sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

CICLO INEXORÁVEL

um moinho
prensa
nossa esperança

prensa
nosso futuro

os dias
escorrem feito suco
doce
         amargo

(que nos embriaga
na noite
dos fogos)

a esperança
renasce
e move
            um moinho

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ANIVERSÁRIO DE SANTIAGO

A Fanfarra da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada estará presente na Abertura do Show de Aniversário de Santiago na Estação do Conhecimento dia 3 de janeiro, às 21 horas. Isso não consta na programação acima, a não ser que tal participação esteja incluída no tópico "Shows com artistas e bandas locais".

MENOS EGO, MAIS HUMILDADE

Uma senhora, saindo de uma loja, queixou-se de que só conseguira estacionar na outra quadra. Assim estão se comportando os usuários de automóveis em Santiago. Como a maioria dos bancos localiza-se em torno da praça Moisés Vianna, seus clientes motorizados querem estacionar em frente da agência. Como as principais lojas localizam-se na Rua dos Poetas, no Calçadão e na Tito Beccon, seus clientes querem estacionar em frente.  À exceção desses espaços acima citados (mais algumas quadras centrais), não há problema dessa natureza em Santiago. No momento em que for cobrado o estacionamento, muitos preferirão ocupar as vagas que hoje estão à disposição nas quadras seguintes. Uma campanha pela educação no trânsito (menos ego e mais humildade) teria melhor efeito que os tais parquímetros.   

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

SUBJETIVIDADE ILIMITADA

Depois de Nicolau Copérnico, até a Igreja Católica foi obrigada a aceitar que a Terra gira em torno do Sol. Os cientistas, posteriormente, mediram o tempo que durava a volta completa (ano) com exatidão. Um decreto político da Roma Antiga, sem qualquer fundamento científico, determinou que o início do ano coincidisse com o 1º de janeiro. Antes de ser assim decretado, o ano se iniciava no dia 1º de março (o que é facilmente comprovado pelo nome dos meses de setembro em diante, cujos radicais indicam, respectivamente, sete, oito, nove e dez, ao invés de nove, dez, onze e doze). Dessa forma, objetivamente falando, o que há de correto no ano é a duração do movimento translacional. O 1º do ano é uma mera convenção cultural da civilização com origem judaico-greco-romana. O nosso calendário está cheio de erros, o que não impede sua sacralizada observância. A passagem de um ano para outro já se transformou no maior rito do mundo contemporâneo. O senso comum considera tal passagem uma espécie de portal  que o conduz a uma transformação de vida. Subjetividade ilimitada. Ilusão pura.

CONTOS DE SEMPRE

Hoje comprei Contos de sempre, de Aldyr Garcia Schlee, na livraria do Tide. Esse escritor ganhou o Fato Literário de 2010, concorrendo com Lya Luft e Kathrin Rosenfield. O livro foi vencedor da I Bienal Nestlé de Literatura Brasileira em 1982. Já li quatro dos doze contos de Schlee, os quais me fizeram lembrar de Mario Arregui, especialmente de seu Cavalos do amanhecer.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

POSTAGENS VERDADEIRAS

Numa rápida visita aos blogs, duas postagens me chamaram a atenção: Mail da Patty Farias, do Ruy Gessinger, e E as atuais mulheres, da Vivian Dias. Nada mais verdadeiro, escrito com humor, ironia, por quem conhece o mister (de escrever bem e de observar atentamente a realidade). Crítica necessária.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

REVEZAMENTO DOS ANOS

A imagem que fazemos do ano que se encerra é de um velho decrépito, incapaz de dar mais uns passos. Entre os sentimentos que temos em relação a ele, não disfarçamos a ingratidão. Decerto não fomos atendidos naquilo que almejamos por ocasião de sua chegada (há exatos 365 dias). Quando não somos ingratos, dispensamo-lo um pouco de piedade, porque, no fundo, relacionamos sua decrepitude ao nosso espírito. Por isso, toda a expectativa pelo novo ano. A imagem deste é produto da nossa imaginação, das nossas esperanças e sonhos. No lugar do velho, que arrasta consigo o peso da realidade, o infante. Tudo o que queremos é a renovação, a leveza. Nossa ingenuidade parece não ter limites durante o rito da passagem. Expressamos sem problemas a fé de que no próximo ano algo muito importante nos será dado de presente. Por alguns instantes, negamos nossa condição essencial de homo faber. Se queremos algo importante, devemos fazê-lo, construí-lo. Não esperar que caia do céu, que brote da terra de alguma semente mágica. O conhecimento disso transcende o rito da passagem, a ilusão de que a vida necessita de ciclos. O desejo de coisas maravilhosas, como uma transformação para melhor em nossas vidas, não se realizará sem o nosso esforço, nosso pragmatismo, nossa ação (cujo projeto é apenas anteposto pelo desejo). Ao longo do próximo ano, façamos por nós (e pelos outros). Dessa forma, ele não envelhecerá tão depressa em nossas mãos (como a refletir nosso espírito cansado, pusilânime). Sua imagem, ao final, será de um jovem corredor, pleno de energia. Assim também teremos o próximo a apanhar o bastão de um revezamento certamente vitorioso para a nossa equipe. 

domingo, 26 de dezembro de 2010

HISTÓRIAS DO CEMITÉRIO DE BOM RETIRO


Os cemitérios continuam a gerar histórias de assombro, de humor, de vida e de morte. No Bom Retiro, interior do município, algumas são contadas pelo espirituoso zelador do cemitério dessa localidade. Ele é muito convincente, uma vez que se coloca como principal ator das histórias que narra. Numa vistoria dos túmulos, Ademar encontrou caída a tampa de uma sepultura. Imediatamente, pegou o celular e ligou para a família do (há muitos anos) falecido: “Alô! Alô! Seu Fulano não apareceu por aí? O que faço: espero ele voltar ou fecho agora?” Numa tarde de agosto, quando capinava em volta dos sepulcros, notou a presença de dois meninos. Fingindo não percebê-los, puxou um cigarro, suspirou profundamente e conversou com sua voz grave: “Izidro, me empresta o fogo!”. Os pequenos ganharam o portão numa desabalada carreira. Noutra tarde, uma família visitava os parentes fotografados em sépia. Conta o Ade que se escondeu (com o propósito de pregar uma peça). Um dos visitantes ousou se despedir do sepultado: “Tchau, compadre Sicrano!”. Ele esperou que o grupo se virasse em direção à saída e, com a mesma voz grave, arrematou de entre os túmulos: “Tchau, compadre Neno!”. História mais antiga conta meu pai. Nos anos cinquenta, durante a construção do cercado da área atrás da igreja para a destinação dos mortos, um dos participantes do mutirão perguntou quem seria o primeiro a entrar ali na horizontal. Em tom de pilhéria, responderam que seria o mais velho dos presentes, conhecido por Turco. Na noite subsequente ao trabalho realizado, o mesmo senhor que fizera a pergunta veio a sofrer um infarto fulminante. Não era dos mais velhos, mas teve o triste privilégio de inaugurar o cemitério de Bom Retiro.  

