sábado, 4 de dezembro de 2010

ENCANTADOR DE IMAGENS

Do rio severino e das Gerais
ao Pampa. Aqui chegaram Cal e Euterpe.
Nejar também as cativou com a arte
que já fizera delas imortais.
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A pena nejariana ainda verte,
no ritmo dos eólicos trigais,
metáforas de sonhos pessoais,
ordenações do que sobeja inerte.
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O "sopro-fogo" de Árvore do Mundo,
em língua portuguesa, é, certamente,
o texto figurado mais profundo.
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Em seu ofício de cifrar mensagens,
faz-se o poeta, nejarianamente,
um oportuno "encantador de imagens". 
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Há muitos anos, escrevi o soneto acima para um concurso, cujo tema era um poeta. Minha escolha foi Carlos Nejar. Fiquei com uma menção honrosa. 
Algumas explicações:
1) O soneto é composto por versos isossilábicos, contando 10 sílabas cada um (decassílabos). A acentuação dos versos, ora recai na 6ª sílaba, ora na 8ª, com alguma tonicidade na 2ª ou na 4ª.  O primeiro terceto, por exemplo, é heróico; o segundo, sáfico. 
2) No primeiro verso, "Do rio severino e das Gerais", faço uma alusão aos dois maiores poetas da literatura brasileira: João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade. Cal e Euterpe são, respectivamente, as musas da poesia épica e da poesia lírica. As duas foram cativadas por Nejar com a mesma intensidade. Ritmo e metáfora não faltam na poesia nejariana. "Sopro-fogo" é uma referência aos dois capítulos do livro Árvore do Mundo: o sopro da execução e fogo da consciência. Esse livro é o mais profundo de Nejar, um dos mais profundos da poesia universal de todos os tempos. Encerro o poema com outra citação de Nejar, excerto tirado de um verso do Livro de Silbion: "E tu, poeta, encantador de imagens e palavras". Acaso, há melhor definição de poeta?

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