sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A AMIZADE

O quadro acima é criação do maior gênio da pintura contemporânea: Pablo Ruiz Picasso. No inconfundível estilo cubista, o pintor quis homenagear o sentimento que tanto nobilita as pessoas: a amizade. Mais do que um ombro, um coração.

COR DE CABELO

















A escolha da ilustração para o soneto Formosa, de Maciel Monteiro, foi aleatória, não infere minha inclinação estética pelas morenas. Com relação aos cabelos, transcrevo um excerto de Nietzsche, publicado postumamente por sua irmã (Elisabeth):
"Quando penso em mulheres, começo por imaginar a sua cabeleira. A minha principal idéia de feminino é uma tempestade de cabelo - cabelo preto, ruivo, castanho, dourado -, e sempre com uma boca apaixonada, num lugar qualquer atrás da miragem da beleza".

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

FORMOSA

Formosa, qual pincel em tela fina
debuxar jamais pode ou nunca ousara;
formosa, qual jamais desabrochara
na primavera a rosa purpurina;

formosa, qual se a própria mão divina
lhe alinhara o contorno, a forma rara;
formosa, qual jamais no céu brilhara
astro gentil, estrela peregrina;

formosa, qual se a natureza e a arte
dando as mãos em seus dons, em seus lavores,
jamais soube imitar no todo ou parte;

mulher celeste, oh anjo de primores!
quem pode ver-te sem querer amar-te?
quem pode amar-te sem morrer de amores?


(Esse soneto de Maciel Monteiro foi o último que incluí no recital dos mais belos da literatura brasileira.)



PAIXÃO E DOR

Esta postagem prova a assiduidade de um blogueiro que, sob o efeito do cetoprofeno, da colchicina e do paracetamol, levanta-se da cama e vem expressar sua paixão pela escrita.

Há exatamente sete dias, ou 604.800 segundos, estou acamado. (Na falta de um mecanismo que registre o fluir do tempo psicológico, a dor acaba sendo marcada pelos segundos do relógio convencional.) Inflamações no quadril e joelho esquerdos, uma após a outra, ainda me causam dores terríveis.

Dois inimigos se associaram para me tirar de combate (mesmo não considerando a vida uma luta): a artrose e a gota. Triste ironia: tais inimigos se infiltraram pela minha boca, através de uma alimentação rica em cálcio, ácido úrico, colesterol e quejandos.

Esperava me recuperar até amanhã, para um recital de sonetos na Biblioteca Pública e para assistir às aulas de Semântica no pós-graduação.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

REFLEXÕES DE UM ENFERMO

Ante a dor constante, não há guerreiro que permaneça em pé, erecto e forte; tampouco há iogue indiano que continue impassível em sua posição; tampouco há monge tibetano que conserve seu ar de tranqüilidade. Todos hão de gemer, expostos à fragilidade da natureza humana.

Sempre defendi a ciência contra os difamadores, pseudo-religiosos que a acusam de desmistificar seus mitos e crenças. Bendita seja a ciência, principalmente por ter desenvolvido a farmacologia. Quanta dor no mundo foi evitada com os analgésicos e antiinflamatórios?

Afora a dor física (sofrida), outros males afetam o paciente internado num hospital. A ilusão de que o tempo diminui sua fluxibilidade. A silenciosa solidão, visitando-o na ausência do acompanhante. A perspectiva da própria morte, cujo ponto de fuga se aproxima ou se distancia quanto mais ou menos grave for a doença.
Esses aspectos, reais ou imaginários, determinam o estado psicológico do paciente, exigindo cuidados a/efetivos.

Depois de uma semana de dor, reconheço que não sou o guerreiro que imaginava ser. Passo a régua nessa ilusão, para me mostrar mais fragilizado, mais dependente, mais doce.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

COMO CONFIAR NAS TRADUÇÕES?

No Assim falava Zaratustra que tenho, tradução de Eduardo Nunes Fonseca, a frase "É necessário possuir um caos dentro de si para dar à luz uma estrela brilhante" não fecha com o que foi traduzido acima. Aqui fala em "estrela dançante". Afinal, é "estrela brilhante" ou "estrela dançante"? A primeira forma é mais referencial; a segunda, poética. Como o livro de Nietzsche se inclina para a poesia, penso que a tradução acima está correta. Assim, coloco sob suspeita a tradução de Eduardo Nunes Fonseca. Para dirimir esta dúvida, procurarei Zaratustra em alemão. Sei bulhufas dessa língua. Mas não será difícil isolar a palavra que foi traduzida como "brilhante", "dançante" etcetrante.

ASSIM FALAVA ZARATUSTRA

Em 1984, li Assim falava Zaratustra pela primeira vez. Desde lá, não parei mais de ler Nietzsche. O Prólogo do livro é apofântico, das páginas mais belas já produzidas em todos os tempos.
"Aos trinta anos deixou Zaratustra sua pátria e o lago da mesma, e dirigiu-se à montanha. Por um período de dez anos deu asas ao seu espírito e à sua soledade sem se cansar. Variaram, porém, os seus sentimentos, e uma bela manhã, levantando-se com a aurora, pôs-se frente ao sol e assim falou-lhe: 'Grande astro! Qual seria sua felicidade se lhe faltassem aqueles a quem ilumina? Faz dez anos que se aproxima da minha gruta e, sem mim, sem a minha águia e a minha serpente, estaria afadigado da sua luz e deste caminho. Nós, todavia, aguardávamos todas as manhãs, recolhíamos de você o supérfluo e o bendizíamos. Pois bem: já me sinto tão entediado da minha sabedoria, tal como a abelha que acumulasse excesso de mel. Sinto necessidade de mãos que se estendam para mim. Quisera dar e repartir até que os sábios voltassem a gozar da sua estultícia e os pobres da sua riqueza. Por esse motivo devo descer às profundezas, assim como você pela noite, astro ubérrimo de riqueza quando transpõe o mar para levar sua luz ao mundo inferior. Eu também devo descer, como você, conforme dizem os homens a quem quero dirigir-me. Abençoe-me, pois, olho benévolo, que pode ver sem inveja até uma felicidade grande em demasia! Abençoe a taça que quer transbordar, para que dela vertam as águas douradas, levando a todos os lábios a reprodução da sua alegria!' [...] Antigamente a alma olhava o corpo com desprezo, e nada havia superior a esse desprezo; queria a alma um corpo fraco, horrível, debilitado pela fome! Pensava assim libertar-se dele e da terra. [...] O homem é corda distendida entre o animal e o super-homem: uma corda sobre um abismo. [...] A grandeza do homem é ser ele uma ponte, e não uma meta. [...] Amo o que se acanha ao ver cair o dado a seu favor e que pergunta: 'Serei um jogador trapaceiro?' [...] É necessário possuir um caos dentro de si para dar à luz uma estrela brilhante. [...] Para separar muitos do rebanho, foi para isso que vim."

