domingo, 31 de agosto de 2008

A FOTO

Fotografia que faz parte de exposição de Vânia Toledo na Pinacoteca mostra o cantor Cazuza (à frente), morto em 1990.
O site poderia ter ampliado a matéria, identificando Caio Abreu (atrás do cantor).

vídeo a tecnologia chegou à escola - Pesquisa Google

vídeo a tecnologia chegou à escola - Pesquisa Google

sábado, 30 de agosto de 2008

AGOSTO COM MÚSICA


Ontem fui ao Círculo Militar para assistir à "Sinfonia Agosto com Música". O evento artístico foi propiciado pelo Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura e a 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada. Após a execução do Hino Nacional, cantado em uníssino (como prescreve a lei 5.700), houve a apresentação dos cantores revelados pelo Criança Feliz: Indiara Gomes, interpretou Pialo de Sangue; Ricardo Fonseca de Melo, Prenda Minha; Maiara Vargas e Bianca Flores, Negrinho do Pastoreio; Alisson Almeida Pereira, Boi Barroso. Na segunda parte do show, a Banda de Música da 1ª Bda C Mec apresentou um concerto de arrepiar aos dotados de dominante sensorial auditiva: Lembranças; Nostalgia nº 5; Flash Dance; New York, New York; Trompete de Espanha; Conquista do Paraíso; Cavalaria Rusticana; e Cavalaria Ligeira. A execução de Cavalaria Ligeira mereceu o aplauso efusivo do auditório, sempre muito reservado nesta região do país. Os santiaguenses não saem de casa para assistir a shows artísticos como o realizado no Círculo Militar. Lembro o concerto da Osquestra Sinfônica de Santa Maria no Clube União, o qual não reuniu 200 pessoas. Isso também é sintomático da falta de leitura, não há desenvolvimento da cultura intelectual, dos valores estéticos que contemplam os espíritos mais evoluídos. Para o ano que vem, vou sugerir aos organizadores que posterguem o evento em uma semana, um Setembro com Música talvez chame mais a atenção (ainda que tenha a concorrência da Semana Farroupilha).

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

amores

amores vêm
amores vão(-se)
como ondas
ooooid'água
trazem flores
quando vêm
vão sargaços
quando mágoa
oo
amores vêm
amores voam
como pássaros
de arribação
oo
ainda que passem
amores
não vêm
em vão
oo
(Escolhi esse poema para o projeto Poesia nos Muros do curso de Letras da URI.)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

PESQUISA ELEITORAL

A primeira pesquisa eleitoral realizada em Santiago pelo INDEX causou surpresas e reclamações. Como resultado mais surpreendente para a maioria dos santiaguenses foi Sandro Palma aparecer na frente de Vulmar Leite (com uma diferença considerável). As principais reclamações ficaram por conta do candidato Júlio Prates, que denuncia a não cientificidade da pesquisa. Gostaria muito de mensurar o efeito (positivo ou negativo) que uma pesquisa dessas pode causar nas urnas. A priori, tenho minhas dúvidas. O eleitor não pode ser tão leviano a ponto de mudar seu voto influenciado por meros percentuais. Com a eleição, em 5 de outubro de 2008, todas as dúvidas serão dirimidas, e as queixas justificadas ou não. As urnas comprovarão a cientificidade das pesquisas ou não. No dia 6 de outubro, lembremo-nos disso.

CAMINHOS


sofro porque
devo
ou
porque quero

por...
que devo

d
ooe
oooos
oooooiç
oooooooo
com o sofrimento
imposto


e oooooo
oooob
oou
s

com o sofrimento
que livremente
peço

oo
oo
(Escrevi esse poema na década de 8O, quando eu pensava ser mais espiritualizado.)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

QUATRO ANOS É MUITO TEMPO

A Rede Globo preenche o horário reservado à propaganda política (Lei nº 9.504/97) com a apresentação de vinhetas da Justiça Eleitoral, cuja mensagem é a seguinte: quatro anos é muito tempo, principalmente quando as coisas não vão bem; [...] pense bastante antes de escolher seu candidato; [...] não venda seu voto; [...] é a única forma de não deixar maus políticos no poder por quatro anos. Essa campanha vem ao encontro de um argumento que desenvolvi em defesa de quem vota. Um dos discursos recorrentes na boca dos preteridos, dos derrotados, sempre na oposição, consiste em dizer que o eleitor brasileiro não sabe votar. Mais do que um clichê, isso já se transformou num preconceito (que, repetido exaustivamente, ganha status de verdade). Não compreendo como esses eleitores, sempre caluniados, continuam impassíveis, sem a reação discursiva que caracteriza os mais politizados. Obviamente, não pretendo ser candidato a puxar o “véu de maia” que limita sua visão da realidade. Apresento-lhes um argumento tão somente: independentemente de todo esforço intelectual, de toda lógica pensada, de toda ética ao exercer o direito/dever de votar, a escolha entre os candidatos A e B será tripudiada como um equívoco. Tal ocorrerá não por ignorância, leviandade ou fanatismo, tampouco porque A e B sejam potencialmente maus políticos. Qualquer que seja o eleito, mais tarde seus adversários dirão que a maioria dos brasileiros não sabe votar. Isso acontece no âmbito de todas as escolhas, constitui uma regra de comportamento. A tendência natural para o egoísmo, com acusação gratuita e transferência de responsabilidade, impede a livre expressão do amor fati*.
*
Aceitação do imponderável, do destino

NINHO DE GALÁXIAS

Imagens do dia - Álbum de Fotos - UOL Notícias
oo
Matéria interessantíssima. O universo é maior do que imaginam os próprios cosmólogos. Você duvida? Clique em imagem do dia (acima).

