domingo, 24 de agosto de 2008

TRÉPLICA

Um leitor comenta sobre a postagem Nota de esclarecimento, questionando-a nos seguintes termos: “Queria saber que critério você usou - e até mesmo que autoridade tem – para afirmar que apenas 5% dos nossos poetas são bons”. Antes de respondê-lo, chamo a atenção do leitor para as peculiaridades do gênero Artigo de Opinião, em voga nos jornais, revistas, blogs etc. O publicado por Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo, constitui-se num dos melhores exemplos. O artigo de opinião é doxa, não aletheia (os gregos já faziam uma distinção entre opinião e verdade), justamente pelo caráter relativístico, pessoal. Meus argumentos, isto está claro, visam defender a verdade, com os recursos figurativos (como a hipérbole e a ironia) que me permite a arte da escrita. Independentemente de toda a subjetividade que caracteriza a poesia, há elementos objetivos que a diferenciam da prosa, por exemplo. Fundamentado no ritmo e na rima, tão somente, avalio que a maioria dos poetas santiaguenses necessita evoluir muito. O ritmo de seus poemas é empregado à revelia, sem o controle e a regularidade (sem o conhecimento) que seus autores desejavam. A rima recorrente é paupérrima. Sem considerar o emprego de metáfora (também paupérrimo), esses dois elementos são suficientes para a quantificação dos 5%. Espero que os períodos acima demonstrem a autoridade requerida pelo meu interlocutor. Minha postagem não possibilita a leitura de que apenas o Oracy e eu seríamos bons poetas. Em nenhum momento diria isso, uma vez que contraria traços do meu caráter. Todos sabem que o Oracy é um bom poeta, muito bom, excelente (em seus poemas-piadas, por exemplo). Citei-o como crítico, não como poeta. Não conheço Thiago de Lima, meu interlocutor, mas deduzo que, ou ele não me conhece, ou me conhece muito bem (neste caso, esconde-se atrás de um pseudônimo), ou é mestre em pressuposto e subentendido. Poucos gostaram do meu livro Ponteiros de palavra. Entre as pessoas que gostaram, cito Lígia Militz da Costa, doutora em Literatura, que me convidou para participar da Academia Santa-Mariense de Letras (como membro correspondente). O comentário continua: “A convicção que a ciência e o conhecimento pode (sic) oferecer algum tipo de redenção para a humanidade é tão senso comum quando a religiosidade”. Desde Aristóteles, o primeiro organizador do conhecimento, as ciências vêm oferecendo uma melhoria crescente no padrão de vida humana, não reconhecida por aqueles que esperam uma “redenção”, algo que jamais ocorrerá (aqui poderia citar Nietzsche outra vez). Quem espera por redenção, seja cristão, hare krishna, muçulmano etc., acaba atacando as realizações científicas/ tecnológicas, nivelando-as aos artefatos bélicos, especialmente desenvolvidos para matar em massa. Essa visão reducionista é preconceituosa, como a demonstrada pelo meu interlocutor (citando Millor Fernandes). Sintoma desse seu preconceito é a avaliação que faz do filósofo com maior influência no século XX: F. Nietzsche. Para ele, Nietzsche é uma doença. Em tudo o que li de antinietzschianismo (reunido em livro por alguns pensadores contemporâneos), não encontrei qualquer coisa que se assemelhe a esse absurdo. Considero-o um exagero metonímico, compreensível como estilo. Caso contrário, não teria perdido tempo neste arrazoado. Ao concluir que “Por sorte, não vejo nada de nietzschiano em você, a não ser essa sua suposta mágoa com a tradição moral judaico-cristã”, o autor do comentário se contradiz inteiramente: não vê nada de nietzschiano em mim e vê em mim a compreensão do que a filosofia de Nietzsche representa quase solitariamente, a oposição ao cristianismo. Compreensão, não “mágoa”, ressentimento, qualquer sentimento que se identifica com a moral tão condenada pelo filósofo alemão.

2 comentários:

Anônimo disse...

A réplica de um comentário normalmente é feita no próprio espaço para comentários. Mesmo sabendo que o gênero não é totalmente estável, me impressiona o fato de ter dedicado um post inteiro para meu comentário.

Através sua argumentação, você demonstra, de fato, a autoridade requerida por mim - e que ninguém esqueça de consultar-lhe antes de compor algum verso.

Convenhamos,"(...)poetas santiaguenses necessita(sic) evoluir muito", é bem diferente da afirmação "apenas 5% são bons." Nota-se uma mudança de postura.

Parece que você prefere desqualificar o seu interlocutor do que argumentar acerca dos fatos propriamente ditos. "Poucos gostaram do meu livro Ponteiros de palavra. Entre as pessoas que gostaram, cito Lígia Militz da Costa, doutora em Literatura(...)". Aqui você faz uso da autoridade do título da doutora Lígia para desqualificar o meu comentário em relação ao seu livro. “A convicção que a ciência e o conhecimento pode (sic) oferecer algum tipo de redenção para a humanidade é tão senso comum quando a religiosidade”. Aqui, novamente você tenta desqualificar a fonte para desviar o foco dos fatos, estratégia típica de um grupo que prefiro não comentar. Eu não costumo revisar meus textos, principalmente nos gêneros menos formais, não se impressione com tais erros de concordância. Ao invés de revisar o meu texto, deveria preocupar-se com o seu.

Quanto a Nietzsche, nem deveria comentar.

Ao me acusar de contradição, desconsidera o que eu escrevi após a vírgula da primeira oração. Onde diz "a não ser" entenda como "exceto", se lhe ajudar.

Há textos seus que vão de encontra à filosofia de Nietzsche. Um exemplo é o texto que você considera um dos melhores já publicados, o "HOMO HOMINIS LUPUS", onde demonstra indignação em relação à banalização da morte.

Nietzsche acreditava que a força deveria prevaler sobre a fraqueza. E que os fracos, para defenderem-se dos fortes, transformam a força em vício,e a fraqueza em virtude. Se os criminosos matam por matar, é por um único motivo: eles o fazem porque podem. Como argumentar que "matar é errado" com alguém que só tem benefícios fazendo isso? A impunidade é praticamente certa. Os benefícios, bem maiores que aqueles que obteriam trabalhando 40h semanais por um salário mínimo e sem direitos trabalhistas. Se a autoridade instituída não pode contê-los, quem pode? O cidadão de bem? Enclausurado e acovardado em seu lar, condenando todo ato como imoral, inconcebível com a prática da vida em sociedade?

Um criminoso que mata indiferente à moral é mais Nietzschiano que você. O nosso Brasil é uma fábrica de super-homens.

Reitero: Nietzsche é doença.

Deve concordar comigo que essa discussão tomou proporções realmente desnecessárias. Não vou voltar a comentar aqui, portanto nem perca seu tempo revisando o meu texto ou replicando o meu comentário. E desculpe a falta de coesão de meu texto fragmentado, não estou com paciência para trabalhá-lo.

Se bastar: você ganhou. (Y)

Anônimo disse...

Ah, desculpe a falta de terminologias gregas em meu texto.