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

TIA CELA

Final do expediente no QG, coloco minha mochila nas costas e resolvo ir ao Hospital da Guarnição de Santiago. Tia Cela encontra-se baixada. Vou visitá-la. Dalila e Arinda acompanham a paciente, que está no oxigênio. A pneumonia resiste aos medicamentos. A tia está com um pouco de febre, percebo isso com um toque da mão em sua testa. Falo que as cores de seu rosto estão normais. Quero ser otimista para tranquilizar minhas primas. Deixo o hospital pensativo. Dia e meio depois, tomando café, tenho um estalo: ligo para Arinda. "A mãe acaba de falecer, Froilam." Algumas horas mais tarde, vou à Capela Andres. O rosto da minha tia é outro. Cor única, indefinível, inexistente no mundo vivo, multicolorido. Infelizmente, a última imagem substitui as outras. Mas lembrarei da tia Cela como dona de uma memória extraordinária, não obstante sua longevidade. Ela sabia narrar/descrever fatos de um tempo quase esquecido. Um referencial...  

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

FALECIMENTO

Aos 89 anos de idade, Celanira de Oliveira Soares faleceu nesta manhã, onze dias depois do falecimento da vó Dorilda Flores de Oliveira. Ainda que residisse na cidade, tia Cela continuava sendo a grande matriarca do Rincão dos Soares. 

PAPO SÉRIO

Caríssimos visitantes, as primeiras reflexões que fiz por escrito remontam aos anos oitenta. Tão somente duas décadas mais tarde, surgiu-me a oportunidade nos jornais e no âmbito eletrônico, meios onde passei a publicar uma síntese da crítica que faço à sociedade consumista do nosso tempo. Com a minha superação do homo religiosus, adquiri o direito de apontar para a contradição do grande rebanho, que segue sem o menor problema de consciência a dois senhores. Deus encontra-se representado pela fraternidade, pela espiritualidade e, principalmente, pelo seu filho, o Menino Jesus. Mamom, representado pelo materialismo, pelo afã de ter, pela neura mercadológica, cuja figura central é o Papai Noel. Por que os líderes cristãos, notadamente, os católicos, não se manifestam contra esse velhinho-propaganda que tomou lugar do Menino? Recém em 2010, uma cidade da Alemanha (sempre revolucionária), chamada Paderborn, tornou-se “zona livre de Papai Noel”. A justificativa é simples (e verdadeira): “ele representa a indústria do consumo”. Recém em 2010, um bispo argentino, chamado Fabriciano Sigampa, fala abertamente às crianças de Resistência que Papai Noel não existe. Essa autoridade católica exige que seja decretada a inexistência do que, na realidade, não existe. Não obstante toda a evolução racional já experimentada pelo homem, ainda ele é facilmente dominado por superstições, mitos, crenças, coisas que deveriam ter sido superadas pelo processo civilizador. Na hora de encontrar um culpado por qualquer infelicidade, apontam a razão (a ciência, a técnica). A razão produz saber e ferramenta, o que não é suficiente perante outros fatores humanos, como a fé, o desejo, o caráter, todos com poder absoluto sobre a ainda novata racionalidade. Pensem nisso, caríssimos visitantes. 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

CASO RARO

Sou um caso raro: ateu que cita a Bíblia. Hipocrisia al revés? Penso que não. Sou demasiadamente honesto ao optar pelas armas dos meus adversários (no caso, os próprios cristãos). Não todos os cristãos, apenas os hipócritas. Para esses, cito alguns versículos do que há de melhor em todo o NT: capítulo sexto de Mateus. "...quando fizeres dádivas de misericórdia, não toques a trombeta diante de ti...quando fizeres dádivas, não deixes a tua esquerda saber o que a tua direita está fazendo".

DEVAGAR, QUASE PARANDO

A velha expressão de nossos avôs (carreteiros) descreve perfeitamente o ritmo da blogosfera santiaguense. O movimento (que nega essa apreciação negativa) continua sendo provocado pelos blogueiros mais visitados, que editam diariamente. Isso prova que o texto para se caracterizar como tal necessita do leitor, ou coautor (num sentido dado pela linguística). Ignara a posição de quem defende sem o menor pudor a unilateralidade, o monólogo. Sua tese antibakhtiniana é de que basta escrever (qualquer asneira) para alguém se transformar em autor. Parabéns ao blogueiros mais visitados! 
P.S.: PEÇO DESCULPAS AOS BLOGUEIROS QUE FIZERAM UMA OUTRA LEITURA DA POSTAGEM ACIMA. FUI DEMASIADAMENTE SINTÉTICO AO ESCREVER "O MOVIMENTO SE DEVE AOS BLOGUEIROS MAIS VISITADOS", QUERENDO DIZER VELOCIDADE, RITMO, VIDA... MOVIMENTO CONTRÁRIO AO "DEVAGAR, QUASE PARANDO". SERIA UM DESPAUTÉRIO AFIRMAR QUE OS BLOGS DO RAFAEL, DO MÁRCIO, DO PRATES, DO ROSADO, DENTRE OUTROS, ESTÃO DEVAGAR QUASE PARANDO. TAL APRECIAÇÃO SE COADUNA ÀQUELES QUE TITUBEIAM COM POSTAGENS MENOS E MENOS FREQUENTES. DESSA FORMA, REESCREVI (SEMPRE UMA NECESSIDADE) A FRASE ACIMA QUE CAUSOU O MAL-ENTENDIDO. 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

QUE COISA!

Tudo o que escrevo começa com o rascunho: caneta e folha de caderno. Não consigo expressar melhor minhas ideias usando as interfaces eletrônicas. Ontem, excepcionalmente, abri meu blog e passei a escrever neste espaço. Produzi um artigo de primeira (modéstia à parte), todavia, após clicar em "publicar postagem", o sistema havia caído. Em "editar postagem" estava salvo as primeiras frases do texto. Mais tarde, tentei reescrever meu texto sem sucesso. 
Transcrevo abaixo o que foi salvo, parte da introdução:
"As mudanças de partido político são tão comuns, tão rasteiras, terra-a-terra, que já é uma covardia bater naqueles que dão cabriolas. Uma coisa é inevitável que se diga, no entanto, essas mudanças contradizem o preconceito que sustentava a não-discussão sobre assuntos políticos. Mudanças de religião são mais raras, o que envolve toda crítica religiosa de aura de heresia que levava à fogueira há pouco tempo."

sábado, 18 de dezembro de 2010

GOSTO, RELIGIÃO E POLÍTICA

Desde criança, ouço que não se discute gosto, religião e política. Minha propensão à filosofia, que é, a princípio, o caráter inquiritivo, fez com que sempre questionasse esse enraizado preconceito, tabu, o que quer que seja. Nunca cheguei a conclusão que não apontasse para o orgulho, para a ignorância. Cada indivíduo se acha o centro do universo, não poderia ser diferente, mas as ideias e os sentimentos manifestos para sustentar essa posição umbiguista não resistem a qualquer análise. Assemelham-no ao medieval.
O século XXI aponta para o rompimento dessas fortalezas egocêntricas, com mudanças significativas nas preferências pessoais, nas crenças religiosas e nas ideias políticas. Pela ordem decrescente de ocorrência, o indivíduo já muda de partido (não apenas por interesses próprios), muda de religião e passa a racionalizar sobre novos gostos. 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O MELHOR ARRAZOADO

Por muitos anos, tentei dialogar com meu colega sem êxito. Minha intenção era convencê-lo do equívoco de suas crenças religiosas. Em contrapartida, ele fazia a mesma coisa em relação ao meu ateísmo (agnosticismo para ser mais correto). No final, pedia-me para respeitar sua fé. Mais tarde, por motivo de minha transferência, não mais nos encontramos por breves quatro anos. Aqui poderia abrir um parênteses, contando sobre novas discussões com outros colegas, repetindo-se a mesma história de argumentação inútil. De volta para Santiago, acabei reencontrando aquele companheiro de trabalho. Ele havia mudado de religião, saíra do _____________ e se tornara o mais ardoroso ______________. Aos poucos, retomamos as antigas conversas. Ele concordou comigo que estava errado na época. Agora, no entanto, tinha certeza de que estava no caminho certo, com Deus. Para dizer-lhe que estava errado outra vez, voltaria à estaca zero do entendimento. O dilema se perpetua: respeitar a nova crença do meu colega ou falar-lhe de sua ilusão? No caso de respeitar, estarei me omitindo com a verdade que ele poderá não mais desvelá-la sem ajuda. Desrespeitando-o em sua crença, posso tirar-lhe a possibilidade de evoluir por si mesmo, a única forma de evoluir verdadeiramente. 

