quinta-feira, 20 de agosto de 2009

DIÁLOGO COM REIFFER

A postagem abaixo suscitou um comentário do poeta e contista Alessandro Reiffer, que penso ser oportuno transcrevê-lo:
Froilam, concordo contigo, e não há como não concordar, que por melhor que seja a tradução sempre se perderá uma parcela significativa da poesia, principalmente do "como disse", como tu mesmo afirmaste. Porém, discordo que poesia não deva ser traduzida, porque sempre se mantém algo importante da poesia original quando a tradução é bem feita. Além do mais, a tradução da poesia é fundamental para a difusão desta, imagina como seria se ninguém traduzisse as obras máximas da poesia universal para outras línguas. O mundo já restrito da poesia seria ainda menor, pois sabemos que grande parte da população não tem condições de aprender outro idioma. Li várias traduções do "Fausto" de Goethe, a alma é a mesma em todas elas, a essência está ali, e não só a essência, mas também uma boa parte da beleza e da emoção originais. Claro que o ideal seria ler no original, mas desprezar a tradução me parece um desperdício.Eu também não sei francês, mas já li várias traduções de "As Flores do Mal" e outras obras de Baudelaire, bem como de vários outros poetas franceses e alemães (também não sei alemão) e comparando as traduções, não vejo tanta diferença de uma para outra, o que significa que muita coisa do original é mantida. E vale a pena ler sim essas traduções. Nem que seja apenas para assimilarmos a ideia, o pensamento, o sentimento do autor por vias indiretas. Não há tanta diferença assim. Como exemplo, cito os poemas de Poe. Já os li no original em inglês e na tradução e garanto que quando a tradução é bem feita, o pensamento e o sentimento do autor são realmente mantidos, percebemos que ali está a alma de Poe, ainda que se perca em ritmo e em efeito. Apenas penso que o tradutor deve ser sempre também poeta, assim terá a sensibilidade necessária para manter o que é fundamental.
Por e-mail, prossegui com o diálogo:
Muitos críticos também chegaram à conclusão de que a poesia deva ser traduzida (pelos mesmos motivos que citaste). Principalmente o da condição de ser poeta o tradutor. Manuel Bandeira concordava que não se traduzisse, mas foi o que mais traduziu. O conteúdo não se perde (o discurso poético) com a tradução. Radicalizei na postagem que fiz no meu blog, indignado com o fato de não saber a língua original do poeta (francês, alemão, russo...). No aspecto formal (a língua não escapa disso, somada aos elementos citados na postagem) é que vejo a impossibilidade da tradução. Como traduzir os nossos concretistas, por exemplo, para outro idioma? Aquém desses, um Leminski...
Ainda que produzindo em gêneros diversos, tu já superaste a tendência por que todos passamos, sempre prejudicial à poesia, de transformar o poético em prosaico, o sincrônico em diacrônico... Os mais novos precisam evoluir nesse aspecto. Cabe a nós orientá-los. Esse nosso debate, sobre a tradução ou não da poesia, poderá ser ampliado, envolvendo outros poetas (voluntários, que queiram participar desta conversa bem-intencionada).

Antes de continuar, no entanto, ratifico minha opinião sobre a intraduzibilidade da poesia quanto à sua estrutura formal apenas. Numa próxima postagem, esboçarei uma justificativa, esmiuçando as questões do ritmo, da métrica, da rima, da sonoridade, da estrutura sintática etc.

Um comentário:

Al Reiffer disse...

Grato pela postagem de meu comentário. É sempre bom constatar que a literatura é uma arte tão rica que suscita inúmeros motivos para discussão, no bom sentido de uma discussão. Aguardo tuas postagens futuras sobre o assunto.