quarta-feira, 23 de setembro de 2009

PROTESTO FUNDADOR

Em Porto Alegre, pensei em ir ao Olímpico para ver Grêmio e Fluminense. Desisti no último momento, ao saber que o preço do ingresso mais barato era de 40 reais. (No início dos anos oitenta, o valor da arquibancada custava o equivalente a 10 reais, mais ou menos.) Mesmo dispondo do dinheiro, resolvi protestar não indo ao estádio.
Com os 40 reais, adquiri o livro A cabana, de William P. Young, e duas garrafas de vinho.
A propósito, ontem passei pelo mercado da Tritícola e simulei uma compra no valor do ingresso. Eis a relação: 05 kg de arroz (tipo 1); 05 kg de açúcar; 01 l de óleo comestível; 01 kg de farinha de trigo; 01 kg de feijão; 01 kg de sal; 01 kg de erva-mate; 01 cx de leite; 01 kg de banana; 01 kg de tomate; 01 kg de cebola; 02 l de coca-cola; e 01 kg de massa.
O que acontece? Ou o alimento está barato, ou o ingresso a um jogo de futebol está muito caro?
O povo necessita de pão e circo, já satirizava um poeta romano do primeiro século. Hoje o sabem os espertalhões. Pelo preço baixo, o pão é transformado no “carro-chefe” de políticos, principalmente dos que tiram proveito da popularidade para se reelegerem. Pelo preço alto, o circo é transformado na “galinha-dos-ovos-de-ouro” de cartolas e empresários.
Mesmo que o povo continue necessitando de pão e circo (desde a Roma de Juvenal), explorado ele não será para sempre. Um dia, aprenderá a multiplicar 40 vezes 4, por exemplo. Para assistir quatro jogos de seu time, a maioria dos torcedores terá de destinar 160 reais de seu salário mensal. Quando tal ocorrer, haverá protestos conscientes (contrários aos apelos da paixão). O povo não irá aos estádios. Os clubes sofrerão falência (à maneira do vendedor de banana que prefere vê-la apodrecendo a baixar o preço).
Meu protesto, todavia, não será lembrado como fundador.

Um comentário:

Fátima Moraes disse...

Olá Froilam td bem?
Fez boa escolha quanto ao livro, li duas vezes e gostei muito. Um abraço.
Fátima