quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

UMA CRÔNICA BELÍSSIMA

Ao revisar as provas da próxima edição do Expresso Ilustrado, deparo-me com esta crônica belíssima do Márcio Brasil:
..................Sem avisar, sem esperar
Clarissa gostava da casa arrumada e as coisas no lugar. Tinha dado trabalho, mas tudo estava como ela queria. Se vez por outra deixava a bolsa no sofá da sala era por preguiça, mas sabia que ao acordar, ela continuaria por lá. No mais, tudo era regrado. As plantas bem cuidadas. As roupas nos cabides e gavetas certas. O piso era brilhoso, as cortinas na posição que ela gostava, sem iluminar tanto, sem escurecer muito, a meio tom. Se ia para o quarto, apagava a luz da sala e vice-versa. Tudo era impecável, tudo estava no lugar. Até mesmo os diversos cadernos do jornal de domingo, nada de espalhá-los pelo sofá ou em cima da mesa. Ela era feliz assim, com suas regras e com seu mundo perfeito. Clarissa vivia só, sim, mas estava bem acompanhada. Até que veio um vento, desses que surgem de repente. A poeira se espalhava pelo piso alvo. Outras pegadas pelo chão. As cortinas saiam do lugar, ora claro, ora escuro. Gavetas desarrumadas, roupas fora do lugar, pedaços de jornal por toda a parte. Um vento que desalinhava os cabelos de Clarissa e que eriçava os pêlos de seu braço, causava arrepios, sussurrava em seu ouvido e que não se importava com as regras da casa. E do jeito que chegou, alvoroçado, foi embora, serenado. Restou a Clarissa alinhar os cabelos, cuidar das plantas, ajeitar as gavetas, limpar o piso, verificar as cortinas, pôr ordem na casa, rever suas regras e apagar as luzes da sala. Tudo de volta no lugar como antes. Tudo limpo e bem organizado. Mas seu coração tinha virado numa bagunça...
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A frase final, "Mas seu coração tinha virado uma bagunça", constitui um achado, que transforma o narrado até ela em prelúdio.
Não faço essa postagem como paga das palavras gentis do meu amigo. Não há preço para um sentimento tão nobre. A doçura não me envaidece, ainda que seja outro a destacá-la.

Um comentário:

Márcio Brasil disse...

Oi, Froilam. Nossa, muito obrigado pelo comentário e, especialmente, por ter colocado um texto meu em teu blog. Sinto-me feliz e honrado por isso!!! As palavras que a ti dediquei ao meu blog são de todo o coração.

Estou terminando de baixar o filme Pollock para o amigo, pois infelizmente não há em nenhuma locadora de Santiago. Acredito que nesta sexta-feira já o terei em mãos para te repassar. Apenas providencie de baixar em teu computador o programa BS Player.

Um forte abraço, Froilam!!!