LUZ&LAMA

o corpo
é barragem d’água
onde se reflete
o azul

sob a superfície
clara
        (todavia)
a lama se deposita
escura
            viscosa
                          fria

a alma
é pescador bizarro
olhos no céu
e pés
         no barro

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

CURTAS E BOAS

A melhor que li hoje, nos sites noticiosos: "Em missa na Argentina, bispo afirma a crianças que Papai Noel não existe". Vindo de um católico, não pode haver outro discurso mais desmistificador. 
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Certos concursos em Santiago são piadas de mau gosto. O mérito passa ao largo, uma vez que, inexplicavelmente, está dissociado do QI. 
.
Más línguas gremistas dizem que colorados fizeram empréstimo para acompanhar seu Inter, quase bicampeão do mundo em Abu Dhabi. 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

THE DREAM IS OVER

ABU não DHÁ BI
(apesar do Inter ter um time melhor que Fernandão, Gabiru & cia limitada)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

GÊNIO SANTIAGUENSE

A Reportagem Especial do Zero Hora (de sábado) traz duas páginas sobre um grande arquiteto gaúcho em Abu Dhabi: Tarso Endres. Fernanda Zaffari, jornalista responsável pela matéria, escreve "Ele saiu do Rio Grande do Sul e...", sem qualquer referência a Santiago, onde se criou e estudou. A história real se repete: os santiaguenses são obrigados a sair para o mundo quando seus talentos transcendem o universo cultural desta pequena cidade. Foi assim com Manuel do Carmo, Ramiro Frota Barcelos, Sílvio Duncan, Caio Abreu, Romanita Disconzi, entre tantos outros. A maioria desses artistas não voltou mais a Santiago, onde a sociedade sempre foi incapaz de vislumbrar a grandeza do gênio. Raros os que ficaram aqui, entre os quais temos um arquiteto: Marcelo Tusi (destacado pelo Expresso Ilustrado, em sua última edição). 
Tarso é filho de Júlio e Marina Endres, nascido em Santa Maria (como registra a reportagem) por opção dos pais. Fez Arquitetura na Unisinos e hoje é diretor de Arquitetura da empresa italiana AiEngineering, responsável pelos projetos milionários em Abu Dhabi.

Nívia Andres comenta sobre esta postagem que Santiago não tem condições de manter nossos grandes artistas e profissionais. Diante da grandeza de uns, inclusive o Brasil tem condições de mantê-los. Havia escrito um parágrafo exatamente sobre isso, mas deletei. Não é essa a questão. Santiago não os reconhece antes que o façam outros lugares, geralmente os grandes centros.  

domingo, 12 de dezembro de 2010

LUTO

Minha última avó faleceu ontem, às 11h30min, no Hospital de Caridade de Santiago. Dorilda Flores de Oliveira foi casada com Fermino Machado de Oliveira, com quem teve 13 filhos: Diolinda, Nelson, Ondina, João Carlos, Neiva, Suzana, José Maria, Polidoro, Dalva, Paulo, Maria, Tavânia e Guilherme. Meu pai é o penúltimo filho do primeiro casamento do vô Fermino (com Francelina Soares de Oliveira). O sepultamento da vó Dorilda aconteceu nessa manhã chuvosa, no cemitério do Bom Retiro. 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

QUIASMO

A palavra "quiasmo" parece denominar uma doença, não parece? Pois significa uma coisa totalmente diversa: consiste numa figura de construção que repete simetricamente as palavras, cruzando-as à maneira de um X. Exemplos: 
Ela corava e tremia
tremia e corava eu
...........................................(Juvenal Galeno)
.
Eu nunca fui amado e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
.......................................... (Alceu Wamosy)
.
Do meu livro Ponteiros de palavra, transcrevo um quiasmo perfeito. Os versos são tão simétricos que dão origem a um palíndromo, o que pode ser lido da direita para a esquerda e vice-versa:
o medo do demo
o demo do medo

EDUCAÇÃO MAIS POBRE

Todo brasileiro informado sabe que a educação no Brasil é da pior qualidade, em todos os níveis (à exceção da educação infantil). Nunca esteve tão mal. Desde o tecnicismo dos anos setenta (quanta saudade!), a queda é abissal. Para piorar ainda mais, nossos políticos decidiram cortar 1,4 bilhão do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e da Valorização dos Profissionais da Educação. 

SOU VOLUNTÁRIO

Hoje irei à Seção de Saúde do Quartel General para dar um pouco do meu sangue, amostra que, após análise, determinará se sou doador de medula óssea ou não. Tenho carteirinha de hemodoador desde 1987. Gosto de ser solidário a esse tipo de campanha. No aspecto moral, não terei problema de consciência caso necessite futuramente de sangue ou até mesmo de transplante de medula. Coerente com o que penso (ver postagem abaixo sobre o Natal), ajo de acordo com. Ainda ontem, contribuí para uma doação de mil pães de cachorro-quente à Secretaria de Desenvolvimento Social de Santiago.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O QUE É A VERDADE?

Nas inter-relações humanas, das mais fechadas (íntimas) às mais abertas (públicas), a verdade não se manifesta como um estado descritivo objetivo (como definiu Heidegger). Ela está mais para "desvelamento", que os gregos chamavam de aletheia. Minhas postagens anteriores dão um exemplo de que não podemos tomar a realidade, o que nossos olhos veem, como verdade. Refiro-me à operação policial no Rio de Janeiro. A verdade não foi desvelada, as imagens a encobriram com um véu (de Maia). Outros exemplos: 1) Uma pessoa te faz um grande elogio, dizendo-te que és um homem simpático, mas, para terceiros, diz o contrário, que não te suporta. Qual é o verdadeiro sentimento que essa pessoa tem em relação a ti? 2) Ontem o senador José Sarney estava exultante com o número de políticos de seu partido que foi indicado pela futura presidente Dilma Roussef, o que infere um perfeito "casamento" entre PT e PMDB. Em sua mais recente declaração, o presidente Lula, todavia, afirma ser muito complicada tal relação. O presidente está dizendo a verdade. A aparência é, via de regra, mentirosa. Outro exemplo de verdade: WikiLeaks. 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

UMA IRONIA

O termo "ateu", empregado na postagem anterior, foi para intensificar a ironia. Prefiro me classificar como agnóstico (expresso por Weimar Donini, meu interlocutor). Sou coerente: defendo as ciências. Um ateu que se digne não cobraria dos cristãos uma atitude mais cristã, menos hipócrita, menos contraditória. A maioria das pessoas que rezam e cantam neste fim de tarde, na missa em frente à Igreja Matriz, amanhã, certamente, engrossará a massa de consumistas alucinados de fim de ano.   

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

REFLEXÃO DE UM ATEU

A cada vez que dezembro chega – isso acontece ciclicamente, uma vez ao ano – todos começam a pensar o Natal e, de repente, passam a sentir o Natal. Na semana que antecede essa data, as pessoas são inteiramente envolvidas pela afetividade, pelo sentimento, característica mais saliente do homo religiosus (denominação de Erich Fromm). O mundo em volta parece se tornar melhor, porque assim o está sendo no interior de cada uma delas. Nesse período, ficam mais vulneráveis a tudo, há algo que elas não conseguem identificar se é uma coisa boa, como a fraternidade, ou se é uma coisa ruim, quase uma tristeza. A razão deixou de ser determinante.
Como homem pensante, tenho algo a dizer sobre essa grande festa, protagonizada pelo bom velhinho, notadamente o melhor garoto-propaganda do comércio nestes dias. Os produtos anunciados por ele ganharam o coração dos consumidores, não mais um lugar em que se guardam as lembranças de outro menino, nascido há dois milênios. A contradição se acentua a cada ano que passa entre o discurso pretensamente religioso e o modus vivendi da maioria cristã.
No lugar do presépio, a representar o estábulo em Belém e as cenas que se seguiram ao nascimento do Filho de Deus, é colocada a figura rechonchuda do Papai Noel. No lugar de um retorno à simplicidade, ao desprendimento material, coerente com a doutrina ensinada pelo Mestre, a corrida ao consumismo desenfreado, ao esbanjamento em ceias desnecessárias. A manjedoura já se transformou num Shopping Center, para onde acorre toda gente, no afã de satisfazer uma necessidade artificial, egocêntrica.
Tal contradição tem uma implicância social: crianças e crianças nascem e vivem em completa pobreza, no abandono, perseguidas por mil Herodes da fome e da miséria. Justamente, no momento em que se comemora o Natal dois ensinamentos do Filho de Deus são cinicamente esquecidos, negados: (UM) a despreocupação com o que comer, beber ou vestir; (DOIS) o amor ao próximo.
Encerro minhas palavras com uma exortação: demos de nossa mesa, de nossa despensa, aquele alimento que não nos faz falta. Sabemos onde encontra pessoas que necessitam de alimento. A rua, por exemplo.
Com esse espírito de bondade, tenho certeza que teremos um
                 FELIZ NATAL
                                                                UM FELIZ ANO-NOVO.


DIÁLOGO COM JÚLIO PRATES

Todo indivíduo é, a princípio, seu discurso. Em seguida, acrescenta-se-lhe o discurso do outro. Graças às relações discursivas, nasce a cultura (que é, a princípio, de natureza verbal).
Feita essa introdução, aceito o diálogo proposto (indiretamente) pelo Júlio Prates, a partir de sua postagem “Os livros e os sonhos em Santiago”. Para começo de conversa, não é minha intenção replicá-lo, absolutamente. Confesso que sua opinião não vem de encontro ao que penso verdadeiramente, senão à opinião que ousei expressar de forma sucinta em meu blog. (Os gregos distinguiam "doxa" de "aletheia", "opinião" de "verdade".) Outras vezes, quando livros foram lançados na Terra dos Poetas, fiz apologia a seus autores, exortando-os que continuassem com o nobre ideal da produção literária. Sempre me coloquei à disposição para revisão ortográfica, fazendo-a sem nada cobrar inclusive. Não apenas simples correções gramaticais, mas pareceres sinceros quanto à construção formal e conteudística. Coerente com essa posição, em nenhum momento me deixei levar pela vaidade, pelo pedantismo afetado. Disso tenho certeza.
Diante da crescente vulgarização da poesia, mormente, tomei uma posição contrária ao senso comum. Noutras questões, meu interlocutor (indireto) já ocupou essa mesma posição com o arrazoado que lhe é peculiar. Para não pecar pela vaguidade, pergunto qual seria sua atitude diante de novos “sociólogos” que passassem a fazer críticas às suas análises, sem qualquer fundamentação teórica. Pior: eles decidissem, de uma hora para outra, lançar livros cheios de incorreções. Certamente, Prates não ficaria sobre o muro da indiferença. Ou tomaria a posição de apoio, como a que se evidencia em sua postagem; ou detonaria (verbo que caracteriza o discurso pratesiano) com os novos Marxs, Durkeins e Webers.
Na Terra dos Poetas, sabidamente, não se desenvolveu a Sociologia, campo do conhecimento em o Prates tem raras companhias. A mesma coisa não se pode dizer da Literatura, arte milenar que não pode servir a neófitos umbiguistas, pouco preocupados em evoluir (como se percebe naqueles que reincidem no equívoco de pensar que são escritores, publicando mais de um livro).
Já tomei as três posições possíveis: ficar sobre o muro (entre o elogio e a crítica “construtiva”); apoiar direta ou indiretamente; e, por último, desclassificar (ainda de uma forma vaga, sem citar nomes). Não descobri o que é mais prejucial para as personalidades suscetíveis: o elogio ou a desaprovação. Não posso tomar meu caso pessoal como referência, mas foram as críticas demolidoras também responsáveis por minha evolução efetiva. A pergunta de alguém que desejava lançar um livro de poesia crioula, colocando em dúvida meu conhecimento da língua portuguesa, foi decisiva para que eu resolvesse cursar Letras. Os apontamentos pouco elogiosos que o Oracy fazia aos meus poemas na década de oitenta me levaram a ler e a escrever mais e mais. A propósito, ouço e leio que o Oracy é um mestre, mas quem diz e escreve isso não o procura para aprender sobre a arte de seu domínio inconteste. 
Para encerrar, espero ter contribuído satisfatoriamente para o debate, para a interlocução proposta pela postagem do Júlio Prates. 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DEPRECAÇÃO

Raros livros são tão completos no estudo das figuras e tropos quanto Teoria Literária de Hênio Tavares. O único exemplar existente na Biblioteca Pública de Santiago encontra-se sem várias páginas, arrancadas justamente no capítulo que me interessava. A solução foi comprar pelo http://www.submarino.com.br/
Entre as figuras de pensamento, a deprecação consiste numa súplica, num pedido comovente, ou num pedido. Como exemplo de deprecação, Tavares transcreve os dois primeiros versos do soneto Duas Almas, de Alceu Wamosy. Desde 1977, quando um alcoólatra me ditou o poema num bar da Venâncio Ayres, nunca deixei de recitá-lo como um dos mais belos da literatura brasileira. 
Desde muito, igualmente, encontrar erros nos livros passou a ser um de minhas especialidades. Excluo erros (digi)ortográficos, encontradiços em toda publicação neste país tirirical. Refiro-me a equívocos mais sérios, como o cometido por Hênio Tavares em sua 12ª edição, revista e atualizada: 
"Ó! tu que vens de longe, ó tu que vens cansada,
entra, e sob este teto encontrarás abrigo"
Insignificante o fato de haver uma exclamação no primeiro "ó" e não no segundo, ou a falta de vírgula destacando o adjunto deslocado "sob este teto". Erro maior, que acaba com o soneto, ocorre na substituição da palavra "carinho" por "abrigo".
Obviamente, esse descuido não compromete o livro como um todo, (como já expressei acima) dos melhores no gênero.