CONCORDÂNCIA

Os erros de concordância são mais comuns do que sequer desconfia aquele que produz textualmente. Na postagem abaixo, fui corrigido quanto à concordância em a maioria dos poetas santiaguenses necessita evoluir muito. O que escreve o professor Cláudio Moreno sobre o assunto:
concordância com "a maioria"
Um leitor que foi batizado com o estranho nome de "Escritório Modelo" quer saber qual a forma correta: "a maioria dos eleitores votaram ou votou neste candidato"? Alega que sempre achou que o verbo deveria concordar com maioria, mas notou que os jornais fazem a concordância utilizando-se do plural votaram.
Meu caro Escritório Modelo (é ruim! já que não veio com nome de gente...): eu prefiro concordar com o NÚCLEO do sujeito: a MAIORIA dos alunos VOTOU, GRANDE PARTE dos deputados se ABSTEVE. Contudo, como a atenção do falante é fortemente atraída pelo modificador do núcleo, é também comum - e aceita pelos gramáticos tradicionais - fazer a concordância com este elemento periférico: a maioria dos ALUNOS VOTARAM. Eu me sinto mais seguro com a primeira, que é sempre indisputável, mas muita gente prefere a segunda. Dá uma lida no que escrevi sobre
a maioria dos homens, pois lá faço alguns comentários sobre este tópico. Abraço.
Prof. Moreno

domingo, 24 de agosto de 2008

TRÉPLICA

Um leitor comenta sobre a postagem Nota de esclarecimento, questionando-a nos seguintes termos: “Queria saber que critério você usou - e até mesmo que autoridade tem – para afirmar que apenas 5% dos nossos poetas são bons”. Antes de respondê-lo, chamo a atenção do leitor para as peculiaridades do gênero Artigo de Opinião, em voga nos jornais, revistas, blogs etc. O publicado por Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo, constitui-se num dos melhores exemplos. O artigo de opinião é doxa, não aletheia (os gregos já faziam uma distinção entre opinião e verdade), justamente pelo caráter relativístico, pessoal. Meus argumentos, isto está claro, visam defender a verdade, com os recursos figurativos (como a hipérbole e a ironia) que me permite a arte da escrita. Independentemente de toda a subjetividade que caracteriza a poesia, há elementos objetivos que a diferenciam da prosa, por exemplo. Fundamentado no ritmo e na rima, tão somente, avalio que a maioria dos poetas santiaguenses necessita evoluir muito. O ritmo de seus poemas é empregado à revelia, sem o controle e a regularidade (sem o conhecimento) que seus autores desejavam. A rima recorrente é paupérrima. Sem considerar o emprego de metáfora (também paupérrimo), esses dois elementos são suficientes para a quantificação dos 5%. Espero que os períodos acima demonstrem a autoridade requerida pelo meu interlocutor. Minha postagem não possibilita a leitura de que apenas o Oracy e eu seríamos bons poetas. Em nenhum momento diria isso, uma vez que contraria traços do meu caráter. Todos sabem que o Oracy é um bom poeta, muito bom, excelente (em seus poemas-piadas, por exemplo). Citei-o como crítico, não como poeta. Não conheço Thiago de Lima, meu interlocutor, mas deduzo que, ou ele não me conhece, ou me conhece muito bem (neste caso, esconde-se atrás de um pseudônimo), ou é mestre em pressuposto e subentendido. Poucos gostaram do meu livro Ponteiros de palavra. Entre as pessoas que gostaram, cito Lígia Militz da Costa, doutora em Literatura, que me convidou para participar da Academia Santa-Mariense de Letras (como membro correspondente). O comentário continua: “A convicção que a ciência e o conhecimento pode (sic) oferecer algum tipo de redenção para a humanidade é tão senso comum quando a religiosidade”. Desde Aristóteles, o primeiro organizador do conhecimento, as ciências vêm oferecendo uma melhoria crescente no padrão de vida humana, não reconhecida por aqueles que esperam uma “redenção”, algo que jamais ocorrerá (aqui poderia citar Nietzsche outra vez). Quem espera por redenção, seja cristão, hare krishna, muçulmano etc., acaba atacando as realizações científicas/ tecnológicas, nivelando-as aos artefatos bélicos, especialmente desenvolvidos para matar em massa. Essa visão reducionista é preconceituosa, como a demonstrada pelo meu interlocutor (citando Millor Fernandes). Sintoma desse seu preconceito é a avaliação que faz do filósofo com maior influência no século XX: F. Nietzsche. Para ele, Nietzsche é uma doença. Em tudo o que li de antinietzschianismo (reunido em livro por alguns pensadores contemporâneos), não encontrei qualquer coisa que se assemelhe a esse absurdo. Considero-o um exagero metonímico, compreensível como estilo. Caso contrário, não teria perdido tempo neste arrazoado. Ao concluir que “Por sorte, não vejo nada de nietzschiano em você, a não ser essa sua suposta mágoa com a tradição moral judaico-cristã”, o autor do comentário se contradiz inteiramente: não vê nada de nietzschiano em mim e vê em mim a compreensão do que a filosofia de Nietzsche representa quase solitariamente, a oposição ao cristianismo. Compreensão, não “mágoa”, ressentimento, qualquer sentimento que se identifica com a moral tão condenada pelo filósofo alemão.