"O MEL QUE TENHO NAS VEIAS É QUE DEIXA MAIS ESPESSO O MEU SANGUE E MAIS SILENCIOSA A MINHA ALMA"

CURIOSIDADE

Para melhor distinguir a imagem abaixo, em que Nietzsche é retratado, basta semicerrar os olhos e fixá-la por alguns segundos.

O MELHOR AFORISMO NIETZSCHIANO

A NOVA PAIXÃO - Por que tememos e detestamos um possível retorno à barbárie? Por que tornaria os homens mais infelizes do que o que são? De modo algum! Em todas as épocas os bárbaros foram mais felizes: Não nos iludamos! - Mas o nosso instinto de conhecimento é demasiado poderoso para que possamos ainda apreciar uma felicidade sem conhecimento, ou a felicidade de uma ilusão forte e sólida; sofremos com a simples idéia de um tal estado! A inquietação da descoberta, da solução encontrada, tornou-se para nós tão sedutora e tão indispensável como para o amante, o seu amor infeliz que nunca trocaria por um estado de indiferença; - talvez, sejamos, à nossa maneira, amantes infelizes! Em nós, o conhecimento transformou-se numa paixão que não teme nenhum sacrifício, nem receia no fundo seja o que for, exceto a sua extinção; acreditamos sinceramente que toda a humanidade, submetida à opressão e às dores desta paixão, deveria sentir-se mais nobre e mais confiante do que antes, quando não tinha ainda ultrapassado o desejo desse bem-estar grosseiro que acompanha a barbárie. Talvez até a humanidade corra perigo devido a essa paixão de conhecimento! - mas tal pensamento também não tem qualquer poder sobre nós! [...] Sim, detestamos a barbárie, - preferimos a destruição de toda a humanidade à regressão do conhecimento! E no fim de contas: se a humanidade não corre perigo por causa de uma paixão, corrê-lo-á devido a uma fraqueza: que preferimos? É a questão essencial. Desejamos-lhe o fim no fogo e na luz, ou na escuridão?
(Frafmento 427, do livro Aurora, de F. Nietzsche)

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

CAIO FERNANDO ABREU

O melhor livro de contos do Caio é O ovo apunhalado, apesar da fama de Morangos mofados. Dois contos terminam com a palavra "quê". Nos poços: "E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê". O conto Para uma avenca partindo (título poético): "sim, sei, eu vou escrever, não, eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as bolsas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê". Interessante notar que a palavra "quê" não é seguida daqueles pontinhos piegas (chamados de reticência). Sem essa de reticência. Preciso, quero te dizer quê.

DE UM LOUCO ANÔNIMO

"Estive doente
doente dos olhos, doente da boca, dos nervos até.
Dos olhos que viram mulheres formosas
da boca que disse poemas em brasa
dos nervos manchados de fumo e café.
Estive doente
estou em repouso, não posso escrever.
Eu quero um punhado de estrelas maduras
eu quero a doçura do verbo viver."

(Transcrito por Caco Barcelos na reportagem "Crime e Loucura", publicada na extinta Folha da Manhã, Porto Alegre, RS.
Caio Fernando Abreu transformou em epígrafe de seus contos em O ovo apunhalado.)

LIBERDADE, SIM, COM RESPONSABILIDADE

Sem liberdade não há informação e muito mais. Imaginemos um país em que as liberdades individuais são cerceadas, onde sequer a imprensa existe (a não ser a oficial, do Estado)! Em Cuba, por exemplo, há cidadãos confinados dentro do próprio território para todo o sempre, porque querem liberdade. Engraçado é que no Brasil, parte da nossa imprensa reclama de liberdade, enquanto tece loas a regimes ditatoriais que sequer permitem a existência de uma imprensa.

domingo, 26 de agosto de 2007

FRASE DE MARCEL PROUST

"Os verdadeiros paraísos são os que perdemos"

PARAÍSO

na infância
o paraíso existe
e não sabemos

na juventude
sabemos
que existe

até aos quarenta
ainda desejamos
que exista

depois disso
p.q.p.
existiu

UMA VÍRGULA MAL COLOCADA

Hoje me dei conta que o projeto SANTIAGO DO BOQUEIRÃO SEUS POETAS, QUEM SÃO? está com a vírgula mal colocada. O correto é SANTIAGO DO BOQUEIRÃO, SEUS POETAS QUEM SÃO? Na ordem direta: [...] Quem são seus poetas? O predicativo é um termo que não se separa na oração.

NEM TUDO PODE SER PERFEITO...

Toda vez que abro meu blog, visito meus amigos que escrevem diariamente. O Cassal já confessou que faz o mesmo. Às vezes, sinto uma frustraçãozinha ao perceber que o blogueiro visitado deixou de fazer uma nova postagem. Em contrapartida, quando nossos visitantes deixam um comentário, fico feliz, com uma vontade de retribuir de alguma forma. Acabei de ler o blog do Júlio. Nitroglicerina verbal. Meu amigo mexe com os grandes "latifúndios" santiaguenses. Sua crítica à URI, por ter deixado o Dr. Valdir Pinto fora do projeto Santiago do Boqueirão, seus poetas quem são?, vem para corrigir um trabalho em que acreditei ser perfeito, mágico. Minha ilusão, como todas as ilusões do mundo, se justifica na acomodação ou na ignorância: não procurei saber quem são os santiaguenses escolhidos para o projeto, em sua totalidade. Mais especificamente, desconheço quais os critérios que nortearam tais escolhas. O Júlio me lembra que há critérios de natureza político-ideológica. Sempre pensei que a arte, não excluindo a poesia, constitui uma instância da cultura menos atingida pelas picuinhas da vaidade humana. O tempo é seu mestre e avaliador. Poesia faz o Oracy (já homenageado), os demais fazem projetos.

QUEM É O PINTOR

O autor desse quadro é August, mas não é Renoir. Embora nos remeta à pintura do impressionista, o artista pertence à estética expresionista, discípulo e amigo de Fraz Marc (cujo trabalho já foi postado neste blog). Noutras palavras, o título da tela acima é "Moças sob o arvoredo".

