domingo, 9 de março de 2008

OITO DE MARÇO

Ontem foi o Dia Internacional da Mulher. Para o senso comum, a data constitui uma grande homenagem à mulher. Diferentemente, para os espíritos críticos (entre os quais me incluo), não passa de uma pequena concessão da sociedade machocêntrica*. Por que os homens não se consagram um dia (para comemorar a milenar superioridade)? Eles não o fazem pela irrelevância, pois que dispõem do ano inteiro. Para que não se sintam culpados, em vista da histórica desigualdade que os beneficia, abrem mão de um dia. Tamanha avareza acaba sendo alardeada como “justiça social”, à semelhança do que ocorre com o sistema de cotas para o ingresso na universidade pública. A maioria branca, mesmo contrária aos novos critérios, vangloria-se com a solução encontrada para os problemas da educação no Brasil. A qualidade dos cursos de graduação não cairá, uma vez que os beneficiados com as cotas tudo farão para justificar suas inclusões. As mulheres fazem para o fim do preconceito e da desvalorização de que são vítimas desde tempos míticos (a Bíblia, por exemplo, constitui um código machista). Um dos primeiros homens a reivindicar direitos para elas foi o filósofo Condorcet (1788). Antes de 1932, sequer eram cidadãs as brasileiras (não votavam). O Oito de Março foi marcado de vermelho no nosso calendário com a morte de cento e muitas mulheres. A violência sofrida por elas perpetuou um ato corajoso contra o poder masculino. O dia não pode ser comemorado como uma conquista, todavia. Não passa de uma migalha embebida no sangue de mães, esposas e filhas dos homens. A elas cabe o pão inteiro que se chama vida.
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* machocêntrica: neologismo que expressa a posição de centralidade do gênero masculino.
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(Texto publicado na coluna do Expresso Ilustrado de 7 de março de 2008)

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