sábado, 30 de maio de 2009

MUNDO CRUEL


Basta a capa do Zero Hora de hoje para nos exigir algumas reflexões, enquanto nada fazemos para melhorar o mundo (a começar por nós mesmos). Três manchetes dão conta de grandes problemas brasileiros: mortes no trânsito, avanço da droga e superlotação nos presídios. Com a vigência do novo CTB, janeiro de 1998, havia uma expectativa de mudança, alentada pelos primeiros resultados na prática. Nos últimos anos, no entanto, as chamadas "tragédias" vem ocorrendo com mais frequência. Numa sociedade altamente consumista, em que o maior número de automóveis é associado a um aumento de felicidade, as mortes e sequelas causadas por acidente devem ser consideradas como fatores que negam esse estado ideal. Infelizmente, apenas as famílias enlutadas com a perda de um membro hão de compreender a profundidade dessa verdade que emerge da desgraça. As pessoas necessitam andar mais devagar, dentro de um automóvel ou fora dele, em busca da tal felicidade. Apesar dos pesares, penso que elas descobrirão isso futuramente. Nas palavras de Jorge Mello, há uma felicidade nas coisas simples, como andar a pé, por exemplo. Quanto às drogas, sou pessimista até a raiz dos cabelos (que me arrepiam ao saber que o crack invade nossa pequena Terra dos Poetas, para causar os piores danos à sociedade). O ZH publica nas páginas 4 e 5 uma ampla matéria sobre o assunto. O "tripé para derrotar a pedra" é formado pela prevenção, pela repressão e pelo tratamento. Em Santiago, bastaria os dois primeiros. O tratamento é prova incontestável do fracasso dos pais, da escola, dos poderes constituídos, da mídia, seja lá de quem for a responsabilidade por prevenir e reprimir. O resultado é mais violência e morte. Traficantes matam quem se interpõe em seus caminhos para vender, drogados morrem de tanto consumir. Uns são encarcerados como criminosos, e outros, perdoados como dependentes. Agora os presídios não comportam mais gente. Muitos (ex-)cidadãos perderão a vaga de "graduação superior" em suas especialidades criminosas. Uma visão absurda do futuro: nossas casas serão presídios particulares, dentro das quais nos protegeremos do mundo cruel que já se vislumbra do lado de fora.

XVI ENCONTRO DA FAMÍLIA MACHADO

A grande família Machado se encontra nesta noite, numa festa que se repete a dezesseis anos. O local será no CTG Os Tropeiros, para onde nos levará a sanguínea identidade. Não bastasse o apelo fraternal, haverá carne assada e dança, aspectos culturais que identificam os Machado. Oriundos da Ilha da Madeira, os imigrantes portugueses se espalharam Brasil afora, cuja árvore genealógica é impossível de ser elaborada. O galho a que pertenço parte de Zeferino José Machado, irmão de Manoel e Avelino.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

EXPRESSO ILUSTRADO

A principal manchete de capa chama a atenção por dois motivos: salvo melhor juízo, é a primeira vez que o crack vira notícia em Santiago; à palavra CRACK foi dado o efeito PowerClip, do CorelDraw, em que a imagem da droga é colocada dentro do texto. Dez para esse trabalho semiótico. Zero para a chegada dessas pedras assassinas.
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Dezesseis anos de Expresso, dezesseis anos de coluna Acontece... Parabéns ao jornal! Parabéns a Sandra Siqueira, mulher inteligente, competentíssima!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