UMA REFLEXÃO SOBRE O TEMPO (E A DOR)

Ainda não se inventou um relógio para marcar o tempo interior, o tempo psicológico. Certamente, seu mecanismo não obedeceria a Cronos, mas às vivências mais expressivas da pessoa que o utilizasse. Ele aceleraria nos momentos de intenso prazer e retardaria ante a dor intensa. Nos extremos de sua aceleração ou de seu retardo, o(s) ponteiro(s) repousaria(m) num espaço em branco. Sem o conhecimento empírico, ninguém pode afirmar que a cessação de tempo e a morte sejam a mesma coisa. Aprioristicamente, sim. Entre quinta e sexta passadas, vivi as horas mais longas e dolorosas de que tenho lembrança. Um foco inflamatório na articulação femural me levou ao HGuSt, onde fiquei baixado até às 18 horas de sábado. No paroxismo da dor, enquanto esperava e esperava o efeito da medicação, tive a impressão de que o tempo não passava. Ou melhor, enganava-me com a impressão de que o tempo seguia seu fluxo normal. Todas as vezes que procurei saber as horas, o erro me fazia pensar no quanto a dor interfere no ritmo biológico. Na sexta-feira, a luta era para me restabelecer, conseguir me movimentar sobre a cama. No sábado, um pouco melhor, fiquei dividido entre dar alta imediatamente e atravessar o fim de semana no hospital. Depois da dor realmente sofrida, percebi que a solidão é algo terrível. As visitas vêm acelerar o tempo que se arrasta incomodamente. Outro aspecto sobre o tempo psicológico constitui um paradoxo: o tempo demora a passar (?), mas envelhece aquele que o vivencia através do sofrimento.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

UMA DAS PÁGINAS MAIS BELAS DA LITERATURA UNIVERSAL

XXI
E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?
- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?
- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.
Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

(O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry)

JOGO DE XADREZ

Aprendi xadrez aos 15 anos (nessa idade, Bobby Fischer era bicampeão dos Estados Unido). Adolfo me ensinou em três noites, num quarto de fundo da casa do Barbela. Em dois meses, ganhava do meu mestre. Jogava freqüentemente contra o professor Albino, na biblioteca do Colégio Polivalente. Ensinei outros colegas a jogar, já demonstrando minha aptidão para transmitir conhecimento. Ali desenvolvi o gosto pela leitura também e conheci Emília, minha primeira namorada. Hoje Cristina Cogo me pede para ir a Nova Esperança. Seus alunos querem uma aula de xadrez. Claro que irei qualquer dia destes. Numa próxima, postarei algumas noções sobre o jogo mais inteligente do mundo.

MOMENTO POÉTICO

Tempo e lugar, muitas vezes, bastam para despertar em mim aquilo que, em poesia, denomina-se de inspiração. Quando servi no Pantanal, na distante localidade de Coimbra, me lembro de que entre 5 e 6 horas da manhã, recostado às muralhas do forte, no alto do morro, a inspiração transcendia minha capacidade de expressão verbal. Queria escrever algo, mas não encontrava as palavras certas. Então, me quedava contemplativo, com uma sensação indescritível. Isso me acontecia no cumprimento da escala de Auxiliar do Fiscal de Dia. Às 5 horas, fazia a ronda obrigatória. Depois de ir ao paiol, atravessar a vila, percorrendo todos os postos de sentinela, me dirigia ao Forte. Exausto com a caminhada, me sentava rente à muralha, com os olhos fitos na curva do rio Paraguai, ao nascente. Do outro lado do rio, à direita, o Morro da Marinha era uma sombra que melhor definia as luzes do amanhecer. Tudo mais era uma vastidão plana que me fazia sonhar. De repente, o dilúculo. Os tons amarelos, róseos e avermelhados indicavam o momento mais significativo para minha alma. O Sol não demorava a mostrar o ouro de sua configuração esférica. Para o outro lado, onde o horizonte separava Brasil e Bolívia, o azul-noite ainda circundava a Lua já sem nenhuma chance de clarear as águas do rio.

QUEM É O PINTOR?

Os comentários favoráveis me incentivam a continuar com a brincadeira cultural.
(A pintura é a expressão cultural das mais sublimes, em pé de igualdade com a música.) O autor da tela acima está para o Cubismo como Van Gogh está para o Expressionismo. Quem é ele?

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

HOMENAGEM A UMA AMIGA BLOGUEIRA

"O que de mais perto do mundo humano se identifica comigo
são os pássaros...
Sou pássaro preso neste mundo... Preso neste corpo...
Amo-te e sempre te amarei.
Mas ainda assim sou pássaro.
Decidi por ti aqui viver. E vim ao teu encontro sem arrependimentos.
Era feliz [...] com o elo de nosso amor. Mas ainda assim, pássaro.
Carrego dentro de mim a luz de minhas penas,
que me mantinham forte.
Um dia, numa rua qualquer, por uma pessoa qualquer,
nosso elo quebrou...
Não havia mais por que ficar.
O pássaro partiu...Sua luz se foi...
Você ficou só, em um vazio escuro.
E só depois do pássaro partir, você notou que ele o fazia também voar,
mesmo com os pés pregados ao chão." VIVIAN DIAS


Lindo! Lindo! Lindo! Resolvi transcrever esse texto em meu blog como prova da minha admiração verdadeira por sua autora.

UMA ALMA FRAGILIZADA

Segunda-feira, eu reclamava deste agosto. Perguntava-me pelos sinais de Perséfones. Dois dias se passaram. Saio à rua e... qual a minha surpresa? Os pessegueiros floridos. O céu azul ainda me ajudou a elevar o astral. Infelizmente, no fim da tarde, um temporal desabou sobre minha alma fragilizada. ...

UMA EXPLICAÇÃO DESNECESSÁRIA

O professor Eugênio Gastaldo me recomendou que fosse mais irônico nos textos que publico no Expresso Ilustrado. Em algumas colunas passadas, escrevi com ironia, como em Latifúndios culturais, criticando o orgulho e a estanqueidade das grandes instituições santiaguenses. Outro exemplo de que me recordo: Média zero, concluindo com a seguinte frase: Exorto meus concidadãos que nunca leram um livro a manter essa média. Ser irônico é fácil, mas acabo ferindo suscetibilidades. As pessoas não aceitam críticas sobre as idéias e crenças, as quais são coincidentemente "suas" idéias e crenças.
O texto abaixo será editado na próxima sexta. Não o publicaria em condições normais de temperatura e pressão, tampouco o postaria neste blog. Ele é uma amostra do martelo mais pesado que manejei até hoje. Desfiro-o contra o que há de mais sagrado e pessoal: o gosto. Por que sua postagem? Andava meio down... e hoje recebi uma mensagem que me cortou ao meio. Queria postar sobre os pessegueiros floridos (segunda-feira cheguei a reclamar desse sinal anunciador da Primavera). Talvez o faça acima.