sábado, 23 de agosto de 2008

LANÇAMENTO DE LIVROS

Ontem aconteceu o lançamento de dois livros no Centro Cultural de Santiago: Felicidade além da vida, de Lília Doleys Soares: e Mais que uma vida, de Helsino da Silva Soares. O primeiro, de contos, marca a estréia de uma escritora que apresenta uma das grandes qualidades para esse gênero literário: a imaginação. Muito interessante a ilustração do livro: paisagens do interior em aquarela de Volney Sant'Ana (como a editada neste post). O segundo, trata-se de uma narrativa memorialista, autobiogáfica, cujo autor já completou 84 anos.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

RUA DOS POETAS II

Participei da reunião na Secretaria da Educação e Cultura para a escolha dos que serão homenageados na próxima quadra da Rua dos Poetas. A secretária Denise coordenou a reunião, que começou com a apresentação de slides do projeto (pelo secretário de Obras do município, Fernando Nascimento). Em seguida, passamos ao difícil trabalho da escolha dos nomes. A condição precípua: ter a última data de sua biografia definida. A relação inicial ficou assim constituída:
AURELIANO F. PINTO;
FELINTO CHARÃO;
ANTERO A. SIMÕES;
ONERON DORNELLES;
RIVADÁVIA SEVERO (DR. RIVOTTA);
ADELMO S. GENRO;
GUIRAHY POZO;
ARNO GIESLER;
NEY A. DORNELLES;
EURIDES NUNES e
MANUEL V. LOUREIRO.
Serão homenageados poetas, ficcionistas, historiadores, um escultor e um músico. Junto ao monumento da "Bruxa", de Arno Giesler, será afixado um poema do Zeca Blau (segunda homenagem ao grande poeta), escrito para essa personagem. Diante da observação de não haver uma mulher entre os escolhidos, reconhecemos que nenhum dos destaques femininos da nossa cultura pretérita deixou uma obra poética. Entre os vivos, temos muitas mulheres que produzem artisticamente. Felizmente, elas não preenchem o requisito principal para constar da lista.

ESCÓLIO

O poema editado abaixo, Fátuo, exige um escólio, um breve comentário para explicá-lo. O título significa "transitório", "fugaz". Apenas introduzido por essa palavra, o tema se insinua na imagem, para ser aclarado pelo rema: a vaidade. Velho tema, diga-se de passagem, eternizado pelo Eclesiastes. Uma das características da minha poesia é transformar o menor signo verbal, a palavra, em outros signos. Com o "bel(i)dade", quero relacionar beldade e bela idade. Em seguida, "va-i-dade", uma contradição: vaidade versus vai idade. Abaixo, "gra-v-dade" apresenta um detalhe que sugere o sentido da força gravitacional (para baixo) e o decote conhecido: a letra "v". Aprendi com grandes poetas, entre os quais o Oracy, que o poema deve ter um gran finale, como a "chave de ouro" no soneto. Com "há de", faço uma apreciação devastadora, mesmo que lacunar: a gravidade "há de" agir contra a vaidade, contra a bela idade, efeito que não poderá corrigir todo o silicone do mundo.

FÁTUO













bel
(i)
dade

va
i
dade

gra
v
dade


de

(Do meu livro Ponteiros de palavra)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