GENTE DA GENTE

A Guerra do Paraguai chegara ao seu desfecho, com a vitória da Tríplice Aliança. Pelo Brasil, fora decisiva a participação do Batalhão Voluntários da Pátria, do qual faziam parte três jovens gaúchos: Manoel, Zeferino e Avelino. Ao retornar para o Rio Grande do Sul, os irmãos Machado resolveram comprar mulas em comissão, chegando a Boa Vista dos Flores, mais tarde Vila Flores, atual Florida. A habilidade no manejo das armas, demonstrada nas batalhas, logo foi substituída pelo tino nos negócios. A saudade do pago logo foi minimizada por um amor. Manoel desposou Deolinda Flores, e Zeferino, Deolinda Pereira. Avelino voltou para sua terra, onde se casou, teve filhos e foi assassinado pelos pica-paus na Revolução de 1893. Zeferino José Machado e Deolinda Pereira geraram: Laurindo, Leopoldino, Firmino, João José, Benevenuto e Leonor. João José, nascido em 1978, casou com Brasidina de Oliveira, gerando Fermino, Arcelina (Lolica), Doraides (Bibia), Acidino (Tavo), Dária, Euclides, Boaventura (Nenê), Deolinda, Nair (Ana) e Menaides. Fermino Machado de Oliveira (no lugar de Oliveira Machado), nascido em 1900, contraiu núpcias com Francelina Franco Soares. Desse primeiro casamento, nasceram Celanira, Mário, Idelmira, Aladi, Idílio, Átilo (Vatinho) e Leci. Do segundo casamento, com Dorilda Meireles Flores: Deolinda, Nélson, Ondina, João Carlos, Neiva, Suzana, José Maria, Polidoro, Dalva, Paulo, Maria, Tavânia e Guilherme. Vatinho casou com Dalva Colpo Fiorenza, unindo o campo à serra, o brasileiro ao italiano. O casal gerou este blogueiro, Maria, Tânia, Marcos e Cláudio. Ainda que não assinemos Machado, trazemo-lo na constituição genética. Por isso, iremos à festa amanhã. Ninguém mais do que a gente da gente gosta de comer carne assada e dançar nos bailes. Felizmente, hoje não há guerras para pelearmos (como fizeram nossos ascendentes).
(Texto para a coluna do Expresso Ilustrado desta sexta-feira.)

EXCELENTE PARA A FILOSOFIA

Sócrates, por maior que nos pintou Platão ou Xenofonte, não conseguiu se livrar da influência que o relativismo pessoal. Uma frase espirituosa dirigida aos jovens atenienses, denuncia sua condição humanamente trágica.
Em todo o caso, casai-vos. Se vos couber em sorte uma boa esposa, sereis felizes; se vos calhar uma má, tornar-vos-eis filósofos, o que é excelente para os homens.
Xantipa era uma mulher muito ranzinza. Certamente, tinha lá suas razões, por aguentar um marido feiíssimo, paupérrimo, que vivia nas ágoras a empulhar seus concidadãos com perguntas ardilosas. Mal o homem surgia à soleira de seu casebre, depois de uma manhã fora, ela o atacava com aquele discurso que acabaria lhe dando a fama histórica. A saída honrada para quem já participara de batalha, inclusive com ato de heroísmo, consistia em sair de casa outra vez. Para o bem da Filosofia.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

A LIÇÃO DE UM BUDISTA

Durante uma oficina, realizada na segunda-feira, Jorge Mello fez o desenho de um cubo

e pergunta a cada um dos participantes o que via. A resposta mais vezes repetida foi a de que o desenho representava um cubo. Mal havia o monge passado por mim, lembrei de uma anedota envolvendo o grande pintor Henri Matisse e me dei conta da verdadeira resposta. Uma senhora, ao observar demoradamente uma das telas de Matisse, faz o seguinte comentário: "Nunca vi uma mulher com a barriga verde". O pintor, que se encontrava às suas costas, dentro da sala de exposição, retorquiu-lhe de imediato: "Isso não é uma mulher, mas uma pintura". Obviamente, sem os nossos pré-conceitos, o desenho mostrado pelo Jorge não passava de riscos de tinta sobre uma folha de papel. Com ideias prontas, deixamos de perceber o que é uma coisa, uma coisa simples. A propósito, ele nos perguntou também qual era o contrário de "simples". Dessa vez, não me precipitei, respondendo que era "complexo".

