Um leitor comenta sobre a postagem Nota de esclarecimento, questionando-a nos seguintes termos: “Queria saber que critério você usou - e até mesmo que autoridade tem – para afirmar que apenas 5% dos nossos poetas são bons”. Antes de respondê-lo, chamo a atenção do leitor para as peculiaridades do gênero Artigo de Opinião, em voga nos jornais, revistas, blogs etc. O publicado por Juremir Machado da Silva, no Correio do Povo, constitui-se num dos melhores exemplos. O artigo de opinião é doxa, não aletheia (os gregos já faziam uma distinção entre opinião e verdade), justamente pelo caráter relativístico, pessoal. Meus argumentos, isto está claro, visam defender a verdade, com os recursos figurativos (como a hipérbole e a ironia) que me permite a arte da escrita. Independentemente de toda a subjetividade que caracteriza a poesia, há elementos objetivos que a diferenciam da prosa, por exemplo. Fundamentado no ritmo e na rima, tão somente, avalio que a maioria dos poetas santiaguenses necessita evoluir muito. O ritmo de seus poemas é empregado à revelia, sem o controle e a regularidade (sem o conhecimento) que seus autores desejavam. A rima recorrente é paupérrima. Sem considerar o emprego de metáfora (também paupérrimo), esses dois elementos são suficientes para a quantificação dos 5%. Espero que os períodos acima demonstrem a autoridade requerida pelo meu interlocutor. Minha postagem não possibilita a leitura de que apenas o Oracy e eu seríamos bons poetas. Em nenhum momento diria isso, uma vez que contraria traços do meu caráter. Todos sabem que o Oracy é um bom poeta, muito bom, excelente (em seus poemas-piadas, por exemplo). Citei-o como crítico, não como poeta. Não conheço Thiago de Lima, meu interlocutor, mas deduzo que, ou ele não me conhece, ou me conhece muito bem (neste caso, esconde-se atrás de um pseudônimo), ou é mestre em pressuposto e subentendido. Poucos gostaram do meu livro Ponteiros de palavra. Entre as pessoas que gostaram, cito Lígia Militz da Costa, doutora em Literatura, que me convidou para participar da Academia Santa-Mariense de Letras (como membro correspondente). O comentário continua: “A convicção que a ciência e o conhecimento pode (sic) oferecer algum tipo de redenção para a humanidade é tão senso comum quando a religiosidade”. Desde Aristóteles, o primeiro organizador do conhecimento, as ciências vêm oferecendo uma melhoria crescente no padrão de vida humana, não reconhecida por aqueles que esperam uma “redenção”, algo que jamais ocorrerá (aqui poderia citar Nietzsche outra vez). Quem espera por redenção, seja cristão, hare krishna, muçulmano etc., acaba atacando as realizações científicas/ tecnológicas, nivelando-as aos artefatos bélicos, especialmente desenvolvidos para matar em massa. Essa visão reducionista é preconceituosa, como a demonstrada pelo meu interlocutor (citando Millor Fernandes). Sintoma desse seu preconceito é a avaliação que faz do filósofo com maior influência no século XX: F. Nietzsche. Para ele, Nietzsche é uma doença. Em tudo o que li de antinietzschianismo (reunido em livro por alguns pensadores contemporâneos), não encontrei qualquer coisa que se assemelhe a esse absurdo. Considero-o um exagero metonímico, compreensível como estilo. Caso contrário, não teria perdido tempo neste arrazoado. Ao concluir que “Por sorte, não vejo nada de nietzschiano em você, a não ser essa sua suposta mágoa com a tradição moral judaico-cristã”, o autor do comentário se contradiz inteiramente: não vê nada de nietzschiano em mim e vê em mim a compreensão do que a filosofia de Nietzsche representa quase solitariamente, a oposição ao cristianismo. Compreensão, não “mágoa”, ressentimento, qualquer sentimento que se identifica com a moral tão condenada pelo filósofo alemão.