sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O RIO QUE SAÍA DO ÉDEN

O mais famoso pós-darwinista da atualidade é RICHARD DAWKINS. Zoólogo inglês, professor da Universidade Oxford, autor de livros extraordinários, como O relojoeiro cego e O gene egoísta. Gostei mais de O rio que saía do Éden: "Todos os povos têm lendas épicas sobre seus antepassados tribais, e estas lendas muitas vezes tomam a forma de cultos religiosos. [...] De todos os organismos que nascem, a maioria morre antes de atingir a maturidade. Da minoria que sobrevive e se reproduz, uma minoria ainda menor terá um descendente vivo daqui a mil anos. Esta diminuta minoria da minoria, esta elite de progenitores, é tudo o que as gerações futuras serão capazes de chamar de ancestrais. Os ancestrais são raros, mas os descendentes são comuns. [...] Todos os organismos que viveram - todo animal e planta, todas as bacatérias e todos os fungos, toda coisa rastejante, e todos os leitores deste livro - podem olhar para seus ancestrais e afirmar orgulhosamente: nenhum de nossos ancestrais morreu na infância. [...] Nengum de nossos antepassados foi morto por um inimigo, ou por um vírus, ou por um passo mal dado na borda de um penhasco, antes de trazer pelo menos um rebento ao mundo. [...] Como os organismos herdam todos os genes de seus ancestrais, e não dos contemporâneos malsucedidos de seus ancestrais, todos os organismos tendem a possuir genes bem-sucedidos. Eles têm aquilo que é necessário para tornar-se ancestrais - e isto significa sobreviver e reproduzir-se. [...] Esta a razão por que as aves são tão boas no vôo, os peixes tão bons no nado, os macacos tão bons em trepar em árvores, os vírus tão bons em disseminar-se. Esta é a razão pela qual amamos a vida, amamos o sexo e amamos as crianças. É porque todos nós, sem uma única exceção, herdamos nossos genes de uma linhagem contínua de antepassados bem-sucedidos. [...] Os genes não melhoram com o uso, eles são apenas transmitidos, imutáveis, exceto por erros aleatórios muito raros. Não é o sucesso que faz bons genes. São bons genes que fazem o sucesso, e nada que um indivíduo faça durante o seu tempo de vida tem qualquer tipo de efeito sobre eles. Cada geração é um filtro, uma peneira: os genes bons tendem a passar pela peneira para a próxima geração (não gostei desse símile). [...] Alguns indivíduos são irremediavelmente estéreis, ainda assim eles são aparentemente projetados para auxiliar na passagem de seus genes para as gerações futuras. Formigas, abelhas, vespas e térmites operárias são estéreis. Elas trabalham não para tornar-se ancestrais, mas para que seus parentes férteis, usualmente irmãs e irmãos, o consigam. [...] As operárias estéreis trabalham sob a influência dos genes, cópias dos quais localizam-se nos corpos das reprodutoras. [...] O rio do tírulo deste livro é um rio de ADN (ácido desoxirribonucléico, constituinte básico dos genes), e ele corre através do tempo, não do espaço. É um rio de informações, não um rio de ossos e tecidos: um rio de instruções abstratas para a construção de corpos, não um rio de corpos sólidos. [...] A característica que define uma espécie é que todos os seus membros têm o mesmo rio de genes fluindo através deles. [...] O rio de genes bifurca-se no tempo. [...] Por que deveriam duas espécies dividir-se? [...] Os detalhes são controvertidos, mas ninguém duvida de que o ingrediente mais importante é a separação geográfica acidental. [...] Um esquilo cinzento da América do Norte é capaz de reproduzir-se com um esquilo cinzento da Inglaterra, se chegarem a encontrar-se. Mas é pouco provável que se encontrem. O rio de genes do esquilo cinzento da América do Norte está efetivamente separado, por uma muralha do rio de genes, do esquilo cinzento da Inglaterra. [...] "Separação" significa aqui separação não no espaço mas em compatibilidade. [...] Algo parecido com isto está quase certamente por trás da separação mais antiga entre esquilos cinzentos e esquilos vermelhos. Eles não podem cruzar. [...] Seus rios genéticos separaram-se muito, o que quer dizer que seus genes não mais estão bem preparados para colaborar uns com os outros no interior dos corpos. Há muitas gerações, os ancestrais do esquilo cinzento e os ancestrais do esquilo vermelho eram um único e mesmo animal. [...] Há agora talvez 30 milhões de braços originados do rio de ADN, pois este é o número estimado de espécies sobre a Terra. Foi estimado também que as espécies sobreviventes constituem cerca de um por cento das espécies que existiram. Segue que teria havido cerca de 3 bilhões de braços de rio originados do rio de ADN. Os 30 milhões de braços de rio que existem hoje em dia estão irremediavelmente separados. Muitos deles estão destinados a secar. [...] O rio dos genes humanos junta-se com rio de genes do chimpanzé há cerca de 7 milhões de anos. [...] Mais para trás ainda, nossos rios unem-se com aqueles que conduzem a outros grupos importantes de mamíferos: roedores, gatos, morcegos, elefantes. Depois disto, encontramos as correntes que conduzem a vários tipos de répteis, aves, anfíbios, peixes e invertebrados. [...] Mesmo criaturas tão radicalmente diferentes umas das outras como moluscos e crustáceos eram populações da mesma espécie orginalmente separadas apenas de modo geográfico. Por um breve tempo (que pode ser de cem mil, um milhão, dez milões de anos), elas poderiam ter intercruzado se tivessam se encontrado, mas não o fizeram. Após milhões de anos de evolução em separado, elas adquiriram as características que nós, com a visão a posteriori dos zoólogos modernos, agora reconhecemos respectivamente como as dos moluscos e crustráceos. [...] O estudo da biologia molecular mostrou que os grandes grupos de animais estão muito mais próximos uns dos outros do que costumávamos pensar. [...] o código genético é de fato literalmente idêntico em todos os animais, plantas e bactérias observados. Todas as coisas vivas terrestres são certamente descendentes de um único ancestral".
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Tenho dito freqüentemente que o estudo da genética ainda nos revelará um mundo cada vez mais estranho aos nossos preconceitos religiosos. Um mundo verdadeiro, que solapará qualquer resquício de autodivinização humana. Muito obrigado!

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Froilam. Também acho muito interessante essa passagem deste livro, pois resume o que é de mais importante na evolução: a luta para se sobressair sobre os demais. Em breve devo postar alguma coisa em meu blog sobre isso também (http://georgekieling.zip.net).

Um abraço