quinta-feira, 13 de novembro de 2008

INTERTEXTO POÉTICO

Hoje às 7 horas, descendo a Duque, ouvia os sabiás. (Neste momento, ouço um bem-te-vi, ou kitch-vi, para ser mais exato na transcrição do canto dessa ave passeriforme, Pitangus sulphuratus. Seu nome vulgar demonstra todo o antropocentrismo presente na linguagem.) Ouvindo os sabiás, ocorreu-me que o verbo "gorjear" caracterizou o universo romântico, por excelência. Modernamente, "cantar" é mais empregado. A Canção do exílio, de Gonçalves Dias, serviu de modelo para vários poetas, os quais lançaram mão do recurso da intertextualidade: Casimiro de Abreu, Oswald de Andrade, Murilo Mendes, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, José Paulo Paes, Afonso Romano de Sant'Anna, entre outros. Abri o bolso da gandola, puxei da minha caderneta e escrevi o que se segue:
oo
o sabiá
não mais gorjeia
como lá
oo
não há
palmeiras
aqui
oo
onde canta
o sabiá
nas pitangueiras
oo
De repente, ao ouvir um galo, me lembro de João Cabral de Melo Neto e emendo:
oo
o canto do sabiá
não tece uma manhã

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