domingo, 5 de dezembro de 2010

RIO, AINDA

Neste domingo, quatro articulistas do Zero Hora escrevem sobre o Rio de Janeiro: Flávio Tavares, Fernando Henrique Cardoso, Percival Puggina e Marcos Rolim (da direita à esquerda, não necessariamente nessa ordem). Na sexta-feira, um articulista do Expresso Ilustrado escreveu sobre o assunto... (volto mais tarde).

sábado, 4 de dezembro de 2010

ENCANTADOR DE IMAGENS

Do rio severino e das Gerais
ao Pampa. Aqui chegaram Cal e Euterpe.
Nejar também as cativou com a arte
que já fizera delas imortais.
.
A pena nejariana ainda verte,
no ritmo dos eólicos trigais,
metáforas de sonhos pessoais,
ordenações do que sobeja inerte.
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O "sopro-fogo" de Árvore do Mundo,
em língua portuguesa, é, certamente,
o texto figurado mais profundo.
.
Em seu ofício de cifrar mensagens,
faz-se o poeta, nejarianamente,
um oportuno "encantador de imagens". 
.
Há muitos anos, escrevi o soneto acima para um concurso, cujo tema era um poeta. Minha escolha foi Carlos Nejar. Fiquei com uma menção honrosa. 
Algumas explicações:
1) O soneto é composto por versos isossilábicos, contando 10 sílabas cada um (decassílabos). A acentuação dos versos, ora recai na 6ª sílaba, ora na 8ª, com alguma tonicidade na 2ª ou na 4ª.  O primeiro terceto, por exemplo, é heróico; o segundo, sáfico. 
2) No primeiro verso, "Do rio severino e das Gerais", faço uma alusão aos dois maiores poetas da literatura brasileira: João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade. Cal e Euterpe são, respectivamente, as musas da poesia épica e da poesia lírica. As duas foram cativadas por Nejar com a mesma intensidade. Ritmo e metáfora não faltam na poesia nejariana. "Sopro-fogo" é uma referência aos dois capítulos do livro Árvore do Mundo: o sopro da execução e fogo da consciência. Esse livro é o mais profundo de Nejar, um dos mais profundos da poesia universal de todos os tempos. Encerro o poema com outra citação de Nejar, excerto tirado de um verso do Livro de Silbion: "E tu, poeta, encantador de imagens e palavras". Acaso, há melhor definição de poeta?

TUDO COMO DANTES...

Duas manchetes são suficientes para indicar que, depois de produzida uma tempestade de imagens contra o crime organizado no Rio de Janeiro, tudo continuará como dantes no reino de abrantes:
"PRESIDENTE LULA DESCARTA PRESENÇA DO EXÉRCITO POR MUITO TEMPO NO RIO";
"TRAFICANTES TERIAM FUGIDO DO CERCO AO COMPLEXO DO ALEMÃO EM VIATURA DA POLÍCIA CIVIL".
Não há necessidade de uma leitura completa da notícia. 
Não demora, o crime volta a ocupar o Complexo do Alemão. Essa história de "polícia pacificadora" não passa de um sonho.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A PENA DO MAL

O Oracy me escreve, tecendo comentários sobre os livros lançados na 12ª Feira do Livro. Gostaria muito de aceitar o diálogo, respondê-lo com a impressão que tive dos livros que li. Mas não o faço por dois motivos: (1) magoaria certos autores que são meus amigos; (2) daria importância a outros (que produziram livros aquém de qualquer crítica). Um comentário, no entanto, é inevitável: certos escreventes  não sabem conjugar um verbo. O Oracy tem razão. 
(A propósito, quantos comentários tenho lido e ouvido sobre fulano que lançou um livro, sobre beltrano que lançou um livro... sempre com um elogio ao fulano e beltrano não pelo que escreveu, mas porque escreveu. Poucos questionam a qualidade do foi publicado, no entanto, seu autor é catapultado aos céus - inclusive com o apoio da mídia. Infelizmente, esta é a mais estranha orientação defendida por certas cabecinhas de nossa cidade: seja um escritor, escrevendo qualquer coisa. Não sabem o mal que fazem à Terra dos Poetas.)
O Ruy é outro que tem razão. 

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

AMPARO

O que há de extraordinário na leitura de um grande pensador, como Ortega y Gasset, não é tanto a ideia que posso aprender com ele sobre determinado assunto, mas o amparo para dizer aquilo que, em algum momento, já havia pensado, faltando apenas coragem para publicá-lo.
Num tempo em que o homem-massa governa soberbamente, e o discurso orientado por ele é de execração do homem-nobre, recorro a Gasset como o último referencial que me guarda as costas para defender a nobreza, o especial. 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O PODER DA IMAGEM

O poder da imagem chega a obnubilar a razão. Quando associada à palavra, então, submete o discurso ao âmbito do inconsciente: as pessoas  acreditam no que veem, leem ou ouvem (sem pensar, como idiotas). Foi privilegiado pelas imagens e dito que o objetivo da polícia era dominar o território. Condicionado pela mídia, ninguém perguntou como foi realizada essa tomada sem muitas prisões e mortes. Houve e haverá muitas prisões, centenas ou milhares delas (caso as operações continuem no Rio de Janeiro e noutros estados). A racionalidade começa a despertar: milhares de presos... Como isso será exequível se há superlotação nos presídios? O brasileiro-massa precisa acordar, tornar-se criticamente nobre. Um país não se faz com imagens. 

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A VERDADE

Se é eu que digo, meu amigo Ivan Zolin cofia sua longa barba e me replica eufórico, mas agora vazou pelo Wikileaks o que disse Nelson Jobim acerca de Hugo Chaves. Apenas a verdade, nada mais que a verdade. Para o ministro da Defesa, a Venezuela (não seria seu presidente?) causava preocupação, uma vez que poderia "exportar instabilidade". Secretamente, o governo brasileiro era sério. Num âmbito que excluía os próprios "amigos" sul-americanos. Todavia, como imagem, para bolivariano ver, Lula estava com Chaves, Evo... 
Aos poucos, a verdade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

GUERRA DE IMAGENS

O mundo midiático e, por extensão, o mundo como um todo é dirigido pelas imagens que produz, num ciclo que já não se sabe mais o que vem antes e o que vem depois (ovo-galinha). Não fossem as imagens de automóveis e ônibus sendo queimados pelos criminosos no Rio de Janeiro, dificilmente veríamos a polícia responder com maior força, produzindo contraimagens com um inegável apelo subliminar. A estratégia é de tomar o território (que coisa linda!), de preferência sem causar baixas do lado podre, para logo instalar a polícia pacificadora. Tão patéticas quanto a fuga dos bandidos são as bandeiras fincadas no alto do morro (imagens para serem exportadas de um Rio de Janeiro que faz por merecer a sede olímpica). Vila Cruzeiro e Morro do Alemão eram apenas dois pontos de comandamento do crime organizado, mas e os outros? A polícia, com o auxílio das Forças Armadas, continuará com as "invasões"? O diabinho do pessimismo me responde que, depois dessa guerra de imagens, tudo voltará ao "normal". 
(Na carona das imagens, há interesses políticos da parte dos governos estadual e federal. Jobim, por exemplo, está sendo confirmado na Defesa pela futura presidente Dilma Rousseff.)

sábado, 27 de novembro de 2010

CAPA DO ZERO HORA


Acabei de receber o Zero Hora, que traz a imagem e a manchete acima. Na Reportagem Especial (páginas 4-5), destaque para o gaúcho José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Esse é o cara. 

