domingo, 18 de julho de 2010

MARÍLIA, MARÍLIA, MARÍLIA...

No Capítulo I da Arte Poética, Aristóteles parte da generalização de que quase toda poesia se enquadra como imitação. A mimésis constitui essência da arte. Luiz Costa Lima assevera que "todo realismo é essencialista".
O Arcadismo foi uma escola que, entre outras características, imitou os clássicos e poetizou o real (negando a subjetividade barroca).
Estudando três poetas árcades da literatura luso-brasileira, surpreendo-me com a flagrante imitação em torno da personagem de seus poemas.
PEDRO ANTÓNIO JOAQUIM CORREIA GARÇÃO (o mais influente poeta da Arcádia) escreve num soneto:
Três vezes vi, MARÍLIA, de alva lua
cheio de luz o rosto prateado
sem que dourasse o campo matizado
a linfa aurora da presença tua.
.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA assim começa Lira I:
Eu, MARÍLIA, não sou algum vaqueiro
que vive de guardar alheio gado;
de tosco trato, d'expressões grosseiro,
dos frios gelos, e dos sóis queimado.
.
MANUEL MARIA BARBOSA DU BOCAGE principia o Soneto XI desta forma:
Olha, MARÍLIA, as flautas dos pastores
que bom que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-te! Olha, não sentes
os Zéfiros brincar por entre as flores?
.
Três grandes poetas. Não se pode dizer que lhes faltava imaginação, ainda mais Bocage, que se aproximava da nova orientação estética, o Romantismo (em que o imaginativo ganharia a melhor das expressões).

Nenhum comentário: