terça-feira, 30 de março de 2010

RECURSO AUTOMÁTICO

O Código de Processo Penal sofreu uma mudança. Antes os condenados a penas superiores a 20 anos de prisão tinham direito a novo julgamento. (Foi o que ocorreu com o acusado de ser o mandante da execução de Dorothy Stang em 2005, no Pará.) Depois extinguiu-se o direito. Entre antes e depois não houve uma transição, uma evolução gradativa, mas uma ruptura, uma substituição de uma lei por outra (diametralmente oposta). Assim, posso dizer que aquele direito constituía-se num erro, contrário ao ideal de justiça (que deve estar acima de um código que muda de uma hora para outra)? Necessariamente, a resposta deve ser afirmativa, sob pena de condenar o novo teor da mudança. Como entender tal paradoxo: algo que era sim passou a ser não e vice-versa? Em princípio, um júri não pode condenar Vitalmiro Moura a 30 anos e outro júri o absolver. Essa diferença é inadmissível dentro de uma lógica não-paradoxal. Pergunto aos meus colegas de blogosfera que são doutos no assunto: um código pode se prestar a duas leituras; conter, ao mesmo tempo, pontos positivos e negativos. Juristas consideram positivo o fim do recurso automático, por exemplo, e juristas discordam. A Literatura, principalmente a Poesia, vive da subjetividade, mas o Direito...

segunda-feira, 29 de março de 2010

CONSIDERAÇÃO INTEMPESTIVA

Por que a Igreja Católica se regozija na Sexta-feira Santa? A resposta é óbvia: os fiéis assumem um comportamento mais cristão, mais aparentemente religioso. Ela volta a usufruir de um poder que tinha ao longo da Idade Média, quando, por força da cruz, do sangue e do temor, regia a vida de milhões de pessoas. Em certas localidades semi-isoladas do interior, ainda se faz sentir a influência do catolicismo. Textos anteriores, publicados aqui e no Expresso Ilustrado, deram conta de como vivíamos a Sexta-feira Santa no Rincão dos Machado. Segmentos ortodoxos da igreja, independentemente de sua localização, conservam o costume de cobrir os santos com um pano roxo. Outro absurdo é a proibição de comer carne vermelha, negando o ensinamento do grande profeta transcrito em Mateus 15: 18-19, de que o mal é o que sai da boca do homem. Bispos e padres católicos professam a doutrina, inegavelmente um bem, mas alguns deles praticam a pedofilia ou a encobrem desde muito. Inclusive Joseph Ratzinger, antes de ser o papa Bento XVI. (Depois dessa descoberta, o presidente Lula está perdoado por não saber o que sabia.) A grande contradição não se evidencia entre o que sai e o que entra na boca do homem, mas entre fé e obra. Nesse aspecto, seguramente, não há cristão autêntico. O último deles, diria Nietzsche, morreu pregado numa cruz. Dessa forma, todo o ritual de relembrar a morte de Jesus é algo contraditório (para não dizer hipócrita). A Igreja, todavia, suspira saudosa em sua inexorável decadência.

sábado, 27 de março de 2010

ISABELLA OLIVEIRA

A propósito do título acima, proponho que o nome de Isabella não seja completado com "Nardoni", uma evocação indesejável de seu assassino (e pai por acaso). Ninguém que eu conheça comentou sobre o sofrimento inimaginável por que passou Isabella nos instante finais da vida, vendo (ou sentindo de alguma forma antes de perder por completo a consciência) o próprio pai como seu algoz. Alexandre e Ana Carolina jamais receberão a condenação merecida por essa traição afetiva. Eles sabem que a menina morreu sabendo a verdade, no entanto a negaram na condição de réus, orientados pelo pai de Alexandre, pelo advogado de defesa e por outros, que não se convenceram das provas periciais apresentadas. Para eles, decerto, o mais provável é que um estranho cometeria o crime. Qual o motivo que levaria o suposto invasor a tirar a vida de Isabella com crueldade tamanha? O grande Cembranelli deve ter perguntado isso. Em parte, a justiça foi feita, mas continuo indignado com o que disse, antes e durante o julgamento, respectivamente, o pai de Alexandre e o advogado de defesa.

quinta-feira, 25 de março de 2010

UMA GRANDE HOMENAGEM


O poeta Cácio Machado era membro da Academia de Letras do Brasil, cuja sede fica em Brasília, DF. Seus dois livros de poemas (que tive a alegria de conduzir o protocolo de lançamento em noite memorável, no Centro Cultural) encontram-se incluídos no site www.academialetrasbrasil.gov.br
Pois bem, a ALB acaba de criar um concurso literário em homenagem a Cácio Machado, tendo como foco vida e obra do meu amigo santiaguense. Para ler o regulamento, basta acessar o site acima. Confirma-se a ousada afirmação do escritor francês Jean Cocteau: escrever é matar algo inerente à própria morte. Independentemente de ser membro da Academia de Letras do Brasil, na qual era considerado um "imortal", o Cácio o é agora, imortalizado nos versos que produziu com surpreendente oralidade e doçura nos dois livros publicados: Dias de sol e vento e Folhas de outono.
(A foto acima fui encontrar no meu blog, numa postagem que fiz em 11 de julho de 2008, um dia após o lançamento do primeiro livro do Cácio.)