RIO DE JANEIRO

Em longas conversas com meu tio Raul, eu defendia a participação do Exército no combate ao tráfico, ao emprego de armas e à violência no Rio de Janeiro. Ele discordava, brizolista de cruz na testa. Morador da rua Leopoldo, a duas quadras do Morro do Andaraí, trabalhava como taxista (depois de aposentado). Para apanhar seu táxi ou guardá-lo na garagem, andávamos na linha limítrofe entre o morro e o asfalto. Ali os bandidos controlavam o trânsito, armados até os dentes. A polícia não chegava ali. 
Morei no Rio em 1984 (10 meses), em 1987 (quatro meses) e 1993 (quatro meses). Sou testemunha (mais auditiva que visual) do bang bang que ocorria em pleno dia e se intensificava à noite. Apanhava o ônibus e (mais adiante) o trem para Marechal Deodoro, onde frequentava os cursos da Escola de Material Bélico. Andava na rua acossado com o eco dos tiros que vinham do morro. Em frente à panificadora em que comprava leite, os vendedores de droga faziam ponto na parada final do 217. Noutros lugares, policiais vendiam armas para os bandidos. Eu vi. 
O primeiro assalto que presenciei no interior do Grajaú - Leblon, ao meio-dia e meia, contemplei uma pistola automática a 50 cm destes olhos que o céu há de levar. Nunca fui assaltado ao longo dos 18 meses que morei no Rio, onde andava por todos os lugares (menos dentro das favelas). 
Diante do discurso mais radical, tio Raul me contraponteava. Para ele, o morro era habitado por trabalhadores, que os grandes traficantes de armas e drogas eram magnatas do asfalto. Eu não queria aceitar que o Estado (juízes, delegados, policiais etc.) pudesse imiscuir-se no crime. Pessoas ligadas ao Brizola (e rompidas com ele) afirmaram que o candidato discursava nas "comunidades" que se eleito fosse (a primeira vez) a polícia não subiria o morro. Não acreditei, quando me disseram tal coisa.
Também fui testemunha no Rio da má fama da polícia. Os cariocas, do morro ou do asfalto, eram unânimes em execrar policiais. Os bandidos não os amedrontavam tanto quanto. Para mim, isso era o fim. Nós, do Exército, não podíamos andar fardados na rua, ao contrário do que acontece em Santiago. 
Finalmente, minha proposta de invasão ao morro, com a tropa que fosse necessária (todas as polícias, Marinha, Aeronáutica e Exército), começa a reverter o quadro que parecia inexorável. Para tomar o território, desarmar o bandido e prender todos os envolvidos com a droga, do grande traficante ao vendedor da "boca".    
Espero que a partir dessas primeiras operações, todos os brasileiros passem a acreditar na ordem, no bem (muitas vezes instituídos ou recuperados pela força). 

COMENTÁRIO DO JAYME PIVA

Meu caro Froilam: 

Começo por cumprimentá-lo. E dizer da minha redobrada satisfação vivenciada na minha recente estada em nossa querida Santiago: ser distinguido com o título de Patrono da 12a Feira do Livro e reencontrar o amigo, para ser contemplado com sua inspirada obra "Vozes e Vertentes". O livro, acabei de ler numa sentada, e sofregamente, sem pausa para respiração. Constitui a reafirmação literária de um vate de primeira grandeza, sensibilidade e romantismo à flor da pele, de esplendente criatividade , a entonar cânticos e louvores de rara beleza, aformoseando a singeleza da vida. 

Leitor assíduo das tuas inteligentes crônicas no Expresso, alinhavo aqui a minha admiração e o sincero agradecimento por essa dádiva, esses florilégios de ternura que vertem e se esparramam da tua poética. Meus parabéns. 

Jayme Camargo Piva

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

MODELO DE APRESENTAÇÃO

A Lise Fank lançou seu Poetemas em novembro de 2008, para a 11ª Feira do Livro de Santiago (que tinha a poeta como patronnesse). Escrevi a apresentação do livro, postada neste blog: Um novo enunciado na Terra dos Poetas. Basta um clique nesse link (e o visitante terá um modelo de como fazer uma análise literária).   

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A REBELIÃO DAS MASSAS

Um livro que amalgama filosofia e sociologia: A rebelião das massas. Vale por um curso inteiro. Destaco este excerto da página 48: "A característica do momento é que a alma vulgar, sabendo que é vulgar, tem a coragem de afirmar o direito da vulgaridade e o impõe em toda parte. [...] A massa faz sucumbir tudo o que é diferente, egrégio, individual, qualificado e especial"
Quanta atualidade!!!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

PESSOAS

Uma coisa boa da feira do livro foi ter dado azo ao (re)encontro entre pessoas (que, sem o evento, dificilmente aconteceria). Ainda não sou misantropo para deixar de fazer este registro, mesmo que extemporâneo aos post da feira encerrados abaixo. No meu caso, reencontrei o Jayme Piva, o Neltair Abreu, os irmãos do Santiago, o Tadeu Martins... Foi um prazer ter conhecido Leo Fett e Weimar Donini. Aquele, um senhor octogenário, de uma simpatia rara; este, assíduo interlocutor dos blogueiros santiaguenses. Homens inteligentes, de fala doce, que vieram à nossa cidade por motivo da feira e dos amigos. 
Donini, um abraço!

VERSO LIVRE

Toda segunda-feira, às 18 horas, continuo com a oficina de arte poética no Centro Cultural. No último encontro, estudamos o verso livre (o preferido da professora Arlete Cossentino). A primeira coisa que o iniciante na poesia deve saber é que o verso livre não consiste em “cortar a prosa em pedaços arbitrariamente”, como o expresso por João Cabral de Melo Neto (que não escreveu versos livres). Nesse aspecto, tenho lido muitos poemas escritos linearmente, como se prosa fosse, com a única diferença de terminar antes do final da linha. Sem qualquer observância à teoria do verso livre, como a que trata do polirritmo. Ao analisarmos dois dos maiores poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, vamos constatar que seus poemas feitos com versos livres, heterossilábicos, sem métrica e rima, recorrem a outros recursos que são observados na produção poética mais antiga (presente nos textos bíblicos, por exemplo). Entre esses recursos, Armindo Trevisan destaca o paralelismo. O paralelismo dá ritmo ao poema, substituindo o isossilabismo, pela repetição da estrutura gramatical que caracteriza o verso. Para produzir em versos livres, o iniciante na arte literária deve conhecer o ritmo. Sem exagero, ele deverá produzir um soneto. Nada supera em beleza essa forma fixa de poema, criada na Itália há mais de 700 anos, por Giacomo Notaro, cultivada por Francesco Petrarca, trazida para Portugal por Sá de Miranda, elevada à perfeição lírica por Luís de Camões e cultivada até nossos dias por grandes poetas. O soneto transcendeu a revolução modernista na pena de um Vinícius de Moraes, por exemplo. Fortunato de Oliveira, um dos participantes da nossa oficina, tem belos e inéditos sonetos. Depois de alguns acertos formais, ele os publicará certamente. Isto também é válido para os versos livres: a forma não está proscrita.  