sexta-feira, 22 de maio de 2009

CUIDANDO DE QUEM EDUCA

O lançamento de um livro em Santiago, para mim, é sempre um acontecimento. Independentemente da tipologia e dos gêneros textuais que o caracterizam, todo livro propicia um salto qualitativo na cultura (com o significado de valor intelectual, produzido por indivíduos que fazem a diferença dentro de um contexto social).
Esta noite, a educadora Cida Azzolin lançou seu Cuidando de quem educa, cujo subtítulo é Abordagem teórico-crítica sobre a Síndrome de Burnout em professores. O salão da Galeria de Escritores do Centro Cultural ficou lotado. A despeito de sua importância, o evento foi marcado pela afetividade, principalmente por dois motivos: o livro e a pessoa de quem o escreveu. Cuidando de quem educa traz uma mensagem de otimismo aos profissionais da educação, como remédio para evitar essa síndrome. A Cida (contrariando a cacofonia) é uma pessoa doce, traço psicológico muito raro nestes dias.

FESTIVAL DE BALÕES


Antes de chegar a Santa Maria, nesta sexta-feira, avistei enormes balões. (Só mais tarde saberia que se tratava de um festival de balonismo.) No Rio Grande do Sul, essa é a primeira vez que vejo tal espetáculo flutuante, cujo efeito pictórico é impossível não chamar a atenção. Hoje os santa-marienses foram contemplados com os balões. Assisti de camarote, na condição de visitante acidental.
A foto acima é meramente ilustrativa.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

UMA NOVA BABEL

Todos conhecem a mítica Babel, narrada no primeiro livro da Bíblia (Gênesis 11:1-9). O povo descendente de Noé se fixou no Vale do Sinar e ali intentaram edificar uma cidade e uma torre tão alta que seu cume alcançasse o céu. A tamanha ousadia visava criar uma referência, um nome que unisse o povo, impedindo-o de se espalhar sobre a Terra. Por querer negar a ordem divina em sentido contrário, desceu o Senhor e confundiu a língua daquela gente reincidente no pecado. Divididos linguisticamente, os homens se dispersaram pelo mundo afora.
Esse mito, criado para justificar a origem das diferentes línguas, constitui apenas o viés da cultura judaico-cristã, fundada num teocentrismo imanente. Outras culturas, mais ou menos espiritualizadas, contam outras histórias para a mesma justificativa. Babel, no entanto, melhor se encaixa como alegoria fundadora da grande confusão discursiva que se instaura nos tempos (pós)modernos. Uma nova torre foi elevada aos céus: a Internet. Agora sem o impedimento de um deus pessoal.
Entre as principais características que essa torre apresenta, destaca-se a ubiquidade, que é a propriedade de estar ao mesmo tempo em toda parte. Sua base não se alicerça num vale, numa montanha, nalgum lugar específico, mas em volta do planeta, em cada um dos computadores conectados à grande rede. A torre é a rede. Dentro dessa estrutura virtual, ocorre um fenômeno inverso ao da dispersão, uma vez que as línguas se aproximam e, com as ferramentas já existentes, podem ser reduzidas à unidade. Isso significa o retorno à língua única, antes de Babel, não a solução de um novo problema, de um problema maior que o ocorrido com a dispersão. A língua é instrumento com que se faz o discurso, e o discurso, ou melhor, os discursos, principalmente por sua diversidade, criam uma nova algaravia, uma nova confusão.
(Hoje comecei a escrever esse artigo, que o suspendo para fazer uma busca num site sério, científico. Duvido que o encontre com facilidade - os blogs aparecerão nas primeiras páginas.)
Leiam o que disse o presidente do Google, Eric Schmidt, para seis mil graduandos na Universidade da Pennsylvania: "Desliguem os seus computadores". Durmam com um discurso desse!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