terça-feira, 23 de março de 2010

VÍTIMAS DA DROGA

Na Benjamin Constant, entre a Rua dos Poetas e a Pinheiro Machado, há vários estabelecimentos comerciais. Não mais que 50 metros separam Fazendo Arte e Engenharia da Moda. Do outro lado da rua, localiza-se a Bom Appetito Padaria e Confeitaria. Por que essas três lojas? Elas foram roubadas, ultrajadas física e moralmente. Isso mesmo! No momento em que uma vitrina é quebrada por um paralelepípedo, nega-se o direito constitucional de inviolabilidade aos seus proprietários. Não bastasse o prejuízo financeiro, o roubo atinge emocionalmente as pessoas. O sentimento de insegurança, que, desde muito, caracteriza as cidades grandes, passa a constituir um problema que afeta a sociedade santiaguense. A perspectiva pessimista (para não dizer realista) é de que a criminalidade evolua do uso da pedra para a arma de fogo. Ao invés de vidraças serem atingidas, gente cidadã. No embate entre a ordem pública e a desordem, desde o final do século passado, vem num crescendo a ineficácia da organização legal e o êxito da bandidagem. Enquanto o Estado se degenera a olhos vistos, o crime se organiza. Em razão disso, ocorre uma aproximação entre ambos, com o inevitável bandeamento e imiscuição. Deputados, juízes, advogados, funcionários públicos e outros são frequentemente surpreendidos na ilegalidade, entre os ladrões. Corruptos, falsificadores, traficantes, assassinos e outros se confundem entre as autoridades (para melhor controlá-las). Numa das maiores capitais brasileiras, policiais vendem armas aos criminosos, e criminosos controlam o trânsito. Tal situação é inconcebível para Santiago, onde poucos duvidam do trabalho sério das polícias militar e civil. Infelizmente, a droga chegou aqui.

(Ao sair, pela manhã, encontrei meu primo em frente da loja de sua esposa - Engenharia da Moda. A vitrina em pedaços e várias peças de roupa roubadas. Ele é advogado, falou-me da organização que existe em Santiago, independentemente das prisões já realizadas.)

segunda-feira, 22 de março de 2010

EX-APAIXONADO

Em 1969, passei a acompanhar o futebol pela Rádio Guaíba (a melhor rádio do mundo, antes da debandada para a RBS). Televisão, apenas na copa de 1974. Não sei explicar por que comecei a torcer pelo Grêmio. Talvez como reação aos meus primos, torcedores colorados mais chatos que conheci. Com a melhor de todas as copas do mundo, México, 1970, um segundo time me arrebatou: a Seleção Brasileira. Everaldo era o lateral esquerdo titular da Canarinho e do tricolor. O Internacional começou a brilhar na década de setenta, para meu sofrimento de adolescente apaixonado. Manga, Cláudio Duarte, Figueroa, Marinho Perez, Vacaria, Caçapava, Batista, Falcão, Carpeggiani, Valdomiro, Dario, Escurinho, Lula, entre outros. Essa equipe foi hexacampeã gaúcha em 1974, ganhando todas as partidas. Campeã brasileira em 1975, bicampeã em 1976 e tricampeã invicta em 1979. Os gremistas sofríamos todas as humilações. Depois do Inter, surgiu o Flamengo. Mesmo assim, ganhamos Libertadores e Mundial de Interclube no Japão. Fomos à forra. Apenas neste século, um colorado que não servia para limpar as chuteiras do grande time da década de setenta, inexplicavelmente, aos trancos e barrancos, ganhou na América e, com Fernandão, Gabiru e companhia limitada, bateu um Barcelona de salto alto. Lá se foi nossa vantagem, algo que nenhum gremista jamais imaginava suportar: o Inter também campeão do mundo. Ao longo das últimas décadas, todavia, o futebol foi sendo fagocitado pela sanha mercadológica que tiraria o brilho dos estádios brasileiros. Grêmio e Inter passaram a formar jogadores para vender, sempre atolados em dívidas. O resultado é o que estamos vendo nos últimos anos: os piores campeonatos gaúchos, com algumas surpresas vindas do interior. Com relação ao outro time do meu coração, a seleção, perdi quase por completo o encanto. O Dunga cometerá o mesmo erro de Coutinho em 1978, não convocando o melhor jogador em atividade no momento. Coutinho deixara o Falcão de fora; Dunga, o Ronaldinho. Será a pior copa em termos de qualidade. Muita mídia, muito dinheiro e pouco futebol. Digo mais: o Brasil não concluirá a tempo algumas das obras previstas para a copa de 2014. O governador do Rio de Janeiro cantou a pedra. Os brasileiros já internalizamos a cultura baseada na promessa, os políticos são a prova, e pecamos, em decorrência disso, por indolência e irresponsabilidade.

EXTRA! EXTRA!

Leiam a inteligente avaliação do diplomata e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Rubens Recupero (clicando aqui), em relação à política externa brasileira.