NOTA DE ESCLARECIMENTO

O leitor atento já percebeu que tenho feito repetidas críticas ao senso comum. Reconheço que elas são demasiado contundentes ao denunciar a calúnia contra as ciências, motivada pelo grande paradigma da civilização ocidental: as doutrinas judaico-cristãs. Em Alunos relapsos, quantifiquei o senso comum em mais ou menos 95% de qualquer grupo social. Nossa cidade não foge à regra. Entre seus estudantes, apenas 5% consegue ingressar numa universidade federal. Entre seus cidadãos (professores, advogados, médicos, funcionários públicos, comerciários etc.), apenas 5% fazem a diferença. Inclusive os poetas, mortos ou vivos, apenas 5% são bons. O Oracy Dornelles, em seu Páginas impossíveis, faz uma avaliação tão "generosa" quanto a minha. Dito isso, sigo em frente. O quase desdém pelo conhecimento se observa nas falas e nos discursos cotidianos (criacionistas, contrários ao fato evolutivo, à grande verdade). A influência paradigmática do mito, da tradição judaico-cristã, constitui a causa de termos 99 igrejas e tão somente uma pequena livraria. Por que tal desproporção? Infelizmente, o universo de leitores santiaguenses está abaixo dos 5% (não considerando os leitores bíblicos). Esse absurdo da falta de leitura pode ser maximizado no exemplo de um bacharel em Direito, que se vangloria de não ter lido um único livro durante o curso na nossa universidade. Se a mediocridade do senso comum é digna de pena, sua maledicência merece a indignação daqueles que Nietzsche distinguia como homens superiores.

domingo, 17 de agosto de 2008

MINHAS OCUPAÇÕES

Saibam todos os meus visitantes que não me limito a escrever poemas, comentários críticos, entre outros gêneros escritos. Mais do que escrever, leio. A leitura é que criou em mim esta necessidade de escrever. Mais do que ler, vivo. A vida continua, independentemente do tempo em que me ocupo com os livros, com a produção textual. Navego mares e oceanos na Internet, onde tenho este blog, três caixas de e-mails, comunidade poética no Orkut, assinatura de site e jornal etc. Tal ocupação, no entanto, encontra-se no mesmo plano das atividades intelectuais acima descritas. Da mesma forma, as aulas particulares, a revisão do Expresso Ilustrado, de livros, trabalhos acadêmicos. A propósito, nestes meses devo me engajar na preparação da segunda antologia da Rua dos Poetas, na monografia do Pós-Graduação (a literariedade nos blogs de Santiago) e na palestra para o seminário da UNOPAR (O Paradigma da (A)normalidade). Como Diretor do Departamento de Literatura do Centro Cultural de Santiago, tenho participado dos lançamentos de livros. Nas horas de folga, assisto aos noticiários televisivos, futebol, Fórmula-1, discursos na TV Senado, programas da TV Escola, filmes etc. Nestes dias, tenho acompanhado aos jogos olímpicos de Pequim. Ontem, por exemplo, não perdi a prova mais importante das Olimpíadas: a dos 100 metros rasos. Na Escola de Material Bélico, no Rio de Janeiro, fui corredor dos 100 metros. Ninguém me batia até os 70m, momento em que era ultrapassado por dois dos meus colegas de curso. Depois dos 30 anos, passei a participar do Tiro de Fuzil todos os anos. Em 2003, fui campeão indiviual no âmbito da 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (Santiago, São Luiz, São Borja, Santa Rosa e Itaqui). De segunda a sexta, das 8 às 17 horas, cumpro expediente no quartel, sujeito às atividades administrativas e operacionais que podem ir além do horário convencional. Fora desse trabalho profissional, certamente, a leitura e a escrita ocupam muito tempo em minha vida.

sábado, 16 de agosto de 2008

O RETORNO DE PERSÉFONE

Entre duas paredes úmidas, há um pequeno jardim necessitando de luz. A sombra dos edifícios impede seu pleno desenvolvimento. Nestes dias ainda cinzentos de agosto, Deméter dá sinais da alegria que sentirá com o retorno da filha, Perséfone, em setembro.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

SURPRESA

Reviso o Expresso Ilustrado desde dezembro de 2003, quando passei a publicar a coluna Crítica e autocrítica. Esse trabalho é prazeroso, pena que não disponho de tempo suficiente para fazer uma revisão completa. Nesta semana, por exemplo, não tive as provas do X da Questão (certamente a principal matéria da edição). A primeira pesquisa para prefeito de Santiago me causou uma surpresa: Sandro Palma (24,7%) obter exatamente o dobro do ex-prefeito Vulmar Leite (12,3%). Não esperava a tamanha vantagem do Júlio Ruivo (52,3%), muito acima da soma dos outros três. Da mesma forma, me surpreendi com a pequena percentagem obtida pelo Júlio Prates. Numa projeção fundamentada nessa primeira pesquisa, o candidato do PT não fará mil votos em outubro (considerando-se válidos todos os votos santiaguenses). Esses índices poderão mudar um pouco com o horário eleitoral, dentro de um quadro que, penso, não cause maiores surpresas.

elegia (pós-moderna)


meus sapatos
jazem
sobre as ásperas
pedras
da duque

(marca dolorosa
na memória
dos ossos)

nuvens e sarjetas
me guiam
descalço
ao encontro
de nadas

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A CRISE DOS PARADIGMAS E A EDUCAÇÃO

Concluí hoje a leitura desse livro, resultado de um seminário promovido pelo Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Com organização de Zaia Brandão, doutora em Educação, excelentes textos de Pedro Benjamim Garcia, Danilo Marcondes, Alícia Catalano de Bonamino, Tania Dauster, Maria Apparecida Mamede Neves e Ana Waleska Pollo Mendonça. Mestres e doutores. Estou me preparando intelectualmente para uma palestra na UNOPAR (em setembro). O título é sugestivo: O paradigma da (a)normalidade.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O EQUÍVOCO