LAS CUARENTA

Em sua coluna desta quarta-feira, Paulo Santana transcreve Las cuarenta, do poeta argentino FROILAN FRANCISCO GORRINDO. Escreve o jornalista: "Duvido que haja poema urbano mais lindo na língua espanhola que este que publico hoje". Gorrindo nasceu na localidade de Quilmes, sul da província de Buenos Aires, no ano de 1908, e faleceu em 1963. O poema Las cuarenta, que transcrevo abaixo, para ser mais exato na informação, constitui a letra de um tango.
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Con el pucho de la vida
apretado entre los labios,
la mirada turba y fría,
un poco lento el andar,
dobló la esquina del barrio
turba ya de recuerdos,
como volcando un veneno,
este se le oyó cantar.
.
Vieja calle de mi barrio
donde he dado el primer paso,
cuando mas gastado el mazo
es inútil barajar
con una llaga en el pecho,
con mi sueño hecho pedazos,
que se rompió en un abrazo
que me diera la verdad.
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Aprendí todo lo malo,
aprendí todo lo bueno,
sé del beso que se compra,
se del beso que se da,
del amigo que es amigo,
siempre y cuando le convenga.
Y sé que con mucha plata
uno vale mucho más.
.
Yo aprendí que en esta vida
hay que llorar si otros lloran
y si la murga se ríe
uno se debe reír;
no pensar ni equivocado,
para qué, si igual se vive...
además, corre el riesgo
de que te bauticen vil.
.
La vez que quise ser bueno
en la cara se me rieron,
cuando grité una injusticia
la fuerza me hizo callar;
la esperanza fue mi amante,
el desengaño mi amigo...
Cada carta tiene contra
y cada contra se da.
.
Hoy no creo ni en mí mismo,
todo es truco, todo es falso,
y aquel, el que está más alto
es igual a los demás...
Por eso no ha de extrañarte
si alguna noche borracho,
me vieras pasar del brazo
con quien no debo pasar.
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Meu outro xará argentino é José Froilan González, vice-campeão de Fórmula-1 no ano de 1954, correndo com uma Ferrari.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

PAISAGEM


a luz do outono é refletida nos andaimes da manhã onde se eleva a abóbada azul e tinge as folhas com tons pastéis que se precipitam ao mínimo toque da brisa para cobrir as alamedas ainda não ocupadas pelos transeuntes que se prestam para espantar os pássaros e quebrar a harmonia natural apenas percebida por uns olhos campeadores que alcançam muito além de um ponto de fuga apenas imaginado...

sábado, 16 de maio de 2009

LISE FANK NO ZH


De tempo em tempo, poetas santiaguenses são editados por Olyr Zavaschi em sua página Almanaque Gaúcho do Zero Hora. Neste sábado, outro poema da Lise Fank:

Questão de ponto de vista

....As penas do pássaro
são plumas que abrigam.
....As penas do homem
..........são, apenas,
..................dó.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

BELO CLIMA!

Neste meio mês de maio, vivemos um quadro climático interessante, com três momento completamente diferentes. O Sol ainda queimava há poucos dias, crestando os pastos como se fosse verão. A seca castigava nosso Estado. Veio a chuva tão esperada esta semana, não o suficiente para alimentar vertentes, encher poços, açudes, barragens, sangas e rios. Ontem o frio deu as caras, exigindo-nos roupas de lã pela primeira vez em 2009. Há 40/ 50 anos, essa tamanha variação ocorria ao longo de estações bem definidas. Águas de março, geadas de abril e veranico de maio são coisas do passado.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

ROMÂNTICO


o vento

é diapasão

para as notas

do meu canto

...

em tom menor

quarta-feira, 13 de maio de 2009

FUTURO MUSEU

Alguns objetos em uso atualmente deveriam compor um museu no futuro, onde as pessoas, dotadas de uma consciência mais evoluída, admirassem, com certo espanto, o esforço de seus antepassados para sobreviverem a uma era de absurdos. A humanidade fora salva nos últimos momentos, antes que as profecias apocalípticas se realizassem e que as previsões científicas (esboçadas no século XXI) se confirmassem como procedentes.
Na entrada do museu, os visitantes veriam um automóvel movido a combustível derivado do petróleo. Ao lado, uma amostra dessa matéria-prima. Numa das salas, expor-se-ia os seguintes objetos: fogão, caldeira, estufa, lareira, forno... tudo que consumisse madeira ou carvão para seu funcionamento. Em lugar de destaque, machado, motosserra, máquina florestal... Noutra sala: rede de pesca, matadouro, açougue, gaiola (de zoo, circo...), casaco de pele, calçado de couro... Numa terceira sala, as armas: espingarda, revólver, pistola, fuzil, metralhadora, canhão, míssil, amostras de gases letais...
Uma infinidade de outras coisas ou até mesmo tipos humanos (representados em estátuas de cera) seriam expostos nesse museu. Solicito aos caros visitantes deste blog que o enriqueçam com outras sugestões, acrescentando objetos no espaço das reticências. Aqui relacionei objetos que têm a ver com os crimes contra o meio ambiente (ar, flora e fauna) e contra pessoas.
As obras de arte do nosso tempo também teriam uma sala especial. De certa forma, elas expressam o absurdo. O monge budista Jorge Mello, por exemplo, colocaria uma sala de aula nesse museu hipotético. E você? Comente abaixo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