domingo, 21 de março de 2010

HERÁCLITO E SEU (DIS)CURSO

Nos jornais, canais de televisão e sites noticiosos, diariamente, leio e vejo centenas de informações. Já ando meio enojado de tudo o que circula na grande mídia, principalmente acerca da política. As viagens do Presidente Lula ao Oriente Médio, por exemplo. Perdi meu tempo com o Zero Hora e o Correio do Povo deste domingo. Nada de positivo a destacar. Vou à estante e apanho um livro extraordinário: Heráclito e seu (dis)curso, de Donaldo Schüler. Uma coisa boa é retomar a leitura já realizada: consigo entender melhor o autor (que me parecera um pouco obscuro na primeira vez). Transcrevo O fogo:
"Heráclito move-se num espetáculo de máscaras. Arranca as que, vulgarizadas pelo uso, já nada exprimem. Investe contra a imprecisão da linguagem convencional, sem poupar a sagrada nomenclatura do mito. E reveste noções evasivas com símbolos como o fogo, cintilante de sugestões. Sempre que tentamos traduzir o símbolo em outra linguagem, a busca da clareza agrega perdas. Corramos o risco. O fogo, ao sobrevir, há de separar e compreender todas as coisas. (B 66) Será fogo (pyr) a luz do olhar? Não recomendou Heráclito às psiques a secura do brilho? Persigamos a hipótese. Separar e compreender são atos de quem observa. A luz não sobrevém no fim do processo. No trabalho de separar e compreender, devemos procurá-lo ao longo do trajeto, do projeto. Resistimos à sedução de um fogo apocalíptico incumbido de iluminar o cenário no instante em que os atores se retiram. Não será mais plausível pensar que o pensador do fluir tenha refletido no acontecer enquanto coisas acontecem? O verbo krino, traduzido por separar, significa também julgar. As duas acepções apoiam-se: quem julga separa. Nenhuma dessas operações se efetua sem critério. Por separar e julgar, o observador desencadeia crise: rompe vínculos consagrados, submete a exame o que a tradição legitimou. O olhar criticamente iluminado arde como presença temida. No separar e no recolher transcorre o Discurso. Quem julga absolve ou condena. Katalepsetai significa compreende, condena. De todas as impressões, retemos umas e condenamos outras ao esquecimento temporário ou definitivo, amparados pela razão ou sem ela. Quando alguém vem sobrevém o fogo. Os rios em que entramos ardem em chamas".

sábado, 20 de março de 2010

FRONTEIRAS DO PENSAMENTO

Minha transferência para Porto Alegre não saiu no final de 2009, como esperava, permanecendo em Santiago por mais dois ou três anos. Caso estivesse na capital, certamente adquiriria o "passaporte" para assistir às palestras do Fronteiras do Pensamento. Gosto da minha Terra dos Poetas (apesar dos pesares), mas reclamo da distância que me separa de grandes eventos culturais porto-alegrenses, como a Feira do Livro, exposições de pintura, concertos, entre outros. O projeto Fronteiras do Pensamento é de primeira magnitude. Em 2010, apresentar-se-ão, como conferencistas, os seguintes convidados: Terry Eagleton, filósofo e crítico literário; Mario Vargas Llosa, um dos maiores romancistas vivos; Daniel Dennett, filósofo, defensor do darwinismo; Carlo Ginzburg, historiador e antropólogo; Eduardo Giannetti, economista e cientista social... Lista completa em http://www.fronteirasdopensamento.com.br/conferencistas Já passaram grandes artistas, cientistas e pensadores, "e eu aqui descascando batata no porão", como cantava Os Paralamas nos anos oitenta. Não é fácil subir ao convés da cultura. Mas o que fazer? Participar dos eventos santiaguenses, que, guardadas as proporções, também são manifestações culturais. Foi o que fiz na noite de ontem, indo ao auditório do Colégio Medianeira, onde uma turma de Montenegro apresentou o espetáculo "Por você". Hoje irei ao Centro Cultural, para o lançamento do livro do Reiffer.

quinta-feira, 18 de março de 2010

UM POUCO DE FILOSOFIA

Entre os filósofos pré-socráticos, dois me chamam bastante a atenção: Xenófanes e Heráclito. Os fragmentos mais importantes que resistiram ao tempo, dão conta que o primeiro combatia o antropomorfismo, a inclinação natural de o homem criar deus a sua imagem e semelhança, e o segundo defendia o eterno fluir das coisas, a verdade é o devir. Heráclito comparava as coisa com a corrente de um rio, onde ninguém pode entrar duas vezes, porque na segunda vez outro será o rio. Platão foi um de seus primeiros e mais confiáveis intérpretes, mas não chegou a dizer que, mesmo sendo a mesma corrente, também não era mais o mesmo aquele que entra nela. Este momento é único, e a vida constitui uma sucessão de momentos, desde a concepção à morte.

quarta-feira, 17 de março de 2010

CÂNTICO NEGRO

A Erilaine me alcançou Cântico Negro, de José Régio, antes de sair para a URI. Se não me falha a memória, havia lido esse poema no blog do Reiffer. Lendo devagar e em voz alta (como deve ser lida a poesia), até este verso: "Corre, nas nossas veias, sangue velho dos avós". Alto lá! Chamei a Erilaine e disse-lhe que o verso estava errado. Como em "nossas veias", se até então a dicotomia trazia, de um lado, o eu-lírico e, de outro, seus interlocutores, tratados por vós. De repente, "nossas", como um amálgama impossível. Cantei a pedra: tudo indica que se trata de um erro de digitação. Para confirmá-lo, fui ao Google (que também não é confiável, em se tratando de textos poéticos). Abri três sites. Reli o poema. O verso sem erro é "Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós". Obviamente, "vossas" e não "nossas". Assim, mantém-se o contraponto discursivo, que tornou imortal o poema do presencista José Régio.
Outras vezes, identifico erros na transcrição de poemas clássicos, fazendo uma rápida escansão de seus versos. No caso de Cântico Negro, isso não é possível, uma vez que é composto por versos livres, heterossílábicos. Se a forma não me permite, aprofundo-me no conteúdo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