Não suporto ouvir que falem mal das ciências, uma vez que elas não respondem todas as indagações do senso comum. Algumas vezes, quando respondem, acabam indo de encontro às crenças e aos preconceitos que vicejam no mundo todo. A ecologia está na berlinda, ditando moda, inclusive. Entre as questões dessa nova ciência, o cuidado com a água se coloca como uma das mais pertinentes. O maltrato com o líquido se deve, em grande parte, pela consagração de um equívoco editado em todos os livros didáticos, ensinado pelos professores, veiculado pelos meios de comunicação e defendido por muitos ecologistas de “meia tigela”. O que sempre foi falado acerca da existência da água? Existe mais água do que terra em todo o planeta, numa proporção de quase três partes por uma. Tamanha quantidade de água sempre funcionou como uma reserva para todo desperdício e sujidade, usando-se os rios, lagos, mares e oceanos como transporte ou depósito do pior lixo produzido pelo homem. Não é uma visão superficial (para não chamá-la de ilusão óptica) que deve fundamentar o dado correto, mas um corte vertical e em profundidade. Toda a água existente não passa de uma finíssima camada que preenche as depressões do planeta, de onde sobressaem as terras continentais. Abaixo dessa película doce e salgada, tudo mais é sólido, constituindo a crosta (que, por sua vez, flutua sobre outro estado da matéria). Dito de uma forma diferente, a quantidade de água é mensurável, finita, capaz de ser afetada pelas ações poluidoras do homem. Não me refiro apenas à potabilidade da água, viés que denuncia um antropocentrismo nefasto, mas ao ambiente que ela representa, habitat para um número incalculável de espécies. Essas coisas não preocupam o senso comum, cujo caráter anticientífico traz o ranço da tradição judaico-cristã.
(Gostei tanto desse texto que o publicarei na próxima edição do Expresso)

DIÁLOGO COM LÍGIA


Tua última postagem mexeu comigo, me fez lembrar conflitos vividos na juventude. Para encontrar respostas, freqüentei a Seicho-No-Iê, o templo Hare Krisna, Grupo de Jovens Cristãos e, principalmente, li muito. Freqüentava cinco bibliotecas em Porto Alegre, onde pretendia fazer Artes Plásticas. Ingressei no Instituto de Belas Artes da Senhor dos Passos. Era tudo o que eu sonhara. A cadeira de Filosofia da Cultura me desviou da paixão pelo desenho e pintura: descobri Freud e a Psicanálise. A crise chegou ao paroxismo. Magérrimo, saudade da família, larguei a Universidade. Depois de uma tentativa frustrada de ir ao Rio de Janeiro de carona num avião do CAN, vim para o Rincão dos Machado. Na casa de meus pais sempre recuperei a alegria de viver. Ali, passeando pelos lajedos do Rosário, cheguei à conclusão que o mundo é mais duro do que sonhamos um dia. Dificilmente, lá fora encontraria a sensibilidade, o carinho... Isso aconteceu mais tarde, mas eu já era outro, preparado para enfrentar todas as adversidades. Continuei lendo, conhecendo as pessoas e a mim mesmo. A propósito, o autoconhecimento processou uma mutação interior que me fez quase uma outra pessoa. Uma das conseqüências da leitura, foi a necessidade crescente de expressar a minha visão das coisas, do mundo. Se continuasse na pintura, me pergunto hoje, como lançaria a ponte entre mim e os outros. As palavras, ao contrário, constituem a própria alteridade. Nunca me esqueci de uma frase de Jean Cocteau: "Escrever é matar algo inerente à própria morte". Hoje me mato escrevendo para viver amanhã, na memória daqueles que conquistaram meu coração, que me "apanharam" com os laços que você, querida amiga, chama de amor, de amizade.

domingo, 10 de agosto de 2008

DEBATE POLÍTICO

Acompanhei o debate dos candidatos a prefeito pela Rádio Santiago. Com exceção de alguns "golpes baixos", a "luta" foi de alto nível. Se o ouvinte não conhecesse qualquer um dos quatro, poderia fazer a seguinte idéia (numa palavra): Júlio Prates, lulista; Vulmar Leite, crítico; Sandro Palma, sonhador; Júlio Ruivo, realista. O dinheiro que o Lula manda não é dinheiro do Lula, mas dinheiro público. O fisiologismo repudiado por Prates em certos políticos que vêm a Santiago, "trazendo" verbas de Brasília, não pode continuar com outro beneficiado. O Vulmar resolveu atacar o atual governo num ponto forte, onde se sobressai o nome do ex-secretário Ruivo: a Saúde. O Sandro insiste em trazer indústrias para Santiago, em tapar as fossas "pépticas" e dar canetaço na Tito Beccon. Há oito anos nesse endereço, o Ruivo sabe das limitações de fazer promessa eleitoreiras, sonhar com transformações que dependem do governo estadual e federal (como sempre foi, é e será). O que falta para o candidato da situação é o que seus opositores têm de sobra: a retórica. A diferença é que o Vulmar empregou essa qualidade (que me traz à lembrança um Leonel Brizola) para criticar, e o Prates, acertadamente, para defender o excelente programa do seu partido.