UM INSTANTE A ETERNIDADE (NÃO NECESSARIAMENTE NESSA ORDEM)

O homem não consegue ir além de suas próprias medidas. Ele toma sua fugaz existência e a recente existência da espécie a que pertence como referenciais absolutos. Encanta-se ao descobrir, por exemplo, que a quantidade de oxigênio na atmosfera é de 21%. Não lhe ocorre de perguntar se sempre foi essa percentagem. Basta o fenômeno presente para caracterizar uma "eternidade". O preconceito antropocêntrico, que Francis Bacon tipificou como pertencente aos ídolos da tribo, dilata o tempo e o espaço em que ele, homem, ator principal, representa no teatro da vida. Há mais de 4 bilhões de anos a Terra gira em torno do Sol, tempo suficiente para transformar toda a história humana num mero instante. A atual percentagem de oxigênio constitui um dos fatores circunstanciais que propiciaram um ambiente adequando a muitas espécies, principalmente da classe dos mamíferos. No perído Carbonífero, a percentagem de oxigênio chegou a 30%. Entre o Permiano e o Triássico, caiu para 12%. Sabem quanto tempo durou o Carbonífero? Aproximadamente 60 milhões de anos (entre 359 milhões e 299 milhões de anos atrás). Os outros dois períodos somam mais de 100 milhões de anos. O homo sapiens sapiens, como somos atualmente, existe há apenas 40 mil anos. Com a capacidade de descobrir o oxigênio, há dois séculos. No entanto, esse animal inteligente, que o sofista Protágoras atribuiu como medida de todas as coisas, associa os 21% ao Design inteligente, à existência de um deus que estaria controlando quimicamente o planeta, para que aqui surgisse a quintessência da biodiversidade: o próprio (homem).
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A postagem acima nasceu de uma conversa que tive hoje com meus colegas.

PALAVRA

palavra
esconde
uma nota
de milonga
(em tom
..........menor)
esconde
ouro diamante
esconde
um deus
uma gaivota
em voo pleno
lavra-e-pão
do poeta
esconde
palavra

segunda-feira, 11 de maio de 2009

NAQUELES TEMPOS...

A seca sempre existiu (perene nas regiões de deserto, ou próximo a elas, e esporádica nos demais lugares, inclusive onde prevalecem os climas úmidos). Nesta fronteira oeste do Estado, o fenômeno se repete de tempo em tempo, causando perdas irreparáveis, principalmente aos agricultores. A maior dependência econômica da atualidade faz com que a última grande estiagem seja a mais nefasta, passando-se uma demão de esquecimento sobre aquelas que aconteceram há décadas. Ainda bem que é assim, para a boa saúde dos que sofreram na pele (e na alma) os castigos impostos pelo tempo. Da parte que me cabe, trago as marcas desse sofrimento na forma de lembrança, que, por sua nitidez, não se deixa transformar em poesia. Uma das lidas mais difíceis que os guris realizávamos no Rincão dos Machado era carregar água em baldes, latas, porongos, em tudo que pudesse servir de vasilha. O poço da casa era o primeiro a secar, depois o açude do potreiro, a sanga e, por último, o rio (que quase cessava de correr). A salvação vinha dos olhos-d'água, que brotavam fracamente no coração das restingas. O trabalho enchia nossas mãos de calos e nossos pés de espinhos, mas o escasso líquido era trazido para o consumo humano. Todas as tardes, o gado manso era conduzido aos açudes maiores ou até mesmo ao Rosário. A esse rio riacho, a cada dez ou quinze dias, acompanhávamos nossas mães na lavagem de roupa, quando pescávamos lambari e nadávamos nas águas baixas. Na boca da noite, todos nos reuníamos na casa de um vizinho para rezar com uma única intenção: a chuva (que teimava em não vir, contrariando os sinais mais evidentes). Não havia chegado a monocultura exclusivamente comercial, mesmo sem dinheiro, não faltava feijão, mandioca e carne de porco (frita e conservada dentro da própria banha) para as refeições diárias. Depois, com a eletrificação rural, veio a água encanada, o freezer, a televisão, o trator e todas as benesses do desenvolvimento tecnológico. Hoje poços artesianos são abertos. Não poderia ser diferente: o rincão não mais dispõe de guris para carregar água em baldes, latas, porongos...

