quarta-feira, 14 de abril de 2010

RENOVADOR DO DISCURSO

A partir da sacada nietzschiana de que o mundo só se justifica como fenômeno estético, subentende-se que, antes de sê-lo, tudo é mais ou menos sem sentido (para não dizer incompreensivelmente feio). Tendo o homem ocupado uma posição central neste mundo, dele depende uma percepção tão singular quanto à tida pelo filósofo alemão. Mas ele, porque não conhece suficientemente a si mesmo, vê o mundo que o cerca como um fenômeno antiestético. Em consequência disso, produz coisas com as características que refletem essa visão. A começar pelo seu discurso (no sentido de todo pensamento expresso pela fala ou escrita). Afora a tautologia, essa pleonástica repetição; afora o burburinho, essa confusão de vozes; afora a vulgaridade... há que se destacar a feiúra das diversas formas discursivas. A exceção é a poesia. Mais do que ser a antena da raça, que capta no ar o que virá (na apreciação do grande Ezra Pound), o poeta é um filtro renovador do discurso sem o qual não vive o homem, a humanidade. Tal renovação se dá, principalmente, por meio do ritmo e da imagem. Como seria o discurso em grego sem os aedos e os rapsodos? Sem Ésquilos, Sófocles e Eurípedes? Como seria em inglês, sem Shakespeare? E em nosso português, sem Camões e Pessoa? Esses e outros poetas transformaram linguisticamente suas pátrias, suas épocas. Hoje os discursos são insuportáveis, uma vez que os poetas, especialmente os que veem e vivem o mundo segundo os cânones da beleza, são ignorados ou desconhecidos pelos seus contemporâneos.

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