DIA DOS PAIS

O mito cristão (que narra a origem do homem) associa a figura do Grande Criador com a do Grande Pai. Aos elementos da Mãe Natureza juntou-se a vontade, o sopro de vida de Deus-Pai.
A realidade cristã considera o pai como o esteio principal que dá sustentação ao lar. A família sempre teve no pai um amparo seguro, um repositório da moral, da justiça, do conhecimento de mundo.
Todavia, a partir da segunda metade do século XX, novos paradigmas provocaram abalos nas estruturas sociais, atingindo a família tradicional, de origem cristã. O pai passou a ser questionado em sua justa autoridade, exigido por uma maior participação afetiva, sentimental.
Nessa aproximação necessária, a relação entre pai e filho entrou em crise, cujo resultado imediato tem sido a desmistificação do herói paterno, a falta de respeito, o distanciamento (de certa forma paradoxal).
Assim sendo, o Dia dos Pais constitui-se numa rara oportunidade para uma reaproximação dentro da casa. A homenagem ao pai, ainda que na contramão do consumismo exacerbado, que coisifica os afetos, deve ser espontânea, baseada na afeição e não na obrigatoriedade de dar algo material, comprado no comércio.
O maior presente que o pai pode receber neste dia, ou a qualquer momento, ao longo das semanas, meses e anos, é um abraço carinhoso.

sábado, 9 de agosto de 2008

PÁGINAS IMPOSSÍVEIS

Neste sábado, ocorreu o lançamento do livro do Oracy Dornelles, Páginas impossíveis. O auditório do Centro Cultural estava quase lotado para a solenidade simples e extraordinária ao mesmo tempo. Simples, porque sem o trabalho midiático, sem os holofotes, sem as atrações mercadológicas que, via de regra, acompanham outros eventos. Extraordinária, porque trata de uma realização intelectual, de rara ocorrência numa terra em que a cultura preponderante é a agrícola. Como leitor, escritor, ligado nas letras, vejo apenas singularidade no lançamento desta noite.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

RAZÃO CÍNICA

As duas decisões do STF contrariam a vontade da maioria dos brasileiros (parcela em que me incluo). A partir de agora, ninguém será algemado (exceto se há chance de fuga ou risco à segurança do detido, dos agentes ou de outras pessoas). Mesmo que preso em flagrante ou tendo confessado o crime, ninguém será considerado criminoso antes do último julgamento. Eis o discurso da razão cínica! Alguns advogados que conheço tecem loa para que essa interpretação da Constituição se torne jurisprudência. A partir de agora, todo policial que algemar o criminoso - aquele que acaba de cometer ou está cometendo um crime - corre o risco de sofrer um processo contra si. Se a Constituição possibilita essa leitura, então ela deve ser reescrita, reformulada. A outra decisão do STF libera o político ficha suja a concorrer, independentemente se houver trezentos processos inconclusos contra ele. O vice-presidente da República acha que o eleitor deve fazer o julgamento por intermédio do voto. Eis o discurso da razão cínica! Ainda com relação à primeira decisão, a maioria dos brasileiros temos um juiz federal como aliado: Fausto Martin De Sanctis. Com relação à segunda, contamos com o presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, o ministro Joaquim Barbosa, o procurador-geral da República, a Associação dos Magistrados Brasileiros, entre outros. O que está acontecendo?

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

REGISTROS PESSOAIS

Hoje fui à Rádio Santiago, ZYK 297, programa Olho Vivo do Jones Diniz, para falar sobre o lançamento do livro Páginas impossíveis do Oracy Dornelles. Aos visitantes interessados em participar do evento, deve se dirigir ao Centro Cultural de Santiago, sábado, 9, às 19 horas.
oo
Por falar na Rádio Santiago, ouço agora a transmissão do jogo entre Cruzeiro e Inter, torcendo por um empate. O Cruzeiro deve ganhar de goleada, face à pequenez de seu adversário.
oo
Em Porto Alegre, no Rio de Janeiro, em Curitiba, no Pantanal, em todos os lugares longe daqui, estranhava não ouvir o Jornal Falado da Rádio Santiago. Agora não mais terei esse estranhamento, essa saudade. Mesmo que eu me mude outra vez, digitarei http://www.radiosantiago.com.br/ em meu computador.
oo
Amanhã o Expresso publicará um dos meus melhores textos produzido para a coluna Crítica e Autocrítica. O homem é o lobo do homem: homo hominis lupus.
oo
Não sei como conseguirei escrever uma mensagem aos pais, para ser lida sábado, no jantar do Grêmio. Tenho dificuldade em atender pedidos urgentes. A obrigação parece bloquear minha verve criativa. Descobri isso desenhando retratos. Quando me pagavam, com um prazo fixo para entregar, necas!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O FATOR HUMANO


