sexta-feira, 7 de março de 2008

IMPORTÂNCIA DA REESCRITURA

A produção de um poema inicia-se com a vontade de quem, a partir de então, constitui-se num sujeito poético. Disso não estavam isentos os dadaístas e surrealistas. Tal vontade vem sempre associada a um tema, a algo que o sujeito quer expressar em versos.
Nesta manhã, andando por uma longa alameda, pensei o que são das palavras ante o silêncio. Obviamente, elas continuam a existir, mesmo que eu não pense, não fale ou não escreva nada (o que é inconcebível, na prática). Sentado à mesa de trabalho, escrevi “no silêncio as palavras des-cansam”.
O verbo “descansam”, que personifica as palavras, pode ser substituído por outros (que se encaixem melhor, na forma e no conteúdo): esperam, respiram, responsam...
Não basta pensar a palavra certa, devo atentar para a sua pronúncia, para a sua grafia. Para a poesia, a mesma palavra faz diferença entre ser pensada, falada ou escrita. Com duas ou três palavras, o exercício se amplia consideravelmente. O universo das palavras conhecidas ou buscadas no dicionário é quase infinito, levando-se em conta as combinações possíveis. O poema consiste no resultado mais ou menos satisfatório de um trabalho meticuloso, raramente facilitado por algum insight.
Na seqüência, acresci “de uma incômoda significação”. Esse verso funciona como um mero complemento. Da mesma forma, possui inúmeras possibilidades lexicais, sintáticas e semânticas. Inclusive sua total supressão é viável, optando-se pela lacuna. Isso é recorrente na arte poética. No lugar de se dizer algo, com excesso de verbos e adjetivos, nada se textualiza.
Reescrevi catorze vezes o mesmo poema, quietas palavras.
Mário Quintana já ensinava mais ou menos isso aos poetas.

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