LÍNGUA PORTUGUESA

Voltei a dedicar um tempo para a reorganização de um livreto sobre as principais dificuldades gramaticais, relacionadas a partir de repetidos erros dos mais diversos escreventes. Como epígrafe desse trabalho, expressei o seguinte: "Ante os problemas apresentados na escrita, com muita frequência, acusa-se o Português de ser a língua mais difícil. Ao proceder assim, seu usuário confessa dois preconceitos pelos menos: o primeiro por empáfia, pernosticismo, ao dar a entender que sabe os demais idiomas; o segundo, por despeito, uma vez que culpa o objeto pela dificuldade, não o sujeito cognoscente. Para transcendê-los, o acusador precipitado deve estudar muito, ler muito, principalmente os (meta)linguistas e os poetas. Entre aqueles, cedo ou tarde, deparar-se-á com a brilhante conclusão a que chegam: não existe uma língua mais difícil que a outra. Entre estes, os ungidos pelas musas, encantar-se-á com a beleza e a sublimidade do que já foi produzido literariamente".

domingo, 14 de março de 2010

A SAÚDE DE NELSON ABREU

O número de pessoas que foram ao jantar pela saúde do Nelson Abreu não chegou a me surprender, pois era quase certa a massiva participação. Há algum tempo, não via tão manifesto sentimento de solidariedade, e isso me emocionou. Tocado pelas palavras dos artistas que faziam uma performance musical, compartilhei da alegria que tomou conta do ambiente. A saúde do Nequinho é um fato novo, que merece toda festa. Depois que o vi na UTI, sem perspectiva de melhora, ouvir sua mensagem foi muito bom. Meu vizinho e amigo retorna para o seio da sociedade santiaguense.

sábado, 13 de março de 2010

MÔNICA VERSUS FISCHER

No caderno Cultura do Zero Hora de hoje, há um contraponto interessante: de um lado, Mônica Leal faz a defesa de sua gestão à frente da Secretaria Estadual da Cultura; do outro, o escritor e jornalista Luís Augusto Fischer escreve coisas pouco elogiosas sobre o governo em relação à cultura no Estado.
Mônica argumenta que "há um objetivo governamental de, no Memorial, do Rio Grande do Sul e não a história universal", justificando a demissão de Voltaire Schilling. Rebate as crítica de Gunter Axt, citando o saneamento das finanças, a contenção de "gastos inexplicáveis", a "conquista da sede própria", o Projeto Estadual de Prevenção à Violência, a "restauração da fachada histórica em arenito do Museu Júlio de Castilhos" e da "Casa de Jang, em São Borja", a "climatização e modernização do Margs", o "investimento de R$ 10.529.316,63 em recuperação de nosso patrimônio cultural através da LIC", "duas bienais do Mercosul", a "Fundação Iberê Camargo", entre outros feitos.
Luís Augusto Fischer, por sua vez, ou desconhece a gestão da secretária em seus aspectos positivos, ou queria muito mais. Para ele, o fechamento da sala Norberto Lubisco, na Casa de Cultura Mario Quintana, e a demissão de Voltaire Schilling da direção do Memorial do Rio Grande do Sul são "duas coisas negativas, para todo mundo que é da cultura". Pergunta, "como se explica que ela tenha sido secretária estadual da Cultura por mais de três anos", dizendo que é notória a "indiferença do atual governo do Estado pela Cultura".
A cultura tende a ganhar com essa discussão, envolvendo políticos, intelectuais, artistas...

sexta-feira, 12 de março de 2010

POESIA ESPACIAL

Caros blogueiros, vocês já pensaram sobre a beleza do Universo? Por favor, sem religião no meio. Antes a poesia. Cada estrela é um verso inscrito no espaço; cada galáxia, um poema. Se fôssemos capazes de ouvir o som do Universo, poderíamos compará-lo à música. Todavia, vemos e intuímos seu ritmo, e isso é poesia. Poesia, meus companheiros de blogosfera.

O MISTERIOSO NASCIMENTO DAS ESTRELAS

(EXTRAÍDO DA REVISTA SCIENTIFIC, MARÇO 2010)
"O nascimento das estrelas permanece como um dos tópicos mais vibrantes da Astrofísica. Em termos simples, o processo representa a vitória da gravidade sobre a pressão. Começa com uma vasta nuvem de gás flutuando no espaço interestelar. Se a nuvem - ou, mais frequentemente, uma parte mais densa dessa nuvem, o núcleo - é fria e densa o suficiente, o puxão da gravidade em direção ao centro supera o empurrão, na direção oposta, produzido pela presão do gás, e a nuvem começa a colapsar sobre o próprio peso. A nuvem, ou núcleo, torna-se cada vez mais quente e densa antes de deflagrar a fusão nuclear. O calor gerado pela fusão aumenta a pressão interna e isso detém o colapso. A estrela recém-nascida entre em equilíbrio dinâmico.
[...]
"Quatro questões, em particular, perturbam os astrônomos. A primeira, se os núcleos densos são os ovos que originam as estrelas, onde estão as galinhas cósmicas? As nuvens devem ter vindo de algum lugar, e a sua formação não é bem entendida. Segunda, o que provoca o colapso do núcleo? Qualquer que seja o mecanismo de início, ele determina a taxa de formação estelar e as massas finais. Em terceiro lugar, como as estrelas embrionárias afetam umas as outras? A teoria padrão descreve estrelas individuais em isolamento. [...] Finalmente, como as estrelas muito massivas se formam, com até cerca de 20 massas solares?
[...]
"A formação estelar enfrenta um problema fundamental: estrelas ocultam seu próprio nascimento."
.
Na ilustração acima, os pontos azuis e vermelhos bem definidos são estrelas, respectivamente, novas e velhas. Os pontos luminosos não definidos, em meio da nuvem, são estrelas em formação. Uma das teorias defende que a própria formação de uma estrela provoque o colapso das partes mais densas da nuvem.

quinta-feira, 11 de março de 2010

INCÊNDIO NA LOJA COLOMBO

Não sou repórter, mas o acaso me colocou de frente para o fato: um princípio de incêndio na Colombo. Ao descer do apartamento em que mora minha irmã, sobre a Becker da Deodoro, senti o cheiro de instalação queimada. Ao chegar na esquina do Calçadão, os bombeiros já haviam acabado com o curto-circuito no interior da loja. Um motociclista estacionado em frente observou um ventilador que queimava no escritório. Não fosse esse atento observador, um incêndio de outras proporções poderia ter agitado esta pacata quinta-feira.

