito que para um iraniano culto deve ser insuportável ver histórias exuberantes da antiga Pérsia transformadas em mensagens de autoajuda barata. Percebo que para o Irã os livros de Paulo Coelho poderiam converter-se num problema tão sério quanto os dejetos nucleares, que ninguém sabe onde colocar com segurança, restando tentar comprar espaço nalgum lixão do Terceiro Mundo. Vejo que o Irã quer evitar uma metástase. A proliferação de livros de Paulo Coelho deveria ser tratada no mundo todo como questão de segurança nacional, internacional, global, como um vírus sem fronteiras.

Alerto que de nada adianta proibir Paulo Coelho como medida profilática se não proibir também Dan Brown e, especialmente, Harry Potter, o grande formador de leitores de Paulo Coelho e Dan Brown, e toda essa parafernália sobre vampiros, lobisomens e Ronaldinho Gaúcho. Enfim, dito tudo isso, reafirmo minha oposição à censura. Ainda mais que ela só beneficiará o falso mago, que já está se vendo como um Salman Rushdie retardatário ou um Michel Houellebecq sem ironia, um perseguido pelo obscurantismo islâmico. A decisão dos aiatolados produzirá certamente um efeito perverso, nefasto, incontrolável: a disseminação radical de obras de Paulo Coelho como objetos proibidos, o que sempre aguça o desejo e dá legitimidade ao censurado. Paulo Coelho está rindo sozinho. É o melhor marketing do mundo. Gratuito.

Tomara que o Irã tome outras medidas de bom gosto. Por exemplo, proibir, sob pena de prisão imediata, sem direito à fiança nem progressão de regime, o uso por homens de rabo de cavalo. Sei que escapa da alçada iraniana, mas seria interessante proibir jogador de futebol de usar cabelo moicano e correntão de ouro. O Irã poderia ser a última barreira ao mau gosto ocidental. Será, porém, garoto-propaganda do esoterismo brasileiro.
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(Coluna do Juremir Machado da Silva de hoje, 12 de janeiro de 2011.)
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Indiretamente, já fiz propaganda para Paulo Coelho e Harry Potter em Santiago.

BEM-VINDO

Há pouco, vim da Caixa Econômica, onde li no visor eletrônico: "bem vindo a Ag. Santiago". Não me contive diante de dois erros gramaticais numa frase tão curta. Chamei a atendente e lhe mostrei os erros para que fosse feita a correção. Ato contínuo, fui corrigido pela moça, com o argumento de que "bem-vindo" perdeu o hífen a partir do novo Acordo Ortográfico. Não perdeu, disse-lhe. O segundo erro é a falta da crase em "a". Basta substituir "agência" por "banco", para aparecer a preposição "a" mais o artigo "o": bem-vindo ao banco". Portanto, bem-vindo à Ag. Santiago. Ainda que não saiba as regras ortográficas, a moça foi de uma ágil convicção que precisa ser destacada (não é à toa que ela está empregada na CEF). 
A informação (ou impressão) que a maioria tem é de que o hífen não existe mais, porque leio o termo "bem vindo" (sem hífen) com frequência. Os escreventes neófitos ou sem afinidades com a língua portuguesa, penso, tomam como referencial a queda do trema e a aplicam ao hífen.

TRIBUTO A XENÓFANES


o grande engenho
do homem
que o levaria
aos céus
(montado 
sobre o abdômen)
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foi deus
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Esse poema e o postado abaixo pertencem ao meu primeiro livro, Ponteiros de palavra. Sua leitura exige do visitante um conhecimento mínimo de Kant, Xenófanes e Nietzsche. Por que Nietzsche? O filósofo escreve em Além do bem e mal a seguinte frase: "É o abdômen que impede o homem de se considerar facilmente um deus". Com abdômen e tudo, esta é a tese do meu poema, o homem consegue elevar-se ao deus por ele criado. Entre os pré-socráticos, tenho um gosto especial pela filosofia de Xenófanes, o primeiro a criticar o antropomorfismo (que é a tendência de atribuir feições físicas e morais próprias do homem aos deuses). 

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

TRIBUTO A KANT

o céu estrelado fora
cumula de encantamento
aquele que traz um mundo
de luzes acesas dentro


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

OUTROS COMENTÁRIOS

Não escrevo mais sobre Ronaldinho, decadência do futebol... Corro o risco de ser no mínimo preconceituoso em condenar aquele jogador que vi se despedir do Grêmio de uma forma melancólica no Couto Pereira, em Curitiba. Ao revelar meu saudosismo, corro o risco de ser piegas. Portanto, dou um tempo.
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Com relação à política, vivo um paradoxo: não posso me expressar abertamente como gostaria, em razão da profissão militar, mas entre meus deveres está o de votar, na condição de cidadão brasileiro. Poderia resolver isso, entrando para a política após minha reserva. Alguns militares se condidatam e seguem a nova carreira. Mas não irei por esse caminho.
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Tenho um outro caminho desde muito, que seguirei até meus últimos dias: a literatura. A partir desta postagem, passo a escrever com mais frequência sobre essa arte. Obviamente (prometo trocar esse advérbio também), como a arte literária retrata a vida, não está descartada a inserção do futebol e da política como temas de crônicas, contos, romances, ensaios, entre outros gêneros. 
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Agradeço pela interlocução, mesmo que indireta, de pessoas inteligentes como Ruy Gessinger. Ela me faz refletir, pensar mais (e falar menos).   

ALGUNS COMENTÁRIOS

Pergunto ao meu amigo blogueiro Ruy Gessinger, sobre a apreciação que faz do Paulo Santana, como explicar o paradoxo de que ninguém leva a sério esse colunista, e ele continuar sendo o mais lido do Zero Hora. As pessoas leem aquilo que não é sério por comodismo (indolência) intelectual? 
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Na minha postagem de ontem, tratei sobre o imbróglio criado pelo Assis, irmão do Ronaldinho. Minha conclusão é de que a "chinelagem" da origem da família Moreira persiste com a riqueza. O termo entre aspas é empregado com correção pelo Gessinger ao definir a conduta de um excesso de pessoas que passaram a frequentar a praia nos últimos anos. Chinelagem e má-formação de caráter é a mesma coisa. 
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Por indicação de um amigo, li a coluna do Santana de hoje. O colunista diz de uma forma escrachada o que insinuei eufemisticamente. Não posso concordar numa coisa: não houve tragédia. Tampouco nos Aflitos. Tragédia ocorre quando o indivíduo (no caso, o time) é derrotado por forças superiores, seja dos deuses, dos demônios, dos próprios homens... O Grêmio saiu-se vitorioso nos Aflitos. Na questão com o Ronaldinho não houve derrota. Houve um princípio de comédia, sim (felizmente não concluída pela decisão do presidente Odone). 
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Sobre a Copa Santiago de Futebol Juvenil (esse é o nome correto), também estou com razão. O futebol apresentado decresce em qualidade. Fui ver o grenalzinho. Como gremista autocrítico, prefiro ver os defeitos do meu time a difamar o adversário. O time do Grêmio é ainda pior que o do ano passado. O Inter, mais uma vez, como menos pior, apresenta-se como favorito a mais um título. Pensando no futuro do clube, isso é preocupante por subentender o descaso atual de seus dirigentes. 
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Obviamente, ninguém que seja colorado lê Santana. 
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Obviamente, Gessinger e eu somos muito sérios como leitores, blogueiros, colunistas.