quinta-feira, 21 de maio de 2009

UMA NOVA BABEL

Todos conhecem a mítica Babel, narrada no primeiro livro da Bíblia (Gênesis 11:1-9). O povo descendente de Noé se fixou no Vale do Sinar e ali intentaram edificar uma cidade e uma torre tão alta que seu cume alcançasse o céu. A tamanha ousadia visava criar uma referência, um nome que unisse o povo, impedindo-o de se espalhar sobre a Terra. Por querer negar a ordem divina em sentido contrário, desceu o Senhor e confundiu a língua daquela gente reincidente no pecado. Divididos linguisticamente, os homens se dispersaram pelo mundo afora.
Esse mito, criado para justificar a origem das diferentes línguas, constitui apenas o viés da cultura judaico-cristã, fundada num teocentrismo imanente. Outras culturas, mais ou menos espiritualizadas, contam outras histórias para a mesma justificativa. Babel, no entanto, melhor se encaixa como alegoria fundadora da grande confusão discursiva que se instaura nos tempos (pós)modernos. Uma nova torre foi elevada aos céus: a Internet. Agora sem o impedimento de um deus pessoal.
Entre as principais características que essa torre apresenta, destaca-se a ubiquidade, que é a propriedade de estar ao mesmo tempo em toda parte. Sua base não se alicerça num vale, numa montanha, nalgum lugar específico, mas em volta do planeta, em cada um dos computadores conectados à grande rede. A torre é a rede. Dentro dessa estrutura virtual, ocorre um fenômeno inverso ao da dispersão, uma vez que as línguas se aproximam e, com as ferramentas já existentes, podem ser reduzidas à unidade. Isso significa o retorno à língua única, antes de Babel, não a solução de um novo problema, de um problema maior que o ocorrido com a dispersão. A língua é instrumento com que se faz o discurso, e o discurso, ou melhor, os discursos, principalmente por sua diversidade, criam uma nova algaravia, uma nova confusão.
(Hoje comecei a escrever esse artigo, que o suspendo para fazer uma busca num site sério, científico. Duvido que o encontre com facilidade - os blogs aparecerão nas primeiras páginas.)
Leiam o que disse o presidente do Google, Eric Schmidt, para seis mil graduandos na Universidade da Pennsylvania: "Desliguem os seus computadores". Durmam com um discurso desse!

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