KANT E EU

"Duas coisas me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e frequentemente o pensamento delas se ocupa: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim." KANT
Essa frase de Kant, quando a li pela primeira vez, teve o efeito de uma grande descoberta para mim. Até então, não sabia definir o que mais me arrebatava o espírito pela profundidade e beleza. O filósofo de Königsberg falara por mim. As estrelas e a poesia (uma pequena adaptação que substitui as "leis morais"), mais que me despertar encantamento e emoção, provocam esta necessidade de conhecimento arrebatadora. Ainda que não disponha de qualquer tecnologia para observar o céu, que não os olhos e minha capacidade de (cosmo)ver, entendo o processo de formação estelar. Ainda que não esteja no Parnaso, conheço a poesia por dentro. Entre o céu e arte, eu, o homem. Como uma ligação entre os extremos.

quarta-feira, 10 de março de 2010

COMPORTAMENTOS PARADOXAIS

Há dois tipos de pessoas que se caracterizam por um comportamento paradoxal, instintiva ou conscientemente. Nossa blogosfera não está livre desses dois tipos.
Primeiro tipo: A pessoa te esculhamba, cheia de maldade, e depois pede desculpas, te enche de elogios;
Segundo tipo: A pessoa te enche de elogios, cheia de admiração, e depois te esculhamba, cheia de maldade.
Os dois tipos acima caracterizados se diferenciam apenas na ordem com que expressam seus sentimentos em relação a ti. O que importa é a esculhambação.
Naturalmente, há outros tipos, como aquele que só te elogia, quando seu inteiro desejo era de te esculhambar.
O pouco de conhecimento que já adquiri, não apenas lendo sobre Psicologia, mas observando a realidade, é suficiente para identificar dois males que se ocultam no coração de pessoas e pessoas: a hipocrisia e a inveja.
A despeito do meu esforço, não consigo destacar um bem em tais comportamentos. Talvez a sinceridade, independentemente de qual seja o tipo. O primeiro, como uma criança (antes da interferência do superego). O segundo, como um adulto (depois de dissimular finesse).

terça-feira, 9 de março de 2010

SR. PERSONNA

Há um comentarista do meu blog, denominado Sr. Personna. Não reza a Ave-Maria, mas é cheio de graça. De quando em vez, mete-se a irônico. Pelo pseudônimo, penso se tratar de um leitor de Jung, uma lástima (uma vez que sou freudiano). Peço a esse Sr. Personna para comentar sobre minha crônica O tempo, postada abaixo.

O TEMPO


O portão azul entre esta casa e a rua me separa das pessoas que passam num ritmo determinado muito mais pelos sonhos de cada uma delas. Às vezes, sinto compaixão por essas pessoas, imaginando a realidade que deve mantê-las presas inexoravelmente à vida. Ainda bem que a pressa não lhes permite olhar para trás destas grades de ferro com igual empatia ou indiscrição: apiedar-se-iam dos meus sonhos. Esses transeuntes não imaginam o que seja minha faculdade de pensar o tempo, de senti-lo presente não apenas de uma forma subjetiva. Algo que não sei explicar sem o auxílio da metáfora. Um imenso comboio que roda, o tempo conduz a todos nós, quer percebamos seu movimento ou não. Muitos de meus contemporâneos têm certeza do deslocamento de uma estação a outra, mas dificilmente se reconhecem como simples passageiros. No interior desse trem, tudo está imóvel, pelo menos na aparência, dos objetos mais corriqueiros às estrelas no céu (vistas pela janela). A ilusão de imobilidade ocorre inclusive com o observador em relação a si mesmo. Por isso dizemos que o tempo passa. São raros os que sabem o aspecto mais perturbador da "viagem": dois vagões seguem atrelados ao nosso, cujo acesso nos é negado sempre. Do que vem atrás, temos vaga lembrança de que já o conhecemos. Ali estão as imagens de pessoas, lugares e eventos que marcaram alguns momentos de nossas vidas. Quanto ao vagão da frente, a despeito de toda pressa e desejo, logramos alcançá-lo única e exclusivamente através do sonho. Passado e futuro. Certamente, as pessoas que sobem e descem a Bento Gonçalves não estão interessadas em saber tais coisas. Para elas, a pressa é sinônimo de responsabilidade, jamais o sintoma de uma doença moderna, a qual tem sua origem na relação desastrada que temos com o tempo: o estresse. Assim sendo, dirijo minhas reflexões ao leitor solidário que, neste instante, olha para dentro de si e percebe quê.
.
(A crônica acima comporá o meu próximo livro, a ser lançado ano que vem, trazendo os melhores textos publicados no Expresso Ilustrado ao longo de sete anos.)