James Lovelock é um dos grandes pensadores de nosso tempo, mestre do nosso saudoso José Lutzenberger. O ecologista inglês criou o conceito de Gaia - a Terra como um ser vivo. Sua idéia um tanto revolucionária é de que a biosfera tem a capacidade de controlar o ambiente natural, químico e físico. Antes de ter lido Lovelock, escrevi um texto que atribuía vida aos rios. Com o auxílio de um tropo, a metonímia, escrevi que os rios vivem pela fauna e flora neles existentes. O tema do meu artigo: as cidades são o câncer dos rios. Os cursos de água antecedem toda aglomeração humana, como artérias que vivificam a Natureza. Poucos são os espíritos capazes de formular uma crítica sem o viés antropocêntrico, livre do preconceito religioso que tudo subordina à moral judaico-cristã. Preconceituosamente, justifica-se uma descrição do tipo “o Tâmisa atravessa Londres”, “o Tietê corta São Paulo”, “o Dilúvio divide Porto Alegre”. Essas cidades é que atravessaram o curso dos rios, entupindo-os com suas pútridas e venenosas cloacas. Outra figura, a metáfora, possibilita-me comparar o fator humano à infestação de um vírus, não se limitando aos rios, lagos, mares e oceanos, unicamente, mas a todo o meio ambiente, desde as camadas subterrâneas (com a extração de petróleo, carvão, água, minerais diversos...) à estratosfera (com a emissão de gases nocivos e a destruição de outros favoráveis à Gaia). Nada escapa à ação virulenta de bilhões e bilhões de indivíduos. Para nossa sobrevivência, mataremos a vida, a começar pelos rios. A transposição do São Francisco faz parte dessa ação destruidora. A seca na bacia do Amazonas é o prenúncio de um futuro apocalíptico, cujo cenário mais provável será o deserto, o fogo. Humanamente, Lovelock não tinha esta visão catastrofista. Ele inocentou o homem, incluindo-o entre os agentes naturais de poluição incapazes e alterar o clima na Terra. Sábio e bondoso, esse Lovelock.

(Escrevi esse texto naqueles dias em que a Região Norte atravessava uma seca terrível.)

JUREMIR IMPERDÍVEL

CYRO MARTINS, O MELHOR DOS GAÚCHOS
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O Brasil nunca teve mais de três excelentes escritores. Já é bastante. O segundo Machado de Assis, maior de todos, morreu em 1908. Guimarães, o segundo melhor, nasceu em 1908. O Rio Grande do Sul teve um grande escritor, acima inclusive de Erico Verissimo: Cyro Martins. Hoje, o autor da trilogia do 'Gaúcho a Pé' faria 100 anos se ainda estivesse por aqui desmontando os mitos do Rio Grande do Sul. O ano de 1908 foi prolífico. Na França, foi o ano do nascimento do antropólogo Claude Lévi-Straus, o maior gênio das ciências humanas do seu tempo.Nascido em Quaraí, Cyro Martins se tornaria médico e psicanalista. Parece que foi muito bom nessas atividades curativas. Mas foi estupendo em literatura. Não inventou uma nova linguagem nem criou um gênero diferente. Limitou-se a antecipar o movimento de desconstrução das mitologias. Em 'Sem Rumo', 'Porteira Fechada' e 'Estrada Nova' pintou a decadência da Campanha com a precisão de um grande artista. Enquanto Erico Verissimo inventava uma origem mítica para o Rio Grande do Sul, semeando chavões e adulando o ego gaudério, Cyro derrubava discretamente as ilusões gauchescas. Fez isso sem amargura nem ressentimento. Erico descreveu um ambiente que lhe era, no fundo, estranho, embora isso não seja um obstáculo intransponível, como provou o argentino Borges. Cyro Martins colocou em ficção a verdade que realmente conhecera. Quem viveu na Campanha e migrou para a periferia das pequenas cidades do Interior, cumprindo o itinerário do êxodo rural, não sai ileso da leitura dos romances de Cyro. É triste, cruel, nostálgico, exato e veraz. Eu nunca duvidei: só dois autores gaúchos me marcaram como leitor infantil e adolescente: Simões Lopes Neto e Cyro Martins. Eu os li, pela primeira vez, em Palomas. Simões tinha gosto de lenda e de causo à beira do fogo. Era lindo, divertido, colorido e ligeiramente falso. Uma fogueira de São João sem época.Cyro Martins era doloroso e terrivelmente verdadeiro. Depois de 'Um Menino Vai para o Colégio' e 'Porteira Fechada' eu me senti transfigurado. Parecia que um mágico às avessas, com um extraordinário poder de desencantamento, surgira do meio dos campos para revelar cristalinamente uma verdade ao alcance de todos, mas sempre negada ou maquiada. Poucas vezes um escritor gaúcho foi tão longe no desmascaramento do nosso imaginário. Cyro estendeu o Rio Grande num pelego e fez sair da sua alma o suspiro derradeiro das fábulas. Antes dele, Alcides Maya tinha ensaiado a desmontagem dos nossos mitos. Maya era ótimo, embora escrevesse difícil, meio parnasiano, meio empolado.Nada disso ocorre com Cyro Martins. Límpido, direto, simples, escreveu uma crônica profunda das nossas metamorfoses políticas e econômicas. Erico Verissimo falou da Campanha para os urbanos. Cyro Martins revelou a Campanha para quem dela vinha e, ao mesmo tempo, ridicularizou os clichês que ainda hoje gostamos tanto de alimentar. O centauro dos pampas, nas suas páginas, não é mais do que um desempregado num boteco de cidade sonhando com um mundo que nunca mais voltará. Não é difícil imaginar as razões da menor popularidade de Cyro Martins. O mágico é sempre mais popular do que o sujeito capaz de apontar os seus truques sem fazer alarde nem se gabar da sua clarividência. Cyro Martins foi um elegante anti-Erico.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