PRECONCEITO VETUSTO

Por que não discutir gosto, política e religião? Repetidas vezes, ouvi pessoas sérias concluírem seus diálogos com a evasiva desse vetusto preconceito. Elas interrompem a controvérsia antes que sejam obrigadas a reconhecer o equívoco de suas opiniões, de seus gostos. Toda idiossincrasia busca amparo na própria subjetividade. Algo que beira o ridículo. Não há limite. Não há padrão. A lógica é desdenhada como se fosse apenas um devaneio filosófico, um princípio matemático apenas. Não uma imanência necessária à vida. O relativismo individual, não raro, acaba negando essa lógica (presente na estética, na gastronomia, em tudo). A troca de enunciados, que se efetiva através do diálogo, constitui o fundamento da dialética. Quando isso é evitado ou até mesmo proibido, tem-se uma relação de desequilíbrio, uma condição propícia para o ditatorialismo (na política) e para o dogmatismo (na religião). Três mil anos após os gregos terem descoberto e implantado a democracia, os governantes ainda são inclinados a evitar o diálogo, o confronto. Eles atuam de uma forma subliminar (na educação, por exemplo), ou empregando a força. Ao longo da Guerra Fria, tanto nos EUA (e pró-americanos) quanto na URSS (e nos pró-soviéticos), a conversa política era um tabu difícil de ser quebrado. O perigo consistia na possibilidade de um capitalista aceitar o socialismo, como verdade, e vice-versa. Com respeito à religião tradicional (cristã), a proibição se afigura, desde a origem, um dogma não-revelado. Qualquer ceticismo, qualquer dúvida acerca do estabelecido já foi considerada uma heresia, um ato ofensivo que levava à fogueira durante a Inquisição. O cristão que conversasse com um ateu, corria o risco de ver esfumar sua religiosidade. Pensem nisso e discutam seus gostos, opiniões e crenças.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

LEMBRANÇA DE UNS AGOSTOS


Este agosto se apresenta diferente: frio e úmido. Não vejo o pessegueiro florindo, o ipê tirando sua capa de invernia. Nenhum sinal de Perséfone.

APENAS UMA ARRITMIA

Ontem, pela primeira vez na vida, pensei na morte. Não foi um devaneio romântico, algo que possa constitui um nova temática da minha poesia. De tudo o que escrevi até agora, não me lembro da palavra morte (a não ser como metáfora). A gripe violenta me levou a consumir muitas cápsulas antigripais em poucos dias, resultando num aumento da pressão (sempre baixa) e numa arritmia cardíaca. Desde que a percebi ontem, já não sou mais o mesmo. A impressão é que morri um pouco ao pensar na mais nefasta de nossas certezas. Mas não estou angustiado ou triste. Um pouco mais doce (certamente).

domingo, 19 de agosto de 2007

NARCISO


Liberto
do encantamento
agora grito
seu nome,
por vales,
montes,
cidades...
mas Eco
não me responde.

(Poema publicado no livro Ponteiros de palavra. Narciso, aqui representando o eu-lírico, é um personagem da mitologia grega. Eco, uma das mais belas ninfas. Ele é indiferente ao amor da jovem. Acaba encantando-se pela própria imagem refletida nas águas de um lago e morre. Meu poema, no entanto, salva-lhe a vida e o liberta do encantamento propiciado pela deusa Nemesis. Sai à procura de Eco, mas... O quadro acima, Narciso, foi pintado por Michelangelo Caravaggio, pintor barroco da Itália.)

POR QUE NÃO DISCUTIR GOSTO, POLÍTICA E RELIGIÃO?

Além de ler jornais, assistir à F1 e ao futebol, assar uma carne, navegar, entre outras coisas, domingo é dia de pensar um tema para a próxima coluna do Expresso Ilustrado. A leitura de jornais e revistas me ajuda na escolha de um assunto. Não sei por que tive a idéia de escrever uma crítica ao preconceito que reza: não se discute gosto, política e religião. Pego a caneto e escrevo: Por que não discutiríamos gosto, política e religão? Muitas e muitas vezes, ouvi pessoas sérias concluírem seus diálogos com a evasiva do velho preconceito. De comum acordo, interrompem a controvérsia, antes de serem forçadas a reconhecer o equívoco de suas opiniões. Em 1993, ainda em Curitiba, escrevi o seguinte: Um dos preconceitos mais nefastos da ignorância defende que não se discute religião. Toda a popularidade de que desfruta esse preconceito até agora se deve à sagaz política dos "arrebanhadores de ovelhas" (expressão de Nietzsche)[...]. O povo não discute sua religião porque a dúvida deve ser suprimida [...]. O duvidar, o discutir, transposto para o âmbito individual, corresponde ao refletir, ao questionar íntimo e silencioso. Para os administradores de igrejas, muito mais embaraçoso do que não ter argumentos que justifiquem suas doutrinas autoritárias, é reconhecer a contradição das mesmas. Por motivo semelhante, não se discute política [...]. O perigo da discussão, penso, consiste na possibilidade de um cristão, por exemplo, deixar de sê-lo, de um democrata aceitar o socialismo [...]. Por isso não se discute. Os escravos eram mantidos trabalhando sob o açoite e guarda constantes nem tanto para produzirem mais, senão para inviabilizar o sonho de liberdade. A escravidão teve êxito, contando, inclusive, com o apoio da igreja católica, como grande arrebanhadora dessas "ovelhas desgarradas" - os negros vindo da África. [...] A Inquisição foi criada por essa instituição religiosa para impor castigo a todo aquele que ousasse questionar seus fundamentos "espirituais" e terrenos. Cientistas e filósofos, como Giordano Bruno, foram presos, torturados e mortos por ela, porque revelavam a verdade, e a verdade era contrária aos seus velhos preconceitos. O representante máximo dessa igreja, em visita ao continente africano, hoje pede perdão pelos equívocos que, em nome do deus cristão, foram cometidos no passado. Em desafio ao preconceito de que não se deve discutir religião, sou desobediente, nem tanto para auspiciar uma vitória diante do meu interlocutor, porém, pela verdade que possa iluminar ambas as partes do diálogo. A razão é o único instrumento do qual não abro mão para digladiar sobre assuntos que me são aprazíveis.

UM ELOGIO DO CASSAL

Agradeço as considerações elogiosas do Cassal acerca deste blogue. Incentivo para escrever mais e mais. Seu elogio seria pernicioso se alimentasse a minha vaidade, por exemplo. Mas não deixo ela se criar.
Obrigado, Cassal.

COMO SE AUTOCONHECER?