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ÚLTIMO COMENTÁRIO SOBRE A FEIRA DO LIVRO

Era grande minha expectativa para ouvir o convidado especial da Feira do Livro. Não me importei de esperar mais uma hora em pé para ouvi-lo (atraso em razão das exigências do artista, da tietagem, das entrevistas e da falta de pontualidade que já viciou a nossa cultura). O palestrante contou historinhas da avó, da tia-avó, da namorada, do poeminha que escreveu para cada uma delas e improvisou vocalmente o som do rap que o consagrou. Não falou de livro algum (à exceção do seu), frustrando os leitores adultos que o ouviam em pé. A turminha do barranco interrompia a fala, exigindo que o palestrante se transformasse em happer. Cansado de trocar de perna, procurei algum lugar para me sentar no outro extremo da feira (onde bati um papo com o Breno Serafini). Outras pessoas deixaram o local da palestra antes da hora, também pelo adiantado da hora. 
A feira em 2010 foi superior em tudo à edição anterior, uma evolução inegável, mas perdeu no convidado: Luiz Coronel saiu-se muito muito muito melhor. Infelizmente, a qualidade deixou de ser um parâmetro para atrair o público. 

domingo, 21 de novembro de 2010

LIVROS LANÇADOS

Ontem me detive nos autores que lançaram suas obras na 12ª Feira do Livro (a partir das 19 horas):
- Mosaico Laico, de Breno Camargo Serafini;
- Descaminhos, de Fátima Friedrieczewski;
- Jura, de Tadeu Martins;
- Memórias Vivas, de Leo Petersen Fett. 
(Não comprei o livro do Santiago e do Mário Simon.)
Nessa manhã, li o três primeiros. O melhor de Mosaico Laico são as micrologias, de Deleituras, e as paráfrases de Drummondianas. Do último capítulo, Diário da Obsolescência, destaco esse título.
De Descaminhos, da Fátima, transcrevo o poeminha...
uma pipa
eleva cores
ao céu
.
- arco-íris
de papel 
.
A poetisa (com "s") lamenta os erros de diagramação do livro, por conta da gráfica. 
O romance poético do Tadeu Martins (leitor da minha coluna do Expresso Ilustrado em Santo Ângelo) é extraordinário. Os versos de Jura me lembraram o grande Manoel de Barros:
as garças plantavam jasmins no poente;
.
dizia que as sobrancelhas
e os pelos do nariz cresciam
quando ele estava de lua;
.
as labaredas negras do cabelo
inquietas pela babosa e pelo vinagre
traziam o perfume das sangas
no entardecer.
.
Até o formato do livro (com folhas soltas dentro de uma caixa, presas por uma fita) imita Memórias inventadas do "poeta do Pantanal". 
.
Daqui a pouco irei à feira outra vez, para ouvir o que Gabriel, o Pensador tem a dizer sobre  leitura. O homem está sendo bem pago para isso. 

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

LIVROS

Ontem fui à Feira do Livro (de Santiago). Vendo a estrutura que a abriga, não pude conter uma palavra de admiração: grande! A evolução é visível de uma edição a outra, inclusive pela resposta do público que, finalmente, vai à praça. Para chegar a esse estágio de organização, diga-se de passagem, foram necessárias as edições anteriores (desde a simples exposição de livros sobre a calçada). O professor Noé Oliveira que o diga.
Minha primeira ida à feira, rendeu-me seis livros:
- Diferença e Negação na Poesia de Fernando Pessoa, de José Gil;
- Miguel Pampa, de Carlos Nejar;
- Coleção Fortuna Crítica - Carlos Drummond de Andrade, de Sônia Brayner;
- Os melhores contos de Autran Dourado, seleção de João Luiz Lafetá;
- Noite, de Erico Veríssimo;
- Os seios de Joana, de Jayme Camargo Piva. 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

CONFISSÃO DE UM BIBLIÓFILO

Livro é meu chão, meu céu, meu sonho (de consumo). Com ele amanheço, viajo e adormeço. Com ele meço o prazer e a dor do ser. Por ele corro mundo, faço tudo, vou a fundo. Por ele abro mão do sono e da televisão. Na contramão de muita gente, sou apenas leitor (como Borges, que se orgulhava das páginas que havia lido). Livro é meu beabá, onde aprendo a ler todo dia. Livro é meu abc (de saber e poesia). De Zezé a Zaratustra, livro é meu pé de laranja lima, meu assim falava quê. Por ele esperava ansiosamente a volta do pai que fora comprá-lo na cidade. Por ele espero com a mesma ansiedade a chegada do correio. Com ele o tempo passo (mais que passatempo). Com ele acerto o passo na marcha do conhecimento. Livro é meu guia, minha luz e minha via. Com ele percebo estrelas, flores e pássaros (fora da galáxia e da estação). Com ele curto a liberdade de seguir ou não seguir a linha entre palavras, entrelinhas. Por ele abro picadas no escuro, com os olhos da imagin(ação). Por ele procuro o coração preclaro. Livro é meu tesouro (sempre encontrado à base do arco-íris, em algum lugar deste quarto de leitura). Minha água, meu alimento, meu fogo. Por ele vale a pena ter a alma com sede, fome e frio, condições para o imediato regozijo. Livro é minha razão, meu advogado, meu professor. Com ele defendo qualquer argumento contra a ignorância. Livro é meu hipertexto anterior ao wwwpontocom (com suas citações, notas de rodapé, bibliografia, índice onomástico etc.). Com ele mantenho uma relação de bibliofilia desde a primeira vez que o vi, que o li a primeira vez. Por ele vou à 12ª Feira do Livro de Santiago. 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