sábado, 9 de maio de 2009

CONVERSA COM DALAI LAMA

Jorge Mello contou-nos que, num encontro que tivera com Dalai Lama em Curitiba, ouviu a resposta do monge a uma indagação sobre o egoísmo, se é bom ou ruim. Sua Santidade explicou que existem dois tipos de egoísmo: o egoísmo "burro" e o egoísmo sábio. O primeiro se manifesta naquela pessoa que pensa somente em si mesma, e o segundo, naquela que pensa em si mesma.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

JORGE MELLO


Nessa tarde e início da noite, enfrentei o problema de ser um blogueiro à procura de uma postagem. Ora jogava xadrez no http://www.ixc.com.br/, ora lia Historia de la Filosofía, de Gillermo Fraile. De repente, a Erilaine me ligou da URI, convidando-me para assistir a uma palestra na Universidade com Jorge Mello, santiaguense que largou emprego (BB), vida social estável, para se transformar num budista zen. Jorge prega a simplicidade voluntária. Seu site é www.simplicidade.net Quando a sabedoria fala, a ignorância cala (e sonha com a própria evolução, o que já é um começo auspicioso). Jorge é um sábio, admirador de Dalai Lama, Gandhi, Paulo Freire, Rubem Alves... Contou-nos algumas histórias interessantes, como a do imperador do Japão que ninguém pode tocar, tampouco olhar de frente, uma figura excelsa que presta reverência a um único ser: a pessoa que lhe ensinou a leitura. Outra é que dificilmente podemos visualizar como verdadeira: em nossa sociedade, as crianças perdem aproximadamente 90% de sua capacidade de criar dos 7 aos 14 anos, período em que frequentam o ensino fundamental.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

DOÇURA E AFETIVIDADE


O mundo (pós-)moderno se caracteriza pelo individualismo, pelo crescente egocentrismo, cujo limite é o culto da própria personalidade, o autoendeusamento. As pessoas tudo fazem por suas felicidades individuais, sem a mínima vocação para mártir ou santo. O Estado que se preocupe com o social, âmbito que exige a máxima participação dessa macroestrutura institucional.
Toda homenagem às mães neste segundo domingo de maio é plenamente justificada, considerando-se as virtudes da maternidade. Com relação às nossas mães, avós e bisavós que pariram filhos e filhos ao longo do século passado, não há dúvida sobre a abnegação, o sacrifício pessoal na missão insubstituível de parir uma nova vida. Com a revolução hedonista, pelo prazer a qualquer custo, as mulheres passaram a sofrer uma pressão maior dos novos valores pró-indivíduo.
O resultado disso é que ser mãe hoje constitui uma opção difícil, muito pensada e, não raras vezes, indesejada. Já ouvi uma balzaquiana falar com toda a convicção que ainda não se casara para evitar filhos. E nunca teria filhos para evitar os (d)efeitos decorrentes da gravidez, do parto e da amamentação. Segundo ela, seu corpo e, por conseguinte, sua beleza física seriam comprometidos irremediavelmente. Outras mulheres, chamadas de “barriga-de-aluguel”, vendem sua natural capacidade de gerar. Outras ainda abandonam seus bebês ou, em casos extremos, cometem o filicídio.
Diante de um mundo que se degenera a olhos vistos, todavia, nenhum gesto supera em doçura e afetividade o da mãe que segura o filho nos braços.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

