sábado, 22 de setembro de 2007

A "RAZÃO" NA FILOSOFIA

NIETZSCHE, em seu Crepúsculo dos Ídolos, "baixa o martelo":
Quereis que vos diga tudo que é peculiar aos filósofos?... Por exemplo, sua falta de sentido histórico, seu ódio à idéia do devir, seu egipcismo. Crêem honrar uma coisa despojando-a de seu aspecto histórico, sub specie aeterni... quando fazem dela uma múmia. Tudo com que os filósofos se ocupam há milhares de anos são idéias - múmias; nada real saiu vivo de suas mãos. Esses senhores idólatras das idéias quando adoram, matam e empalham: tudo é posto em perigo de morte quando eles adoram. A morte, a evolução, a idade, tanto quanto o nascimento e o crescimento, são para eles não só objetções, como até refutações. O que é não se torna, não se faz, e o que se torna ou se faz não é. Todos acreditam desesperadamente no ser. Porém não podem apoderar-se dele, buscam as razões segundo as quais ele lhes escapa: "É forçoso que haja aí uma aparência, um engano por efeito do qual não podemos perceber o ser - onde está o impostor?" Já o apanhamos - gritam alegremente - são os sentidos! Os sentidos, que por outro lado são tão imorais... Os sentidos são quem nos enganam acerca do mundo verdadeiro.
Resultado: mister se faz desprender-se da ilusão dos sentidos, do devir, da história, da mentira. Conseqüência: negar tudo o que supõe fé nos sentidos, negar todo o resto da humanidade; isso pertence ao povo; é necessário ser filósofo, é necessário ser múmia [...]. E acima de tudo que pereça o corpo, essa lamentável idéia fixa dos sentidos, o corpo contaminado por todos os defeitos que a lógica pode descobrir, refutado, até impossível, se se quer, ainda que tão impertinente que se porta como fosse real!
Um filósofo fazendo a análise dos próprios filósofos - eis a grandeza de Nietzsche.
Esse ódio ao devir, explico, advém da herança aristotélica.