Krishnamurti, livre pensador indiano, me ensinou o verdadeiro significado do autoconhecimento, tudo o que dizem por aí, principalmente os livros de auto-ajuda, é frescura, excesso de sensibilidade, egolatria disfarçada. Não repetirei aqui o que disse Krishnamurti, não me lembro mais de seus ensinamentos. Contarei a experiência que vivi hoje de manhã, como ilustração do que seja o autoconhecimento. Convidado para participar da prova de tiro que a gincana realizaria neste domingo, aceitei de imediato. Há 13 anos, atiro de fuzil em olimpíadas militares. Em 2003, cheguei a ganhar a prova em São Luiz Gonzaga. Outra vez, fiquei em 3º lugar. Sempre estive entre os melhores atiradores. O líder da equipe do Sinapse ainda me perguntou se não conhecia uma mulher para participar da prova. Antes das onze horas, fui ao local da competição. Quando os atletas foram chamados, minha equipe tinha inscrito outro atirador (sem o conhecimento do próprio líder). Nesse exato momento, começo a perceber a emoção que se gerava em mim. O autopercebimento já é autoconhecimento. Noutros tempos, tal emoção se desenvolveria, mudando meu comportamento inclusive. Poderia ficar chateado de ter saído de casa domingo de manhã, não reestabelecido da gripe. Possivelmente, iria tirar satisfação às pessoas que me convidaram. Nada disso ocorreu. Assisti ao início da prova. Aquela emoção desapareceu com o simples percebimento (com a luz do conhecimento). No retorno para casa, cheguei na sede do Sinapse para representar que estava chateado. As pessoas ali reunidas jamais perceberiam meu sorriso revelador da farsa. Faço isso para perceber a emoção dos outros, com quem aprendo também. O fato de perceber uma emoção em sua origem, vê-la desaparecer dentro deste complexo feixe de emoções e sentimentos egoísticos, chamado Eu, me fez um pouco mais feliz hoje.

sábado, 18 de agosto de 2007

RISOTO, ALCATRA AO FORNO...

Minha mãe era uma excelente cozinheira. Suas especialidades: galinha frita, risoto, pão caseiro, geléia de pêssego... Todas as mães do mundo fazem pães deliciosos, segundo a opinião de seus filhos. Mas a D. Dalva fazia um pão incomparavelmente bom. Os outros é que diziam isso. Isis pedia com freqüência para irmos à casa dos velhos, principalmente para comer risoto no domingo, ao meio-dia. Alguma coisa aprendi com a mãe. Neste sábado, fui para cozinha para atender um pedido da minha filha. A gripe me tirou o apetite. Mesmo assim, o risoto 'stá saindo.
O segredo para fazer uma comida gostosa é ficar, no mínimo, duas horas na cozinha. Antes disso, ou sai crua, ou sem tempero.

DIREITO DE RESPOSTA

Meu amigo Júlio escreve em seu blog que não me saí bem atacando de ombudsman. Tenho o direito de defesa. Começo por abrir o Grande Houaiss. Entre os diversos significados dessa palavra de origem sueca, lemos a seguinte: jornalista contratado de fora ou pertencente ao quadro de funcionários da empresa, que, de maneira independente, critica o material publicado e responde às queixas dos leitores. Bueno! Na minha coluna "A última edição", escrevo: "O diretor do Expresso Ilustrado me deu carta branca para falar sobre o jornal. Uma espécie de ombudsman". Uma "espécie" significa uma imitação, não o próprio. Reconheço que não é minha pretenção esse encargo, mesmo sabendo de sua importância para o jornal. À exceção da Língua Portuguesa, principalmente sobre sua morfossintaxe, em nenhuma matéria jornalística tenho domínio a ponto de tecer uma crítica que possa interferir na edição. Tenho repassado ao diretor do Expresso as considerações dos leitores, em off. Da mesma forma, tenho justificado ao leitores que se dirigem a mim. Nisso, sou uma espécie de ombudsman, na falta de uma outra definição. O Júlio cansou de me fazer observações sobre matérias que exigem conhecimento na área do Direito. Concordo com ele: não levo jeito para ser um ombudsman autêntico.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

CONTRAPONTO É O PRIMEIRO NO GOOGLE

Se digitares "VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS" na janelinha do Google, vais encontrar meu blog na quinta posição, primeira página. Tudo porque transcrevi aquela frase em latim, anotada na contracapa da minha agenda. Os primeiros sites explicam o significado das frases abaixo, todas dizendo a mesma coisa: as definições do papa possibilitam a leitura no número 666, o "número da besta", somando todos os romanos que aparecerem na frase.
VICARIVS FILII DEI (Vigário Filho de Deus)
VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS (Vigário Geral de Deus na Terra)
LATINVS REX SACERDOS (Latino Rei Sacerdote)
DVX CLERI (Guia do Clero)
Da última frase, por exemplo:
D = 500, V = 5, X = 10, C = 100, L = 50, I = 1
500 + 5+ 10 + 100 + 50 + 1 = 666

ÚLTIMAS ANOTAÇÕES

Desde 1982, passei a desenvolver o costume de comprar uma agenda todo o início de ano para fazer um milhão de anotações. Seriam 25 agendas, não fosse o extravio de duas: 1983 e 1990. Há pouco tempo, tentei recuperar algumas coisas desses anos perdidos. A memória não me ajudou muito.
Procuro comprá-las com a capa diferente, o que facilita a consulta mais tarde (uma vez que sempre relaciono o ano com determinada cor ou imagem da capa). Guardo-as no lugar mais protegido da minha estante. Mais do que anotações, dentro delas há fotografias, poemas, recados, pena de pássaro, trevo de quatro folhas... Na agenda de 2007, capa azul-marinho, lisa, tenho anotado algo como:
"Os verdadeiros paraísos são os que perdemos" Proust
"O homem suporta melhor a vida na medida que aceita, estoicamente, o calvário de sua consciência" Froilam
"Os primeiros asilos foram criados na Grã-Bretanha pela aristocracia, a fim de impedir que seus membors 'desgarrados' dissipassem sua fortuna" Thomas Szaz
"A inteligência é uma categoria moral" Theodor Adorno
"Os limites da linguagem são os limites do meu mundo" Wittgenstein
"A obra de arte deve ser discutida e não apenas venerada" Walter Benjamin
"Que otros se jacten de las páginas que han escrito, a mim me enorgullecen las que he leído" Jorge Luis Borges
Numa página em branco, relaciono os livros adquiridos no corrente ano. Noutra, os filmes vistos.
Relação de aniversariantes. Relação de endereços (eletrônicos, inclusive).
Anotações:
"A rua é o melhor laboratório para se estudar as pessoas em seu habitat secundário, onde elas se revelam o mais autênticas possível, ainda que se ocultem..."
"Deus bafejava na minha fronte cheirando à bergamota..."
"Recebo carta de Larí Franceschetto"
"O homem, preso ao chão, inventou a roda e sobre ela a carreta, as estradas nasceram do sonho de ir mais longe com o tempo preso ao recavém..."
"As goiabas amadurecem sobre o muro da casa vizinha"
"Rosário corria entre as pedras e fazia o tempo fuir sob meus pés, um jiqui apanhou as cachoeiras do rio..."
"Quem é Carol Maria?"
"A professora Sara Cabral encerra suas aulas sobre Lingüística do texto"
"Massa ganha o GP de Bahrein"
"A poesia não está em Neruda com suas metáforas marinhas/ a poesia não está em Florbela com suas antíteses confessionais/ a poesia não está nos poetas/ como epifania de seus ais..."
"O vento sopra lá fora
aqui não me caibo dentro
de mim, com você agora
sorrindo em meu pensamento"
"Teus beijos são figo maduro, cereja madura
que caem na minha boca faminta dessa doçura"
"Dia mais frio do ano... às 8:15 h os termômetros do centro da
cidade marcam -1ºC "
"VICARIVS GENERALIS DEI IN TERRIS"

