sexta-feira, 5 de novembro de 2010

TRAVESSURAS DA MENINA MÁ (II)

Terminei de ler Travessuras da menina má, de Vargas Llosa, escritor peruano que ganhou o Nobel de Literatura este ano. Leio lentamente, porque sofro para ler (olhos e enxaqueca). Não obstante, leio minuciosamente, sublinhando palavras, frases, parágrafos. Na parte interna da capa ou numa página em branco, anoto capítulos, personagens, tempo e lugar. Uma palavra me chamou a atenção, por aparecer seis vezes ao longo do romance: anódino(a)(s).  O romance tem mais de 300 páginas, com pouco diálogo, subdividido em sete capítulos. A história começa no bairro Miraflores, em Lima (1950), quando o personagem-narrador, Ricardo Somocurcio, então com 15 anos, apaixona-se por Lily.O segundo capítulo pula para Paris dos anos 60; o terceiro, para Londres, da cultura hippie e do amor livre dos anos 70; para Tóquio; outra vez para Paris; para Lima; para Madri dos anos 80. A história termina ao sul da França, com o reencontro entre Ricardo e a menina má (ou Otilia, ou Lily, ou camarada Arlette, ou madame Arnoux, ou Mrs. Richardson, ou Kuriko, madame Somocurcio). Antes de morrer de câncer, numa tarde, "sentados no jardim, ao crepúsculo, ela me disse que se algum dia eu pensasse em escrever a nossa história de amor, não a deixasse muito mal, senão o seu fantasma viria me puxar os pés todas as noites. - E por que pensou isso? - Porque você sempre quis ser escritor, e nunca teve coragem. Agora que vai ficar sozinho, pode aproveitar, assim esquece a saudade. Pelo menos, confesse que lhe dei um bom material para escrever um romance. Não foi, bom menino?". Esse final ocorre em 1989, trinta e nove anos depois. Uma tragédia contada com humor, uma comédia contada com seriedade. Vargas Llosa é realista, apolíneo, diferente de García Márquez, mágico, dionisíaco.  

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