WALTER BENJAMIN



Estou gostando de ver. A Educação abre um diálogo com a Filosofia, de acordo com o novo paradigma proposto por Edgar Morin, da complexidade, ou da transdisciplinaridade. A revista Nova Escola deste mês traz uma excelente reportagem sobre Walter Benjamin, teórico alemão muito estudado na atualidade (em Santiago, a professora Rosane Vontobel cita-o com frequência). O filósofo é da Escola de Frankfurt, da qual participavam Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Jürgem Habermas, Erich Fromm, entre outros. Pensadores imperdíveis.

DISPARADA


a noite é rastro
de potro
que passa
soltando chispas
(agora cobre
outras distâncias
em disparada)

meus olhos
o encontrarão
em algumas horas
na linha
diluída em luz
que separa
os sonhos

NÓ GÓRDIO

um nó górdio
amarra o passado
ao presente
o presente
ao futuro
o futuro
à dúvida hamletiana
(ser ou não ser)

o passado
que era (m)eu
se dilui no futuro
alteridade
ab
..........so
...................luta

entre ontem
e amanhã
o presente é corda
em que me equilibro
.................................homem

domingo, 3 de maio de 2009

PLÁGIO OU COLAGEM?

Um dos blogueiros que acompanham o blog da Erilaine, Eri Santos Castro, fez a seguinte postagem em seu Blog do Eri - Um espaço para a construção do Maranhão:
Domingo, 3 de Maio de 2009
A lógica do pior e o princípio da crueldade
Clément Rosset é o filósofo vivo que mais é indicado para este momento. É o maior representante de uma linhagem que remonta a Lucrécio, Pascal, Spinoza, Schopenhauer e, principalmente, Nietzsche. Livros de Rosset que compõem minha pequena biblioteca de pouco mais de mil títulos: 'A lógica do pior' e 'O princípio de crueldade'. Vou adquiri brevemente 'O real e seu duplo' e 'A antinatureza' do mesmo autor. Por intermédio desse pensador, vim a compreender melhor o trágico, que fora um dos temas preferidos por Nietzsche. Desde que li 'A Lógica do pior' pela primeira vez, em maio de 2008, tentando compreender a morte de minha mãe, trago-o entre meus objetos inseparáveis. Nele, paradoxalmente, há certo otimismo para aqueles que ainda se dedicam à Filosofia (transcrito na contracapa): "Se há uma tarefa específica da filosofia - e isso independentemente de seus interesses fundamentais, que, mais uma vez, são inteiramente outros -, esta seria a de curar o homem da sua loucura: vasto empreendimento que promete à filosofia um futuro longo e durável, contrariamente aos temores que se exprimem aqui e ali. Pois nada dura tanto quanto aquilo que não tem nenhuma chance de chegar ao fim. A filosofia, assim considerada somente sob um aspecto utilitário, tem ainda belos dias diante de si".
(Há um grupo de filósofos franceses que escreveu 'Porque não somos nietzscheanos', contraponto de Rosset, de Gilles Deleuze... O livro escrito por André Comte-Sponville, Philippe Raynaud, Alain Boyer... filósofos instigantes e que merecem ser lidos- ainda não os conheço. A propósito, Deleuze escreveu a melhor interpretação do filósofo alemão: Nietzsche e a Filosofia.)
Para ler a postagem de Eri, basta clicar
Com a mudança de algumas palavras e frases, o texto é a cópia do que postei ontem, sem indicação do verdadeiro autor. O que aconteceu com o blogueiro? Deve ter digitado o nome "Clément Rosset" no Google e... Não considero plágio, uma vez que copiar e colar é uma prática comum. Há algum tempo, venho pensando no problema que a intromissão dos blogs causam aos sites de busca. A profusão de textos digitais vem transformando a Internet numa nova babel.