UM EXERCÍCIO DE VIRTUOSE ROSEANA

Carta de Guimarães Rosa a Jorge Cabral:
Cônsul Caro Colega Cabral, - 
Compareço, confirmando chegada cordial carta. Contestando, concordo, contente, com cambiamento comunicações conjunto colegas, conforme citada  Consolidação Confraria Camaradagem Consular. Conte comigo! Comprometo-me cumprir cabalmente, cabralmente, condições compendiadas cláusulas contexto clássico código. (Contristado, cumpre-me cá conjeturar - cochichando, como convém -: conseguirá comezinha  Consolidação coligar cordialmente conjunto colegas?... Crês?... Crédulo!... Considera: ... "cobra come cobra!..." Coletividade de cônsules compatrícios contém, corroendo carne, contubérnios cubiçosos, clãs, críticos, camarilhas colitigantes... Contrastando, contam-se, claro corretos corretos contratipos, capazes, camaradas completos.) Concluindo: contentamo-nos com correspondermo-nos, caro Cabral, como coirmãos compreensivos, colaborando com companheiros camaradas, combatendo corja contumaz!...
Contudo, com comedida cólera, coloco-me contra certos conceitos contidos carta caro colega, cujas conclusões, crassamente cominatórias, combato, classificando-as como corolários cavilosos, causados conturbação critério, comparável consequências copioso congestão cerebral. Caso concordes cancelá-los, confraternizaremos completamente, com compreensão calorosa, cuja comemoração celebrarei consumindo cinco chopes (cerveja composta, contendo coisas capciosas: corantes complicados, copiando cevada, causando cólicas cruéis...)
Céus! Convém cobrar compostura. Censo contumélias, começando contar coisas cabíveis, crônicas contemporâneas:
Como comprovo, continuo coexistindo concerto conviventes coevos, contradizendo crença conterrâneos cariocas, certamente contando com completa combustão, cremação, calcinação corpos cônsules caipiras cisatlânticos...
Calma completa? Contrário! Cesado crepúsculo, céu continuamente crepitante. Covergem cimo curvos clarões catanuvens, cobrindo campinas celestes, crivadas constelações. Convidados comparecem, como corujas corajosas, contra cidade camuflada. Coruscam céleres coriscos coloridos. Côncavo celeste converte-se cintilante caverna caótica, como casa comadre camarada. Crebro, cavernoso, colérico, clama colossal canhoneio. Canhões cospem cometas com causa carmesim. Caem coisas cilindro-cônicas, calibrosas, compactas, com carga centrífuga, conteúdo capaz converter casas cascalho, corpos compota, crânios canjica. Cavam-se ciclópicas crateras (cultura couve-colosso...). Cacos cápsulas contra-aéreas completam carnificina. Correndo, (canta, canta, calcanhar...) conjurando Churchill, conjeturando Coventry, campeio competente cobertura, convidativo cantinho. Caso-me com chão, cautelosamente. Credo! (Como conseguir colocar-me chão carioca - Confeitaria Colombo, CC., Copacabana, Catumbi???...) Cubiço, como creme capitoso, consulados Calcutá, Cobija!... Calma, calma! conseguiremos conservar carcaças.
Contestando, comunico cá conseguimos comboiar cobre captado (colheita consular comum), creditando-o cofres consignatário competente. Calculo consegui-lo-ás, contando caves corajosamente.
Conforme contas, consideras cós curto como cômoda conjuntura, configuradora cinematográficos contornos carnes cobiçáveis. Curioso! Caso curtificação continue, conseguiremos conhecer coxas, calças?... Cáspite!
Continuarei contando. Com comoção consentânea com cogitações contemporãneas, costumo compor canções. Convém conheças:
CANTADA
Caso contigo, Carmela,
caso cumpras condição
Cobrarei casa, comida, 
cama, cavalo, canção,
carinho, cobres, cachaça,
carnaval camaradão,
cassino (com conta certa)
cerveja, coleira e cão,
chevrolé cinco cilindros,
canja e consideração,
calista, cabeleireiro,
cinema, calefação, 
chá, café, confeitaria,
chocolate, chimarrão,
casemira - cinco cortes,
cada compra - comissão,
conforto, comodidades,
cachimbo, calma,... caixão.
.
Convém-te, cara Carmela?
Cherubim! ... Consolação!...
.
(Caso contrário, cabaças!,
casarei com Conceição.)
.
Caso contigo, Carmela,
correndo, com coração!...
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Chega. Caceteei? Consola-te: Concluí.
Com cordial, comovido:
Colega, constante camarada,
a) J.Guimarães Rosa
(Cônsul, Capitão, Clínico conceituado.) - 
Confirme chegada carta,
comunicando-me com cartão.
.
(Publicado na Folha de S. Paulo em 30 de agosto de 1987. A página desse jornal foi zelosamente guardada em meio a um livro do próprio GR pelo Dr. Valdir Pinto.)

domingo, 14 de novembro de 2010

COMENTÁRIOS ESPECÍFICOS

Lendo uma biografia de Anton Tchekhov, um dos maiores contistas universais, fiquei sabendo que, décadas antes da Revolução Russa de 1917, já existia campo de trabalhos forçados na Sibéria. Uma crítica apenas ao governo imperial bastava para justificar a condenação ao "inferno gelado". O gulag, criado pelos socialistas, aproveitou-se de uma estrutura preexistente (para onde foram mandados seus antigos "gerenciadores", ligados aos czares).
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Nesta manhã, li o conto A assassinato, de Tchekhov. Nesse conto, o autor desenvolve a técnica de alongar a narrativa depois de seu aparente desfecho (o assassinato do personagem principal, no caso). É como se Machado de Assis fosse além da morte de Camilo (provocada por Vilela) em A cartomante (sem diminuir o impacto desse ápice). 
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Com relação a esse gênero literário (o conto), cito três outros gigantes da literatura mais próxima de nós: João Guimarães Rosa, Jorge Luis Borges e Julio Cortázar. Se tivesse que escolher um entre os autores acima, considerando-o apenas como contista, na minha biblioteca não faltaria Cortázar. 
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A propósito, Cortázar, ao lado de Clarice Lispector, constitui uma das maiores influências de Caio Fernando Abreu. No livro O ovo apunhalado, o contista nascido em Santiago cita o argentino em epígrafe. 
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Um dos contos de Cortázar que não me sai da cabeça, depois de três ou quatro leituras, encontra-se no livro Todos os fogos O fogo: A saúde dos doentes

sábado, 13 de novembro de 2010

UMA EXPERIÊNCIA

Toda experiência é única, considerando-se o tempo em que ela ocorre. Como o tempo determina o espaço (e vice-versa), o lugar do que é experienciado nunca se repete (coisa que já se sabe há 25 séculos, desde Heráclito). O sujeito, por que muda a cada experiência, já não é o mesmo na próxima.
Escrevo isso (a título de introdução) para o registro de mais uma experiência vivida: participar do programa Expresso no Ar na Central FM. O Expresso começou no papel, como mídia impressa; ampliou-se no âmbito eletrônico, como hipertexto; e agora é debatido no rádio. Jornalismo 3.0. 
No início do programa, duas perguntas difíceis me fizeram titubear: 
- não adotar uma criança negra é racismo; e
- você acredita no destino.
A explicação da Sandra Siqueira de que não é racismo fechou a questão com chave de ouro. Destino existe como pseudoexplicação do acaso que não sabemos racionalizar. 
Depois minhas participações fluíram com naturalidade. 
Na segunda parte, tivemos a companhia do prefeito Júlio Ruivo, meu colega de aula nos anos de 1973-74. Ele falou do grande projeto que é a inclusão de Santiago como cidade educadora.  A décima quarta no Brasil. 
A experiência de ter participado de um debate diante dos microfones de uma rádio ficará retida para sempre em minha memória. Agradeço ao João Lemes pelo convite.

LIVROS

O caderno Cultura (ZH) deste sábado publica uma reportagem com os concorrentes ao Fato Literário 2010. A cada um foram feitas três perguntas:
1) primeiro livro que você leu;
2) livro que mudou sua vida; e
3) livro que sempre relê.
Os três escritores perguntados são Lya Luft, Aldyr Garcia Schlee e Kathrin Rosenfield.
Lya Luft:
1) contos de fada dos irmãos Grimm;
2) Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, e O continente, Erico Veríssimo;
3) os poemas (em alemão) de Rainer Maria Rilke.
Aldyr Garcia Schlee:
1) Ilíada (em espanhol), de Homero;
2) A educação sentimental, de Gustave Flaubert;
3) Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.
Kathrin Rosenfield:
1) O casamento dos pássaros (autor não informado);
2) Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa;
3) O homem sem qualidades, de Robert Musil. 
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Insiro-me nesse questionário:
1) Meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos;
2) Assim falava Zaratustra, de F. Nietzsche;
3) todos os de Carlos Nejar.