segunda-feira, 8 de março de 2010

UM GAÚCHO AUTÊNTICO

Perguntei por um gaúcho autêntico em postagem anterior, sabendo que ele existe, sim, no interior do Rio Grande do Sul. Pensei no meu pai, como o fez por escrito meu comentarista em relação ao seu pai, com 77 anos. Mesma idade do meu velho, ainda residindo no campo. Poucos andaram e andam a cavalo mais do que seu Vatinho. Até tropeiro foi, numa época de vacas magras para nós (ou de vacas gordas para os grandes fazendeiros). Desde que me conheço por gente, levanta cedo, toma chimarrão, come o resto de assado do dia anterior, encilha o cavalo e vai para a lavoura (nos dias de trabalho) ou para o clube (nos domingos). Sempre de bombacha, para trabalhar, ir ao clube ou à cidade de vez em quando. Troca a pior pela melhor, coloca as botas, vai a cavalo até a parada do ônibus. Dispensa o automóvel, o qual não sabe dirigir. Em Santiago, frequenta o banco, a cooperativa, a churrascaria, a casa dos parentes... Volta às quatro em ponto da tarde. Em casa, forçado é a cozinhar desde que minha mãe faleceu (em 2006). Vacina, castra e cura animais, os seus e de todos os outros, porque é "especialista" e voluntarioso. Hoje é o mais experiente no Rincão dos Machado, onde vive há mais de meio século. Um autêntico gaúcho.

COMENTÁRIO DE POSTAGEM

Olá Froilam!

Concordo com você no teu comentário de ser contrário ao texto e opinião da coluna do Nico Fagundes, em Zero Hora, por todos os motivos que alegaste em teu comentário. Mas principalmente por ser um grande admirador dos cavalos, que também tenho e participo em rodeios, cavalgadas e demais eventos. Vivo no interior do estado, e realmente conheço muito poucos gaúchos autênticos, entre eles o meu pai, hoje com 77 anos. Mas a verdade é, vemos hoje em rodeios, desfiles farroupilhas e cavalgadas, A MAIORIA dos cavalos sem a mínima condição de ser montados, muito menos, participar em cavalgadas com trajetos longos e exaustivos. Infelizmente, as pessoas que montam animais neste estado, não têm a mínima ideia de que seja os cuidados com um animal tão espetacular quanto o cavalo.

Jacques

ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES

Em sua coluna do Zero Hora, Antonio Augusto Fagundes sai "em defesa das Cavalgadas do Mar". Um desastre o arrazoado desse renomado tradicionalista, eivado de preconceitos (entre os quais o especista). Segundo ele, a "já tradicional cavalgada" é a realização de um sonho de seus amigos, como um ex-prefeito de Capão da Canoa. O que há de preconceituoso? Considerar o tempo da vida de um indivíduo, a do próprio Nico Fagundes, como suficiente para constituir uma tradição. Ao participar das primeiras edições da cavalgada, escreve o colunista que "os dejetos dos cavalos eram absorvidos pela areia e varridos pelas ondas do mar". Este preconceito, de que a água lava tudo, é responsável pela poluição dos rios, lagos, mares... Mais adiante, "um simples cavalo de campo [...] suporta sem esforço 130 kg no lombo". Aqui começa a se expressar o preconceito especista, contra o qual se manifestou uma ONG de defesa dos animais. Cavalo nenhum existe para transportar 130 kg por 200 km, ao longo de uma semana extremamente quente. Eis a verdade. No penúltimo parágrafo, Nico Fagundes apela para um chavão discursivo: "Ninguém cuida melhor o seu cavalo que o gaúcho". Também preconceito. Qual o gaúcho? Certamente, não os que se compunham a última Cavalgada do Mar (cerca de 3 mil). Esse povo não demonstrou os cuidados de gaúchos reais, menos fantasiados. A propósito, quais são os gaúchos autênticos de nossos dias? Transcrevo o encerramento da coluna, uma pérola do preconceito (numérico): "Em 3 mil cavalos e no começo da marcha (o que significa um imprevisto) morreram dois cavalos. É uma pena mas a percentagem é ínfima". Não morreu a maioria dos cavalos, está "loco de bueno". Esse preconceito se ampara noutro ainda pior: os fins justificam os meios. Todos os argumentos usados pelo colunista em favor do evento à beira-mar, todavia, são contraponteados por uma citação apenas que ele mesmo faz de Paixão Cortes. O respeitável folclorista não veria muito sentido nessa cavalgada Isso basta para subjetivar (condenar) a opinião de Antonio Augusto Fagundes.

sexta-feira, 5 de março de 2010

ENREDO DE AVATAR


"O ano é 2154. Após uma viagem de quase 6 anos numa espaçonave interestelar, Jake Sully, um ex-fuzileiro nava paraplégico, chega a Pandora, uma lua cheia de vida orbitando um planeta gigante ao redor de uma das estrelas do sistema Alfa Centauri. Sua missão é substituir seu irmão gêmeo, morto, num projeto científico destinado a aprender mais sobre a cultura da civilização ali residente: os humanoides Na'vi, que ainda vivem da caça e da coleta de frutos, em harmonia com a natureza.
Para esse contato, os participantes do projeto contam com avatares - corpos criados artificialmente que combinam o DNA dos nativos com os de seres humanos - a que se conectam por meio de um complexo aparato tecnológico.
Mas a principal motivação dos humanos em Pandora não é científica, e sim econômica. Aquele mundo possui as únicas reservas conhecidas de uma substância supercondutora ultravaliosa batizada de unobtanium. A exploração está a cargo de uma companhia, a RDA, que basicamente mantém toda a infraestrutura humana local.
Jake Sully consegue se misturar aos nativos, mas, sem o conhecimento da chefe do Programa Avatar, Dra. Grace Augustine, também age como espião para o exército mercenário da RDA, que busca eliminar á força os Na'vi para conduzir as operações de mineração.
Embora num primeiro momento ele auxilie os militares, Jake acaba se apaixonando pelo modo de vida Na'vi e pela princesa de um de seus clãs, Neytiri. Com isso, enquanto as forças humanas lançam uma ofensiva contra os habitantes locais, Jake Sully ajuda a liderar os nativos num esforço de resistência.
Sem tecnologia suficiente para resistir, os Na'vi parecem condenados à derrota. Mas Jake Sully consegue invocar os poderes aparentemente sobrenaturais de uma entidade superior que parece estar ligada a todas as formas de vida daquele mundo. Com a ajuda de hordas de animais selvagens, os Na'vi conseguem expulsar os humanos de Pandora."
(Extraído da revista Superinteressante, edição extra de janeiro de 2010.)

