terça-feira, 13 de janeiro de 2009

LABORATÓRIO TEXTUAL

Nenhum dos doutores em Linguística que estou lendo para fundamentar minha monografia escreve que o blog também serve de laboratório para a produção textual. Os experimentos são exaustivos e demonstram a importância da reescritura. Minhas colunas do Expresso Ilustrado ganharam em qualidade desde que passei a editá-las neste espaço hipertextual. Da mesma forma, meus últimos poemas, os quais submeto à espacialidade topográfica, característica que me permite também uma apreciação visual dos mesmos. A postagem desses poemas, via de regra, traz a observação infraescrita de que necessitam de acabamento.
Para a próxima edição do Expresso, pensei escrever sobre a dicotomia que existe entre a cultura da terra (agricultura e pecuária) e a cultura como produção intelectual, artística. Na noite passada, desisti do tema, optando por dissertar sobre o Acordo Ortográfico.
As pequenas mudanças instituídas em nossa ortografia têm gerado muita polêmica, dividindo filólogos, escritores, professores, jornalistas, blogueiros, todos aqueles que se ocupam da língua portuguesa (como profissão ou hobby). O grupo dos contra, mais numeroso, argumenta que tudo o que foi impresso nas últimas décadas encontra-se, a partir de agora, com 0,43% dos vocábulos graficamente modificados. O grupo a favor defende a uniformização do português, que o tornará língua oficial de órgãos internacionais, como a UNESCO (cujas publicações não eram distribuídas à “pátria pessoana” em vista de suas diferenças ortográficas). Ganham as editoras, ao pé da letra, e perdem os bibliófilos apaixonados. Nosso idioma, negando sua origem vulgar, adquire um padrão único na escrita. Aqui e além-mar (com hífen antes de depois). Outra conseqüência do Acordo, ainda não pensada até agora, está sendo a atenção dada ao idioma por seus falantes e escreventes. Entre as particularidades linguísticas, eles passam a perceber mais nitidamente os âmbitos da fala e da escrita. No Brasil, felizmente, as mudanças se limitam a aspectos gráficos. Foram abolidos alguns sinais diacríticos, não a pronúncia ou tonicidade dos fonemas. O “u” de “linguiça” não será engolido, tampouco “ei” de “ideia” deixará de ser aberto e tônico. O vocábulo “farmácia”, por exemplo, já foi grafado com ”ph” (mais próximo de sua etimologia). O som e o significado precedem a grafia, em antiguidade e importância. Também eles estão sujeitos a alterações, uma vez que toda língua natural é um processo dinâmico.

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