quarta-feira, 25 de junho de 2008

O FOGO DAS PALAVRAS

Minhas orelhas ficam sangüíneas e quentes, sem que as tivesse tocado com os dedos, bebido vinho, ou coisa que o valha. Diante do espelho, deparo-me com estas conchas auditivas avermelhadas, da mesma cor do blusão que visto agora. Os mais idosos dizem que alguém fala mal de mim neste exato momento. Recuso-me a considerar tal crendice (que remonta a um tempo mítico, quando os homens conviviam com espíritos, deuses e demônios). Nos primeiros meses deste ano, a artrose me provocou muitas dores, aos poucos minoradas com o longo tratamento a base de glucosamina e condroitina (sulfato). Num dia, a dor se localizava no joelho esquerdo; noutro, na articulação coxo-femoral direita; depois, saltava para um dos ombros. No trabalho, um dos meus colegas teve o despautério de me falar em vudu, um bonequinho para ser alfinetado. Alguém o faria (juntando a um objeto que me pertence), colocaria nele meu nome e o furaria ao bel-prazer de sua maldade. Coisa entre bruxaria e espiritismo de quinta (ou dos quintos?). As fogueiras da Inquisição não foram suficientes para exterminar as criaturas desprezíveis que praticam esse mal, elas existem e encontram-se mais próximas do que desconfiam suas pretensas vítimas. A artrose limita meus movimentos e me causa dores, mas vudu nenhum será capaz de me atingir. Prefiro acreditar em deuses bons a demônios. Para combater a superstição e toda forma de ocultismo, disponho do fogo das palavras.

Nenhum comentário: