sexta-feira, 7 de novembro de 2008

POETEMAS


Um novo enunciado na Terra dos Poetas

O fazer poético consiste numa constante interferência no discurso, comum da fala e da prosa, modificando-o fônica, gráfica e semanticamente, de maneira a qualificá-lo com os elementos que caracterizam a arte. O sujeito que interfere, o autor, constitui-se a partir da produção do enunciado e de seu aprestamento dialógico, quando se estabelece a relação com outro sujeito, o leitor.
Lise Fank cria um novo fato literário na Terra dos Poetas: Poetemas. Este seu livro vem ampliar o diálogo que preexistia entre os sujeitos envolvidos na interlocução poética. Lise já fazia parte da plêiade santiaguense, com estilo próprio, inconfundível.
A temática proposta em Poetemas parte de uma apreciação sofrida da existência contemporânea:

E ao grito de apelo
do homem perdido
...
o vazio lhe responde.

Continua em:


... o pobre menino
dos olhos tristes.


De repente, o eu-lírico não se sofre (onisciente da tragédia humana):

Quando chove,
tenho a impressão
de ouvir o pranto de Deus.


A catarse das dores ocorre com a enunciação do que vai na sua alma. O expurgo por intermédio da palavra, como ocorre na Psicanálise. A poeta aponta para a solução mística dos problemas existenciais: o silêncio. Para uma solução moral: a simplicidade. Isso é o que está explícito e implícito, respectivamente, nos poemas Sintonias e O Natal em nossa casa.

Na tessitura material de seu discurso, a autora imprime um ritmo admirável, “alma de toda expressão poética”, segundo Benedetto Croce. Seja na recorrência métrica:

Nunca seremos iguais,
dizia o raro diamante...


seja no emprego do paralelismo:

Folha seca,
que é da seiva?
Grão de trigo
que é do pão?


Dessa forma, Poetemas compõem-se de enunciados plenos de conteúdo, em que se destaca a harmonia entre significante e significado. Na elaboração dos mesmos, Lise Fank se utilizou com justa medida dos recursos que caracterizam a melhor poesia.

oooooooooooooooooooooooFroilam de Oliveira
oooooooooooooooooooooNovembro de 2008
OO
(Escrevi o texto acima para apresentar o livro da Lise Fank, lançado ontem na Feira do Livro de Santiago)

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