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O AMOR É MASSA

o amor é massa
que se molda
a quatro mãos
e uma vontade
que amalgama
OOOOOOOOOduas almas

o amor é massa
que leveda
entre as paredes da oficina
onde se amassa
a cordiforme
ooooooooooomadrugada

o amor é massa
amada

PROJETO SANTIAGO DO BOQUEIRÃO, SEUS POETAS QUEM SÃO?

Hoje tivemos o lançamento do livro nº 1 do projeto do curso de Letras da URI: Santiago do Boqueirão seus poetas quem são? O primeiro poeta homenageado não poderia ser outro: Oracy Dornelles. A sala 1116 ficou pequena para o número de pessoas presentes. A solenidade começou com uma longa explanação do projeto pelas professoras Rosane Vontobel e Cíntia Toledo. Em seguida, falou Orlando Fonseca, doutor em Literatura, e o diretor da URI, Clovis F B Brum.
Logo após, Oracy passou a autografar o livro editado. Apresentação do Orlando Fonseca, um texto sobre o projeto, cronologia do poeta, antologia de poemas já publicados e inéditos, comentário e fotos. No corredor do Pavilhão 9, trinta "poemas voadores", que voarão em Santiago a partir de agora. Outra novidade:
o portal www.terradospoetas.com.br

HOMENAGEM A ORACY DORNELLES

(anáf)
ora

ora

ora
com

ora
cor
ora
som

ora
céu
ora

ser
ora
cy

Oracy é autor de vários sonemínimos, publicados em
cantares ares.
Escrevi o soneto monossilábico acima para

homenagear o poeta.

ADÉLIA PRADO

Explicação de poesia sem ninguém pedir

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite,
a madrugada,
o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.



terça-feira, 14 de agosto de 2007

RACHEL DE QUEIROZ

A aula de Literatura no Sinapse versava sobre o Romance de 30. O organizador da apostila cometeu um erro, não incluindo a primeira dama dessa narrativa nordestina: Rachel de Queiroz. Pedi para os alunos anotarem no espaço em branco disponível o nome da escritora e suas principais obras: O Quinze; As Três Marias; Dôra, Doralina; Memorial de Maria Moura...
Jéssica é uma das alunas mais assíduas e interessadas nas aulas. Por seus comentários, feitos com uma timidez característica, percebo que ela lê mais do que os outros. Depois de três cápsulas de um antigripal, fiquei meio aéreo. Escrevi o nome da autora de O Quinze da seguinte forma: Raquel de Queiroz. Jéssica me corrige: Rachel. Capaz de contar quase toda a trama do romance, não penso que seja problema de memória o fato de escrito errado o nome da Rachel. Valeu, Jéssica! Você é uma menina adorável.

A SUPERINTERESSANTE DE AGOSTO

Destaques da Superinteressante deste mês:
Pense positivo - Sua mente pode ser um ímã que atrai tudo o que você mais deseja, Casas, carros, empregos. Mas será que a gente consegue ficar rico só de pensar?
Ilhas Malvinas - Em 1982, as ilhas foram palco de uma guerra. Hoje, são um santuário de aves e outros animais exóticos.
Ecópole - A cidade mais ecológica do mundo vai sair do papel. E sabe onde? Num dos países mais poluídos, a China.
A nova cabeça do islã - As idéias de Tariq Ramadan, o mais badalado pensador islâmico da atualidade.
Globalize-se - Primeiro foram os países. Depois as empresas. Agora é a sua vez de se globalizar - queira você ou não.
O aiatolá dos ateus -O cientista inglês Richard Dawkins acredita que todas as religiões do mundo devem ser extintas. Polêmicas à parte, seu objetivo é convencer as pessoas a serem críticas em relação à fé.

CONSIDERAÇÕES (IM)PERTINENTES

O curso de Letras da URI agoniza a olhos vistos (para sobressalto do meu coração). Não há como dissertar criticamente sobre o assunto na terceira pessoa, dentro da praxe acadêmica. A nossa universidade cresceu tanto na última década que, sob seus raios luminosos, alguém surgirá para pensá-la melhor, “cria” extemporânea do conhecimento por ela mesma propiciado. Não me apresento como tal, embora tenha algumas considerações (im)pertinentes. Teço-as, após os quatro anos e meio na condição de graduando em Letras; durante a pós-graduação em Leitura, Produção, Análise e Reescrita Textual. Pelo ano 2000, a menina-dos-olhos (ou galinha-dos-ovos) era o curso de Direito. Nesse tempo, Pedagogia, Matemática, Letras, entre outros, eram relegados aos seus departamentos, sem mídia, cadeira estofada e cortina. Descortinados à sorte de suas licenciaturas. A estratégia para o crescimento do campus, sobretudo estrutural, foi e será repetida: Engenharia Agrícola, Arquitetura e Urbanismo, Enfermagem, Psicologia, Agronomia, Odontologia, Comunicação, Oceanografia... As universidades virtuais, a Unipampa, as mensalidades irredutíveis (inacessíveis para muitos pretendentes) e quejandos determinaram o esvaziamento dos cursos C e D da nossa Universidade. O próprio Direito, ultrapassado por outros mais recentes, já apresenta sinais de uma crise (quantum mutatus ab illo!). A década de ouro parece declinar para seu crepúsculo, para um ponto de fuga em que as perspectivas se estreitam. O último censo corrobora com o meu pessimismo. Já vislumbro a URI em 2020, novamente com turmas cheias nas letras. Nenhum estudo é mais humano (no sentido de constituir a essência do homem) do que o da língua.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

J.KRISHNAMURTI

A busca

Por muitas vidas vi passar o frígido inverno e a verde primavera.
Aprisionado em minha pequena alcova,
Eu não via a árvore inteira e todo o céu,
E jurava que não existia a árvore nem o vasto céu
Para mim, era aquela a Verdade.
Com a ação destruidora do tempo,
Minha janela cresceu.
E contemplei então
Um ramo com muitas folhas
E uma vasta expansão do céu, com muitas nuvens.
Esqueci a folha verde solitária e aquela nesga de imensidão azul.
Jurava que não existia a árvore, nem o céu imenso
Para mim, era aquela a Verdade.
Cansado da prisão,
da estreita cela,
Revoltei-me contra minha janela,
com os dedos a sangrar.
Arranquei tijolo após tijolo,
Contemplei então
A árvore inteira, seu tranco majestoso,
Seus ramos numerosos, suas miríades de folhas,
E uma imensa parte do céu.
Jurava que não existia outra árvore, nem outra parte do céu
Era aquela a Verdade.
Aquela prisão já não me retém,
Saí a voar, através da janela.
Ó amigo,
Agora contemplo todas as árvores e a vastidão do céu sem limites.
E embora eu viva em cada folha e em cada nesga do vasto céu azul,
Embora eu viva em cada prisão, a espreitar por estreitas frestas,
Sou livre.
Não! Nada mais me prenderá
ESTA é a verdade.

