segunda-feira, 10 de maio de 2010

SOBRE A VULGARIZAÇÃO DA POESIA

Dois fenômenos culturais são mais evidentes em Santiago, simultâneos e paradoxais: a falta de leitura e a vulgarização da poesia. O primeiro ocorre em todo o país desde seu descobrimento, o que explica a classificação de "analfabeto funcional" ao indivíduo alfabetizado que não lê. Da diminuta parcela que desenvolve o hábito, um número reduzidíssimo se interessa pelo gênero poético. O segundo surgiu nos últimos anos, mais claramente a partir de projetos que intentam justificar o epíteto de Terra dos Poetas para nossa cidade.
Por um lado, avivou-se o nome daqueles que produziram no passado, como Manuel do Carmo, Zeca Blau, Antonio Carlos Machado, Sílvio Duncan, entre outros. Nesse sentido, o resultado foi muito positivo com a construção da Rua dos Poetas e a edição das antologias 1 e 2. Por outro lado, a ideia de que para ser poeta basta escrever alguns textos foi muito ruim. Nenhuma preocupação em relação à qualidade literária dos novos eleitos, aos quais poderiam ser oferecidas oficinas pela própria instituição coordenadora do projeto.
O fenômeno se ampliou com o advento dos blogs, no âmbito digital, espaço bastante adequado para a edição de escritos pessoais.
A vulgarização também decorre de um preconceito pós-moderno que defende anarquicamente uma produção poética não dependente da leitura dos grandes poetas. A consequência disso são textos formalmente indefiníveis entre a prosa e a poesia, de conteúdo pueril e umbiguista. Os autores, quando falam sobre sua própria arte, pretextam que poesia é sentimento (numa falácia já conhecida como "uvas verdes").
O menos lamentável é que o fenômeno não se restringe a Santiago. Na Feira do Livro de Santa Maria, mais precisamente no estande da Casa do Poeta daquela cidade, grande parte das publicações expostas de autores novos encontra-se abaixo da crítica. Capas belíssimas, títulos grandiloquentes, mas textos paupérrimos.

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