AVATAR

Uma das coisas que fiz em Porto Alegre (nestas férias) foi ver Avatar. Um filme espetacular. Primeira experiência com 3D, minha e do cinema das grandes produções. Estava sem palavras para comentar sobre o filme, em razão de não saber qual aspecto abordar. Para minha surpresa e salvação, a Superinteressante editou uma revista especial sobre o filme de James Cameron.
Alguns itens do Sumário:
- Uma saga de 15 anos;
- Nova era para os efeitos visuais;
- A revolução 3D;
- Como Avatar salvou o cinema;
- "O cara" (James Cameron);
- Entre Aliens e Gorilas;
- Um tour por Pandora;
- Guia de sobrevivência;
- Na'vi, criaturas complexas;
- Transferência de mentes;
Transcrevo um excerto interessante da revista:
"Choque e pavor no Vaticano
Passagens causam polêmica por suposto antiamericanismo e deturpação religiosa.
Tirando os temas mais óbvios e genéricos - como a crítica pesada à devastação da natureza e os perigos da ganância humana -, Avatar também dá algumas cutucadas na política americana. A mais notável delas ocorre quando o chefe de segurança humano em Pandora comunica a sua tropa que pretende promover uma operação de 'choque e pavor' ('chock and awe').
A expressão militar é genérica e implica um esforço de rápida dominação do inimigo, em que as ações ofensivas são tão avassaladoras que ele não tem como reagir adequadamente. Mas ninguém consegue esquecer que esse também foi o termo usado pelo Exército americano para descrever sua operação de invasão do Iraque, em março de 2003.
Quem também viu ofensa, de forma até imaginativa, foi o Vaticano. Segundo críticas do filme publicadas pela imprensa ligada à sede da Igreja Católica, Avatar supostamente deturparia os valores religiosos, ao tentar substituir a adoração a Deus por uma veneração à natureza. Tudo porque os Na'vi vivem num mundo em que todas as formas de vida estão conectadas, e essas conexões acabaram ganhando uma consciência própria. Essa entidade, chamada de Eywa, ganhou status de divindade entre os nativos".
Numa próxima postagem, transcrevo o enredo de Avatar.

quinta-feira, 4 de março de 2010

DEVAGAR E SEMPRE

Alguém já me criticou que ando muito lentamente na direção do Parnaso (lugar que simboliza a morada dos poetas, ou da própria poesia). Concordo com essa pessoa e agradeço-lhe pelo que fica subentendido de sua crítica: dirijo-me para o Parnaso. O primeiro passo foi dado com o livro Ponteiros de palavra. O segundo, está prestes a ser concluído, com a edição de Vozes e vertentes. Penso que a marcha continuará mais determinada daqui para frente, mais confiante de que hei de alcançar o éden poético. Para lá chegar, todavia, dependo da crítica acerca do que produzo. O dia em os críticos me classificarem como um bom poeta, então, terei alcançado o Parnaso. Estou tranquilo, porque sei que a maioria entre eles é constituída por poetas, por bons poetas (como o meu primeiro crítico, que me viu andando devagar na direção certa).
Não serei ingênuo (como uns e outros) de me considerar um poeta/escritor já reconhecido, em pleno Parnaso. Outra coisa: não é a quantidade que me dará esse reconhecimento, mas a qualidade do que escrevo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

CENTRO GASTRONÔMICO DE SANTIAGO

Não sou empresário, mas a dedicação ao conhecimento acabou me dando uma visão empresarial que nem sempre privilegia aqueles que se dedicam exclusivamente aos negócios. Ao retornar para Santiago, em 1996, percebi que faltava um centro gastronômico à nossa cidade. Respeitadas as proporções, "centro gastronômico" significava, aqui, mais alternativas para a alimentação. Essa era a principal queixa de quem chegava de fora, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro... Na Terra dos Poetas temos o produto lítero-cultural para oferecer, mas não tínhamos o pão.
Há meia hora, percorri a Rua dos Poetas para anotar o nome dos estabelecimentos que atendem à gastronomia, que oferecem comida e bebida.
Eis a relação:
- Restaurante Alquimia;
- Reduto Choperia;
- Armazém do "X";
- Churrascaria Gaúcha;
- Cervejaria e Pastelaria Dos Poetas;
- Restaurante do Mário;
- Flamingo Choperia;
- Lancheria Perufo;
- Chico Lanches;
- Bira Lanches;
- Salmeron Lanches;
- Lancheria Da Hora.
Os quatro últimos, considerando-se a quadra do Banrisul, em frente à Praça.
Assim é constituído o centro gastronômico santiaguense, ao longo da Rua dos Poetas. Próximos aos extremos, o Flashback (na Júlio de Castilhos) e a Padaria e Lancheria Ponto Certo (na Tito Beccon). Comida boa e bebida gelada (ou quente, ao gosto do freguês).
Os donos de trailers reivindicam horário para funcionamento diurno, visando atender à demanda faminta do meio-dia (gente que acorre aos bancos, vinda dos bairros ou do interior do município).

NOITE

Outro poema que encontrei em meio a uma montanha de papel, apenas rascunhado:
.
o vento bate
lá fora
no desamparo
da rua
por trás
das nuvens agora
o disco prata
da lua
.
a chuva
já foi embora
morfeu
sem jeito recua
estou sedento
de aurora
de uma poesia
que é tua
.
À semelhança do anterior, preciso reescrever o final.

AUTORRETRATO

Entre meus poemas quase perdidos, encontrei este que necessita ser reescrito, principalmente seus três últimos versos:
.
No retrato que me faço
- em branco e preto -
às vezes me traço certo
às vezes me traço torto.
.
às vezes me esboço velho
com muitas rugas no rosto
às vezes me arrisco jovem
com um sorriso maroto.
.
E nesses traços procuro
- em preto e branco -
o que sou continuamente.
.
No papel, que ficará?
Um fantasma desenhado
por um artista demente.

MANOEL DE BARROS

Hoje de manhã (re)li Manoel de Barros: Poemas rupestres. O poeta é surpreendente em cada verso que escreve, diz o que a gente jamais imaginaria que dissesse. Seu discurso é marcado pela ruptura de campos semânticos. Lição de poesia. Os neófitos deveriam ler Manoel de Barros.
Primeiro poema do livro:
.
Por viver muitos anos dentro do mato
moda ave
o menino pegou um olhar de pássaro -
contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas
por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro
dela.
Como se fosse infância da língua.

TRADIÇÃO VERSUS UNIVERSALISMO

O Rio Grande do Sul vive o entrechoque de culturas diametralmente opostas. Uma das razões é a sobre-exaltação do passado gaúcho (cuja singularidade não encontraria igual noutros estados ou regiões do país). A figura compósita homem–cavalo, por exemplo, mesmo forçada a se desfazer ante o processo crescente de urbanização, mantém-se como representante orgulhosa de um modus vivendi exclusivamente rural. Em todas as expressões, a começar pela linguagem, distinguem-se a raiz fincada no campo e o fruto sazonado no meio urbano. A diferença cultural, gritante entre gerações, persiste de uma forma minimizada e, algumas vezes, contraditória, entre indivíduos co-geracionais. Há casos em que o próprio indivíduo vive a contradição. Um fazendeiro conhecido mesclava costumes sem problema: parava rodeio de camioneta na fazenda e desfilava em belos tordilhos nas avenidas da capital. A propósito, foi numa Porto Alegre universalizada que se instituiu o tradicionalismo, antes da vinda dos agregados e peões empobrecidos no interior. O movimento estabeleceu uma série de padrões comportamentais que reavivassem a herança social deixada pelos nossos antepassados. Todavia, os dois eventos de maior prestígio entre os tradicionalistas nestes dias, o rodeio e a cavalgada, são muito recentes. Nada mais universal do que andar a cavalo, e laçar por esporte teve origem muito distante do pampa. A tradição, sem evitar a modernidade, finca pé em valores (ultra)passados, alguns fantasiosos. Exige status de cultura com uma disposição pronta para a briga. À guerra!

terça-feira, 2 de março de 2010

TERÇA DOCE


Hoje fui à feira do produtor. Entre os produtos que trouxe para casa, mel no favo. Há muito tempo, não experimentava essa delícia (nunca uso essa palavra em vão, mas não encontro outra para definir o mel no favo). Favo novo, diga-se de passagem. Depois de degustá-lo demoradamente, servi um copo de leite gelado, cortei uma fatia de pão caseiro e me deliciei com a figada. Há mais de trinta anos, não comia esses doces - essências da natureza e do artifício. A propósito, o mel produzido nesta região é incomparavelmente melhor que o de Pinhal (com forte gosto de eucalipto).

segunda-feira, 1 de março de 2010

SEGUNDA AZUL

Ramalho Ortigão, se não me falha a memória, atribuiu uma cor para cada dia da semana. Segunda-feira, de acordo com o escritor português, tinha uma cor diferente do azul, talvez cinza. Azul é o sábado. Para mim, o sábado assim se apresentou, uma vez que fui ao Rincão dos Machado. Até onde me permite a subjetividade, para mim, os dias são azuis ou cinzas. Hoje continua azul. Isso significa dizer que estou bem, psíquica e fisicamente.
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Como o escritório do Dr. Valdir fica do outro lado da rua, todas as manhãs ou todas as tardes dou uma passada por lá. Hoje não foi diferente. Além de uma boa conversa, leio algumas notícias nos jornais assinados por ele.
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Nesta manhã, tive o prazer de conhecer pessoalmente duas pessoas no escritório do meu amigo: Ruy Gessinger e Salvador Lamberti. O Ruy trouxe um livro raro para o Dr. Valdir; o Salvador Lamberti trazia uma bacia cheia de frutas exóticas. Disse-nos que em sua propriedade, no interior de São Francisco de Assis, possui mais de 400 espécies de árvore frutífera.
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Sobre a última postagem do Ruy, comentei com o blogueiro que já havia lido o romance do Aureliano, Memórias do Coronel Falcão. A pergunta que ele fizera para sortear as camisetas, sobre o nome do jumento da história, poderia ser substituída pela "quem leu o livro de Aureliano?". Disse-me que assim procedera. Sua crítica à falta de leitura da nossa gente merece aplausos. Para ler o blog do Ruy clica aqui.
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Desejo a todos os leitores deste blog uma segunda azul.