HOMO HOMINIS LUPUS*


Em O imperativo territorial, Robert Ardrey desenvolve a tese de que “o homem é o homem e não um chimpanzé porque durante milhões e milhões de anos matou para viver”. O homem tanto matou – agora eu argumento –, que aprendeu a matar não apenas “para viver”. A violência já se encontra codificada nos genes humanos, constituindo-se num traço característico da espécie. Nenhum outro bicho mata por simples crueldade ou prazer (de uma forma premeditada). Outras finalidades levam o animal (ir)racional a matar: o ladrão mata para roubar; o policial mata para evitar o roubo; o cidadão ficha-limpa mata para defesa própria ou por vingança. Lendo jornais, ouvindo rádio, vendo TV ou buscando na Internet, constato que o assassinato hoje atinge índices de ocorrência jamais observados em tempos pretéritos. Mata-se aqui, mata-se acolá. Dois brasileiros foram mortos por policiais na Inglaterra e nos Estados Unidos, porque um parecia ser terrorista (Jean Charles de Menezes), e outro fumava um cigarro que parecia ser de maconha (André Luiz Martins). A relação de estrangeiros mortos no Brasil é extensa, chegando ao caso mais recente: Cara Marie Burke, 17 anos, esquartejada pelo namorado em Goiânia. A droga e o crime organizado fizeram de nosso país um dos lugares mais violentos do mundo. Apenas a ignorância dessa realidade justifica o porquê dos turistas virem para cá, onde vivemos angustiados, sob a constante ameaça de ladrões e traficantes (potenciais assassinos que, quando presos, exigem mais proteção do Estado do que nós merecemos como cidadãos de bem). A banalização da morte revela o tecido podre de uma sociedade em decadência.
* Frase de Plauto, dramaturgo romano, traduzida para O homem é o lobo do homem.

a morte


a morte anda de dia
sem sombra
e afiada gadanha

humanizou-se
com vestes (e vistas)
das vítimas

homiziada entre aqueles
– que realizam
seu mister

a morte anda de dia
bem descansada
da vida

domingo, 3 de agosto de 2008

O FIM DE UMA UTOPIA

Pontes são lançadas entre a realidade e o ideal, provisórias, sustentadas pelo otimismo e esperança dos idealistas. Essas construções “virtuais”, no entanto, não resistem a qualquer travessia, uma vez que são demasiado longas, demasiado frágeis. O homo religiosus, por exemplo, acredita numa ponte que o conduzirá desta vida para outra, paradisíaca, eterna. Seguidamente, ele a vê em seus sonhos de transcendência. Menos extraordinárias, todos lançam pontes em seu dia-a-dia, entre um problema e sua solução. No âmbito público, essa inclinação caracteriza o homo politicus. No final dos anos oitenta, com o processo que derrubou um presidente, começou a ser engendrada uma ponte para o país. Seus idealizadores haviam escolhido uma estrela como símbolo. Aos poucos, o PT se transformava na ponte que tiraria o Brasil da crise. Até os realistas mais céticos achavam possível uma mudança significativa, mesmo por intermédio de pontes ideológicas. A primeira delas pretendia conduzir uma parcela dos brasileiros à “fome zero”. As demais seriam lançadas a partir da primeira travessia. Muita publicidade em torno da campanha, malas de dinheiro. Em vão, a ponte despencou (corrompida por novas falcatruas). De repente, as pontes passaram a ser impossíveis, pois o poder se encontrava outra vez incapaz de sustentá-las eticamente. Foram-se o otimismo e a esperança – valores que não têm equivalência na moeda corrente. A realidade permanece com os grandes problemas que a caracterizam. O fim de uma utopia é o mais recente.

FLORES DE AGOSTO


Há um ano, percebera os pessegueiros floridos no dia 22 de agosto. Hoje de manhã, saindo à rua, vi os sinais de Perséfone com quase um mês de antecedência. Deméter se rigozija com o retorno da filha. Uma chuva branca cai sobre minha alma feita de muitos invernos: a Isis vai para Santa Maria. Todos esperamos pela primavera.