ANOTAÇÕES PARA UM ARTIGO

Uma universidade que cresce(u) como a URI necessita também de pensadores, independentemente da competência de seus dirigentes, pessoas empreendedoras, que fazem, otimistas.
O crescimento estrutural (fisiológico) exige que se amadureça paralelamente o pensamento como essência da razão de ser...
Sem o equivalente desenvolvimento cognitivo, (auto)crítico, nossa universidade corre o risco de desabar sob o peso do próprio gigantismo.
A inserção de cursos novos ao longo da última década constituiu-se na melhor estratégia para atrair novos acadêmicos. Tal estratégia continuará válida para os anos vindouros?
O esvaziamento nos cursos de Letras e Pedagogia (para citar apenas dois) se deve exclusivamente ao ensino virtual? Isso não poderia acontecer com o nosso curso de Letras, pioneiro em Santiago.
A universidade fez algum estudo sócio-econômico dos estudantes santiaguenses (confrontando média salarial daqueles que trabalham com as mensalidades cobradas por ela)?
Etc...

domingo, 12 de agosto de 2007

PLATÃO, URI E UMA PERSPECTIVA PESSIMISTA

Platão, o primeiro grande filósofo grego, defendia que o Estado deveria ser governado pelos seus homens mais sábios. Numa viagem à Sicília, fez amizade com Dionísio o Antigo, tirano de Siracusa, mas acabou sendo vendido como escravo. De volta a Atenas, fundou uma escola, conhecida pelo nome de Academia. Seu interesse pela política, todavia, não se definhou com a primeira experiência. Mais de uma vez, foi à corte de Dionísio o Moço, então sucessor do Antigo. Em Siracusa, Platão tencionava colocar em prática suas idéias políticas. Dessa vez, foi preso pelo amigo (mui amigo!).
No século XVIII, alguns países da Europa experimentaram uma forma renovada de governo, mesmo sem abrir mão do absolutismo real: o despotismo esclarecido. Os reis se cercaram de pensadores e sábios, como idealizara Platão. Frederico II, na Prússia; Catarina II, na Rússia; Maria Teresa e José II, na Áustria; Filipe V, Fernando VI e Carlos III, na Espanha; D. José, em Portugal. Esses soberanos nomearam ministros inteligentes, fato político que muito contribuiu para a evolução de seus estados. Sem Marquês de Pombal, por exemplo, certamente, Portugal não teria escapado de um ostracismo político, econômico e religioso que o afastaria do mundo europeu.

Santiago, guardadas todas as proporções, possui um governo (cuja sede é a prefeitura) e uma academia (representada pela Universidade).
Como livre-pensador, não repetiria o erro de Platão. Ainda confio na democracia. Não penso que os sábios devam governar. Isso não exclui a possibilidade de haver sábios entre os governantes. Nossa prefeitura nunca esteve tão bem. Em mãos de homens políticos, homens de ação.
Nossa universidade cresceu tanto nos últimos dez anos, sob a liderança de pessoas inteligentes e empreendedoras, que não necessitaria de um contraponto (à primeira vista). Sob os seus raios luminosos, inevitavelmente, cedo ou tarde, alguém surgiria como uma "cria" temporã do conhecimento por ela mesma propiciado. Não me declaro como tal, embora tenha algumas considerações (im)pertinentes. Faço-as, após os quatro anos e meio de graduação no Curso de Letras, nestes dias de pós-graduação (Leitura, Produção, Análise e Reescritura Textual). Penso grande, penso (na) URI. Novos cursos serão trazidos para o campus de Santiago. Mas as perspectivas que traço para um ponto de fuga futuro, não são otimistas (contrariando todo o otimismo que esta década de ouro propiciou com o ensino superior de qualidade em Santiago). Meu argumento não carece de números para ganhar em cientificidade. Basta citar apenas dois: outras universidades (a distância ou não) e o último censo. De repente, a URI cresceu muito para atender a demanda de novos universitários santiaguenses.

sábado, 11 de agosto de 2007

QUEM É O AUTOR

A maior parte das obras deste expressionista está relacionada com o mundo da natureza, principalmente dos animais, caracterizada por cores vivas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O DESAFIO DA PINTURA

Desde menino nutri o sonho de pintar. Quando fui embora para Porto Alegre, em 1981, passei a visitar os museus e as galerias com freqüência. Desenhava no parque da Redenção. Tanto sabia dos quadros expostos no MARGS, quanto dos recantos do parque onde colocar meu cavalete. No ano seguinte, ingressei no Instituto de Belas Artes da UFRGS, curso de Artes Plásticas. Enquanto a turma desenhava uma máquina de moer carne, uma caveira de vaca, ou qualquer outro objeto colocado no centro da sala, eu fazia o esboço da minha colega do outro lado. Paralelamente aos trabalhos artísticos, lia muito sobre a história da arte. Se me encantei com as cores do Impressionismo, arebatou-me o discurso pictórico do Expressionismo. O pintor que melhor representa a fusão dessas duas escolas, conquanto sua independência criadora, foi Vincent Van Gogh. Antes de encerrar o primeiro ano de Artes Plásticas, abandonei a Universidade decidido a nunca mais desenhar ou pintar. Mas a paixão pela Pintura era algo inexplicável. Voltei aos pincéis em Curitiba. Mas não por muito tempo, uma vez que a leitura me despertava para a escrita. Com a Literatura descobri uma ponte mais acessível para a alteridade, para o outro.
Desde então, é isto: hoje escrevo, amanhã não escrevo e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Antes de encerrar, faço uma brincadeira: vocês deverão me responder qual o título e quem pintou a seguinte obra?


O GRITO DO SILÊNCIO

Não ficas triste ao abrir teu blog e verificar que ninguém deixou um comentario? Ou que nenhum de teus blogueiros relacionados fez nova postagem? Percebes que estes múltiplos canais abertos para o contato, para nos aproximar de pessoas que se identificam com a gente, de repente se transformam em canais para o esquecimento, para a solidão virtual?

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

POEMA PARA REBECA

rio de palavras

menina levada
oooooooooooooà rima
a poesia é um rio
de palavras
em que o barco
oooooooooooooda tua
fantasia
~~flu~~tua~~

o amor
é frágil quilha
sobre as dores
oooooooooosubmersas
do real

menina levada
à rima
a poesia é um rio
de palavras
(a)baixo
e pedras acima

cuidado
para não quebrar
oooooooo encanto
enquanto navegas
na calma corrente
ooooooooood’água

o rio tudo aceita
o rio tudo
carrega
da alma que nele se deita
leva também
sua mágua

UM TRABALHO APAIXONADO

A Feira do Livro de Santiago será realizada em outubro deste ano. Paralelo ao evento, inaugurar-se-á a Rua dos Poetas. A prefeitura municipal lançará um livro com os autores homenageados na primeira quadra: Manuel do Carmo, Ramiro Frota Barcelos, Sílvio Duncan, Antonio Carlos Machado, Carlos Humberto Aquino Frota, Túlio Piva, Caio Abreu e Jaime Medeiros Pinto. A organização da antologia coube a mim, trabalho que já realizo apaixonadamente. Para tal, abro mão de uma coletânea dos melhores textos que publiquei ao longo de 10 anos no Letras Santiaguenses, no A Hora e no Expresso Ilustrado. Outro motivo de vibração foi a escolha do Oracy Dornelles para patrono da próxima Feira do Livro. Por um indisfarçável telurismo, implícito ou contextualizado na poética oracyana (de universal alcance), o poeta merece o reconhecimento de toda a sociedade santiaguense.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

S.O.S.

Ontem o técnico condenou meu modem. Como está na garantia, devo processar a troca. Não será fácil, tratando-se da BrTurbo. Um parto. A Brasil Telecom me vendeu o produto, mas agora não é mais responsável pelo provedor. São duas empresas distintas. Até quando ficarei sem Internet?
Por sorte, dois computadores são disponibilizados para que eu atualize este blog, responda e-mails, visite o próprio Orkut e pesquise alguma coisa no Google: na redação do Expresso Ilustrado e no curso Sinapse.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

OFF-LINE

Desde quinta-feira, estou sem internet. Meu modem, da BrTurbo, deu pane antes de completar um ano. Fernando Pessoa estava certo: navegar é preciso.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

UMA OUTRA CIDADE

Ontem vestida de azul e dourado, hoje de cinza
o vestido molhado.
Quase todas as cidades são feias com chuva,
feias e um pouco tristes.
Porto Alegre não é exceção.


POESIA NO ÔNIBUS

Os ônibus de Porto Alegre são mais uma vez o suporte para uma exposição poética. Cada veículo traz quatro poemas colados em suas janelas. Lembro de dois deles:
Ainda que torta e sem fio,
é capaz,
a velha faca.
De separar a água do rio.

O texto pode falar de coisas sem relevância, como de uma faca velha, mas precisa surpreender no final. O verso "de separar a água do rio" é extraordinário, uma metáfora original.
O outro poema emprega uma fórmula concretista:
N a m o r A D A
N a m o r A D A
N a m o r A D A
N a m o r A D A
N a m o r A D A
N 00000A D A

O autor poderia explorar outras possibilidades, como mor, morada, amornada, roman...
Provavelmente, seja um projeto de estudante de Letras. Quando fazia graduação na URI,
também participamos com esse tipo de exposição intinerante.
Um dos meus poemas selecionados para rodar foi As pombas:
as
pombas
pas
000seiam

no meio
da praça

de fora
da pressa

cheias
de graça

as pombas
em paz
ooooooceiam

As pombas passeiam e em paz, ceiam em paz enquanto passeiam.

O NASCIMENTO DA CONSCIÊNCIA

Os outros são a minha consciência. O que eles querem, o que eles determinam... Depois que internalizo isso, passo a chamar de "minha consciência". Seu surgimento só foi possível a partir do viver em sociedade. O que aparenta ser fonte de liberdade, não passa de prisão.
(Esta idéia precisa ser melhor elaborada, não passa de rascunho.)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

FINNEGANS WAKE

No primeiro sebo da Jerônimo Coelho, encontrei Finnegans, de James Joyce. O último romance do escritor irlandês é o maior experimento na literatura universal, com fusão de palavras em várias línguas. Já li duas vezes Ulisses, outra grande obra do autor. Dele são Retrato do artista quando jovem e Contos dublinenses (que enriquecem minha biblioteca). Meus olhos brilharam com Finnegans. Comprar ou não? Eis a questão. Para resolvê-la, tomo Black Label com o Lelo.

PORTO ALEGRE


A capital está no mesmo lugar, ao lado do Guaíba, sob um céu azulíssimo (raro nestes dias). Cheguei com a aurora delineando os contornos mais altos de Porto Alegre. A viagem que, a princípio, seria agradável com a companhia de Júlio, Lizi, Márcio e Rodrigo, terminou num sufoco brabo. A ar condicionado a 23ºC não me deixou dormir tranqüilo, sonhei com água mineral, me cozinhou os pés, imobilizado no assento da janela. Fui obrigado a tirar jaqueta, blusão de lã e não foi suficiente para me sentir bem. Desci do ônibus direto para uma garrafa de água. Tomei café com a Tânia (irmã), Lelo (cunhado), Natália e André (sobrinhos). Na Policlínica, a mulher catava milho no teclado, saí às nove e meia de lá. Ataquei o centrão pela Jerônimo Coelho, onde se localizam sebos de primeira. Lelo fez mate em seu escritório de advocacia. Saímos para almoçar, passando pela Galeria Chaves, Rua da Praia, Alfândega...
Gosto desta cidade, apesar de ter vivido momentos tristes no ano que passou. As boas lembranças me transportam para os anos oitenta, quando morei aqui, desenhava na rua, cursava Artes Plásticas no Instituto de Belas Artes do UFRGS. Depois retornei ao Rincão dos Machado, para o Mato da Erva (como diz o Cláudio, meu irmão). Também gosto daqueles campos, matos e do rio Rosário.
Perdão por essa tergiversação romântica.
Apressei para chegar à Clínica Serdil antes da 15 horas. Primeiro mundo em tecnologia e atendimento. Meu pé esquerdo é imobilizado para a ressonância nuclear magnética (deve ser uma leitura feita com átomos da parte analisada do nosso organismo). A moça me recomenda que não devo mudar de posição enquanto a máquina fizer ruído. Quarenta minutos deitado, sem cochilar, uma vez que o acalanto da máquina não era agradável aos meus ouvidos. Agora vejo o crepúsculo pela janela, obstruído em parte por um edifício.
Feita esta postagem, até a próxima.