terça-feira, 4 de novembro de 2008

FRACASSOS DE MARX

Quando li o Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, fazia um curso na Escola de Material Bélico no Rio de Janeiro. Dois militares da contraguerrilha colombiana eram meus colegas, dividíamos o mesmo alojamento e conversávamos sobre os mais diversos assuntos. Ao me verem com o livro acima, colocaram-me a alcunha de “El Bermellón” (andava pegando muito sol em Ipanema e Barra). Não me importei com suas admoestações, uma vez que me davam o direito da resposta. Como alvo de minhas ironias, escolhi a ineficiência militar da Colômbia no combate às forças guerrilheiras.
Nestes vinte e poucos anos que me separam daquela leitura, o único enunciado de Marx que me fez pensar foi transcrito por Erich Fromm: "Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras, o que importa é modificá-lo". (Há uma dezena de outras traduções.) Em contrapartida, tenho lido muitos críticos marxistas. O professor titular de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, Renato Janine Ribeiro, escreveu o artigo Fracassos de Marx. Limito-me ao trabalho de copiar e colar as passagens que julgo mais importante.
O articulista classifica de “erro factual” a previsão de Marx que “os salários dos trabalhadores cairiam mais e mais e que isso deflagraria a queda do capitalismo e sua substituição pelo socialismo”. O discurso libertário da teoria, extremamente utópico, seria um dos equívocos mais profundos do marxismo: “o governo deixará de regular a vida das pessoas”. Isso culminaria com a abolição do Estado (endossado por Engels, que sonhou com o fim da propriedade privada e da família). O professor justifica que Marx escrevia tais “profecias” numa época em que “a representação era bem mais rara do que hoje: a maior parte dos parlamentos era recente.
O artigo continua:
“Marx foi ótimo na crítica, mas colocar em funcionamento um sistema econômico, que substitua o poder do capital, e que seja mundial, exigiria um poder igualmente mundial. [...] Em teoria, deveria ser um poder mínimo, no sentido de controle sobre a vida das pessoas, e que cuidasse da produção econômica. Representando os trabalhadores do mundo, podendo ser destituído por eles. Mas como operacionalizar isso?”.
Com outras palavras, foi o que expressei na postagem abaixo, muito criticada pelo Júlio Prates, que tudo o que sabe não passa de interpretações de outros autores, mais a sua interpretação que ele reputa a mais verdadeira.
“Um século e meio de marxismo não produziu uma reflexão consistente sobre esse assunto. A própria idéia de que só restaria ‘administrar as coisas’ é curiosa, se Marx mostrou que a economia (‘as coisas’) é o que governa a vida política (‘os homens’)”.
Renato Janine Ribeiro encerra o artigo desta forma:
“Infelizmente, Marx, que tanto criticava os utópicos (Sain-Simon, Fourier, Owen) e defendia a liberdade, deixou seu legado entre a utopia e o Gulag”.
Mesmo que eu não tenha lido O Capital, mesmo que o grande romancista José Saramago tenha delirado com a frase “Marx nunca teve tanta razão como agora”, mesmo que países (como a Islândia) sofram uma bancarrota, penso que a interpretação feita por esse professor da melhor universidade brasileira é uma verdade apofântica.

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