sábado, 2 de maio de 2009

REMO PARA O FIM



há de ir.
como asas
de remo
ao

.......mar.
.
voar

ver (-)
ti
cal
...(ma)
mente
......a
...través

há de voltar.
como asas
de ícaro
ao
......fim.
.
aposta
(sia)
......filosofal
.
(Poema da Erilaine Perez)

CLÉMENT ROSSET


Clément Rosset é o filósofo vivo que mais leio, maior representante de uma linhagem que remonta a Lucrécio, Pascal, Spinoza, Schopenhauer e, principalmente, Nietzsche. Livros de Rosset que há muito compõem minha estante: A lógica do pior; A antinatureza; O princípio de crueldade; e O real e seu duplo. Por intermédio desse pensador, vim a compreender melhor o trágico, que fora um dos temas preferidos por Nietzsche. Desde que li a Lógica do pior pela primeira vez, em maio de 1989, trago-o entre meus objetos inseparáveis. Nele, paradoxalmente, há certo otimismo para aqueles que ainda se dedicam à Filosofia (transcrito na contracapa): "Se há uma tarefa específica da filosofia - e isso independentemente de seus interesses fundamentais, que, mais uma vez, são inteiramente outros -, esta seria a de curar o homem da sua loucura: vasto empreendimento que promete à filosofia um futuro longo e durável, contrariamente aos temores que se exprimem aqui e ali. Pois nada dura tanto quanto aquilo que não tem nenhuma chance de chegar ao fim. A filosofia, assim considerada somente sob um aspecto utilitário, tem ainda belos dias diante de si".
(Há um grupo de filósofos franceses que escreveu Porque não somos nietzscheanos, contraponto de Rosset, de Gilles Deleuze... Li e reli o livro escrito por André Comte-Sponville, Philippe Raynaud, Alain Boyer... filósofos que não têm o alcance dos nietzcheanos acima. A propósito, Deleuze escreveu a melhor interpretação do filósofo alemão: Nietzsche e a Filosofia.)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

UMA LEMBRANÇA TRISTE


O sol iluminava as matas ribeirinhas, realçando sua floração outonal, extemporânea. Sim, no Pantanal, algumas árvores florescem nos meses de abril e maio (foco imperdível para o visor da minha câmera). Por motivo de força maior, subi o rio Paraguai no domingo. Mesmo que fizesse uso de uma lancha pequena, chamada de "voadeira", com motor 40HP, foram necessárias três horas para chegar a Morrinho, onde deixaria o rio e pegaria o asfalto, com destino a Corumbá. Não perdia uma corrida de Fórmula-1 e, naquela manhã, do dia 1º de maio, estava ansioso para saber o resultado do GP de San Marino, em Ímola. Assim que desci da lancha, fui a um restaurante às margens do Paraguai e da Rodovia 262 (que liga Campo Grande à "cidade branca"). A televisão ainda mostrava o acidente, e os tele-espectadores comentavam sobre a morte de Ayrton Senna. Lembro-me da frase que disse na hora em que soube do ocorrido: "Não acredito!". Há 15 anos a Fórmula-1 não é mais a mesma para os brasileiros que acompanham esse esporte.

ARTIGO INTERESSANTE

Em 1982, Ivan Zolin me emprestou As veias abertas da América Latina, do uruguaio Eduardo Galeano. Depois de 18 anos, devolvi o livro ao meu amigo, confirmando-se (ou negando-se) o que D. Renita Andretta me falara um dia: "Livro só se empresta aos bons amigos, e os bons amigos nunca pedem livro emprestado". Na época, achei o máximo a tese de Galeano, qual seja, de que a América Latina era pobre porque sempre foi explorada por seus colonizadores, Portugal e Espanha, e por seus concorrentes mercantilistas do norte, Inglaterra e Estados Unidos. Qual a minha surpresa hoje, ao ler um e-mail recebido, transcrevendo um artigo que serve de contraponto à tese de Galeano? Lendo e aprendendo. Interessantíssimo! Basta clicar Mailson da Nóbrega Ainda o idiota